terça-feira, 30 de novembro de 2010

Comemorações do Dia Internacional da Pessoa com Deficiência no Seixal

No próximo dia 3 de Dezembro, sexta-feira, celebra-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, uma data que tem sido assinalada já desde 1998 por iniciativa da Organização das Nações Unidas. Todos os anos no Seixal a data é comemorada com um conjunto de iniciativas como encontros temáticos, acções de animação e actividades desportivas que pretendem mobilizar a sociedade para este tema. Este ano as comemorações repetem-se.
 
Na próxima quinta-feira, dia 2 de Dezembro, as comemorações começam com o «Projecto Podia Ser Consigo», destinado a instituições particulares de solidariedade social da área da infância e da deficiência. Um projecto que visa alterar comportamentos e eliminar as barreiras arquitectónicas existentes nas vias públicas para a população com deficiência.

Na sexta-feira (3 de Dezembro), realiza-se no auditório dos serviços centrais da Câmara Municipal do Seixal, um encontro intitulado de «Deficiência um combate em várias frentes» no âmbito do Ano Europeu de Luta contra a Pobreza e Exclusão Social. História do combate à Pobreza e à Exclusão Social na Europa e perspectivas Futuras, apresentação das políticas municipais em matéria de intervenção e as formas como a deficiência pode ser abordada no nosso concelho são alguns dos temas a debater neste encontro. Será feita ainda uma apresentação de uma carrinha adaptada no âmbito do projecto «Projecto de Apoio a Idosos e Pessoas Dependentes».

Por fim, na terça-feira, dia 7 de Dezembro, realiza-se na Sociedade Filarmónica Arrentelense, em Arrentela, a «II Gala de Dança Adaptada». Uma iniciativa que é feita no âmbito do projecto «desporto para a população com deficiência» e que decorre das 10h30 às 16h00.
 

Doentes controlados por GPS

É o retorno à infância na memória. O doente de Alzheimer começa por se esquecer de pequenas situações do dia-a-dia: um encontro ou telefonemas feitos duas vezes para uma pessoa a dizer a mesma coisa e de cujo conteúdo não volta a lembrar-se. 


A doença causa um vazio progressivo e a perda da memória dos últimos 40 ou 50 anos. Preocupadas com os perigos que envolvem o Alzheimer, três alunas da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra desenvolveram um projecto para um equipamento de ajuda aos doentes e familiares. Uma das principais valências é a localização por GPS, útil sobretudo nas fases menos avançadas da doença. 

O Altec (Alzheimer Tecnology) inclui dois aparelhos: um para o doente e outro para quem cuida dele. O primeiro tem uma agenda electrónica, com anotações das actividades diárias e um alarme para o lembrar; uma lista telefónica com os contactos das pessoas mais próximas e um botão SOS para o doente accionar no caso de se perder. Sempre que é pressionado, a sua localização surge no aparelho do cuidador. Este, através do GPS, sabe onde o doente se encontra, e tem também acesso ao seu programa de actividades diárias.

A ideia partiu das alunas Carla Costa, Cristiana Silva e Ana Marta Gonçalves, sob a orientação do professor Paulo Queirós. O objectivo é "promover a autonomia do doente".

A doença de Alzheimer é uma demência que afecta sobretudo os idosos. Os doentes apresentam defeito de memória recente, esquecendo o que se passou ontem ou há 10 minutos. 

Segundo a neurologista Isabel Santana, este defeito vai-se ampliando, e a memória recente recua cada vez mais, de forma a que, nas fases mais severas, o doente confunde o marido com o pai, ou a mulher com a mãe. Esquece os últimos anos e passa a viver nas suas memórias de infância. 

UTILIZAÇÃO INTUITIVA

O Altec idealizado pelas alunas da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra está pensado para ser usado por pessoas idosas já com limitações. "É normal que os doentes tenham problemas de visão, por isso o aparelho tem uma saída de voz", refere Ana Marta Gonçalves, uma das estudantes. Por outro lado, acrescenta a colega Carla Costa, "tem de ser de manuseamento muito simples, por isso a utilização dos botões é bastante intuitiva". Deverá ser colocado num cinto ou numa pulseira. 

ENVOLVIMENTO DE ASSOCIAÇÕES

Uma empresa da zona de Aveiro já demonstrou interesse em desenvolver o projecto. Mas o passo seguinte, segundo Paulo Queirós, professor da Escola Superior de Enfermagem, será "envolver as associações de doentes e os próprios médicos da área para apurar uma ou outra funcionalidade do equipamento". Com a concretização do aparelho, a ideia é "encontrar ajuda" na sua comercialização "a preços acessíveis" para abranger todas as classes sociais.

DISCURSO DIRECTO

"OS GÉNIOS TAMBÉM TÊM ESTA DOENÇA", Isabel Santana, Neurologista dos HUC e professora na Faculdade de Medicina 

Correio da Manhã – Quais as causas da doença?

Isabel Santana – Há várias. Todas as doenças que aparecem no envelhecimento são complexas. O principal factor de risco é a idade. Também pode ser determinada por um erro genético, mas são casos raros.

– É possível fazer prevenção?

– Podemos prevenir os factores aceleradores de envelhecimento, relacionados sobretudo com padrões de vida que não são saudáveis. Os estudos demonstram ainda que a baixa escolaridade se associa a um maior risco. Isto não significa que só essas pessoas sejam afectadas. Os génios também têm a doença. Mas têm menos sintomas. O treino cognitivo é um factor geral de protecção.

– Como é a progressão da doença?

– Nas fases iniciais, não se esquece tudo. Nas fases moderadas, pode esquecer-se muita coisa do dia-a-dia. A maior parte dos meus doentes em fase moderada não me conhece, embora seja médica deles há três ou quatro anos. Nas fases mais severas, perdem todas as capacidades, deixam de saber falar e não comunicam.

– Os fármacos travam a doença?

– Não param nem reduzem. No dia-a-dia, conseguimos melhorar as capacidades através de sistemas artificiais, com substâncias químicas que faltam no cérebro. Melhoramos os sintomas, ao compensar o defeito que existe, mas não há nenhum fármaco que pare aquela morte neuronal. A doença progride objectivamente.

O MEU CASO: MANUEL DUARTE

"SÓ SE LEMBRAVA DO ANTIGO"
Manuel Duarte, 67 anos, residente em Seixo, Pombal, reage como uma criança quando a mulher o desafia a ir ver as cabras. "Vamos às cabritas! Vamos às cabritas!", repete, ansioso. "É tal e qual como uma criança quando recebe um brinquedo", refere a mulher, Maria dos Prazeres Vale, 62 anos, que associa esta paixão ao seu "tempo de menino, quando guardava as cabras dos pais".

