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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Creche: Quanto mais cedo melhor?

Estudo revela que crianças que frequentaram a creche com menos de três anos obtiveram melhores resultados no desenvolvimento cognitivo e linguagem do que aquelas que ficaram até mais tarde em casa, com os pais ou com a mãe.

A ideia surgiu-lhes no âmbito do trabalho diário, enquanto médicos de unidades saúde familiar do distrito de Braga. Vítor Portela Cardoso e Paula Mendes ouviam muitas vezes dos pais perguntas e inquietações sobre qual seria a melhor solução para os filhos: pô-los a frequentar uma creche ou entregá-los a uma ama?

Os dois médicos perceberam que o aumento da idade da reforma tem vindo a tornar cada vez mais díficil aos avós assumirem os papéis tradicionais de coadjuvantes dos pais no que a tomar conta das crianças diz respeito. Vítor Portela Cardoso e Paula Mendes, por considerarem ter “o dever de proteger e assegurar todo o potencial de desenvolvimento das crianças, bem como evitar riscos desnecessários”, foram pesquisar artigos científicos nos últimos 37 anos que trouxessem alguma luz sobre os efeitos dos cuidados não parentais, fora do domicílio, no desenvolvimento cognitivo e da linguagem. Os resultados foram publicados numa das últimas edições da revista Acta Pediátrica Portuguesa e mostram que os cuidados não parentais até aos três anos podem ser benéficos ao nível do desenvolvimento cognitivo e da linguagem, traduzindo-se “possivelmente”, arriscam os autores, “num melhor desempenho escolar”.

O estudo de Vítor Cardoso e Paula Mendes é do tipo “revisão baseada na evidência” e incidiu nas crianças com menos de 3 anos, excluindo as que tinham um contexto sócio-económico desfavorável, as que pertenciam a minorias étnicas ou que estavam em risco de atraso de desenvolvimento (como os prematuros ou com baixo peso à nascença). “Ficámos desde logo surpreendidos pelo reduzido número de resultados obtidos. Apesar de o tema ser comum, verificámos que os estudos sobre os efeitos dos cuidados não parentais eram escassos e de qualidade limitada”, esclarece Vítor Cardoso,que trabalha na Unidade de Saúde Familiar de Gualtar, Braga.

Dos 89 artigos encontrados, apenas três tinham as características de coorte - isto é, eram estudos de observação que se prolongam no tempo. O mais relevante deles é o que foi levado a cabo pelo grupo norte-americano National Institute of Child Health and Human Development (NICHD), no qual foram seguidas 856 crianças desde o nascimento até ao completar três anos de vida. A maioria das crianças acompanhadas iniciou cuidados não parentais por volta dos quatro meses - uma realidade muito próxima da portuguesa, já que a licença de maternidade em Portugal termina aos quatro meses.

O estudo procurou comparar três tipos de cuidados: os das instituições, como as creches; os prestados em domicílios de um não familiar, como a ama; e os que são prestados no próprio domicílio, ou seja, em casa dos pais ou avós. E procurou apreciar o tipo, a qualidade e a quantidade dos cuidados que eram prestados em cada um destes contextos. 

Os resultados demostraram, em primeiro lugar, e com pouca surpresa, que a qualidade dos cuidados é muito importante para o desenvolvimento cognitivo e da linguagem das crianças. Mais relevante era talvez a conclusão de que as crianças que frequentaram creches de média a elevada qualidade apresentavam melhores resultados do que aquelas que tiveram cuidados maternos exclusivos, mesmo em idades muito precoces. Os cuidados não parentais fora do domicílio por parte de uma pessoa não familiar, como uma ama, foram os que apresentaram resultados mais fracos. O rendimento familiar, a qualidade do ambiente doméstico, o sexo da criança e o grupo étnico a que pertencia revelaram-se variáveis sem impactos consistentes neste estudo.

