Ana Sofia Teixeira, de 26 anos, tem cinco por cento de visão num olho e um por cento no outro. Mas a diferença não a impediu de lutar a vida toda pelos seus sonhos. Terminou o curso de Psicologia com 17.
Disseram-lhe, certo dia, que é "uma mulher que vai além do impossível". Não podiam ter acertado mais. Ana Sofia Teixeira, 26 anos, da Guarda, desafiou o destino em cada passo que deu. Nasceu com tignite pigmentar - mais conhecida como "cegueira noturna" -, uma doença degenerativa que lhe tirou, ao longo dos anos, quase toda a visão, tendo cinco por cento de visão num olho e um por cento no outro. Fazendo "da diferença uma boa oportunidade", como sublinha, nunca desistiu de lutar pelo que sonhava: ir para a universidade. Hoje, é aluna de excelência, na Universidade de Aveiro, onde estudou Psicologia e tirou recentemente 20 valores na tese de mestrado, o que lhe valeu 17 na nota final do curso.
Ouvir Ana Sofia falar é levar um "murro no estômago". Quem olha para o seu sorriso, que não lhe sai da cara, não imagina as batalhas que tem travado. "Os meus pais são primos direitos. Devido a uma incompatibilidade sanguínea, gerou-se esta anomalia congénita", conta a futura psicóloga, que tem irmãos com a mesma patologia.
Ana Sofia viveu, desde os quatro anos, na congregação das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, na Guarda. Em casa, a estrutura familiar não era coesa e havia problemas financeiros. "Sempre mantive o contacto com os meus pais, mas tudo o que sou devo-o às irmãs. Ainda hoje, quando vou à Guarda, é lá que fico", recorda.
Visão afetada pelo estudo
"Se os outros conseguem, eu também tenho de conseguir". Este foi, desde cedo, o seu pensamento. Grande parte da visão que perdeu, principalmente na adolescência, "foi a esforçar a vista, a estudar". Queria ir para a universidade. Ser independente.
"Fui percebendo o papel que podia ocupar no Mundo e na sociedade e escolhi Psicologia", sublinha. Com a ajuda da "lupa TV" - um instrumento que amplia documentos impressos - e, posteriormente, do computador, aplicou-se nos estudos, apesar das limitações da doença.
Mas como se consegue tirar um 20? "Tive de abdicar de muita coisa e trabalhar muito", revela. Ao mesmo tempo que preparava a tese (ver caixa), Ana fazia um estágio curricular e outro extracurricular. Para Ana, o dia parece que tem 48 horas. Vê mal o que a rodeia, mas conhece bem o sabor da vida.
In: JN
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