Os primeiros sintomas da doença foram detectados há oito anos. "Esquecia-se do presente e só se lembrava do antigo", conta Maria dos Prazeres, que começou a estranhar o comportamento do marido: "Sempre que lhe pedia uma coisa, ele trazia-me outra." Até que um dia se perdeu na aldeia onde reside, quando tentava ir ter com a mulher, a 500 metros de casa. Foi nessa altura que Maria dos Prazeres deixou de trabalhar para cuidar do marido. "Foi muito difícil", admite, mas aprendeu a lidar com a doença, com a ajuda da Delegação Centro da Associação Alzheimer Portugal. Manuel Duarte era pedreiro e deixou a profissão há anos. Mas já depois era frequente apanhá-lo "com os bolsos cheios de pregos e o martelo à cintura." Hoje, "não se veste nem come sozinho. É pior do que uma criança, porque a um filho nós damos uma palmada quando se porta mal e neste caso tem de ser um beijo e um abraço", diz a mulher. 
ASSOCIAÇÃO NACIONAL APOIA DOENTES E FAMÍLIAS

Manuel Duarte é um dos doentes apoiados pela Delegação Centro da Associação Alzheimer Portugal, em Pombal. Todas as semanas participa em sessões de psicomotricidade e faz hidroterapia. Além das actividades para os utentes, a instituição apoia também as famílias, ensinando-as a lidar com a doença. Depois de feito o diagnóstico, é definida a estratégia de intervenção de acordo com as necessidades.

É IMPORTANTE CONVERSAR

Estudos demonstram que quanto maior for a capacidade linguística menor é a demência, pelo que é recomendável que as pessoas conversem. Mas também é preciso tempo para solidificar os conhecimentos. 

TODOS OS CASOS SÃO DIFERENTES

A esperança média de vida dos doentes situa-se entre os 10 e os 15 anos. A neurologista Isabel Santana refere que a doença é diferente em cada caso. Alguns têm uma evolução mais lenta do que outros.

I Gala da Inclusão

A Câmara Municipal de Leiria, o Governo Civil do Distrito de Leiria e o Instituto Politécnico de Leria, associam-se com o intuito de Comemorar o “Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.” – 3 De Dezembro.

Nesse sentido será realizada a “ I Gala da Inclusão”.

A Gala, para além de ter como objectivo a entrega de Brinquedos adaptados, resultantes da campanha “ Mil brinquedos Mil sorrisos “ terá também, como objectivo primordial, chamar a atenção da Sociedade Civil para a problemática da Diferença. 

Serão também premiados com o Galardão da Inclusão, entidades, pessoas em nome individual e instituições/empresas que se tenham distinguido nesta área, nas seguintes categorias: Reportagem/Documentário, Investigação Aplicada, Boas Práticas de Inclusão no Mundo do Trabalho, Desporto, Acessibilidades e Mérito Regional eleitos por um júri isento, nomeado para o efeito.


In: DREC

Sábados Especiais: edição 2010/2011 arranca no Porto

A Direcção Regional de Educação do Norte, através do Gabinete de Acompanhamento à Educação Especial (GAEE), criou, no ano lectivo 2009/2010, um programa de formação dirigido a professores, educadores, terapeutas e familiares de alunos com Necessidades Educativas Especiais. 

Sábados Especiais é um programa que pretende responder às necessidades de encontro, partilha e reflexão de todos os que se envolvem na Educação Especial de crianças e jovens.

O primeiro encontro da edição 2010/2011 é subordinado ao tema "Intervenção Educativa com Alunos com Multideficiência e Surdocegueira Congénita: Uma perspectiva curricular" e vai realizar-se no Porto, na Escola Artística Soares dos Reis, no dia 11 de Dezembro.

Inscrições abertas até ao dia 1 de Dezembro. 

Destinatários:

- Docentes de educação especial em funções nas unidades de apoio especializado para a educação de alunos com multideficiência e surdocegueira congénita;
- Técnicos especializados em funções nas unidades de apoio especializado e coordenadores da educação especial dos Agrupamentos de Escolas com unidades de apoio especializado;
- Outros docentes de educação especial. 

Nota

In: DREN

Crianças em risco: afectos e protecção

Protecção de crianças e jovens em risco, despiste de factores familiares prejudiciais ao desenvolvimento afectivo e físico e a problemática da vinculação afectiva foram alguns dos temas que encerraram um curso de formação parental promovido em parceria entre a CrescerSer - Associação Portuguesa para o Direito dos Menores e da Família e o Serviço de Pediatria do Hospital São João, no Porto

A vinculação é a origem do afecto. Trata-se de uma ligação particular a uma figura próxima que cuida da criança. Desenvolve-se, principalmente, entre os 6 meses e os 3 anos e serve de base a todo o desenvolvimento. Logo, as crianças que são abandonadas ou perdem as figuras a quem estão vinculadas, dentro desta fase, podem ter uma paragem, ou um certo atraso, no desenvolvimento emocional e da linguagem. Mas podem surgir outros sintomas: depressão, apatia. E, mais tarde: ansiedade perante as perdas.

O medo de voltar a perder as pessoas que encontra origina que a criança não estabeleça laços profundos para não voltar a sofrer. A criança torna-se mais superficial com as pessoas que a rodeiam. E até mais materialista. Vai achar que gostar é satisfazerem-lhe as vontades. Estabelece então relações de "tudo ou nada". Do género "ou fazes tudo o que eu quero e gostas de mim, ou se me contrarias és meu inimigo". E são este tipo de relações perigosas que podem levar a comportamentos de risco.

Todas estas questões foram abordadas por Alda Mira Coelho, pedopsiquiatra, no Serviço de Pediatria do Hospital São João, durante uma sessão de informação sobre "Crianças em risco" que decorreu no passado sábado. Foi a última de um conjunto de acções de formação parental, promovidas em parceria entre a associação Crescer Ser e aquela instituição hospitalar do Porto.

Para Alda Mira Coelho, são as crianças e jovens que passaram por muitas perdas afectivas, tiveram vinculações perturbadas ou disfuncionais, e sofreram muitas rupturas acabando por não estabelecer um vínculo estável e seguro "que, mais tarde, podem com mais facilidade entregar-se a comportamentos de risco". Desenvolvem relações de "tudo ou nada", não aceitam as frustrações facilmente e revoltam-se de forma impulsiva, podendo até tornar-se anti-sociais, refere a pedopsiquiatra. "Não quer dizer que isto aconteça sempre assim, mas as perturbações de vinculação podem ser factores de risco bastante grandes que levem mais tarde a comportamentos anti-sociais."

Estas "rupturas afectivas", constata diariamente no serviço de Pediatria, "deixam marcas na história pessoal destas crianças". "Daí a nossa preocupação em tentar evitar que elas sejam feitas." Uma dessas tentativas está no evitar a institucionalização "sempre que possível". Mas se não for: "É preciso tentar uma reparação dessas perdas afectivas, o mais precocemente possível, isto é, promovendo relações afectivas substitutas para aquela criança, que lhe dêem a estabilidade necessária para crescer segura e ser capaz de desenvolver a capacidade de amar e efectuar as etapas de crescimento sem cair em comportamentos de risco."

Sem essa reparação, ou essa "segurança nas relações afectivas", "as crianças não são completamente autónomas, acabam por tornar-se dependentes de outras pessoas, com relações doentias e patológicas, ou dependentes de substâncias, como as drogas", conclui.

O que é estar em risco?
 
"As situações de risco mais habituais são aquelas em que a criança é vítima de maus tratos físicos, psicológicos ou de negligência grave", responde Alda Mira Coelho. Bater é a forma mais visível deste triângulo de risco. Menos visíveis são a "crítica permanente, a falta de carinho e protecção, a humilhação pública, que também constituem maus tratos e podem perturbar o desenvolvimento da criança", alerta. "A negligência grave acontece quando os pais não são capazes de dar à criança os cuidados de saúde, higiene, alimentação que precisa." Os motivos para esta incapacidade podem ser vários: perturbações psiquiátricas, depressões graves, abuso de álcool, drogas. Há ainda os casos de abandono, em que as crianças são deixadas nos hospitais ou na rua.