É difícil, pelo menos em termos científicos, transpor a validade destes resultados, obtidos no ano 2000 e em famílias de dez estados norte-americanos, para a realidade portuguesa. Vítor Portela Cardoso e Paula Mendes são os primeiros a assumi-lo, admitindo ser difícil formular conclusões definitivas e estabelecer inferências causais. Mas Vítor Cardoso não tem dúvidas em afirmar que o desenvolvimento infantil que encontra nas consultas em idades pré-escolares, com crianças de três e quatro anos, é muito heterogéneo. Acrescenta que tem a impressão de “que as crianças que frequentaram a creche ou infantários demonstram mais aptidões cognitivas e melhor interação social relativamente àquelas que não o fizeram.” 

É apenas uma impressão e não é sequer partilhada pela presidente da Sociedade de Pediatria do Neurodesenvolvimento, da Sociedade Portuguesa de Pediatria. Maria Júlia Guimarães observa que, “além dos resultados cognitivos e da aprendizagem da linguagem, temos os aspectos emocionais, que não foram abordados" no estudo de Vítor Portela Cardoso e Paula Mendes "e que são muitíssimo importantes”. Uma das principais traves do neurodesenvolvimento pediátrico é aquela que estabelece a importância da ligação emocional e afectiva entre a criança e o seu cuidador. “A mãe está sempre numa grande ambivalência, e naquela dúvida terrível sobre onde vai deixar o filho, quando tem de voltar ao trabalho, porque não pode prescindir do seu salário. Queixam-se da baixa taxa de natalidade, mas ninguém se lembra que as crianças não nascem com três anos de idade. O Estado demite-se de responsabilidades e deixa tudo nos ombros das famílias. Mas é preciso apoiá-las”, exorta a pediatra.

Por um lado, são poucas as mães que conseguem fazer uma pausa no emprego e não se apressam a regressar ao trabalho, findos os quatro meses de licença. Por outro, o aumento da idade da reforma tem deixado os avós menos disponíveis para ajudar. E os custos cobrados pela guarda das crianças é excessivo para a maior parte da população.

Segundo a última Carta Social, que inventaria a Rede de Serviços e Equipamentos Sociais, em 2013 existiam em Portugal continental quase 113 mil creches, um número que praticamente duplicou relativamente ao ano 2000. Quanto às amas registadas pela Segurança Social eram menos de 1200 em finais de 2014. Mas, com a liberalização da actividade, o número de amas deve aumentar exponencialmente. 

Psicóloga clínica especializada em bebés, Clementina Almeida defende que a escolha de uma creche ou de uma ama será das decisões mais importantes que algum dia vão ser pedidas a uma mãe. Isto, porque os primeiros dois anos de vida do bebé são cruciais no seu desenvolvimento cognitivo e emocional. “Ao contrário de outros órgãos, não há nada de automático no desenvolvimento cerebral. Quando nasce, o cérebro está completamente dependente das relações e dos estímulos que vai receber. E hoje em dia já há muitos estudos a demonstrar que há conexões entre o primeiro ano de vida de um bebé e o que vai acontecer, em termos de saúde física e mental", ao mesmo indivíduo adulto, "nomeadamente em termos de patologias como a depressão”, defende. 

Clementina Almeida dá exemplos. “Quando o bebé é tratado de forma estritamente funcional - mudar a fralda, dar a papa ou o biberão - e o cuidador não estabelece laços afectivos com ele, aumentam os níveis de cortisol, uma substância que é segregada em situações de perigo e que vai ter sequelas. Vamos encontrar rapazes mais agressivos ou meninas mais ansiosas”, explica.

É por existir esse conhecimento cientifico, o que demonstra a neuroplasticidade e a maneira como se processa a formação do sistema nervoso central, que Maria Júlia Guimarães defende que os primeiros dois anos de vida do bebé devem corresponder ao período em que há maior exigência de qualidade por parte dos que assumem a responsabilidade de guardar as crianças. “Se é imprescindível haver um estabelecimento de guarda, então que haja a garantia de que ele é o melhor possível”, defende a representante da Sociedade Portuguesa de Pediatria.

