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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Jornal de Notícias com edição em Braille

Edição vai ter uma selecção das notícias mais importantes e será distribuída nos PALOP.

O provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), António Tavares, anunciou esta terça-feira que a edição em Braille do “Jornal de Notícias” (JN) vai ser retomada em breve.

“Vamos voltar em breve a produzir o JN em Braille”, disse António Tavares, na cerimónia de inauguração das novas instalações do Centro Professor Albuquerque e Castro (CPAC), criado em 1956 para impressão em Braille.

Segundo o provedor, a produção do JN em Braille era feita pelo CPAC, contudo, a entrada da troika em Portugal obrigou a medidas de reajustamento e à sua suspensão. “Com a ajuda da Águas do Porto, o empenho da SCMP e do JN vai ser possível ter em breve o jornal em Braille”, sublinhou.

A edição de mil exemplares em Braille do JN, que reunirá um conjunto de “notícias mais significativas”, será também distribuída por países de língua oficial portuguesa, concluiu.

De acordo com informação disponível na internet, a edição Braille do JN, que se iniciou em 2000, “demora oito horas a imprimir, gasta mais de 12.300 folhas de papel preparado para receber relevo e é lida por cegos em 14 países”.

A Imprensa Braille existe na SCMP desde 1956, fundada pelo professor Albuquerque e Castro.

O CPAC tem como objectivo principal a produção de livros, revistas e outros materiais editados em Braille.

In: I online

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Nem a cegueira impediu Ana Sofia de tirar 20 valores

Ana Sofia Teixeira, de 26 anos, tem cinco por cento de visão num olho e um por cento no outro. Mas a diferença não a impediu de lutar a vida toda pelos seus sonhos. Terminou o curso de Psicologia com 17.

Disseram-lhe, certo dia, que é "uma mulher que vai além do impossível". Não podiam ter acertado mais. Ana Sofia Teixeira, 26 anos, da Guarda, desafiou o destino em cada passo que deu. Nasceu com tignite pigmentar - mais conhecida como "cegueira noturna" -, uma doença degenerativa que lhe tirou, ao longo dos anos, quase toda a visão, tendo cinco por cento de visão num olho e um por cento no outro. Fazendo "da diferença uma boa oportunidade", como sublinha, nunca desistiu de lutar pelo que sonhava: ir para a universidade. Hoje, é aluna de excelência, na Universidade de Aveiro, onde estudou Psicologia e tirou recentemente 20 valores na tese de mestrado, o que lhe valeu 17 na nota final do curso.

Ouvir Ana Sofia falar é levar um "murro no estômago". Quem olha para o seu sorriso, que não lhe sai da cara, não imagina as batalhas que tem travado. "Os meus pais são primos direitos. Devido a uma incompatibilidade sanguínea, gerou-se esta anomalia congénita", conta a futura psicóloga, que tem irmãos com a mesma patologia.

Ana Sofia viveu, desde os quatro anos, na congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, na Guarda. Em casa, a estrutura familiar não era coesa e havia problemas financeiros. "Sempre mantive o contacto com os meus pais, mas tudo o que sou devo-o às irmãs. Ainda hoje, quando vou à Guarda, é lá que fico", recorda.

Visão afetada pelo estudo

"Se os outros conseguem, eu também tenho de conseguir". Este foi, desde cedo, o seu pensamento. Grande parte da visão que perdeu, principalmente na adolescência, "foi a esforçar a vista, a estudar". Queria ir para a universidade. Ser independente.

"Fui percebendo o papel que podia ocupar no Mundo e na sociedade e escolhi Psicologia", sublinha. Com a ajuda da "lupa TV" - um instrumento que amplia documentos impressos - e, posteriormente, do computador, aplicou-se nos estudos, apesar das limitações da doença.

Mas como se consegue tirar um 20? "Tive de abdicar de muita coisa e trabalhar muito", revela. Ao mesmo tempo que preparava a tese (ver caixa), Ana fazia um estágio curricular e outro extracurricular. Para Ana, o dia parece que tem 48 horas. Vê mal o que a rodeia, mas conhece bem o sabor da vida.

In: JN

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Bengala com ultrassons deteta buracos e declives

Uma bengala que utiliza ultrassons para detetar buracos e declives está a ser desenvolvida na Universidade de Aveiro para ajudar os invisuais, anunciou hoje fonte académica.

A bengala, já em fase de protótipo, produz vibrações no punho, avisando com isso o utilizador que se aproxima, por exemplo, de uma escadaria ou de um buraco no pavimento. O projeto nasceu no Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI), em resposta a um desafio lançado à Universidade de Aveiro pela Associação Promotora do Ensino dos Cegos (APEC).

O objetivo é acabar com as centenas de acidentes sofridos anualmente pela população invisual, muitos dos quais com consequências graves, derivados dos obstáculos indetetáveis com uma normal bengala.

"Dado que a informação possível de obter com esta bengala é muito maior do que a que é possível obter com as que atualmente existem no mercado, quanto mais informação a pessoa cega ou amblíope tiver menos acidentes existem", congratula-se Victor Graça, presidente da APEC.

Vitor Graça lembra que as barreiras abundam por todo o país: "basta pensarmos, por exemplo, na enorme quantidade de carros estacionados em cima do passeio, nas esplanadas, nos buracos, nas obras não sinalizadas ou nos caixotes do lixo".

Segundo explica José Vieira, investigador do DETI e coordenador do projeto, que contou com a participação dos estudantes Nuno Dias e o Pedro Rosa, a bengala tem incorporado um emissor de ultrassons que envia um sinal que é refletido pelo solo.

Dois recetores de ultrassons detetam o eco e medem o tempo entre a emissão e a receção e é a partir desse tempo que se consegue saber a distância ao solo. Quando ela ultrapassa um determinado valor, o punho da bengala vibra.

"A eletrónica utilizada é de ultrabaixo consumo de modo a prolongar ao máximo a duração das baterias", explica José Vieira lembrando que "numa primeira versão incluiu-se uma célula fotovoltaica para prolongar a duração das baterias".

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Aplicação inovadora permite a cegos e surdos "ver", "ouvir" e até tocar obras de arte

Os surdos e cegos podem "ouvir" e "ver" o Centro Cultural Casapiano através de uma aplicação pioneira desenvolvida por professores e alunos da Casa Pia que dá autonomia a estes visitantes e está a receber o interesse de outros museus.

No caso de um visitante surdo, este recebe no início da visita um IPAD (tablet) com a aplicação, através da qual pode ver a explicação da peça que quer conhecer na sua língua: a gestual.

Esta autonomia é de tal forma valorizada que outros museus estão a contactar o Centro Cultural Casapiano para tentar disponibilizar uma aplicação semelhante


Uma das vantagens reside no facto de ser uma pessoa surda a traduzir o texto, o que torna a comunicação mais "acessível", como explicou Paulo Vaz Carvalho, especialista em língua gestual e professor no Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira.

Este docente destaca o pioneirismo desta aplicação, uma vez que permite uma total autonomia a um visitante surdo.

"Nos outros museus com língua gestual, os visitantes têm de se dirigir a um local específico e obtêm uma explicação generalista da instituição. A aplicação, feita por um nativo da língua, permite ao visitante surdo passear livremente pelo museu, voltar às obras sempre que queira", disse.

Esta autonomia é de tal forma valorizada que outros museus estão a contactar o Centro Cultural Casapiano para tentar disponibilizar uma aplicação semelhante.

Para Paulo Vaz Carvalho, a grande vantagem deste projecto resulta dos seus autores serem surdos que trabalham para surdos.

"Somos a melhor turma de surdos do país", disse, sublinhando que alunos e professores do Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira foram os autores do projecto e, simultaneamente, as suas "cobaias".

Paulo Vaz Carvalho disse mesmo que vários museus têm manifestado interesse nesta aplicação, destacando a sua inovação.

Também os cegos podem, através deste projecto, intitulado VOS (Ver Ouvir e Sentir), conhecer sensações únicas perante uma obra de arte, uma vez que podem tocar algumas peças.

Ao iniciar a exposição, cujo itinerário está indicado no chão (linhas guia), o visitante cego recebe um livro com a explicação das obras na língua escrita e também em braille.

Nesse livro, estão indicadas as obras que podem ser tocadas, e constam ainda imagens em relevo tácteis que visam dar uma ideia dos quadros a quem não os pode ver.