"O abuso sexual intrafamiliar, na maioria dos casos, também é frequente entre as situações de risco", salienta Alda Mira Coelho, explicando que "muitas vezes, a criança, quando é pequena, nem se apercebe do que lhe está a acontecer, outras vezes sente-se ameaçada pelo abusador que a impede assim de contar, ou então a própria criança tem uma ligação afectiva ao abusador e não quer contar para não criar problemas dentro da família". "Isto é um peso muito grande para as crianças e leva-as a ter sentimentos de culpa muito marcados. Tudo isto são situações em que a criança está em risco e deve ser protegida."

Sinais de alarme

"Não é obrigatório que as crianças com estes sinais estejam em risco, mas quando se verificam em conjunto, devemos, pelo menos, perceber que alguma coisa não está bem e tentar investigar o que se passa", alerta Alda Mira Coelho. Súbita perda de rendimento escolar, dificuldade de concentração, instabilidade emocional (ora chora, ora ri), tristeza, agressividade, alienação, marcas frequentes no corpo, "são sinais que têm de fazer pensar quem os vê".

A estes juntam-se outros: manifestações de insegurança e inibição; dificuldades de relacionamento; ansiedade ligada a estados de vigilância, "como se a criança tivesse medo de alguma coisa, de se expor ou de que alguém lhe faça mal"; falta de vontade ou medo em voltar para casa; apresentação de comportamentos erotizados. "Podem-nos indicar que a criança está a ser sujeita ou a presenciar situações que não são próprias para a sua idade."

Sintomas de carência excessiva também devem alertar educadores e professores. "Uma criança que está constantemente a agarrar-se a toda a gente, de modo indiferencial e a pedir mimos e abraços a todas as pessoas que lhe aparecem, deve fazer-nos pensar que algo não está bem com ela."

Como orientar? É a questão que se coloca depois de sinalizada a situação de risco. Alda Mira Coelho esclarece: "Situações onde existem fortes suspeitas de que alguma coisa não está bem devem ser comunicadas às Comissões de Protecção de Crianças e Jovens." "Mas há que ter muito cuidado, antes de levantar essas suspeitas", avisa a profissional de pediatria, "todos os factos têm de ser analisados com rigor".

Alda Mira Coelho defende que "uma boa maneira de trabalhar estas situações seria através da nomeação de um gestor de caso para acompanhar cada família que esteja em risco, ou seja, sinalizada". Mas isto pode não ser tão linear. "Obviamente, não pode haver um gestor por família, por falta de recursos, mas também não pode haver um com cem famílias, porque assim o trabalho não pode ser feito da maneira adequada", critica.

Na sua opinião, "o ideal era que o gestor de caso não tivesse mais de dez situações, para poder transformar-se numa espécie de vínculo para a família e a criança". A pedopsiquiatra insistiu ainda na importância da formação destes técnicos, nas áreas da mediação familiar e da comunicação. "Sem preparação, o gestor de caso não vai conseguir ganhar a criança nem trabalhar a família para tentar uma nova vinculação. A família precisa de sentir que o gestor de caso está ali para a apoiar e não para lhe retirar a criança e a culpabilizar." Até porque, nas situações em que se verifique que a institucionalização é a única alternativa, o gestor de caso é quem deverá dar as devidas explicações à família e à criança.

Institucionalização

Trata-se de um perfil comum às crianças e jovens institucionalizados. "Passaram quase sempre por perdas, assistiram a coisas que não deviam em relação às pessoas de quem gostavam, não tiveram laços afectivos seguros ou controlados, ou tiveram, mas perderam-nos porque foram retiradas à sua família, por factores de risco, então são vulneráveis, carentes e muito revoltadas".

E se a tal ruptura for prolongada, sem que se faça a tal reparação afectiva, de que Alda Mira Coelho falava, ou "se houver sucessiva ruptura, como passar de uma família para um colégio, daí para uma instituição e depois para uma família de acolhimento, isto só vai levar a que a criança fique ainda mais insegura e incapaz de estabelecer laços". Por isso, uma das preocupações de quem trabalha no sistema de protecção deve ser evitar que todas estas rupturas aconteçam.

O impacto da institucionalização deixa sintomas nas crianças. Sobretudo naquelas que passam longos períodos nas instituições. Alda Mira Coelho traça um quadro geral das problemáticas mais comuns: "Ansiedade difusa, ou seja, medo sem saber de quê, nem porquê, podendo reflectir-se em alterações de sono, pesadelos, perdas de controlo da urina ou das fezes durante a noite; estagnação no desenvolvimento da linguagem e dos pensamentos abstractos, o que se vai reflectir no aproveitamento escolar; falta de autocontrolar, são muito instáveis e desorganizadas, com um comportamento caótico." E "como têm muitas vezes um desenvolvimento emocional pobre, e dificuldade em reflectir e expressar as suas emoções, estas crianças falam mais através do corpo. As queixas somáticas são frequentes, como as dores de barriga, de cabeça...", conclui.

Já nos adolescentes, "são frequentes as alterações de comportamento, a agressividade e o furto, ligado à carência afectiva precoce". Alda Mira Coelho explica este comportamento: "É como se o jovem tivesse um vazio lá dentro que não consegue preencher e por isso tem de ir buscar coisas que lhe dão prazer." A busca pela satisfação pode ainda gerar um apetite excessivo por guloseimas, ou a sensação de estar sempre com fome. "As crianças que tiveram perdas afectivas precocemente estão constantemente a pedir guloseimas ou prendas, ou sempre a pedir coisas, porque estão permanentemente insatisfeitas."

Mais tarde, salienta Alda Mira Coelho, "se não houver reparação afectiva nem modelos adequados que ajudem estas crianças a recuperar, este tipo de comportamentos pode levá-las a estabelecer relações superficiais, muitas vezes com uma ausência de culpabilidade, em que se preocupam apenas em obter o prazer imediato e que pode levá-las a situações de risco, nomeadamente delinquentes".

Alguns procedimentos por parte dos envolvidos na protecção podem minimizar os danos emocionais nas crianças e jovens. Segundo Alda Mira Coelho, isto passa por "evitar retirar a criança à família de forma violenta ou traumática, sendo já este um último recurso; não dizer mal dos progenitores, protegendo a imagem que elas têm; nunca dizer à criança que os pais a abandonaram, até porque muitas vezes não foi mesmo um abandono, mas circunstâncias da vida ou factores de risco que originaram a que tivessem de ser protegidas; desde que haja garantias de segurança para a criança, manter os contactos com os pais ou familiares; nunca culpabilizar a criança pela sua situação; e, para que a criança institucionalizada consiga estabelecer alguns vínculos, deve-se evitar a mudança de espaços".

Ao longo de 7 meses, o projecto de formação de famílias "Ajudar a Educar" levou a várias juntas de freguesia da cidade do Porto especialistas em pedopsiquiatria, psicologia, pediatria, obstetrícia e serviço social para fornecer às famílias informações nestas áreas. Alda Mira Coelho, pedopsiquiatra do serviço de Pediatria do Hospital São João, no Porto, e mentora do projecto salienta a importância de formar os pais para lidar com situações que perturbam a sua função de progenitores.

Em retrospectiva, as sessões abordaram o desenvolvimento psicoafectivo e físico da criança; cuidados durante a gestação e planeamento familiar; insucesso escolar, violência e comportamentos de risco na adolescência; comunicação intrafamiliar, equipamentos sociais para problemáticas de risco, e, por último, as problemáticas que podem surgir em crianças institucionalizadas.