E quem deveria dar essas garantias? Vítor Portela Cardoso e Paula Mendes defendem que as creches não podem ser encaradas como meros depósitos de crianças que ficam a aguardar pelo regresso dos pais do trabalho. “Em Portugal as creches não são tuteladas pelo Ministério da Educação, dado que são mais encaradas como prestadores de cuidados de guarda do que propriamente de resposta educativa”, criticam os dois médicos. E defendem que, demonstrados os variados efeitos dos cuidados prestados às crianças em instituições como as creches, mesmo em idades muito precoces, “se deve promover a integração de uma resposta e tutela igualmente educativa”.

sábado, 20 de abril de 2013

Bebés lactentes têm estado de consciência semelhante ao dos adultos

Mecanismos cerebrais que envolvem percepção já estão presentes em crianças com cinco meses

Um estudo europeu, realizado por investigadores do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS), no Laboratório de Ciências Cognitivas e Psicolinguísticas, em Paris, avança que os bebés lactentes têm um estado de consciência semelhante ao dos adultos a partir dos cinco meses.

O trabalho realizado em colaboração com uma equipa do Inserm e publicado esta semana na «Science», para detectar este estado de consciência, analisou a actividade neural de 80 bebés com cinco, doze e quinze meses com o auxílio de um electroencefalograma, para medir o tempo de respostas eléctricas durante a exibição de imagens de rostos.

Segundo o comunicado, nos adultos, os estudos mostraram que o cérebro reage em duas etapas à percepção de um acontecimento externo. Em todos os grupos etários dos bebés, foram registados a mesma resposta tardia e não responsiva, tal como nos adultos.

Nos primeiros 200 a 300 milissegundos, a reacção é totalmente inconsciente e é acompanhada de uma actividade neural que aumenta de forma linear, em função dos objectos apresentados. Já numa segunda etapa, após 300 milissegundos, começa a resposta consciente, segundo indica uma assinatura eléctrica específica do cérebro.

As apresentações de imagens com durações longas permitem alcançar este limiar de reacção eléctrica, considerado um marcador neural da consciência. Em todos os grupos etários dos lactentes, os cientistas observaram a mesma resposta tardia como nos adultos, confirmando "a assinatura neural do estado de consciência".

Os resultados revelam que os mecanismos cerebrais que envolvem a consciência perceptiva já se encontram presentes nos bebés a partir dos cinco meses, apesar de ainda lentos e sofrerem um desenvolvimento progressivo ao longo do crescimento.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Cientistas vão testar fármaco para "reverter" autismo

Um grupo de investigadores norte-americanos utilizou, com sucesso, um fármaco antigo para restaurar as comunicações celulares do cérebro num modelo animal, conseguindo reverter os sintomas do autismo. Face aos bons resultados, os especialistas da Universidade da Califórnia - San Diego, nos EUA, esperam dar início a um pequeno ensaio clínico com humanos já no próximo ano.

A descoberta da utilidade da suramina, um "inibidor de sinais purinérgicos das células" utilizado desde 1926 no tratamento da doença do sono, em África, e no combate a outras patologias parasitárias, foi efetuada por uma equipa coordenada por Robert Naviaux que deu, este mês, a conhecer os resultados da investigação através de um estudo publicado na revista científica PLOS ONE. 

"A nossa teoria sugere que o autismo acontece porque as células ficam 'presas' num metabolismo defensivo que as torna incapazes de comunicar normalmente umas com as outras, o que pode interferir com o desenvolvimento e função do cérebro", explica o professor de medicina Naviaux em comunicado divulgado pela universidade norte-americana. 

"Utilizámos um tipo de fármaco que já existe há quase um século para tratamento de outras doenças com o objetivo de bloquear o sinal de 'perigo' [que as células recebem e que desencadeia a postura defensiva] em ratinhos e conseguimos que as células retomassem o metabolismo normal e que a comunicação celular fosse restaurada", revela o investigador. 