Sandra Barbosa, docente no Centro de Educação e Desenvolvimento Aurélio da Costa Ferreira, da Casa Pia de Lisboa, disse à Lusa que a ideia é pioneira e está ainda a dar os primeiros passos, mas que tem surpreendido positivamente estes visitantes, que, até agora, têm sido alunos e professores da instituição.

João Louro, director do Centro Cultural Casapiano e coordenador do projecto, disse à Lusa que não fazia sentido uma instituição como a Casa Pia, com elevado historial de respostas para cegos e surdos, que visam sempre a sua autonomia, não disponibilizar um instrumento que permita a estes visitantes usufruírem do espaço livremente.

"A visita pode começar logo em casa, pois, no caso dos surdos, a aplicação pode ser descarregada gratuitamente e o visitante ir desde logo escolhendo o que mais quer ver", adiantou.

Também a directora da instituição, Cristina Fangueiro, ressalvou o papel da Casa Pia nas deficiências sensoriais (surdez e cegueira), classificando o dia de hoje como "muito especial".

Antes da apresentação da aplicação, através de professores e alunos cegos e surdos, a instituição partilhou a história do Mundo de Carolina, um livro da autoria de Teolinda Gersão, inspirado numa aluna surdocega da Casa Pia de Lisboa, que esteve presente na iniciativa.

In: SOL

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ténis "inteligentes" ensinam caminhos a invisuais

Uma empresa indiana desenvolveu um par de ténis "inteligentes" capazes de ensinar aos invisuais os caminhos para chegar onde necessitam. Os sapatos, batizados Lechal, funcionam através da comunicação com um smartphone por via de Bluetooth e já podem ser encomedados online.

Criados pelo designer Anirudh Sharma, empresário responsável pela start-up Ducere Technologies, durante um período como investigador nos Hewlett-Packard Labs de Bangalore, na Índia, estes ténis conseguem ligar-se a um sistema Android, iOS ou Windows Phone. 

Para orientar os utilizadores entre o local onde estão e o destino, a morada deve ser inserida no smartphone e o aparelho envia, depois, aos sapatos, os sinais necessários, que indicam a quem os calça para onde seguir com recurso à vibração (uma vibração no pé esquerdo, por exemplo, significa que deverá virar à esquerda).

Desta forma, explica o site oficial do produto, é possível caminhar com as mãos livres e sem precisar de olhar, constantemente, para o telefone, apesar de ser possível acompanhar o progresso no ecrã caso se deseje. 

Além dos ténis, que podem ser adquiridos por um valor que ronda os 100 dólares (cerca de 75 euros), Sharma e o seu parceiro de negócios, Krispian Lawrence, desenvolveram também um conjunto de palmilhas vibratórias com o mesmo efeito e forma de funcionamento que podem ser colocadas no interior de sapatos comuns. 


Tanto os ténis como as palmilhas são antibacterianos e laváveis, desde que se remova, primeiro, o módulo eletrónico da bateria, e ambos trazem um carregador USB que responde a sinais sonoros (como estalar os dedos), indicando aos utilizadores o nível de carga. Um carregamento, adiantam os criadores, é suficiente para três dias de uso. 

Embora sejam destinados a invisuais, os Lechal podem também servir como ferramenta para controlo da atividade física, já que conseguem contar o número de passos dados ou as calorias perdidas, bem como funcionar como auxiliar em viagens, vibrando, por exemplo, se quem os calçar estiver perto de um ponto turístico de interesse. 
Clique AQUI para saber mais sobre os ténis Lechal (em inglês). 

Notícia sugerida por António Resende

Livros em 3D para crianças invisuais

Chama-se “projeto dos livros de imagens táteis” e pretende fazer chegar às crianças invisuais todos os livros infantis que conhecemos. Como? Usando impressoras 3D.

Ler é uma tarefa que todos os educadores e escolas devem incentivar nos mais pequenos. A leitura estimula a imaginação e o raciocínio criativo, processos fundamentais para a construção intelectual das crianças. E antes das palavras impressas, a “leitura” dos mais pequenos começa precisamente na exploração de cores, formas, sons e texturas. As crianças brincam com o mundo que descobrem, a sua curiosidade é ilimitada, e os livros (e as histórias) infantis são um alimento.

Mas e as crianças com deficiência, as que não conseguem ver ou ouvir? Sabe-se que desenvolvem mais os sentidos que lhes sobram, por engenho e necessidade. Uma criança cega ou surda não é menos inteligente ou não estará menos bem preparada para o mundo e para a vida se tiver a oportunidade e acompanhamento certos. Ela terá as mesmas capacidades cognitivas, mas desenvolvidas com outros trunfos e através de outras estratégias.

Há muito que as letras existem em braile para os cegos e ambliopes, um alfabeto feito de pontos táteis que lhes permite ler um livro com o mesmo nível de compreensão que uma pessoa que vê. Mas e as crianças mais pequenas: o que é que “lêem”, com que desenhos e cores brincam? Desde há muito que existem livros infantis , baseados em texturas e formas, mas também no som das histórias que os acompanham. Agora, uma nova tecnologia está a ser adaptada para tornar os livros infantis adequados às crianças invisuais: a impressão 3D.

Um grupo de investigadores da Universidade do Colorado está a ajudar a desenvolver o “Tactile Picture Books Project” — projeto dos livros de imagens tácteis — através do recurso a impressoras 3D. O objetivo é passar para três dimensões as imagens (digamos, os bonecos) que encontramos nos livros convencionais para crianças. E, entenda-se, “qualquer livro”, já que todas as formas que constam de um desenho em papel podem ser passadas para 3 dimensões, o que faz com que todos os livros infantis que conhecemos possam ser adaptados para as crianças cegas e amblíopes.

A evolução destas impressoras já permite imprimir materiais como o plástico e a borracha, bem como a composição posterior com outros materiais e texturas. Este projeto pretende criar uma base de dados online que possibilite a partilha entre pais e instituições, de modo a criar uma biblioteca virtual de modelos para impressão. Outro dos objectivos é o desenvolvimento de tecnologia que dê aos pais a possibilidade de fotografar (ou fazer um scan) a página de um qualquer livro infantil, envia-la para o computador e daí para a impressora, a um preço reduzido.

Contudo, este processo não é imediato, como explica Abigale Stangl, uma das investigadoras deste projeto. Vai ser preciso testar os livros em crianças invisuais, de modo a afinar os modelos, já que a sua percepção tridimensional não é necessariamente a mesma de uma criança que vê. A resposta/reação das crianças invisuais será determinante na otimização dos modelos e técnicas de impressão. De qualquer maneira, com os bonecos 3D será possível reconstruir todas as histórias dos livros de infância, dos mais novos (feitos de raiz) aos mais antigos, “os livros dos pais”.


Via: Incluso

domingo, 3 de agosto de 2014

Restaurante obriga clientes a pedir comida em língua gestual

Novo estabelecimento emprega empregados de mesa surdos e os clientes só podem pedir a comida através de gestos.

Um restaurante em Toronto abriu esta semana com uma característica que os define dos demais: os empregados de mesa são surdos-mudo. Os clientes são obrigados a pedir a comida em língua gestual. No estabelecimento, denominado Signs (Sinais, em português), a ementa também está pensada para aqueles que tenham dificuldade em falar através da língua gestual. Em cada mesa, além da ementa, há uma cábula com os gestos que os clientes precisem de saber, desde pedir a comida ou bebida, um "traga contas separadas" e até o simpático gesto de "fique com o troco".

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Ecrãs adaptam imagens para pessoas com dificuldades visuais

Investigadores da Universidade de Berkeley estão a criar um sistema que permite alterar o tamanho das imagens do monitor de um tablet ou computador, de forma a facilitar a vida às pessoas com problemas de visão, conta o Daily Mail.

Os ecrãs inteligentes vão passar a adaptar-se, em breve, de forma automática para as pessoas com dificuldades em ver ao perto. Desta forma, estas pessoas deixarão de ter de usar óculos enquanto utilizam um tablet ou estão ao computador no trabalho, referem investigadores da Universidade de Berkeley.

Este sistema utiliza um algoritmo que consegue alterar a imagem automaticamente consoante a necessidade do leitor.

“Vivemos num mundo onde os ecrãs estão presentes em todo o lado e ser capaz de interagir com os monitores é um dado adquirido. No entanto, as pessoas com desordens visuais mais graves possuem irregularidades na forma da córnea, e essa irregularidade faz com que seja muito difícil encontrarem uma lente de contacto que lhes encaixe, obrigando-as a usar óculos sempre que precisam de utilizar um computador”, explica um dos responsáveis pelo projeto, Brian Barsky.

