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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Um gato, dois gatos; um leão, dois… 'leãos'? A brincar se detecta um problema de linguagem

Ao longo de uma década, quatro investigadoras conceberam um teste que permite detectar de forma precoce problemas de linguagem que, corrigidos a tempo, podem evitar o insucesso escolar, diz uma das autoras.

A criança diz “dois leãos’ ou “dois leões”? Dois “caracoles” ou “dois caracóis”? E a partir de ilustrações consegue nomear acções do quotidiano, como “comer”, “pintar” ou “correr”? Como indica a localização de um objecto? Sabe dizer que a colher está “ao lado” do prato e que o garfo está “dentro” dele? Isoladas, as respostas a estas questões não têm qualquer significado, mas, integradas no teste de avaliação de Linguagem Pré-Escolar concebido por quatro investigadoras portuguesas, elas podem ajudar terapeutas da fala a detectar problemas linguísticos de crianças entre os três e os seis anos que devem ser corrigidos antes da entrada no 1.º ciclo para evitar o insucesso escolar, alerta uma das autoras, Marisa Lousada, professora na Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro (UA).

Não é o único teste do género, mas é um dos poucos concebidos para a língua portuguesa e para a avaliação, separadamente, da compreensão e da expressão verbal oral, nas áreas da semântica e da morfossintaxe, de crianças em fase pré-escolar. Uma vantagem, segundo Marisa Lousada, “na medida em que um diagnóstico muito preciso das dificuldades permite a concepção e a aplicação de um plano de intervenção dirigido às necessidades específicas de cada criança”.

Envolvendo quatro investigadoras, algumas das quais já não se encontram, actualmente, na UA, o teste resultou do desenvolvimento, ao longo de uma década, de vários projectos, financiados pela Fundação Calouste Gulbenkian, pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e pelo Ministério da Educação e Ciência. A comercialização dos materiais por uma nova empresa, spin-off da UA é, assim, o culminar do trabalho que decorre desde 2004, anunciou o gabinete de imprensa daquela universidade.

À concepção do teste, disse Marisa Lousada ao PÚBLICO, seguiu-se, numa fase inicial, a encomenda das ilustrações destinadas à avaliação de cada competência linguística. E, depois, a sua utilização em estudos-piloto com crianças em idade pré-escolar. Só numa última fase os diversos materiais – um livro de imagens e uma colecção de objectos, um manual de aplicação e uma folha de registo – foram testados por terapeutas da fala junto de 817 crianças (402 meninas e 415 meninos) com idades entre os três e os seis anos, residentes em 11 distritos portugueses.

Estes últimos testes serviram para determinar os parâmetros de normalidade em relação às competências das crianças das diferentes faixas etárias. “’A senhora que está a brincar com o Miguel tem o cabelo preto. Quem é que tem o cabelo preto?’ É normal que uma criança de três anos não saiba o que dizer, mas uma de cinco anos já deve ser capaz de compreender uma frase complexa deste género e de responder correctamente”, exemplifica Marisa Lousada.

Outro caso: “Mostramos a imagem de uma menina a beber dizemos: A menina está a beber um sumo. Depois mostramos outra imagem e perguntamos: O que está a fazer a menina? Uma criança com três anos já será capaz de responder: A menina está a lavar os dentes”. Ainda assim, diz Marisa Lousada, pode haver alguma que não o faz (diz apenas “lavar”, por exemplo), mas, na imagem seguinte, consegue identificar qual das meninas está a lavar os dentes, “o que mostra que a um eventual problema de expressão não corresponderá o de compreensão”.

Estes exemplos, contudo não podem ser analisados de forma isolada, ressalva Marisa Lousada, frisando que só a análise global da cotação das respostas, de acordo com um modelo pré-definido, permite tirar conclusões.