Ensaio clínico com humanos arranca em 2014

Durante a investigação, o fármaco corrigiu 17 sintomas da doença, normalizando a estrutura sináptica do cérebro, o envio de sinais entre as células, o comportamento social, a coordenação motora e o metabolismo mitocondrial.

Robert Naviaux admite que, "obviamente, mesmo sendo capazes de corrigir falhas em cérebros de modelos animais geneticamente modificados, continuamos a estar longe de uma cura eficaz para humanos". No entanto, os especialistas estão esperançados e planeiam dar continuidade à investigação, desta feita com pessoas, já em 2014. 

"Sentimo-nos suficientemente encorajados para testar esta abordagem num pequeno ensaio clínico com crianças autistas no próximo ano", desvenda o docente. "Acreditamos que esta terapia [denominada terapia antipurinérgica, APT na sigla em inglês] oferece um caminho novo e entusiasmante que poderá levar ao desenvolvimento de fármacos para tratar o autismo", garante.

Segundo o coordenador da investigação, a eficácia demonstrada no estudo quanto à utilização deste tipo de terapia para "reprogramar a resposta das células ao perigo e reduzir a inflamação" constitui-se, portanto, "como uma oportunidade de desenvolver novos anti-inflamatórios para tratar esta e outras doenças".

Clique AQUI para aceder ao estudo completo (em inglês).

quarta-feira, 13 de março de 2013

Útero: Cirurgia sem corte corrige espinha bífida

Cientistas alemães usaram uma técnica de cirurgia minimamente invasiva para evitar o desenvolvimento da espinha bífida. Através de três pequenas perfurações na barriga da mãe, é possível travar este grave defeito congénito no sistema nervoso criado pela acumulação de água no cérebro.

Esta técnica foi desenvolvida pelo médico alemão Thomas Kohl, na Alemanha, e está em fase final de melhoramento. Apesar de já terem sido realizadas 70 operações que revelaram bons resultados, os investigadores pretendem que a intervenção seja lançada a uma escala global com todas as garantias de sucesso.

A espinha bífida é um dos defeitos mais comuns da espinal medula e surge em bebés recém-nascidos por todo o mundo, verificando-se a incidência de um caso em cada mil nascimentos. Além da elevada mortalidade associada à doença, a espinha bífida dá origem a outros problemas graves como atrofia muscular.

Até hoje, o único tratamento para combater a doença consiste em fechar a lesão da medula espinal 48 horas após o parto, procedimento que não garante 100 por cento de sucesso e nem sempre evita a lesão nos nervos e o surgimento de outros problemas associados. Esta intervenção implica, também, um corte de 7 cm a 10 cm na barriga e no útero da mãe.

A médica responsável pela cirurgia do bebé brasileiro explicou ao Folha de S. Paulo que, devido à cicatriz que deixa, a cirurgia aberta traz riscos de ruptura do útero durante a gestação em curso e nas seguintes.

O novo tratamento consiste numa operação feita com três pequenos "furos" na barriga da mãe (artroscopia), por onde entraram os instrumentos cirúrgicos e a câmera de vídeo que conduz os médicos.

Os estudos demostraram que esta intervenção na fase fetal tem várias vantagens, como por exemplo o facto de reduzir para metade os riscos de hidrocefalia, diminuir a taxa de mortalidade do bebé e garantir um bom desenvolvimento muscular. 

O jornal brasileiro Folha de São Paulo acompanhou, este mês, a primeira intervenção à espinal medula sem cortes num bebé brasileiro. O feto foi operado há cerca de duas semanas e apresenta níveis estáveis de desenvolvimento.