A invenção consiste numa tela de ampliação de imagem que é colocada entre duas camadas de plástico transparente no visor, para aumentar a nitidez das imagens. Para qualquer outro leitor, as imagens aparecem desfocadas.

Para os investigadores, a invenção será capaz de mudar a vida destas pessoas, motive pelo qual se sentem apaixonados pelo seu potencial.

sábado, 5 de julho de 2014

Leiria: Restaurantes passam a ter ementas em braille

A partir desta sexta-feira, os restaurantes da Praça Rodrigues Lobo, em Leiria, vão passar a disponibilizar em "braille" e em linguagem pictográfica as suas ementas. A iniciativa resulta do projeto "Praça de Todos", desenvolvido por alunos do Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) para permitir a todos igualdade de acesso aos menus.

Em comunicado, o IPLeiria explica que esta ideia, pioneira em Portugal e que arranca hoje pelas 21.30h , conta com a adesão de todos os espaços de restauração daquela praça leiriense e surge no âmbito de um trabalho de estudantes na unidade curricular "Laboratório de Comunicação Aumentativa" do Mestrado em Comunicação Acessível.

"Este é um projeto pioneiro, que tem como principal objetivo contribuir para uma acessibilidade plena de todos os cidadãos, colocando, assim, a cidade de Leiria na vanguarda da inclusão", congratula-se Célia Sousa, docente do IPLeiria e coordenadora do Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) daquela instituição de ensino.

O lançamento deste projeto decorre no âmbito da segunda edição da conferência internacional INCLUDiT, que vai ter lugar entre os dias 3 e 5 de Julho na Escola Superior de Educação e Ciências do IPL Leiria.

"Tentamos abordar a comunicação acessível através de vários olhares e em vários contextos, para que se atinja uma perspetiva holística do fenómeno", explica a docente a propósito do projeto que se destina a facilitar a vida dos cidadãos invisuais ou com deficiências oculares graves. 

O Mestrado em Comunicação Acessível do IPLeiria arrancou este ano letivo com o propósito de formar especialistas em comunicação acessível com vista ao desenvolvimento das competências teóricas e operacionais necessárias a uma inserção no mercado de trabalho nacional e internacional. 

Atualmente, são 16 os alunos que frequentam o curso, oriundos não apenas de Portugal mas também de países como Brasil e Cabo Verde.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Cientistas portugueses melhoram o uso de smartphones para os cegos

HoliBraille e B# são dois utensílios tecnológicos destinados a cegos para facilitar a escrita em Braille. O primeiro tem motores de vibração para ajudar a escrita, o segundo é um corrector ortográfico.

O alfabeto baseado numa malha de seis pontos, o Braille, inventado pelo francês Louis Braille em 1824, é a porta de entrada dos cegos para a literacia e o mundo do trabalho. A malha tem dois pontos horizontais por três verticais. Todas as letras do alfabeto têm uma tradução em pontos na malha do Braille. Por exemplo, o “a” é representado por um único o ponto em cima do lado esquerdo. No papel, graças ao relevo, as palavras são lidas pelos dedos e escritas com máquinas próprias. Mas nos smartphones e tablets, com visores tácteis, ainda se está a aperfeiçoar uma forma de os cegos os usarem. Uma equipa internacional com portugueses está a desenvolver um corrector ortográfico e um aparelho para ajudar à escrita do Braille nestes aparelhos.

“O Braille continua a ser vital para os cegos, tem um grande impacto nas suas vidas”, diz ao PÚBLICO Hugo Nicolau, um dos autores do projecto, a trabalhar como pós-doutorado no Instituto de Tecnologia de Rochester, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Cientistas do Departamento de Informática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e do Instituto Superior Técnico também participaram neste trabalho, coordenado por Vicki Hanson, da Universidade de Dundee, na Escócia.

“Queremos trazer o Braille para as novas tecnologias”, diz. Segundo o investigador de 28 anos, apenas 10% das crianças cegas aprendem Braille nos EUA. Um estudo de 1998 mostrava que 77% dos cegos que não aprendem este alfabeto estão desempregados, enquanto na população que aprendeu esta percentagem é de 44%. Em Portugal, existem cerca de 130 mil cegos.

Nos smartphones há programas de voz que lêem o que está nos ecrãs. Mas escrever Braille nestes aparelhos é mais complexo. Tal como as máquinas de escrever Braille, nos programas para a sua escrita usa-se o dedo indicador, o médio e anelar de cada mão. Cada um dos seis dedos funciona como um dos pontos da matriz do Braille. O toque só do dedo indicador da mão esquerda é o equivalente, na malha, ao ponto de cima do lado esquerdo, ou seja, a um “a”.

O corrector ortográfico B# desenvolvido por Hugo Nicolau e a equipa é um passo em frente em relação a um corrector normal que analisa palavras e, se a palavra não está no dicionário, corrige-a. Mas o B# tem em conta os símbolos do Braille. “A nossa solução oferece o dobro de correcções acertadas”, diz Hugo Nicolau. “Um código Braille que não faça sentido, e que seria por isso descartado, pode ainda ser utilizado para encontrar acordes (combinação de dedos) que sejam parecidos [com o que foi escrito], e assim encontrar a palavra que o utilizador desejava inserir.”

O sistema consegue sugerir em 72% dos casos a palavra correcta. Segundo o investigador, é difícil prever a palavra certa para 100% dos casos. Mesmo nos casos em que há apenas um erro numa das letras da palavra, as alternativas podem ser muitas. A palavra mal escrita “brla” pode ser “bela”, “bola”, “bala”, “borla” ou “burla”. “Estamos a criar modelos de linguagem representativos da língua e que possam dar com maior certeza a palavra pretendida.”

Já o objectivo do HoliBraille é completamente diferente. Este objecto funciona como uma caixa ou capa que se anexa à parte de trás do smartphone. De cada extremidade desta caixa saem três “actuadores” onde se apoiam os dedos usados na escrita de Braille e que vibram quando se escreve. A ligação entre a caixa e o telemóvel faz-se por Bluetooth. De uma forma imediata, o HoliBraille sabe quais os dedos que o telemóvel reconheceu enquanto se escreve Braille e dá essa informação ao utilizador através da vibração (ou ausência dela) de cada um dos “actuadores”.

“O problema dos ecrãs tácteis é que não tem retorno táctil acerca dos elementos que estão a ser activados. O HoliBraille permite que os utilizadores cegos sintam nos dedos qual a letra que está a ser inserida e, assim, evitar erros de escrita.”

Esta tecnologia poderá ajudar as pessoas que estão a aprender Braille. Investigadores na Universidade de Lisboa estão a criar jogos para a aprendizagem deste alfabeto. “O sistema mostra ao utilizador como escrever a letra, vibrando os dedos correspondentes. Após a letra ter sido ensinada, pede ao utilizador que a insira”, exemplifica o cientista.

Para testar estes desenvolvimentos, a equipa trabalha com a Fundação Raquel e Martin Sain (FRMS), instituição portuguesa, que faz formação de cegos. “As opiniões que nos foram dadas [pela FRMS] são essenciais para criar tecnologias úteis e usáveis”, diz Hugo Nicolau.

O HoliBraille ainda está em fase de protótipo e construi-lo custa entre 80 e 100 euros. Tanto este objecto como o B# não têm patentes. A filosofia do grupo é que as suas criações sejam abertas a todos, frisa Hugo Nicolau: “Pretendemos criar soluções que sejam aplicadas rapidamente. Estamos abertos a novas colaborações.”

In: Público

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Acapo alerta para dificuldade de cegos em aceder a informação na área da saúde

Parceria com a Liga Portuguesa Contra o Cancro permitirá produzir informação sobre tumores da mama.

A Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (Acapo) considera que a área da saúde tem "falhas" no acesso a informação para cegos, tendo criado uma parceria com o Núcleo do Centro da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) para reduzir "constrangimentos".

José Francisco Caseiro, presidente da delegação da Acapo, explicou nesta segunda-feira que "a área da saúde tem várias lacunas na produção de informação adaptada a este tipo de utentes", explicando que "num hospital regional, local ou centro de saúde não há este tipo de informação" disponível.

"Há uma falha nos organismos públicos", criticou, considerando que, apesar de "na Internet haver muitos sites que falam de saúde", grande parte da população cega e amblíope "não acede à informação na Internet e a que existe não está em caracteres ampliados ou em braile".

