Antes de mais quero desejar a todos os nossos sócios e amigos um feliz Ano Novo. Desculpem o lugar comum mas, nos tempos que correm, não se pode desperdiçar nada nem mesmo um caloroso, amigo e sincero desejo que o ano de 2014 seja excelente para todos com a trilogia imbatível de saúde, felicidade e sucesso.
Não é preciso ser vidente para antecipar alguns traços dominantes deste novo ano para a Educação. O Orçamento de Estado antecipa cortes de 540 milhões de euros na Educação e estes cortes ir-se-ão repercutir inevitavelmente no funcionamento das escolas. Não só no capítulo da “racionalização de recursos” (que todos desejamos) mas sobretudo na “restrição de recursos” que todos tememos e rejeitamos. Manter o nível de funcionamento e de apoio a que estávamos habituados – e achávamos mesmo insuficiente nas nossas escolas não é provável. Como tenho repetidamente dito esta restrição orçamental e consequentemente de recursos na escola pública vai colocar mais e mais em causa a inclusão e por uma razão simples: a inclusão só floresce com uma escola que tenha recursos para ousar fazer diferente de uma escola maioritariamente conservadora.
A função de uma Associação como a nossa não é, no entanto, a de ficar especada perante uma situação difícil. A nossa posição é agora, como sempre foi, de intervir, propor, negociar, encontrar melhores (ou menos más) soluções perante circunstâncias adversas que não controlamos. Recebemos a promessa pública do Secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário que seríamos ouvidos no processo de reforma da Educação Especial que o Ministro da Educação se comprometeu a fazer. Esperamos e vamos contribuindo com uma mão cheia de ideias para que este debate não se torne um simples “corte” ou como se diz agora “racionalização”…
A nossa palavra não pode, neste princípio de ano, deixar de ser de ESPERANÇA. Esperança que não deve ser lida etimologicamente. Não somos do género de “esperar” sentados que alguma coisa aconteça. Esperança, parece uma “espera muito grande”. Mas a nossa espera é outra: é a espera ativa, antecipatória, a espera que provoca e imagina o resultado.
Era esta a esperança que queria transmitir aos nossos sócios e amigos: não se conformem, não naturalizem as dificuldades. Temos que estranhar o desinvestimento na escola pública, estranhar que os alunos com NEE não tenham o apoio que precisam, estranhar que os pais não tenham a informação e o suporte que precisam, estranhar a redução de professores de Educação Especial, estranhar que a educação se empobreça. Temos que estranhar que nós próprios empobreçamos e ao estranhar não perder nunca o fio da esperança que é o prumo da nossa ação.
O maior dos Direitos Humanos é talvez o da democracia. A democracia é, por natureza, o exercício e o resultado de ideias e poderes diferentes. Não abdiquem do vosso poder. Quem abdicar do seu poder de estranhar, de denunciar e de agir, está a destruir a democracia.
Eu sei, todos sabemos que é difícil e muitas vezes desigual implicar-se neste combate. As forças adversárias parecem muitas vezes lógicas, poderosas e inquestionáveis. Mas não são. Se fossem não haveria democracia.
Bom ano novo! Com compromisso!
Por: David Rodrigues
Professor Universitário
Presidente da Pró – Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial
In: Newsletter nº 67 da Pró – Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial
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