"Ele pula sem parar aqui dentro. Nem parece que passou por uma cirurgia", disse a futura mãe, Oladiane Werner, ao jornal brasileiro. Até ao parto, que acontece dentro de dois meses, a mãe tem de manter o repouso total para garantir a segurança do bebé.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Novo teste pode desvendar 3000 doenças no feto

Um grupo de cientistas norte-americanos conseguiu sequenciar o genoma de um feto às 18 semanas de gestação, utilizando para isso apenas uma amostra de sangue da mãe e de saliva do pai. Consequência disso é que o novo teste pode, no futuro, ajudar a detectar cerca de 3000 doenças, antes do nascimento. 

Até agora os investigadores já conseguiam ler o genoma dos fetos através do líquido amniótico. Contudo, o exame necessário, a amniocentese (uma técnica invasiva), apesar de amplamente utilizada pela medicina, acarretava alguns riscos para a gravidez.

Há dois anos um grupo conseguiu também sequenciar o genoma do bebé a partir do sangue da mãe, mas a análise revelou-se mais incompleta, uma vez que carecia de amostras paternas. A experiência ainda está confinada aos laboratórios mas, à semelhança das outras descobertas, o avanço reacende o debate sobre as questões éticas do diagnóstico pré-natal e eventuais decisões que se sucedem.

O trabalho em causa acaba de ser publicado na revista científica Science Translational Medicine e, segundo os autores, representa um grande avanço no diagnóstico pré-natal de doenças de base genética, com a grande vantagem de ser um método não invasivo. A sequenciação do genoma permite, por exemplo, detectar doenças como trissomia 21 (síndrome de Down), doença de Huntington, síndrome de Marfan, retinoblastoma, fibrose quística e uma forma da doença de Alzheimer.

O estudo foi conduzido por Jacob Kitzman e Matthew Snyder, no laboratório de Jay Shendure, da Universidade de Washington. Num comunicado, os autores adiantam que o método explorado permite uma visão mais clara do genoma, uma vez que detecta as variações mais subtis, ao incluir tanto material da mãe como do pai. Ao todo poderão ser detectadas cerca de 3000 doenças genéticas, ainda que a sua incidência média seja de apenas 1%.

Os investigadores explicam também que muitas das mutações genéticas não podem ser observadas directamente nos pais, mas sim na formação do óvulo, do esperma e na concepção, pelo que é mais útil uma leitura já durante a gestação e numa fase em que o feto já tem a sua formação avançada, como é o caso das 18 semanas.

Na mesma nota, o grupo explica que repetiu o mesmo método (análises ao sangue e saliva) num casal que já se encontrava mais perto do final da gravidez. Em ambos os casos no parto foi recolhido sangue do cordão umbilical e foi feita uma nova análise do genoma dos bebés para se comparar com a leitura feita durante a gestação, tendo os resultados sido muito satisfatórios, com uma taxa de sucesso de 98%.

Já há muito que os cientistas sabem que no sangue materno é possível encontrar amostras do ADN do feto. Apenas algumas semanas depois da concepção, cerca de 10% das células de ADN em circulação na mulher são já provenientes do bebé. Nesse sentido, vários laboratórios têm vindo a desenvolver alguns testes baseados apenas no sangue materno e que consigam, de forma segura e pouco dispendiosa, ser utilizados pelos médicos, para substituir o tradicional exame invasivo ao líquido amniótico.

A investigação agora dada a conhecer tenta ir mais longe e detectar mais doenças do que as que são comummente procuradas. “Esta solução melhorada é como ser capaz de ver que em dois livros que estão juntos num deles uma palavra numa página está mal escrita”, exemplificou Kitzman.

Durante a investigação, o grupo norte-americano conseguiu também perceber na amostra de sangue que parte da informação genética pertencia ao feto e que parte era apenas da mãe, isto é, quais eram os seus haplótipos. A molécula de ADN humano (ácido desoxirribonucleico) contém 3 mil milhões de pares de bases, sendo um par de bases um conjunto de dois nucleótidos (compostos que auxiliam os processos metabólicos) opostos e complementares na cadeia de ADN. As bases são as “letras” que compõem o ADN (Adenina, Citosina, Guanina, Timina) e ligam-se por pares.