A parceria com a LPCC foca-se na produção de informação em torno do cancro da mama, podendo continuar "com acções em torno de outros cancros e criar um programa de educação da saúde" para pessoas com deficiência ou incapacidade visual, afirmou Carlos Oliveira, presidente do núcleo regional. "Há poucas iniciativas neste âmbito e dirigidas para uma população com características muito particulares", disse.

Foi por isso criado material em "áudio e em braile", assim como a ampliação de letras para "pessoas com grande dificuldade de visão", explicou Carlos Oliveira. A informação, que se foca na prevenção e factores de risco do cancro, será dirigida "às mulheres, mas também aos familiares", procurando-se também "promover o rastreio do cancro", que é "a forma de prevenção mais importante", disse o presidente do núcleo da LPCC.

"Estamos convencidos de que parte desta população não faz o rastreio porque não tem acesso à informação", avançou, sublinhando que este projecto é "o primeiro do género em Portugal e um dos primeiros na Europa", estando integrado na Europa Donna - Coligação Europeia Contra o Cancro da Mama. Segundo Carlos Oliveira, apesar de a iniciativa ter partido do núcleo do Centro da LPCC, os outros núcleos regionais vão também promover campanhas semelhantes.

In: Público online

sexta-feira, 28 de março de 2014

Tatuagens e bananas que acabam numa caneta que também é para invisuais

Filippo Fiumani, artista italiano de 26 anos, criou uma caneta para invisuais, mas até lá chegar desenhou em bananas, espalhou-as por Lisboa, e também se inspirou em tatuagens de prisioneiros russos

O jovem artista italiano de 26 anos estava quase a desistir da ideia quando pôs a última caneta que construiu nas mãos de Francisco Vicente, invisual de 49 anos. “Juro que nunca vi uma expressão assim tão forte na cara de uma pessoa”. Filippo Fiumani desenvolveu vários protótipos de uma caneta que faz desenhos em relevo até chegar ao resultado final que apresentou no âmbito de um mestrado: chama-se Le Mani e é um objecto leve, movido a electricidade, que vai criando relevo no papel à medida que é usado e que pode ter aplicações não só no campo artístico, mas também educativo. É para toda a gente, mas o sentido final do instrumento foi pensado para que quem não vê possa desenhar e ainda perceber o que os outros desenham, através do relevo criado. Filippo Fiumani teve 20 valores com este projecto que desenvolveu durante seis meses, ao longo do mestrado em Design de Produção no IADE – Creative University, em Portugal.

Antes de ter pedido a Francisco Vicente (conhecido por Frank), que perdeu a visão aos 21 anos, para experimentar a última caneta que concebeu, Filippo Fiumani já começava “a achar que estava a tentar dar um fim a uma coisa que realmente se calhar ninguém precisava”. Hoje está tão confiante na utilidade da caneta que até já tem mais ideias para aperfeiçoá-la e tentar convencer financiadores a comercializá-la.

Apesar de haver no mercado outras canetas pensadas para serem usadas por invisuais, de uma forma geral, aquela criada por este artista é sobretudo para desenhar ou perceber o que os outros desenham. Tem uma ponta que funciona como uma agulha, que vai furando e criando relevo no verso do papel, e que é movida por um pequeno motor – alguns protótipos funcionam através de pilhas ou baterias, outros, como o último, trabalham directamente ligados a uma tomada eléctrica. Agora a ideia de Fiumani é precisamente retirar essa parte eléctrica, fazendo com que o movimento não dependa deste tipo de energia. O criador quer tornar a caneta não só mais autónoma, mas também ecológica.

Filippo Fiumani é natural de Loreto, em Itália, embora tenha vivido sempre em Osimo. Em 2010 chegou a Portugal, para fazer Erasmus em Lisboa, e, embora pelo meio tenha viajado e passado mesmo uma temporada em Florianópolis, Brasil, é por Portugal que tem andado nos últimos quatro anos e é por cá que quer ficar. Já passou também por Peniche, esteve numa empresa em que aprendeu a arranjar e a fazer pranchas de surf – a modalidade é uma das paixões que tem, a par de muitas outras, como o desenho, as tatuagens dos marinheiros e dos prisioneiros russos, a iconografia dos santos… Até 1 de Abril, Filippo Fiumani tem mesmo uma exposição na Fábrica Features, no Chiado, em Lisboa, que se chama Santos, Marinheiros e Barbudos.

Bananas grafitadas
Quando começou a pensar na tese de mestrado que teria de entregar, no trabalho que iria desenvolver, Filippo Fiumani não pensava fazer uma caneta que pudesse ser usada por invisuais. Isso acabou por acontecer, mas não foi programado desde início. Neste caso específico, o que o inspirou mesmo foram as tatuagens dos prisioneiros russos ou o método usado por eles para gravarem imagens no corpo.

“Comecei a estudar como é que os presos russos faziam as tatuagens na prisão. Qual era o instrumento? Inicialmente usavam uma agulha e faziam uma tinta com borracha queimada. Queimavam a borracha, a cinza era posta num pano, urinavam para aí e o líquido que caía era o que usavam para molhar a agulha [e se tatuarem] ”, explica. Com o tempo, “começaram a substituir o puro trabalho manual” por uma agulha já com motor, que conseguiam aplicar, retirando, por exemplo, a bateria de algum walkman disponível nas prisões para os reclusos ouvirem música.

Fiumani não criou logo a caneta final, a que considera mais conseguida do ponto de vista da leveza e do manuseamento. Criou vários protótipos até lá, experimentou diferentes superfícies, como tecido, madeira, fruta. Uma manhã, quando acordou e foi buscar, como sempre faz, uma banana para comer, olhou para ela e começou a experimentar a caneta, a fazer desenhos na superfície amarela.

A partir daí, decidiu levar as experiências mais longe e começou a pendurar bananas desenhadas em vários sítios de Lisboa e a trocar as que estavam no supermercado pelas da sua autoria. “O engraçado é que [no supermercado] levavam sempre as pintadas. Uma vez entrei, deixei lá umas dez e depois fui dar uma volta, comprar um pouco de massa... Estava lá um menino que se virou para outro e disse ‘olha, olha, João, chegaram as bananas grafitadas da Colômbia!”, conta. Havia quem tirasse fotografias e quem se espantasse quando passava na rua à noite e via uma banana pendurada da janela de casa de Filippo, quase até ao passeio.

As experiências davam gozo ao artista, mas faltava-lhe “um fim forte” para o projecto. Era isso que estava à procura até entrar “no mundo dos invisuais”. “Foi aí que contactei o Frank, angolano que ficou invisual aos 21, por causa de um descolamento da retina. Ele também me ensinou braile”, conta. Fiumani levou-lhe alguns desenhos que tinha feito com a caneta para ele ver. “Ele não conseguiu ler aqueles em que havia mais confusão”, diz sobre algumas obras como uma imagem de Cristo, com espinhos, barba e outros contornos que não tinham leitura através das mãos. “Mas noutros conseguiu perceber logo onde estava o nariz, a boca, os olhos. Conseguia orientar-se graças ao relevo, basicamente”, diz Filippo que ficou “muito feliz” porque percebeu que o projecto estava a resultar.

Ética
Caso não estivesse a dar os frutos esperados, o mais provável é que o tivesse abandonado: “Sou muito ético nessas coisas. Prefiro desenhar do que pôr na produção lixo. Esse é o problema do design agora. Isto é, prefiro fazer arte, reciclar, pendurar [os objectos] na minha casa ou fazer uma exposição, do que produzir mais lixo. Ou fazemos uma coisa que tem uma base teórica, uma ideia, um conceito, uma procura, ou não fazemos nada”, defende.

Foi quando compreendeu que a caneta podia ter outras utilidades - “ajudar alguém que era deficiente visual” - que decidiu que era preciso aperfeiçoá-la, tratar da forma, ter atenção a detalhes. Percebeu, por exemplo, que o motor teria de ser “o mais pequeno possível” e ao mesmo tempo estar “no centro da caneta”. Nesse processo de aperfeiçoamento, colocou também uma protecção à volta da ponta, para que não fosse perigosa. E foi assim que, depois muitos protótipos - alguns dos quais construídos a partir de cinzeiros de praia, com motores de carrinhos de crianças -, nasceu Le Mani (que em italiano quer dizer As Mãos).