"Ao longo de todas as sessões foi dado algum material aos pais, os textos em Word das apresentações realizadas pelos especialistas, com o objectivo de fornecer uma espécie de curso", refere Alda Mira Coelho. Os pais que seguiram todas as sessões tiveram um diploma "para poderem dizer que frequentaram um curso de Educação Parental", acrescenta. "Muitos destes pais são carenciados e esta foi uma forma de os motivar e melhorar a sua auto-estima e a relação com as suas crianças."

No entanto, o nível de participação das famílias nas sessões ficou aquém das expectativas dos organizadores. Ana Moutinho, directora da Casa de Cedofeita, um centro de acolhimento da associação CrescerSer, acredita que a mensagem talvez não tivesse chegado aos destinatários. Ainda assim, a directora salienta a importância de acções deste género. "Não vamos deixar de investir na capacitação das famílias, mas vamos pensar fazê-lo num outro formato."

UTAD distinguida pelo trabalho em reabilitação e acessibilidade humanas

A criação da primeira licenciatura de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas e a investigação feita nesta área pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) foram  distinguidas com o galardão da Inclusão nas comemorações do Dia Mundial da Pessoa com Deficiência.

Francisco Godinho, coordenador do Centro de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade (CERTIC) da UTAD, vai receber na sexta-feira, em Leiria, o galardão que será atribuído na primeira Gala da Inclusão, uma iniciativa organizada pela autarquia e Instituto Politécnico desta cidade, assim como pelo Governo Civil do distrito.

“É um reconhecimento da sociedade civil. É um estímulo para a universidade, para os alunos deste curso e esta visibilidade é importante para as futuras saídas profissionais”, afirmou à Agência Lusa o docente da universidade de Vila Real.

A UTAD foi pioneira ao abrir há três anos a primeira licenciatura de Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas. O segundo curso do género foi criado em 2009 na Universidade de Coventry (Reino Unido). O professor salientou que esta licenciatura faz parte de um processo que começou há quase dez anos com a criação do CERTIC, que agora dá apoio e cede os recursos ao curso.

Este centro desenvolve a sua actividade orientada para a aplicação da ciência e da tecnologia na melhoria da qualidade de vida das populações com necessidades especiais, nomeadamente pessoas com deficiência, idosos e acamados, em áreas como o acesso a tecnologias e serviços, educação, emprego, saúde e reabilitação funcional, transportes, vida independente e recreação.Estima-se que existam em Portugal mais de dois milhões de pessoas idosas e com deficiência.

Entre outras iniciativas, o CERTIC desenvolveu um sistema para comunicação com doentes que apenas conseguem movimentar os olhos, ou o MECBraille - Marco Eletrónico de Correio Braille, que disponibiliza gratuitamente um serviço de conversão e envio de textos e cartas em Braille.

Os técnicos e engenheiros que aqui trabalham são ainda contactados para adaptar computadores ou 'softwares' e estão constantemente a pesquisar o que há de novo em termos técnicos, o que torna este centro um dos mais bem equipados do país.

Actualmente frequentam a licenciatura em Engenharia de Reabilitação cem alunos, sendo que as 25 vagas que têm sido abertas todos os anos são preenchidas na primeira fase da candidatura ao ensino superior. Mas a UTAD não quer ficar por aqui e, segundo Francisco Godinho, já está a trabalhar na criação do primeiro mestrado em Engenharia de Reabilitação e Acessibilidade Humanas.

O objectivo é que abra em 2011 com um plano de estudos flexível de forma a servir de complemento aos licenciados deste curso e de especialização para licenciados de outros cursos de engenharia. Nos últimos três anos, os alunos desta licenciatura têm promovido várias iniciativas para alertar e sensibilizar consciências, como um jantar às escuras ou um jantar sem mãos e jogos para pessoas cegas ou que se deslocam em cadeira de rodas.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Natal dos Bloguistas


Da ideia original de Gonçalo Cardoso o Natal dos Bloguistas está em fase de organização.
 
Estão abertas as inscrições para a participação bem como sugestões sobre locais de convívio em Sintra!

O critério passa por locais acessíveis, acolhedores, económicos e com espaço para actuação de música, neste caso, o “Liberdade ”.

Com uma primeira sugestão da EC, surge o restaurante vegetariano “Almaçã”. Uma ideia, segundo o Gonçalo,  para alguns estranha mas que entranha, uma vez que poucos são os convívios em grupo com um menu vegetariano.

Para alguns a originalidade encanta! Para outros uma opção de vida! Mas estão abertas mais opções e sugestões.

Partilhem e escolham democraticamente nos próximos dias!
 

Consigo (27-11-2010)


Veja aqui o programa deste domingo, inteiramente dedicado a França: visitámos Annecy, uma pitoresca cidade francesa junto à fronteira com a Suíça, estivemos na Bienal de Design de Saint Etienne, para conhecer as novidades, e ainda acompanhámos um treino de ski do Clube Vercors Handisport. Entre outras novidades. Veja aqui o programa: Consigo - Magazines RTP 2 - Multimédia RTP

In: Blogue Consigo

Exposição “Arte Numa Perspectiva Diferente” na galeria de arte da EDIA, em Beja

De 23 de Novembro a 17 de Dezembro irá estar patente, na galeria de arte da EDIA em Beja, a Exposição “Arte Numa Perspectiva Diferente”, onde seis jovens artistas plásticos, com paralisia cerebral, expõem 24 quadros de pintura com as suas visões artísticas do mundo.

A exposição, que é promovida pelo Centro de Paralisia Cerebral de Beja (CPCB), que este ano celebra a sua 9ª edição, assinalando o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, (3 de Dezembro), mostrando quadros pintados por seis artistas, utentes do CPCB, para o qual vão reverter as receitas da venda das obras.

Segundo José Pires, director do CPCB, “a exposição pretende reforçar a auto-estima dos utentes, divulgando os seus trabalhos de expressão plástica".
In: Ajudas

sábado, 27 de novembro de 2010

Ciclo de Sábados: "Falando com quem faz: Matrizes Curriculares"


Decorreu este sábado, dia 27/11/2010, mais uma sessão do Ciclo de Sábados: "Falando com quem faz"...O tema abordado durante esta sessão foi “Matrizes Curriculares”  e a dinamização esteve a cargo das Docentes de Educação Especial do Agrupamento de Escolas Vasco Santana.
As dinamizadoras começaram por realçar que esta partilha é resultado de um excelente trabalho de cooperação entre todos os agentes educativos do referido agrupamento...Sem esquecer o suporte que a sua direcção dá para a realização do trabalho que é efectuado no dia-a-dia.

A cooperação entre todos os intervenientes tem um grande objectivo...Os alunos...E o trabalho de Todos é realizado tendo em vista o desenvolvimento de cada criança/jovem.

Um outro aspecto que a mim me parece fundamental é o diálogo...E isso foi referido pelas dinamizadoras...As famílias, docentes, assistentes operacionais e elementos da direcção estão sempre em comunicação para efectuarem uma articulação mais eficaz em prol dos alunos.
De seguida, apresentaram o seu modelo de Matriz Curricular...Modelo esse que resulta de  várias reflexões em equipa e de uma prática diária sempre em articulação com os educadores/professores do regular. 