No entanto, os investigadores alertam que a técnica ainda precisa de ser aprofundada até ser clinicamente utilizada, uma vez que é preciso trabalhar mais a interpretação de resultados, assim como os custos e autonomia do teste.

In: Público

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Implante ocular devolve visão a cegos

Os primeiros testes do implante de retina em pacientes britânicos que sofrem de retinite pigmentosa, doença genética incurável que causa cegueira, foram bem sucedidos. A confirmação foi anunciada na semana passada pela empresa que desenvolveu o mecanismo, a Retina Implant AG.

Os primeiros implantes deverão abranger, no total, 12 pacientes, e estão a decorrer em Londres, sob a orientação de Tim Jackson e, em Oxford, por Robert MacLaren, ambos cirurgiões óticos.

Desde que receberam o aparelho sem fios, em meados de Abril, os dois primeiros pacientes da experiência começaram a recuperar a visão no dia-a-dia. Os indivíduos puderam detetar luz imediatamente após o microchip ter sido ativado. Ambos são ainda capazes, agora, de localizar objetos brancos em locais escuros.

Num comunicado da Retina Implant, Tim Jackson e Robert MacLaren referem estar entusiasmados com o seu envolvimento “neste implante sub-retinal pioneiro e em anunciar que os primeiros pacientes implantados tiveram sucesso”. Os resultados terão excedido as expectativas dos dois profissionais.

Robert Millar, um dos primeiros pacientes a receber o implante, referiu: “Desde que liguei este aparelho que sou capaz de detetar luz e distinguir os contornos de certos objetos. Até sonhei a cores pela primeira vez em 25 anos, pelo que uma parte do meu cérebro que estava a dormir acordou”.

Equipamento testado em vários países

Este equipamento tem estado a ser experimentado nos últimos seis anos. Os pacientes envolvidos receberam microchips de 3x3m2 com 1.500 elétrodos implantados por baixo da retina. Os primeiros resultados, publicados em 2010, mostraram que os pacientes eram capazes de reconhecer objetos estranhos e de ler letras para conseguir formar palavras.

Mais tarde, na Alemanha, os testes mostraram ainda mais melhorias visuais. Os nove pacientes alemães são os que demonstraram melhores resultados até à data, tendo conseguido restaurar praticamente a total capacidade de visão útil. Agora, a Retina Implant está a expandir o estudo à participação de outros países.

“Os implantes no Reino Unido representam um grande passo para a missão da Retina Implant de restaurar a visão dos doentes de retinite pigmentosa em todo o mundo”, disse Walter-G Wrobel, CEO da Retina Implant AG.

“Queremos continuar aquilo que alcançamos de forma a que o aparelho seja submetido para aprovação comercial assim que esta fase da pesquisa esteja terminada”, acrescentou.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Allan Hobson: “Não poderíamos ver se não fosse o sono”

Allan Hobson, o cientista que contrariou a teoria dos sonhos de Freud, está em Portugal para abrir o 9.º simpósio sobre o cérebro da Fundação Bial, uma oportunidade para ouvi-lo defender que quando sonhamos estamos “a treinar”.

O “Sono e os Sonhos” é o tema do Simpósio “Aquém e além cérebro” que abre no dia 28 de Março, no Porto, com a palestra de Allan Hobson que, em entrevista à Lusa, lembrou que “o sono é algo muito elaborado, a única coisa que se perde é consciência, mas a consciência no máximo ocupa cinco por cento da actividade cerebral”.

O cientista debruçou-se sobre os sonhos para concluir, por exemplo, que quando conservamos a visão durante o sono, conseguindo formar imagens perfeitas, aquilo que o nosso cérebro está a fazer no fundo "é treinar a visão e isso é muito importante que ele faça”.