A fiabilidade do teste foi garantida através de diferentes métodos, entre eles a sua aplicação por duas terapeutas ao mesmo grupo de 30 crianças, com um nível de concordância nos resultados de 95,6 por cento. A sua validade foi evidenciada, por exemplo, pelo aumento progressivo da cotação na compreensão e na expressão ao longo das faixas etárias, indicou.

Marisa Lousada afirma que não existem estudos fiáveis que permitam saber qual a percentagem de crianças portuguesas que chegam ao 1.º ciclo com problemas de linguagem por diagnosticar, mas, com base em estudos feitos noutros países, calcula que ela possa rondar os 10%. “Pode ser mais ou menos, mas será um número significativo e preocupante, principalmente se tivermos em conta que muitos dos casos em que o diagnóstico não está feito correspondem a situações em que não há uma complicação associada, como a trissomia 21, a deficiência auditiva ou o autismo”, disse. Isto porque, justificou, "estas últimas têm, normalmente, apoio ao nível da terapia da fala, ao contrário das primeiras, cujas dificuldades passam despercebidas". Nestes casos, diz, "o mais provável é que os problemas se vão arrastando até à entrada no 1º ano, altura em que inevitavelmente se reflectirão na aprendizagem da leitura e da escrita, conduzindo ao insucesso escolar”.

Para além daquela investigadora, participaram na concepção do teste Ana Mendes, que actualmente é professora no Instituto Superior Politécnico de Setúbal, Fátima Andrade, docente no Departamento de Educação da UA, e Elisabete Afonso, professora do ensino secundário.

In: Público

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Enriquecendo o vocabulário

De palavras se faz a nossa linguagem. Através dela nos referimos ao mundo e refletimos sobre ele. A partir da linguagem se estrutura o nosso pensamento. O enriquecimento do vocabulário é, por conseguinte, de grande importância. Os pais podem promover atividades, no quotidiano da família, adequadas à idade e às características dos filhos, que contribuam para esse fim. Aqui ficam algumas sugestões:

1. Utilização frequente de novas palavras, inseridas num contexto que permita à criança a compreensão do seu significado.

2. Lotos, dominós e outros jogos envolvendo palavras, que podem ser adquiridos com facilidade.

3. Sopas de letras, palavras cruzadas e outros jogos idênticos, que são publicados não só em jornais, mas também em revistas adequadas a diversos níveis etários.

4. Aquisição e leitura de livros. A leitura começará por ser feita pelos pais para os filhos, quando estes são pequenos, podendo depois ser feita em conjunto e, mais tarde, pela criança/pelo jovem individualmente.

5. Oferta de um dicionário e realização de atividades/jogos envolvendo a sua utilização.

6. Produção de um dicionário ilustrado sobre áreas temáticas de particular agrado da criança.

7. Utilização do dicionário de sinónimos do Word, no computador. 

8. Pesquisa, no dicionário, de palavras novas surgidas nos textos de estudo e seleção do significado mais adequado.

9. Jogo: ver quem indica mais palavras da mesma família. Ex.: palavras da família de "mar" - marinheiro, marítimo, maresia, amarar.

10. Jogo: ver quem indica mais palavras pertencentes a uma determinada área vocabular. Ex.: área vocabular em torno de 'mar' - barco, peixe, maré, praia, rocha, pesca.

11. Pesquisa de sinónimos e produção de frases e situações em que estas possam ser utilizadas. Ex.: "banzado, admirado, estupefacto" - fazer uma frase com cada palavra e contar uma pequena história em que a utilização da palavra selecionada seja a mais adequada.

De carácter mais lúdico ou mais relacionadas com o estudo formal, as atividades propostas são apenas exemplos de formas de enriquecimento do vocabulário, que podem contribuir ainda para desenvolver o gosto e a curiosidade por aprender e o rigor na utilização das palavras mais adequadas à expressão de cada ideia no contexto em que ela tem de ser expressa. As sugestões apresentadas podem ser igualmente uma fonte de inspiração para outras atividades.