As boas práticas foram motivo de reflexão e debate ao longo de toda a manhã, servindo desse modo para crescermos tanto a nível profissional, como pessoal...

Desta sessão  saímos todos com uma certeza...É importante continuarmos a lutar e a trabalhar por uma Escola de e para Todos...Ainda há muito para fazer, novos desafios estão no caminho e só com a articulação, diálogo e entreajuda entre todos os agentes educativos será possível superar desafios/obstáculos que forem surgindo...

O próximo sábado já decorrerá em 2011, no dia 15 de Janeiro, e a dinamizadora será a Dr.ª  Sofia Santos que abordará o Tema: “A funcionalidade na Dificuldade Intelectual: Escala de Comportamento Adaptativo”...

Para quem queira efectuar a inscrição nas próximas sessões do "Ciclos de Sábados: Falando com quem faz", poderá fazê-lo através do seguinte endereço:

E o endereço para consultarem o programa:

Hospital S. João, no Porto, adopta sistema para daltónicos

O Hospital de S. João, no Porto, vai implementar, a partir do próximo dia 6, um código gráfico que vai permitir aos daltónicos identificar as cores utilizadas no sistema de triagem de Manchester, usado no serviço de urgências, e de orientação dentro daquela unidade de saúde. O ColorAdd, que terá custos quase nulos, poderá vir a ser adoptado por outros hospitais do distrito do Porto.

Mas afinal o que é o ColorAdd? Consiste na substituição das cores por um símbolo gráfico. "A cada uma das três cores primárias é atribuído um símbolo gráfico. Conhecendo esses três símbolos, um daltónico consegue identificar todas as cores", explicou ao JN, Miguel Veiga, criador de um sistema que começou, há dez anos, com uma tese de licenciatura e foi divulgado em 2008.

Desde então, o ColorAdd já foi adoptado por empresas como a CIN e outras ligadas aos sectores da cerâmica e de materiais escolares. Segundo Miguel Veiga, até já terá sido procurado pelos metros de Londres (Inglaterra) e de S. Paulo (Brasil).

Na área da saúde, o S. João é o primeiro hospital a associar a cor a símbolos gráficos. Segue-se outra unidade de saúde, em Lisboa, onde, em Janeiro, arranca um projecto piloto de inclusão do ColorAdd nos fármacos administrados no serviço operatório.

O protocolo com o Hospital de S. João vai ser assinado no próximo dia 6. A governadora civil do Porto, que apadrinha o projecto, acredita que outros virão. "Convoquei para uma reunião diversos hospitais do distrito e só tive reacções favoráveis", adiantou Isabel Santos, esperançosa de que o sistema venha a ser adoptado por outro tipo de entidades. "É um problema que afecta 10% da população masculina do distrito", constatou, em jeito de argumento.

Ainda por cima, para Isabel Santos, o ColorAdd é uma espécie de "ovo de Colombo" para os daltónicos. "É uma solução muito simples. Quase não tem custos", enalteceu ainda a governadora, revelando regozijo por um projecto ter partido de um criador portuense. "É uma forma de afirmarmos também a marca Porto", concluiu isabel Santos.

"No caso do S. João, o investimento é mesmo nulo", reforçou Miguel Veiga, convencido de que o ColorAdd "está para o daltónico como o braille para o cego". "É sobretudo um código que permite a inclusão", rematou.
 

Trissomia 21 e o teatro, parte 1


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Viver com Esclerose Tuberosa

Doença genética afecta 1 em cada 6 mil a 10 mil pessoas...

Feira de Natal BIPP para ajudar crianças especiais

Mais de duas dezenas de empresas contribuíram este ano com donativos para realizar mais uma feira de Natal do Banco de Informação de Pais para Pais (BIPP), uma Instituição Particular de Solidariedade Social que apoia famílias de pessoas com necessidades especiais, mas que está aberta a todos os que se relacionam com a deficiência.

A feira decorre até amanhã no Fórum Picoas, em Lisboa, e estará no Évora Hotel entre os dias 3 e 5 de Dezembro. As receitas revertem a favor da instituição, que tem um centro de atendimento em Lisboa, na Rua Rosa Araújo, e organiza campos de férias.

"Há muita falta de informação. As pessoas, por vezes, passam uma vida inteira, às voltas, sem saber a quem recorrer e que apoios podem ter. Esse é o trabalho prestado pelo BIPP", explicou Gonçalo Sousa Coutinho, um dos membros da direcção da instituição.

Joana Santiago, presidente do BIPP e mãe do Francisco, um menino especial que sonha ser fadista, revelou que a instituição está apostada em colocar de pé dois projectos a curto prazo.

De acordo com a responsável, uma das ideias que está ainda em embrião é o projecto InVida, um espaço de desenvolvimento de competências sociais. O outro será a criação de uma unidade móvel para percorrer o país e funcionar como centro de atendimento e para a prática de terapias.

PHDA

Entrevista com a médica psiquiatra e escritora Dr.ª Ana Beatriz Barbosa Silva sobre Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) -, tema do livro de sua autoria Mentes Inquietas. (2ª Parte)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ciclo de Sábados: "Falando com quem faz: Matrizes Curriculares”


É já este Sábado, dia 27/11/10, o regresso do Ciclo de Sábados da Associação Nacional de Docentes de Educação Especial.

Este sábado o tema será “Matrizes Curriculares”  e está a cargo das Docentes Laura Gonçalves, Teresa Sousa, Maria Inês Angelino, Marta Nunes, Isabel Damião, Gabriela Matos e Marta Vilhena.

A sessão promovida pela Associação Nacional de Docentes de Educação Especial realizar-se-á das 10h00 às 13h00, no auditório C28, no Instituto Piaget - Quinta da Arreinela de Cima, 2800-305 Almada. (Estação do Pragal - FERTAGUS).

Depois do sucesso alcançado nos Sábados anteriores, é com grande expectativa que aguardamos pelo regresso desta actividade.

Aqui fica o endereço através do qual poderão fazer a vossa inscrição:


E o endereço para consultarem o programa:

 
Nesse mesmo dia, a partir das 14h30 decorrerá a Assembleia Geral da PIN-ANDEE para apresentação do Plano de Actividades e Orçamento Provisional.

Protocolo para proteger crianças e jovens em risco

Várias instituições assinaram ontem um protocolo de cooperação para melhorar a capacidade de resposta a nível local e regional aos casos de maus tratos a crianças e jovens em contexto de violência doméstica. Vasco Prazeres, coordenador da Comissão de Acompanhamento da Acção de Saúde para Crianças e Jovens em Risco, defende que "o principal objectivo é prevenir os casos de maus tratos, mas quando isso não for possível, dar a melhor resposta para que não haja uma reincidência".

O protocolo integra não só a Direcção-Geral da Saúde mas ainda a Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, a Coordenação Nacional para a Saúde Mental e a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. "Em termos gerais, o que se pretende é fomentar uma maior articulação entre as diversas instituições", esclarece Vasco Prazeres.

No decurso deste plano de acção, as instituições outorgantes do protocolo têm de elaborar e divulgar um plano de acção com base em experiências-piloto, bem como monitorizar as suas acções e elaborar um relatório anual.

O médico e sexólogo frisa que para este tipo de casos, e face à sua gravidade, "a resposta tem de ser abrangente e articulada" e, por isso, "a melhor forma é trabalhar em rede, para que todos possam dar o seu contributo". Vasco Prazeres lembra que a violência doméstica não é só a agressão física, e que a própria lei de protecção de crianças e jovens tipifica o facto de existir risco quando o menor está exposto a maus tratos psíquicos. "Sendo que sempre que há maus tratos físicos há também violência psíquica", sublinha.