Apesar de já ter terminado o mestrado e de ter tido 20 valores, Filippo Fiumani está longe de ter posto um ponto final no projecto. Gostava que fosse comercializado, que fosse usado nas salas de aulas, para as crianças invisuais desenharem. “Os próximos planos passam por tirar toda a parte eléctrica da caneta. Acho que tenho uma boa ideia, que agora nos próximos meses posso desenvolver, para ter um resultado melhor, mas sem ter toda a parte eléctrica. A parte eléctrica não é boa a nível ambiental, não é boa a nível de produção, não é boa para os deficientes visuais”, explica. O artista já tem a ideia na manga, já sabe como vai transformar a caneta, mas não o adianta. Diz apenas que não vai ter motor e vai ser criada a partir de objectos reciclados: “Agora é fazer os protótipos e ver como funciona”.

Para além disso, também gostava que mais invisuais a experimentassem: “É preciso. Acho que o que é forte é que esta caneta pode ser uma maneira de ensinar [crianças invisuais na escola] a longo prazo”, defende. Fiumani gostava de perceber “o que é que acontece depois de uma pessoa utilizar durante 10 anos uma caneta destas”: “O que é que consegue fazer? Nós começámos a escrever com seis anos, agora escrevemos duma certa forma e temos um certo pensamento. Um deficiente visual que começa a utilizar hoje uma caneta para desenhar em relevo não vai utilizá-la como daqui a 10 anos, o resultado que vai ter é bem diferente. Particularmente o desenho, como a fotografia, e muitas outras coisas, é uma questão de treino. E isso vale para quem tem visão e para quem não tem”, justifica.

Francisco Vicente, que experimentou os protótipos criados por Fiumani e lhe deu conselhos para os aperfeiçoar, concorda. Acredita no projecto de Pippo, como lhe chama, acha que a caneta pode ser explorada por quem vê e por quem não vê, ainda que no caso dos invisuais necessite de treino: “É uma mais-valia tanto para pessoas com visão como sem visão. Mas os invisuais, para tirarem pleno partido da caneta, têm de treinar, têm de ter mais contacto com a caneta, requer uma experiência prévia”, avisa. 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Uma reportagem feita de olhos vendados

«Caça barreiras às escuras» é o nome de um projeto inovador no bairro de Arroios, em Lisboa, que pretende alertar para as dificuldades que os invisuais enfrentam todos os dias. A TSF aceitou o desafio de venda nos olhos e bengala na mão.

A ideia é apurar os outros quatro sentidos, um convite para nos movermos na escuridão da Junta de Freguesia de Arroios e da Associação Promotora de Emprego para Deficientes Visuais (APEDV).

Um convite que pretende alertar para as dificuldades de mobilidade que todos os dias os cegos enfrentam à custa das barreiras que a cidade ainda lhes coloca.

Filomena Costa, da Associação Promotora de Emprego de Deficientes Visuais, colocou a venda e deu uma bengala à repórter da TSF que durante 18 minutos teve de depender do instinto e dos outros sentidos.

Pode ouvir a reportagem clicando aqui.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Escola de cães-guia de Mortágua entregou primeiro animal há 15 anos

A Escola de cães-guia de Mortágua comemora no sábado os 15 anos de entrega do primeiro animal em Portugal, a Camila, que deu início a uma história feita de relações bem-sucedidas entre os cães e invisuais.

"A Camila foi entregue ao senhor Augusto Horta, de Vila Franca de Xira, que continua a ser nosso utente, com outra cadela, porque a Camila já cá não está", contou à agência Lusa o presidente da direcção da escola, João Pedro Fonseca.

Até hoje, a escola já entregou 140 cães e a taxa de sucesso é elevada, acima dos 90%.

João Pedro Fonseca justificou esta taxa com o facto de haver uma selecção prévia muito criteriosa, com uma análise ao candidato e a tentativa de encontrar um cão que se lhe adeque.

"Nem todos os cães servem para todas as pessoas. Não vamos entregar um cão com um andamento muito rápido a uma pessoa com 60 anos", exemplificou.

Muitos cegos têm já a vida facilitada pelo companheiro de quatro patas, mas cerca de oitenta estão ainda à espera de concretizar esse sonho.

O responsável contou que há duas listas de espera, uma das quais de pessoas que já foram avaliadas, entrevistadas pelos técnicos de mobilidade e orientação e estiveram com os educadores dos cães, para saberem naquele momento quais estavam a ser educados. A outra lista é a de pessoas que ainda aguardam essa avaliação.

"Temos mais de 20 pessoas já avaliadas e outras que ainda aguardam", referiu, explicando que, desde que o cego se inscreve na escola até lhe ser entregue o cão passam, no mínimo, três anos.

A escola treinava onze ou doze cães por ano mas tem tentado acelerar o processo, de forma a conseguir fazer entregas mais rápidas.

"Hoje em dia produzimos 15 a 18 cães por ano, sendo que, para a nossa maior capacidade de produção, tem contribuído uma escola norte-americana que nos tem possibilitado a entrega de dois cães por ano", contou.

João Pedro Fonseca explicou que, normalmente, os cegos que usam cães têm entre 35 e 45 anos, vivem na cidade e são pessoas activas.

"Mais de 90% estão em áreas urbanas, por causa do perfil do candidato", sublinhou.

Como a escola não tem capacidade de entrega imediata, estabeleceu critérios de prioridade, um dos quais o candidato ser cidadão activo.

"Um cego é uma pessoa que não tem as mesmas oportunidades de acesso ao emprego, as poucas que tem estão em cidades. No mundo rural tem mais dificuldade de ter uma vida activa", considerou.

Os animais treinados na Escola de cães-guia de Mortágua são sobretudo da raça Labrador. Nascem na escola - onde há um centro de reprodução e uma maternidade -- e é feita a selecção da ninhada.

"De cada ninhada escolhemos só quatro ou cinco cães, para não termos muitos cães da mesma idade, porque só temos três educadores e um pré-educador", contou João Pedro Fonseca.

Aos dois meses, os cães vão para uma família de acolhimento (voluntários que vivem no eixo Coimbra -- Viseu -- Aveiro), onde ficam até aos 13/14 meses, para "aprenderem a viver dentro de uma casa, os cheiros, os barulhos, os ritmos e as proibições".

Quando têm 13/14 meses, começam a ir para a escola, fazendo um trabalho de educação específica de seis a dez meses, dependendo da época do ano e do cão, sendo que nunca é entregue ao cego antes dos 24 meses.

"Embora haja cães que antes estão perfeitamente preparados, há aqui uma questão de maturidade. Vamos entregar a segurança de uma pessoa a um animal. O cão tem de ter alguma maturidade para decidir", explicou o responsável.

Isto porque o animal, colocado perante uma situação inesperada, como um buraco no chão, pode ter de "assumir uma posição diferente da ordem que está a receber" e ter de desobedecer.

"Costumamos dizer na brincadeira que os nossos cães estão preparados quando têm capacidade de desobedecer", gracejou João Pedro Fonseca.

Lusa/SOL

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Exames de alunos cegos com formatos digitais

Os enunciados das provas finais e dos exames nacionais para alunos cegos e com baixa visão serão apresentados este ano num formato digital específico ou em documento com entrelinha 1,5, em formato PDF, anunciou o Ministério da Educação.

Estas duas soluções, a utilizar em alternativa, considerando o enquadramento específico das necessidades de cada aluno, constituem a resposta técnica que visa "contribuir para a melhoria das condições operacionais de realização de provas e de exames", anunciou o Ministério da Educação e Ciência (MEC).

Fica salvaguardada a possibilidade de este ano, com caráter transitório, os alunos que não reúnam condições para realizar as provas em formato DAISY (Digital Accessible Information System), poderem fazê-las transcritas em Braille.

Segundo o MEC, desde 2005 que são produzidos em Portugal manuais escolares e outros livros no sistema DAISY, um formato áudio-digital com funcionalidades acrescidas para pessoas cegas ou com baixa visão.

Estes livros caracterizam-se pela sincronização entre a informação áudio e a informação escrita que permite simultaneamente ler e ouvir ler, possibilitando manipular e ajustar a cada utilizador a velocidade de leitura áudio, o tamanho dos carateres e o contraste entre as cores do texto no ecrã.

De acordo com a descrição do MEC, é ainda possível localizar informação textual, colocar marcadores no texto e inserir comentários e notas pessoais, bem como "navegar ao longo dos documentos, por capítulo, subcapítulo e secções".

Para o MEC, trata-se de "uma interessante opção de acesso à leitura", no âmbito da realização de atividades em sala de aula, sendo tais potencialidades extensivas "a contextos de avaliação formal".