In: Educare

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Perturbações da linguagem (Parte II)

Passe tempo diariamente com o seu filho, nem que sejam 30-60 minutos (mas só dedicados a ele) a brincar e a interagir. Cante-lhe canções (não se preocupe se é desafinado), brinque com fantoches, faça jogos...

Sinais de alarme no desenvolvimento da linguagem 

  0-3 meses: não se volta quando ouve falar ou perante sons fortes;
  4-6 meses: não reage ao "não" ou às alterações no tom da voz, nem dirige o olhar perante sons que ocorrem (exemplo: tocar da campainha, fechar de uma porta...);
  7-12 meses: não reconhece as palavras dos objectos comuns, não se volta quando se chama pelo seu nome, não imita sons (palra) ou os utiliza para chamar a atenção, além do choro;
  1-2 anos: não consegue apontar imagens nomeadas num livro nem compreender perguntas simples (exemplo: onde está o cão?);
  2-3 anos: não compreende diferenças no significado ("em cima"/"em baixo"), não consegue entender dois pedidos seguidos ("pega na fralda e vai colocar ao lixo"), nem juntar duas ou três palavras ou dizer o nome dos objectos comuns;
  3-4 anos: não responde a perguntas simples "quem", "o quê", "onde". Não é entendido por pessoas exteriores à família, não consegue usar frases de quatro palavras, nem pronunciar correctamente a maioria dos fonemas. 

Em todas estas crianças é necessário ponderar a referência a um especialista em linguagem para uma avaliação.O que fazer?

Quando é colocada a hipótese de perturbação da linguagem deve realizar-se uma avaliação da audição, do seu nível cognitivo, do desenvolvimento da linguagem e motor, da integração social e comunicação. A intervenção deve ser multidisciplinar (psicólogo, pediatra do desenvolvimento, neuropediatra e terapeuta da fala) e ser ajustada a cada criança. Raramente são necessários exames auxiliares de diagnóstico como análises, TAC, ressonância magnética ou electroencefalograma, excepto se há história de epilepsia, regressão da linguagem, alterações no exame neurológico ou atraso global no desenvolvimento.
Perante uma criança com menos de 3 anos que tenha um atraso na linguagem, mas que apresenta um bom desenvolvimento psicomotor, uma boa compreensão da linguagem verbal, boas capacidades comunicativas e uma história familiar de aquisição tardia, é lícito manter-se uma atitude de mera vigilância sem necessidade de intervenção imediata. Nestes casos, a reeducação e o treino em terapia da fala (a qual deve geralmente iniciar-se entre os 3 e 4 anos de idade) facilmente resolvem os atrasos simples da linguagem. Defende-se que esta idade é a idade ideal porque um início muito precoce pode originar atitudes de recusa na criança, provocando, assim, uma total ineficácia do tratamento.

Como ajudar a criança a melhorar a expressão verbal?

Responder a todas as verbalizações espontâneas ou produção de sons, dando à criança a sua atenção e reforço positivo - o elogio é uma boa recompensa;
Estimular a criança a fazer um número variado de sons, quer imitando os que ela faz, quer promovendo sons para ela imitar;
Estimular a repetição e a imitação de actividades motoras (exemplo: bater palminhas...);
Ensinar a criança a utilizar saudações, tais como o "Olá", "Tchau", "Adeus";
Estimular a criança a responder verbalmente sim ou não.
Incentivar a nomeação de objectos e gravuras, perguntando-lhe onde está o objecto e o que está a fazer (ex: "Onde está o cão?", "E com que está o cão a brincar?");
Encorajar a criança a verbalizar os seus pedidos e desejos, em vez de utilizar o gesto;
Se a criança não for capaz de repetir ou produzir uma frase longa, deve repeti-la e expandi-la;
Falar muitas vezes com a criança, usando linguagem clara e bem articulada, sem distorcer as palavras ou usar diminutivos;
Ler livros, de preferência com imagens, de crianças mais pequenas. Passe tempo diariamente com o seu filho, nem que sejam 30-60 minutos (mas só dedicados a ele), a brincar e a interagir. Cante-lhe canções (não se preocupe se é desafinado), brinque com fantoches, faça jogos...A intervenção no atraso da linguagem é essencialmente educacional, visando reforçar a interacção social e o intuito comunicativo na criança afectada, sendo individualizada de acordo com as suas necessidades específicas