Apesar da realidade ainda existente - em 2009 houve 1777 menores vítimas de maus tratos físicos e 3554 de maus tratos psicológicos -, o coordenador da acção refere que as mentalidades estão a mudar. "Não só na representação social mas também nas diferentes instituições está a perder-se a ideia de que não se deve interferir na intimidade do lar nem nos filhos dos outros", diz Vasco Prazeres. "Já não olhamos para esse fenómeno com indiferença", frisa.

Desenvolver a auto-estima

O Calvin é uma personagem deliciosa! A brincar vai dizendo aquilo que muitos jovens sentem e pensam e que provavelmente nunca traduziram em palavras. As birras com a mãe, o desinteresse pela escola, os atritos com a professora, as confidências ao seu tigre... Quantas mensagens úteis transmitidas de uma forma divertida!

Neste pequeno excerto faz apelo a um conceito muito importante: a auto-estima. Atrevo-me mesmo a dizer que esta é uma das maiores heranças que os pais podem ajudar os filhos a construir. Não lhes poderão transmitir este bem precioso através do testamento, porque a sua transmissão se processa no dia-a-dia.

O que é a auto-estima

A auto-estima é a percepção que cada um tem de si mesmo em termos mais afectivos. Esta resulta de um longo processo, determinado por um sem-número de experiências que surgem na sequência do contacto com diferentes contextos. A família, a escola, a sociedade em geral dão permanentemente informações ao indivíduo que são usadas na construção desta auto-imagem. Os comentários, os êxitos e fracassos, o estilo educativo parental, os valores e modelos sociais são algumas das pistas que vão sendo transmitidas ao sujeito e que contribuem decisivamente para que este vá construindo uma imagem mais ou menos positiva de si mesmo. A família não é a única responsável nesta construção, mas coloca nela "tijolos muito decisivos".

Como podemos ajudar

Ajudar o seu filho a gostar dele próprio é meio caminho andado para a sua felicidade... Haverá porventura maior herança que esta?O que poderá então fazer desde já para que o seu filho possa, com maior probabilidade, desenvolver uma auto-estima positiva? Apesar de não existirem receitas, deixo-lhe algumas sugestões:
  • Orgulhe-se pelo seu filho ser como é. Ele pode não ser um bom aluno, nem tocar aquele instrumento musical que tanto gostaria, mas tem, com toda a certeza, outras qualidades.
  • Deve elogiá-lo pelas pequenas e grandes vitórias. Não é necessário, no entanto, passar a vida a dar-lhe reforços positivos. Os pais podem ralhar, chamar a atenção, impor limites, desde que reafirmem sempre a confiança nas capacidades dos filhos e expressem a convicção de que eles são capazes de fazer melhor.
  • Envolva o seu filho na definição de regras. Estas devem ser discutidas de forma a ficarem bem claras para os pais e para os filhos. Este aspecto é absolutamente indispensável, se ele for adolescente.
  • Valorize os pequenos progressos que o seu filho for fazendo, sobretudo se se tratar de uma área em que ele apresenta dificuldades.
  • Se reforçar os aspectos negativos do seu filho, irá contribuir para que se despoletem ainda mais aspectos negativos. A censura, a crítica permanente só contribuem para a destruição progressiva da auto-estima.
  • Não caia na tentação fácil de comparar o seu filho com o primo, o vizinho, o irmão...Ele é um ser único, com um ritmo de desenvolvimento muito próprio e apenas pode ser comparado com ele mesmo. Ajude-o a relativizar os insucessos e a tentar encontrar razões explicativas para estes terem surgido. Quantas vezes o insucesso escolar é atribuído à falta de capacidade.
  • Se o seu filho é demasiado exigente com ele próprio, ajude-o a definir metas menos ambiciosas. O perfeccionismo é um grande inimigo da felicidade, uma vez que para o perfeccionista, por melhores que sejam os resultados obtidos, são sempre abaixo daquilo que para ele seria desejável.
Se ainda tem dúvidas quanto ao valor desta herança, deixo-lhe alguns dados para reflectir. 
 
Os indivíduos com baixa auto-estima têm reduzida auto-confiança e, por isso, não acreditam nas suas possibilidades. Vivem centrados nas suas dificuldades e têm baixas expectativas, o que leva a que obtenham baixos resultados nas tarefas. A nível profissional têm grandes dificuldades em definir objectivos, em utilizar estratégias e em tomar decisões.
 

Vídeos relacionados com este tema: A importância da auto-estima nas crianças


Por: Adriana Afonso

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

PHDA

Entrevista com a médica psiquiatra e escritora Dr.ª Ana Beatriz Barbosa Silva sobre Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA) -, tema do livro de sua autoria Mentes Inquietas. (1ª Parte)


A Educação na Finlândia

Hoje partilho com vocês este resumo...Por estar com muita qualidade...Por ser de uma grande Amiga...de uma grande Profissional...Mas acima de tudo porque acredito "que o caminho é possível"...Juntos conseguimos!!! 


"Já conhecendo o texto original publicado em 2006, disponivel na net  

foi com imenso prazer que encontrei este livro, traduzido agora por um grupo de professores da Escola Secundária D. João II de Setúbal, a quem dou os meus parabéns e publicado por Edições Afrontamento.  
Este livro constitui o testemunho do autor numa visita à Finlândia, onde, in loco, se pode perceber as bases inclusivas e humanistas de uma politica educativa cada vez mais pertinente. 

A importância do ambiente, ritmos adaptados a cada um, detecção precoce das limitações e dificuldades, liberdade de escolha, avaliação motivadora, aulas activas, qualificação de professores e formação contínua orientada, são alguns dos itens que constituem um sistema educativo onde alunos e professores se sentem envolvidos numa estreita ligação entre a comunidade e o estabelecimento escolar.
Liberdade pedagógica é uma constante, quer para a função do professor, como para o aluno, existindo um clima de co-responsabilização de todos os envolvidos, o que se reflecte na continuidade entre ciclos.

A premissa de que cada aluno é importante, partindo do potencial de cada um, faz com que o sistema de aprendizagem na Finlândia constitua um modo saudável e eficaz de fazer progredir o sistema em função das necessidades reais dos principais interessados, uma cultura que valoriza cada individuo, num clima que ensina cada um a adaptar-se a todo o tipo de condições. 

Um sistema com elevado grau de organização mas com flexibilidade, com forte presença de valores morais e tolerância, questões que deveriam estar imbuídas profundamente no íntimo do ser de qualquer cidadão do mundo e não só na Finlândia. Em suma o cerne do sistema educativo finlandês: "ajudar cada aluno na obtenção de um estatuto de ser humano plenamente responsável e capaz de intervir e participar conscientemente na sociedade em que se insere, sem deixar de ser ele próprio". (pg 36).

No final da leitura deste livro poderia surgir alguma tristeza, perante tal distanciamento da nossa realidade, mas não, pelo contrário, fico feliz por constatar que mais que uma utopia para alguns, afinal o caminho é possível... o desenvolvimento do ser humano integral!"
Por: EC

«Repórter TVI»: Doutores do sorriso

"A Operação Nariz Vermelho é uma instituição de solidariedade de sucesso, e tudo graças ao profissionalismo com que é gerida. Todos os funcionários são remunerados, inclusivamente os doutores palhaços. Ao todo são 20 artistas de 7 nacionalidades espalhados por 12 hospitais.