Para que o sistema funcione, foi concebido um plano nacional de acompanhamento às escolas, no âmbito do qual os profissionais que integram os centros de recursos TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) assumem a "primeira linha de apoio" aos docentes que trabalham diretamente com estes alunos, como os professores de educação especial e titulares de turma.

Os elementos daqueles centros de recursos (CRTIC) vão contactar já nos próximos dias as direções dos agrupamentos de escolas das respetivas áreas geográficas.

"Oportunamente será divulgado o elenco completo das adaptações a disponibilizar este ano letivo", afirma o MEC, segundo o qual a lista apresentará - à semelhança dos anos anteriores - "soluções destinadas a alunos daltónicos e com limitações motoras severas".

Os pedidos de provas adaptadas devem ser dirigidos ao Júri Nacional de Exames.

No caso específico dos ficheiros entrelinha 1,5 (PDF), a consulta e utilização para treino, como a ampliação/redução, deslocação horizontal e vertical no documento, poderá ser feita nos ficheiros das provas e exames de 2012, bem como nos ficheiros dos testes intermédios, disponíveis na página eletrónica da Direção-Geral da Educação.

O ministério diz, em comunicado, que norteia a aposta nestas plataformas pelo princípio de que nenhum aluno, por condições de deficiência ou incapacidade, deverá estar limitado no acesso à leitura e à informação escrita.

In: DN online

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Porto: Primeira passadeira táctil para invisuais

A cidade do Porto inaugurou, a semana passada, a primeira passadeira tátil da cidade, para assinalar o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. O objetivo é auxiliar as pessoas invisuais a atravessarem a rua com mais segurança. 

A nova passadeira fica na Rua Infante Dom Henrique, junto à Casa do Infante, na Ribeira. A estrutura é feita de peças metálicas em relevo que permitem ao cegos perceber onde podem atravessar a rua.

Em declarações à imprensa, no dia da inauguração, Rui Rio, afirmou que “uma sociedade só é verdadeiramente desenvolvida se tentar criar condições para que as pessoas com mobilidade reduzida possam ter menos limitações", sendo que, neste campo o município do Porto é “pioneiro” tendo se tornando no primeiro concelho a criar o cargo de Provedor Municipal para os cidadãos com deficiência.

"Há uma série de sinais que o cego precisa para além do semáforo. Portanto, isto é mais uma solução importante que vem realmente melhorar a vida deles”, disse, por seu turno, a provedora municipal do Cidadão com Deficiência, Lia Ferreira.

Num futuro próximo, a autarquia do Porto pretende expandir, de forma gradual, esta iniciativa a todas as passadeiras da cidade, integrando as mesmas no Sistema de Itinerários Acessíveis do Porto.

Os cidadãos com deficiência continuam a enfrentar, em Portugal, uma série de desafios ao nível das acessibilidades, sobretudo no que diz respeito à circulação nas cidades, com as ruas e os transportes públicos pouco preparados para os receber de forma segura.

Ainda sexta-feira passada, o ex-presidente da ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal), José Adelino Guerra, morreu de forma trágica num acidente que podia ter sido facilmente evitado.

José Guerra, diretor do coordenador do Serviço de Leitura para Deficientes Visuais da Biblioteca Municipal de Coimbra, serviço onde tinha acabado de lançar a primeira revista para cegos do país, morreu após de ter caído de uma altura de seis metros de um muro sem proteção.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Quase metade dos deficientes visuais dependem de prestação social

Quase metade dos deficientes visuais dependem de uma prestação social, valor que aumenta para mais de 80% quando estão em causa pessoas em isolamento social, revela um estudo da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).

O estudo, sobre a “Prestação de serviços e a promoção da vida independente”, foi feito entre os sócios e utentes da ACAPO com mais de 16 anos, tendo sido validados 1.325 questionários.

Da totalidade das pessoas inquiridas, 58% são cegos e 42% têm baixa visão e mais de metade (55,7%) são homens. A idade média das pessoas com baixa visão é de 44 anos e das pessoas cegas é de 53 anos, sendo que 42% adquiriu a deficiência visual até aos cinco anos.

Os dados da ACAPO revelam que para quase metade (49%) dos deficientes visuais em idade activa (16-64 anos) a principal fonte de rendimento é uma prestação da segurança social, valor que aumenta para 81% entre as pessoas que vivem em isolamento social (22% do total).

A caracterização destes inquiridos revela que em mais de metade (52%) dos casos adquiriram a deficiência visual depois dos 15 anos, têm em média 55 anos, vivem maioritariamente (59%) em meio urbano, em 95% dos casos não têm ninguém com quem possam sair e 75% não pode estar com familiares ou amigos quando quer.

A nível laboral, o estudo mostra que há uma grande diferença entre a taxa de actividade do conjunto da população e os deficientes visuais com idade activa.

“Em geral, a taxa de actividade da população em geral é 1,6 vezes superior à taxa de actividade dos deficientes visuais inquiridos”, lê-se no estudo, que revela, citando dados do Eurostat, que no primeiro trimestre deste ano a taxa de actividade da população com idade entre 15 e 64 anos era de 73,8%, contra os 46% entre os deficientes visuais inquiridos.

Por outro lado, também com base nos dados do Eurostat relativos ao primeiro trimestre, a taxa de emprego dos deficientes visuais em idade activa é metade (32,9%) da taxa de emprego entre a restante população (62,9%).

Já a taxa de desemprego entre as pessoas com deficiências visuais em idade activa é cerca do dobro (29%) da taxa de desemprego entre a restante população (15,6%), quando olhando para o mesmo período do ano.

De acordo com a ACAPO, a aquisição da deficiência visual em idade adulta leva a que muitos dos inquiridos tenham saído do mercado de trabalho, sendo que 79% dos deficientes visuais que adquiriram a deficiência depois dos 30 anos e têm menos de 64 anos não fazem parte da população activa.

“O nível de vida de mais de três quartos dos inquiridos que não são deficientes visuais de nascença piorou muito desde que se tornou deficiente”, refere o estudo.

Em termos de saídas profissionais, o estudo da ACAPO aponta que o “Estado é um agente muito importante no emprego dos deficientes visuais”, onde trabalham 37% dos deficientes visuais inquiridos que estão empregados.

Revela, por outro lado, que as saídas profissionais dos cidadãos com deficiência visual estão concentradas entre duas profissões: professores, no caso dos licenciados, e telefonistas, no caso dos níveis escolares mais baixos.

Ao nível da mobilidade, 60% dos deficientes visuais não são autónomos e têm dificuldade ou não conseguem andar em espaços públicos não familiares, não usam transportes públicos e têm dificuldade ou não conseguem subir ou descer escadas.

O estudo da ACAPO vai ser apresentado segunda-feira, quando se assinala o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.

Lusa/SOL

In: SOL

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Já esteve num concerto com escuridão completa?

Um casal de músicos cegos do Mali vai estar em Lisboa para um concerto que promete ser inolvidável: vai decorrer na total escuridão, sem luzes ou focos no palco ou fora dele. A intenção de Amadou & Mariam, invisuais desde muito novos, passa por tentar que a assistência absorva a música da mesma forma que eles a ouvem e sentem. "Se não consegues ver, a tua percepção do som é mais apurada", afirmou Amadou Bagayoko, cantor de 58 anos cego desde os 16.

O espetáculo intitula-se "Eclipse" e terá lugar no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, a 18 de Novembro, um domingo, às 19 horas. Prevê-se uma experiência sensorial assinalável. Até as luzes de "saída de emergência" estarão apagadas. Além da ausência de qualquer luz, os nossos sentidos serão exacerbados com a propagação de aromas no ar. Consta que a sala será perfumada com um odor que recria o cheiro a terra quente de Bamako, a capital do Mali. Mais ainda: a percepção da temperatura ambiente também vai oscilar entre 15 e 30 graus celsius.

É claro que um espetáculo desta natureza acarreta medidas exepcionais. Por exemplo, toda a equipa de sala vai estar equipada com um sistema de visão noturna. "Em caso de emergência, desconforto, indisposição ou desorientação que provoque a necessidade de sair da sala, deverá o espetador agitar o programa no ar. Um assistente irá imediatamente ao seu encontro e prestará o auxílio necessário", lê-se no site da Fundação. Além disso, e "para garantir o êxito do espetáculo", afigura-se obrigatório respeitar determinadas regras: sacos, malas e casacos devem ser deixados no bengaleiro; "todos os equipamentos passíveis de emitir luz, som ou vibração (telemóveis, relógios, etc.) deverão estar desligados e é absolutamente proibido "qualquer dispositivo de gravação vídeo ou som". Após o início do concerto, não será possível a entrada ou reentrada na sala. 