Por: Sandra Costa, com a colaboração de Iris Maia, Pediatra do Hospital de Braga.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Perturbações da Linguagem (Parte I)

O caminho para a linguagem não começa na maternidade, mas no ventre, onde o feto está continuamente banhado pelos sons da voz da mãe. 

A linguagem é o resultado de uma actividade neurológica complexa que permite a comunicação interindividual.

As perturbações da linguagem são um problema frequente atingindo até cerca de 15% das crianças. Estima-se que cerca de 1% das crianças que chegam à idade escolar apresentam uma perturbação grave da linguagem. 

Entre as causas mais frequentes de atraso da linguagem encontram-se o défice de audição, o atraso de desenvolvimento, a prematuridade, o autismo e a falta de estimulação. 

Quando uma criança apresenta atraso na linguagem, deve ser orientada o mais precocemente possível, de modo a que as repercussões a nível emocional, cognitivo e social sejam minimizadas e não se prolonguem pela vida adulta. Habitualmente são orientadas para uma consulta especializada, de desenvolvimento, e a abordagem é multidisciplinar.

A preocupação dos pais acerca da aquisição anormal da linguagem, pelos seus filhos, deve ser sempre tomada em consideração de forma séria e motivar uma avaliação adequada do seu nível funcional.

A linguagem é uma ferramenta social, pelo que, para aprender a comunicar, as crianças necessitam de:
sentir essa necessidade;
 - ouvir os outros a falar e ser ouvidas;
 - ter oportunidade para imitar sons e palavras;
 - ter um ambiente estimulante, com reacção ajustada às suas respostas.

Evolução natural da linguagem

A partir do momento em que nasce, o bebé começa a comunicar, sendo que até aos 3 meses usa o choro como forma de comunicação principal e aprende a esboçar o sorriso social.

Entre o terceiro e o sexto mês de vida, começa a balbuciar e dobra o riso, e entre os seis e nove meses, palra em resposta à voz daqueles que o rodeiam e começa a articular vogais. 

Entre os dez e onze meses começa a imitar sons e a dizer as primeiras palavras, como "mama" e "papa" ou outros dissílabos. 

Por volta dos doze meses de idade, diz a primeira palavra com significado e imita palavras maiores de duas e três sílabas. 

Aos 13-15 meses apresenta um vocabulário de 4 a 7 palavras, e emite um conjunto de sons como se estivesse a falar. 

Entre os 16 e os 18 meses diz cerca de 5-10 palavras e começa a indicar o significado dos desenhos, quando interrogado. 

Aos 19-21 meses o vocabulário aumenta para 20 palavras e grande parte do que diz é compreendido por pessoas estranhas. 

Até aos 24 meses diz 20-50 palavras, faz frases de duas palavras, reconhece muitos objectos e compreende questões simples. 

No terceiro ano de vida há um enriquecimento do vocabulário, faz frases de 3 a 5 palavras, usa pronomes, usa o plural e o passado, sabe a idade e o sexo, conta três objectos correctamente e cerca de 80 a 90% da fala é percebida por estranhos. 

Entre os três e quatro anos começa a construir frases de três a seis palavras, faz perguntas, conversa, relata experiências e conta histórias. 

No período dos quatro aos cinco anos começa a fazer frases de seis a oito palavras, nomeia quatro cores e conta até dez correctamente. 

O desenvolvimento da linguagem está completo por volta dos 15 anos, mas esta não é a idade limite.

Por: Sandra Costa, com a colaboração de Iris Maia, Pediatra do Hospital de Braga.