Para as crianças, que passam dias, semanas e até meses internadas nos hospitais portugueses, a visita dos doutores palhaços é sempre um acontecimento. São momentos inesquecíveis, feitos de alegria, sorrisos e até de algum alívio. Mas o campo de intervenção destes homens e destas mulheres não passa apenas pelas crianças, mas também pelos pais e serviços.

O Repórter TVI foi saber como funciona esta instituição de solidariedade social, e conhecer histórias de crianças e pais que ficaram, para sempre, com a Operação Nariz Vermelho no coração.

Uma grande reportagem da jornalista Brigitte Martins, com imagem de Gonçalo Prego e montagem de Teresa Almeida."

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Seguir em frente

Grande exemplo...

Ana Vanessa depende de uma cadeira de rodas desde os 7 anos...E sempre com um sorriso...


Crianças com deficiência em risco de ficar sem apoio nas escolas

Milhares de alunos das escolas públicas com necessidades especiais estão em risco de ficar sem apoio especializado nos próximos meses. Em causa estão as verbas que o Ministério da Educação ainda não pagou aos centros de recursos para a inclusão. As dívidas acumulam-se desde o início do ano lectivo e boa parte das instituições que asseguram o acompanhamento destas crianças nos agrupamentos escolares de todo o país estão à beira da ruptura financeira.

A Federação Portuguesa de Autismo e a Humanitas - Federação Portuguesa para a Deficiência Mental - são apenas duas das organizações que alertam para o perigo de suspender a sua actividade caso o governo não regularize as dívidas até final deste ano. Só na Humanitas são pelo menos 12 as instituições com centros de recursos para a inclusão que temem não conseguir pagar já no próximo mês as despesas correntes e os salários de centenas de técnicos que acompanham 1650 crianças deficientes a estudar em todas as regiões do país, excepto no Algarve.

Não tendo ainda transferido as verbas referentes aos meses de Setembro, Outubro e Novembro, o Ministério da Educação deve já 440 mil euros às instituições federadas na Humanitas. "A principal consequência dessa demora é a suspensão a muito curto prazo dos projectos que desenvolvemos nas escolas e que passam sobretudo pelo apoio especializado prestado por terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas ou psicólogos", explica o vice--presidente da federação, João Dias.

Na mesma situação encontram-se os dois centros de recursos para a inclusão da Federação Portuguesa de Autismo, que acompanham 250 crianças nas escolas das regiões de Lisboa e Porto. "Temos contratos para cumprir com os agrupamentos escolares, mas a sua execução depende das verbas do Ministério da Educação", esclarece a dirigente da federação, Isabel Cottinelli Telmo.

O governo concedeu este ano à federação de autismo uma verba superior a 200 mil euros e, por enquanto, a dívida do ministério ascende a 46 815 euros. Entre Setembro e Novembro, Isabel Telmo explica que usou os subsídios de Natal e de férias deste ano para pagar os salários dos técnicos, as despesas correntes e ainda os encargos com as obras que estão a decorrer na Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo.

Porém, em 1 de Janeiro esse pé de meia estará esgotado: "Se entretanto as dívidas não forem liquidadas não temos alternativa senão suspender a nossa actividade", avisa a presidente, que, no entanto, diz acreditar na "boa vontade" das direcções regionais de educação (DRE) para sair deste impasse.

Contudo, a resolução do problema não estará dependente das cinco direcções regionais de educação. Tanto a Humanitas como a Federação Portuguesa de Autismo já questionaram diversas vezes as DRE e obtiveram repetidamente a mesma resposta. "Dizem-nos que desconhecem quando as verbas serão pagas e que a questão só poderá ser solucionada pela tutela", conta João Dias.

O mês de Novembro está a acabar e ainda "não há qualquer resposta", apesar dos "emails enviados às direcções regionais e ao secretário de Estado adjunto da Educação [Alexandre Ventura]", conta o vice-presidente da Humanitas. O i tentou ainda contactar a Federação de Cooperativas de Solidariedade Social para saber se o problema se estende às suas instituições, mas essa informação não chegou a tempo, uma vez que os dois dirigentes se encontram fora do país. O valor total da dívida e o número de instituições e crianças afectadas é outra incógnita, uma vez que o Ministério da Educação não esclareceu as dúvidas do i até ao fecho desta edição. 
 

Vai ser testado tratamento para uma forma de cegueira que usa células estaminais

O primeiro tratamento com células estaminais embrionárias para uma doença que pode levar à cegueira recebeu luz verde para ser ensaiado em 12 pessoas que sofrem da distrofia macular de Stargardt. O anúncio feito pela empresa norte-americana Advanced Cell Technology.

Esta doença, que causa perda progressiva da visão, declara-se normalmente entre os dez e os 20 anos. Afecta a mácula, uma zona no centro do retina onde os raios de luz se focam para formar as imagens. Nesta área há uma grande concentração de cones, células responsáveis pela visão central — que usamos quando olhamos em frente ou fazemos alguma tarefa que necessita de uma visão sensível ao pormenor, como ler, coser ou trabalhar ao computador.

Inicialmente, a degeneração da mácula vai tornar a visão distorcida, ou desfocada, mas quem já tem a doença de Stargardt há algum tempo começa a ver uma mancha à frente do seu campo de visão, que não se move, faça ela o que fizer. A visão pode deteriorar-se até um ponto em que as pessoas afectadas podem detectar movimentos mas pouco mais.

A doença de Stargardt tem origem genética e estima-se que seja hereditária em 90 por cento dos casos.

Nas próximas semanas, a empresa espera ter também autorização da Food and Drug Administration (a agência que regula o mercado dos medicamentos e dos alimentos nos Estados Unidos) para testar esta técnica no tratamento da degeneração macular relacionada com a idade, muito mais comum do que a doença de Stargardt: afecta 30 milhões de pessoas em todo o mundo.

O ensaio do tratamento desenvolvido pela empresa, pioneira na investigação sobre células estaminais embrionárias, envolve injectar nos olhos dos doentes entre 50 mil e 200 mil células da camada pigmentada da retina. “Usando células estaminais, podemos gerar uma quantidade virtualmente sem limites destas células saudáveis. Estas são as primeiras células que morrem na doença de Stargardt e noutras formas de degeneração macular”, explica Robert Lanza, o responsável científico máxico da empresa, citado num comunicado.

“Em testes feitos em ratos vimos uma melhoria de 100 por cento na performance visual, em comparação com animais que não foram tratados, e sem reacções adversas”, garante Lanza. “Esperamos poder demonstrar a segurança do tratamento, e ver que há melhoras na visão em apenas seis meses”, disse ainda, citado pela edição on-line da revista de divulgação científica New Scientist.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Projecto BloNo - Sms para cegos

Pegue no seu telemóvel. Abra o menu para criar uma nova mensagem. Feche os olhos e escreva um sms. Para quem é adolescente e envia dezenas de sms por dia, a tarefa até não é demasiado complexa (é frequente ver-se jovens a escrever mensagens enquanto conversam ou olham distraidamente para o outro lado - e com uma rapidez que supera a de muitos que estão de olhos e dedos agarrados ao teclado). Contudo, para a maioria, escrever um sms de olhos fechados é impossível. A tarefa torna-se mais complicada se o seu telemóvel tiver um ecrã sensível ao toque (como o iPhone). Neste caso, nem vale a pena tentar.