"Eclipse" terá a duração de 75 minutos e apresentará um repertório que pretende contar o trajeto de vida e obra da dupla. Com mais seis músicos em palco (entre os quais, Mamadou Diabaté, primo do magnífico Toumani Diabaté), não vão faltar as canções mais emblemáticas, que na última década têm conquistado fãs em todo o planeta. Amadou & Mariam são das mais entusiasmantes propostas do continente africano e já colaboraram com nomes como Manu Chao ou Damon Albarn, dos Blur. Fazem uma espécie de pop colorida e soalheira temperada com ritmos tradicionais do Mali e aberta a ramificações várias. 

Ainda há bilhetes à venda no site da Fundação Calouste Gulbenkian

In: JN

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

'Designer' quer código de cor para daltónicos em etiquetas

O 'designer' português que criou o ColorADD pretende em 2013 "bater à porta" de grupos internacionais como a Inditex, Benetton, Swatch e Lego para os desafiar a adotar aquele código inovador e universal de identificação de cores para daltónicos.

Em entrevista à agência Lusa, Miguel Neiva disse tratar-se de "nomes emblemáticos em que a cor é um fator de comunicação que os posiciona no mercado" e salientou que a adoção do ColorADD por estas marcas seria um marco na divulgação e impacto social do projeto.

"Se para eles, do ponto de vista económico, do negócio, isto trouxer benefícios, para nós não é irrelevante, porque quanto mais venderem mais vão divulgar o código", afirmou.

Já implementado ou em vias de implementação em diversas áreas, desde a saúde (Hospital de S. João, Hospital dos Capuchos e fármacos hospitalares) e transportes (Metro do Porto) ao material didático (lápis de cor Viarco e jogos didáticos), entre outros, o ColorADD está a dar os primeiros passos nos setores do calçado e do têxtil, com a introdução do código nos sapatos da portuguesa Dkode e nas etiquetas das marcas nacionais de vestuário Blankpage, Zippy e Modalfa (estas últimas na primavera/verão de 2013).

Miguel Neiva salientou que o vestuário é uma área onde a adoção do código assume particular relevância, já que "90 por cento dos daltónicos precisa de ajuda para comprar roupa".

"Com a Zippy fizemos um catálogo com 1.920 cores já referenciadas com o código, o que quer dizer que, amanhã, já estamos perfeitamente preparados para ir bater à porta de grupos como a Inditex ou a [United Colors of] Benetton, que são daqueles marcos que fazem todo o sentido", afirmou.

Um projeto "ainda não para este ano", admitiu, mas "para 2013", uma vez que nessa altura as marcas portuguesas já terão implementado o projeto e feito a respetiva divulgação: "Depois, já não é só chegar à Inditex ou Benetton com a ideia possível de isto ser implementado, mas com uma situação concreta", sustentou.

De acordo com Miguel Neiva, paralelamente à vertente mais comercial, o ColorADD ambiciona assumir-se na área da educação, tendo, no âmbito do trabalho em curso com a direção-geral da Educação, sido criada uma organização não-governamental para aplicar o projeto nas escolas nacionais.

O objetivo, disse, é "ajudar a potenciar nas escolas o conhecimento e a aprendizagem não só do ponto de vista da comunicação da cor, mas também usar o projeto como uma ferramenta aumentativa para que os alunos do primeiro ciclo possam aprender melhor".

Depois da uma primeira "incursão" na área do desporto com a utilização do código nos jogos da CPLP pelo Instituto do Desporto de Portugal e pela secretaria de Estado do Desporto e Juventude, Miguel Neiva está agora a "preparar um dossiê" propondo a adoção do ColorADD nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.

Admitindo que, tratando-se de um evento "à escala mundial", os jogos olímpicos "seriam um meio de divulgação muito grande" do projeto, o 'designer" destacou que, estando envolvidos 205 países e mais de 80 idiomas, "indiscutivelmente a cor será ali um fator de comunicação, não só a nível das credenciais dos atletas, jornalistas, VIP ou imprensa, como da distribuição dos jogos por áreas temáticas e modalidades, organização dentro do recinto desportivo, cor das bancadas, orgânica dentro da aldeia olímpica e parques de estacionamento".

A "vertente institucional" e o "cariz social" do projeto são dois aspetos também muito valorizados por Miguel Neiva, que acredita poder contribuir para "um mundo mais inclusivo".

"Para não perdermos este cariz social há licenças [de utilização do código] que oferecemos, nas áreas da educação e da saúde, porque queremos massificar esta linguagem, que é inclusiva", afirmou.

Segundo os dados disponíveis, o daltonismo - perturbação da perceção visual de determinadas cores primárias, como o verde e o vermelho, que se repercute na perceção das restantes cores do espetro - afeta cerca de 10 por cento da população masculina mundial, num total de 350 milhões de pessoas, sendo que dois por cento dos daltónicos são mulheres.

In: DN

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Cegueira. Aprender a viver sem uma luz ao fundo do túnel

O sotaque acentuado denuncia a proveniência alentejana de Ana Gil mal pronuncia as primeiras palavras. Chegou há menos de dois meses ao centro, depois de sofrer um derrame cerebral que lhe afectou os nervos ópticos. Aos 42 anos, a funcionária da Câmara Municipal de Sousel perdeu por completo a visão, mas os 25 dias em que esteve internada no Hospital de São José, em Lisboa, em Dezembro de 2011, deram-lhe tempo para reajustar prioridades. “Nos primeiros dias eu nem sabia se ia sobreviver. Mas a minha vontade era tanta que perder a visão foi o menos importante”, confessa.

Soube da existência do Centro Nossa Senhora dos Anjos através dos serviços sociais do hospital e candidatou-se à mesma entrevista inicial por que passam todos os utentes. A conversa serve para avaliar o estado psicológico de cada candidato e determinar se pode ser acompanhado durante alguns meses no espaço. “Para nós, o mais complicado é lidar com a depressão e o desalento das pessoas, porque isso perturba-as tanto que dificulta a aprendizagem”, confessa o psicólogo António Feliciano.

Ao cimo da Travessa do Recolhimento de Lázaro Leitão, em Lisboa, o centro dedica-se a dar uma nova esperança a pessoas que, como Ana Gil, perderam aquele que será o mais importante dos cinco sentidos: a visão. O espaço é o único em Portugal a trabalhar na reabilitação de pessoas com cegueira recém- -adquirida ou com baixa visão. Abriu portas há exactamente 50 anos e em 2011 a gestão foi transferida da Segurança Social para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Acolhe utentes de todo o país em regime de internato, com períodos que variam entre os seis meses e um ano. Ao longo desse tempo, os 12 técnicos do centro dão apoio a quem passou por uma perda súbita e irreparável. Uma perda que exige um luto, mas que não é sinónimo do fim. Ao fundo do túnel pode não haver luz, mas há uma nova oportunidade para viver.

“A tua realidade agora é outra”, disse Ana Gil a si mesma, ainda no hospital, “e o que ficou para trás ficou. Agora vais ter de encontrar soluções para enfrentar as coisas.” Nas primeiras semanas, o estado de espírito não se manteve sempre tão positivo, porque reaprender a viver quando se está a meio da vida é duro e a angústia acaba por ocupar o seu lugar. Mas para a utente mais recente do centro a adaptação à nova realidade foi rápida e em poucos dias ela passou a conhecer os cantos à casa. Porque é “uma pessoa despachada”, agarrou-se à aprendizagem das tarefas que são para si mais importantes: a informática – porque quer “voltar à actividade profissional que tinha” – e a mobilidade.

PRIMEIROS PASSOS Ana Gil é acompanhadas nessas áreas por técnicos especializados, como Ana Henriques, professora de Iniciação às Técnicas de Informação e Comunicação (TIC 1). Em voz alta, a professora dita, palavra a palavra, aquilo que deve ser escrito pelos dois utentes que naquela aula têm a primeira aproximação ao computador. Sentados em duas secretárias lado a lado, guiam os dedos pelo teclado com a ajuda de duas marcas que assinalam as letras E e J e que servem de referência para todas as outras. No ar, com a voz de Ana Henriques ressoa uma outra, metálica, que sai das colunas. O software de reconhecimento do ecrã serve de guia para os alunos e é a única forma de saberem os passos a dar quando estão frente ao ecrã. O computador representa a maior janela para um mundo fora da realidade rotineira. “Para uma pessoa cega, ter um computador com acesso à internet é estar acompanhada estando sozinha”, explica Arménio Nunes, professor de TIC 2. Ali os utentes “aprendem tudo o que precisam de saber fazer no correio electrónico, utilizam o Skype e o Messenger e navegam na internet”.