Mesmo que tenha um telemóvel tradicional e uma boa imagem mental das letras que correspondem a cada tecla (são nove teclas, de 1 a 9, e mais uma fila de três teclas em baixo), verá que é fácil ficar perdido. Não apenas porque pode estar a premir uma tecla que não é aquela que pensa, mas também porque poderá ter dúvidas. O H é a segunda ou terceira letra na tecla 4? E quantas vezes é preciso premir a tecla certa para introduzir um ponto de interrogação?

No caso das pessoas cegas ou com grandes dificuldades de visão, a maior sensibilidade que muitos – mas não todos – têm nos dedos ajuda a navegar pelo teclado e premir a tecla pretendida sem errar (muitos teclados, aliás, têm pequenas saliências na tecla central, a do número 5, que ajudam a identificar as teclas pelo toque). Porém, muitas destas pessoas, sobretudo aquelas que são cegas desde antes de os telemóveis se terem tornado num aparelho obrigatório, têm uma desvantagem grande: nunca viram um teclado e precisam de o saber de cor para poderem escrever um sms.

Um grupo de investigadores do INESC-ID, um laboratório de investigação do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, desenvolveu um sistema, chamado BloNo, para facilitar a escrita de mensagens por parte de pessoas cegas ou com dificuldades visuais. Um dos objectivos é "aliviar a carga cognitiva de ter várias letras associadas a teclas", explica Tiago Guerreiro, estudante de doutoramento no instituto e um dos investigadores que constituem o núcleo do projecto, a par do colega Hugo Nicolau e sob a coordenação do investigador Joaquim Jorge, responsável pela equipa. O sistema, de resto, não é de grande complexidade técnica, admitem. A grande novidade é o conceito: um novo esquema de organização das letras, feito para ser mais facilmente utilizado por quem tem de o saber de cor.

Dividir o alfabeto
Ao estudarem o assunto, os investigadores notaram que as vogais surgem no alfabeto a intervalos de extensão mais ou menos semelhante. Como praticamente toda a gente conhece a ordem das vogais, esta poderia ser uma boa forma de navegar por todas as letras.

A opção foi dividir o alfabeto em cinco filas, cada uma a começar por uma vogal. Quando chega à última consoante antes da próxima vogal, a fila termina e começa uma nova. O resultado é uma matriz como esta:

A B C D
E F G H
I J K L M N
O P Q R S T
U V W X Y Z

Com esta disposição de letras, as pessoas podem navegar verticalmente pelas vogais, de forma a seleccionarem a fila que pretendem. Depois, e se a letra pretendida for uma consoante, basta seguir para a direita (ou para a esquerda, caso se pretenda seleccionar uma letra da fila de cima). Por exemplo: para seleccionar a letra P, o utilizador tem de fazer movimentos para baixo (usando as teclas numéricas) até chegar à fila do O; uma vez aqui, anda uma "casa" para a direita.

A navegação vertical pelas vogais é, porém, apenas um atalho, explica Tiago Guerreiro. A ideia é que as pessoas usem as vogais para chegar rapidamente às consoantes que lhes estão próximas, usando um raciocínio do género: "o O é a vogal mais próxima do P, por isso, vou até à fila do O e sigo para a direita até encontrar o P".

A prática ajuda a dominar a técnica (segundo dados das experiências, a taxa de erros a escrever sms diminui ao longo das utilizações). Mas é também possível ir simplesmente seguindo de forma linear pelo alfabeto, tanto para trás como para a frente, e seleccionar as letras pretendidas, premindo a tecla 5.

Ao longo de todo este processo, o sistema faz outra coisa imprescindível: vai anunciando em voz alta a letra pela qual o utilizador está a passar. Este sistema de voz (que não foi desenvolvido pelo grupo, mas comprado a uma empresa) também lê a palavra completa quando esta é escrita. E lê ainda o resto do ecrã do telemóvel, ajudando os utilizadores a encontrar os menus certos.

Uma das vantagens da forma como os investigadores do INESC usam o sintetizador de voz é o facto de este não ler todos os elementos do ecrã, como, por exemplo, o nome do operador de comunicações ou outros dados irrelevantes quando se usa um telemóvel. Apenas lê as palavras que podem ser úteis: agenda, contactos, calculadora, chamadas, mensagens. Toda a interface de navegação foi desenhada a pensar em quem não vê, em vez de simplesmente oferecer uma versão vocalizada das interfaces convencionais.Também no ecrã
As primeiras experiências foram feitas em telemóveis da marca HTC. Eram aparelhos relativamente simples, com um teclado convencional e que tinham um preço nas lojas a rondar os 120 euros. "A investigação é focada em telemóveis de uso comum", frisa Tiago Guerreiro.

Num segundo passo, porém, a equipa resolveu passar para os telemóveis com ecrã sensível ao toque - uma preocupação que já não é recente para Joaquim Jorge. Já em 2003, lembra, o grupo de investigação tinha trabalhado numa película aderente para ser usada em ecrãs tácteis (nessa altura, faltavam ainda quatro anos para o iPhone chegar ao mercado e, com ele, surgir a explosão deste género de telemóveis).

Adaptar o sistema aos ecrãs tácteis não foi difícil. Em vez de usar as teclas para navegar, o utilizador desliza o dedo pelo ecrã: para cima, para baixo e para os lados. Como o utilizador não tem de acertar numa tecla específica, a utilização acaba até por ser mais rápida.

Carlos Bastardo é psicólogo e formador na Fundação Raquel e Martin Sain, uma instituição que dá apoio a cegos e que ajudou para testar a tecnologia desenvolvida pelo grupo de Joaquim Jorge. E é também um utilizador satisfeito do sistema, reconhece, antes de fazer uma demonstração para a Pública em que, com o telemóvel próximo do ouvido, escreve um sms a dizer que naquele dia chegará mais tarde para jantar - foi rápido.

Carlos Bastardo explica que já existem sistemas de braille para escrever em telemóveis. Mas estes colocam dois problemas, não muito diferentes dos que existem no uso convencional dos teclados: os utilizadores têm de ter uma grande habilidade táctil e conhecer os símbolos braille. "Apenas uma percentagem reduzida de pessoas sabe braille", afirma Bastardo, acrescentando que muitas pessoas cegam já depois dos 60 anos, numa idade em que a redução da capacidade sensorial e da capacidade cognitiva dificulta a aprendizagem.

O BloNo, porém, nunca saiu do meio académico. Joaquim Jorge assegura que fazer a passagem para outros modelos de telemóveis é tecnicamente simples. Mas, argumenta, uma distribuição em larga escala teria de ser feita em parceria com os operadores de comunicações. Estes, porém, já disponibilizam sistemas para cegos e, contactados pelos investigadores, não mostraram interesse neste projecto, diz Joaquim Jorge. E porque não, então, disponibilizar o sistema gratuitamente para quem o quisesse descarregar e usar? Por um lado, responde o responsável, porque é preciso pagar uma licença para usar o sintetizador de fala - e é preciso pagar por cada pessoa em cujo telemóvel este seja instalado. Por outro, defende, porque os telemóveis já deviam ser vendidos com o sistema instalado, para evitar esse trabalho ao utilizador. "O problema não é técnico. É um problema de adopção de tecnologia. As pessoas gostam de abrir, ligar e usar."

In: http://www.publico.pt/Tecnologia/sms-para-cegos_1467509?all=1