Para quem não esteja no centro, e não frequente acções de formação profissional, Arménio Nunes desenvolveu, há dez anos, o Programa de Apoio em Autonomias de Tecnologias de Informação e Comunicação. Um projecto que funciona como sistema de ensino à distância. A partir do gabinete, onde também dá aulas, responde actualmente a dúvidas de 17 alunos, uns do Porto outros dos Açores, e há até quem lhe escreva dos Estados Unidos. Garante que o prazer que tem nesta actividade vem de quando sente “as pessoas ficar mais contentes, a comunicar e com o amor-próprio a subir”.

AUTONOMIA A disposição dos alimentos no prato é guiada pelos ponteiros do relógio. A carne vai para as três horas, a salada ou os legumes para as 12 e o arroz ou as massas ficam entre as oito e as nove. Uma acção simples, como pôr a mesa, exige o mesmo método e rigor que todas as tarefas do quotidiano para quem, como Tânia, não tem o recurso da visão. Hoje tem 19 anos e chegou a Portugal em Novembro, ao abrigo de um protocolo para a área da saúde entre o Estado português e as antigas colónias. Os primeiros sinais de que algo não estava bem com os seus olhos apareceram quando era ainda uma criança de sete anos. Entretanto perdeu a quase totalidade da visão e tenta reaprender a naturalidade das actividades que antes realizava com simples recurso aos olhos. “Encaramos isto como uma escola, mas onde tem de haver tempo para a interiorização e para a reflexão, porque aceitar que se vai ficar cego para a vida é complicado”, diz Ana Magalhães, directora do centro desde Março. A reabilitação de cada utente é encarada de forma personalizada, com as suas necessidades e os momentos próprios de evolução, porque “é preciso tempo para pensar, é preciso dar espaço às pessoas para interiorizar as aprendizagens, algumas delas muito duras”.

Uma das maiores barreiras é a da falta de mobilidade. Alguns utentes chegam ao centro depois de meses limitados aos ambientes mais familiares, deslocando-se entre o quarto, a sala e a cozinha das suas casas. Readquirir o sentido de orientação, as noções de espaço e o equilíbrio são alguns dos principais momentos de aprendizagem após a perda da visão. Judite Martins esteve dois anos “presa à casa”, depois de um deslocamento da retina ter encerrado um processo de vários anos, entre perdas e recuperações da visão. A ex-utente interrompe por momentos a leitura em braille de um conto infantil – técnica que aprendeu no centro – para recordar os 12 meses que passou em reabilitação: “Fui à luta e aprendi tudo. Se no fim-de-semana tiver dez pessoas em casa”, diz com orgulho, “cozinho para todos sem precisar da ajuda de ninguém.”

“Há uma reaprendizagem para a vida”, sublinha Sónia Grilo, a mais recente técnica do centro, que faz o acompanhamento das aulas de actividade motora, piscina e mobilidade. Numa antecâmara da capela transformada em ginásio, a professora utiliza a recriação de um jogo de bowling para treinar a orientação com os utentes. Colocados numa ponta da sala, lançam pelo chão uma bola especial, com pequenos guizos no interior, tentando acertar com a direcção de onde veio o comando de voz de Sónia Grilo. Aplicados à vida quotidiana, exercícios como este vão permitir distinguir a proveniência de sons e ajudar a que as pessoas voltem a orientar--se no espaço.

“Os utentes que passam pelo centro podem sair daqui com um grau de autonomia satisfatório”, assegura o psicólogo António Feliciano. No entanto, há limitações que nunca serão ultrapassadas, “porque em termos de mobilidade as pessoas podem aprender a movimentar-se e a utilizar os transportes públicos, mas, excepto em casos excepcionais, ficam limitadas aos mesmos percursos”. O acompanhamento psicológico é, por isso, essencial para lidar com as frustrações que surgem com o processo de reabilitação, como o momento em que se começa a usar a bengala. Porque representa para o próprio uma limitação que não existia e porque se perde o anonimato perante a sociedade, apresentando quem não vê como alguém diferente.

“Para nós o mais complicado é lidar com a depressão e o desalento das pessoas, porque isso perturba-as tanto que dificulta a aprendizagem”, mas “como estão ocupadas e em contacto com outras, rapidamente surge uma esperança”, explica António Feliciano. Conseguir movimentar-se é um passo fundamental na conquista de autonomia, mas há outras tarefas do dia-a-dia que têm de ser trabalhadas. Na aula de Actividades da Vida Quotidiana – Competências Sociais, a aprendizagem de Tânia vai muito além de pôr a mesa. Ao passar os dedos por uma moeda de dois cêntimos apercebe--se de que há um veio a meio – “parecem duas moedas coladas” – que a distingue das outras. O truque para as notas é dobrá-las ao meio, enrolá-las em volta do indicador e unir as pontas por cima do dedo. A quantidade de papel que sobra, em função do tamanho de cada nota, permite perceber o que tem nas mãos. Um processo simples, embora demorado.

FUTURO LÁ FORA Foram precisos alguns anos de “reclusão” para que Paulo Almeida se “ambientasse à ideia” e aceitasse a nova fase da vida em que se encontra. Hoje garante que “quer fazer tudo o que fazia antes de perder a visão”. Prova disso é a exposição de fotografias que apresentou na cerimónia do cinquentenário do centro dos Anjos e que agora preenche as paredes do refeitório. Imagens captadas nos últimos dois meses, já como utente da instituição.

O prazer da fotografia é uma forma de preparar novos projectos, porque a vida fora do centro vai continuar quando estiver concluída a reabilitação: “Gostava de fotografar Lisboa da minha perspectiva, a perspectiva de alguém que não vê.” Outro objectivo que gostaria de alcançar seria tirar um curso de massagista, que lhe permitisse ter uma actividade regular mais tarde, porque “não existem muitas saídas para quem não vê”. “Daquilo que tenho verificado em experiências anteriores, é muito difícil recolocar as pessoas no mercado de trabalho”, lamenta Ana Magalhães, que tem sentido as dificuldades acentuarem-se nos últimos meses, com o agravamento da situação económica do país. “Neste momento há um grande vazio no mercado de trabalho”, aponta Sónia Grilo, o que dificulta a motivação dos utentes, pela falta de perspectivas. “Se nós temos de dar 100% no trabalho, eles têm de dar 5000% para mostrar que nunca falham”, defende a professora. “Depois de se conseguir renascer é voltar a matar a pessoa”, conclui a professora. “Por outro lado”, lamenta Paulo Almeida, “existem algumas leis no nosso país que não são cumpridas pelas empresas”, o que torna impossível o acesso a determinados postos de trabalho. “A sociedade trata-nos como uns coitadinhos, mas não me revejo nesse estatuto” porque “tenho tanto valor como uma pessoa que tenha todas as suas capacidades”, diz.

A par da marginalização profissional, ressalta dos testemunhos a sensação de alguma insensibilidade e incompreensão por parte da sociedade. Depois de se movimentar pela cozinha do centro, enquanto preparava o almoço para aquele dia – uma das actividades que ali se desenvolvem –, Teresa Rascão observou: “As pessoas querem ajudar e a primeira coisa que fazem é agarrar-nos no braço. Isso é errado, porque acabam por deixar-nos num espaço que para nós é vazio. Ficamos sem referências.” A experiência leva-a a defender que “toda a gente devia aprender como se agarra uma pessoa cega e como se deve caminhar em simultâneo com ela”, para evitar alguns acidentes que acabam por acontecer. Outro problema, destaca Paulo Almeida, são os passeios, que “não estão preparados para pessoas cegas”. Caixas de electricidade, carros nos locais errados e postes baixos no rebordo dos passeios são outros exemplos daquilo que, para quem não vê, representa um perigo eminente.

Actualmente há 14 pessoas em lista de espera para integrar o Centro Nossa Senhora dos Anjos e Ana Magalhães sublinha a disponibilidade da instituição para trabalhar com músicos ou estudantes da área que promovam actividades no local, pelo “papel lúdico-terapêutico” que a actividade representa. Para mais tarde está a ser pensada a abertura de apartamentos para residências individuais, que permitam trabalhar a autonomia dos utentes da instituição.

In: I online