“A minha teoria é que não poderíamos ver se não fosse o sono REM (Rapid Eye Movement), sem aquilo que considero ser o sistema trabalhar ‘off line’ ou a criação de uma realidade virtual para o cérebro”, afirmou Allan Hobson.

“E não é só a visão é também, por exemplo, a locomoção”, notou. “Todos os sonhos são animados, nós nunca ficamos quietos, sonhamos sobre correr, andar, mesmo voar, é como um programa de ensaio para o cérebro”, disse, garantindo que “é muito sobre integrar visão e movimento o que não coisa fácil, é um grande trabalho”.

O cientista que formulou esta teoria da “protoconsciência" que serve para o desenvolvimento e manutenção da “consciência desperta”, lembrou que vemos a consciência "como algo que só existe depois de acordarmos”, mas aquilo que tentou explicar “é que sonhar é uma outra forma de consciência, que precede no tempo o estado consciente".

Para Allan Hobson, essa actividade “começa a acontecer no útero, na terceira semana de desenvolvimento do feto, num momento em que certamente não regista significativos efeitos do meio que o rodeia, ou seja, o cérebro já se está a preparar para estar consciente e está a ‘correr programas’ como um computador que se prepara para o trabalho do dia seguinte”.

O neurocientista publicou em 1977 com Robert McCarley, um estudo em que concluiu que os sonhos são mudanças bioquímicas e impulsos eléctricos aleatórios que agitam o cérebro enquanto dormimos, sem qualquer significado no sentido que Freud lhes deu. Só que quando acordamos a nossa consciência, habituada a que tudo faça sentido, força uma “narrativa” para dar alguma lógica a esses impulsos.

Esta é a teoria de “ativação-síntese” comummente aceite no meio científico e que contraria a teoria psicanalítica, mas que Hobson atualizou em 1999 ao considerar que a parte do cérebro que gere as emoções também mantinha atividade durante os sonhos.

Apesar de ser apontado como o “maior provocador no campo dos estudos dos sonhos” afirmou que faz“o que Freud queria fazer, mas que em 1895 não podia, porque não sabia nada sobre o cérebro, por isso estava obrigado a elaborar a sua teoria dos sonhos a partir de especulação”. Para ele, “’A interpretação dos sonhos’ é um grande livro, mas não há ali nada de científico sobre os sonhos”.

Usando microeléctrodos, capazes de gravar células individualmente, reavivou “a teoria dos sonhos” colocando-a “em linha com aquilo que hoje sabemos sobre o cérebro que, passados 115 anos, é certamente muito mais, o que não é surpreendente”.

E se dormir e sonhar é para Allan Hobbes tão importante, ele não acha que estejamos obrigados a dormir as aconselhadas sete horas. “Não percebo porque é que o sono deveria ser uniforme quando nada é uniforme na biologia”, sustentou.

Só aconselhou a quem “dorme 11 horas não deve tentar ser uma pessoa que dorme 4 horas porque é como tentar ser basquetebolista sendo muito pequeno". Por outro lado, as escolas de medicina, por exemplo, deviam perguntar se uma pessoa dorme muito ou pouco: “Quem dorme pouco deveria ser favorecido em profissões que limitam o sonho”.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Crianças com problemas de sono tendem a tornar-se hiperactivas

Estudo de 11 mil crianças, seguidas durante seis anos, revela consequências de perturbações respiratórias no cérebro. 

As crianças que ressonam, dormem de boa aberta e sofrem de apneia durante o sono correm mais riscos de se tornarem agressivas e hiperactivas. Um estudo desenvolvido junto de 11 mil crianças, que foram seguidas durante mais de seis anos, concluiu que tais sintomas podem influenciar negativamente o desenvolvimento do cérebro, ou seja, não devem ser negligenciados. 

"Tanto os pais como os pediatras devem prestar mais atenção às irregularidades respiratórias durante o sono nas crianças pequenas, talvez mesmo durante o primeiro ano de vida", alertou Karen Bonuck, co-autora do estudo e investigadora no Albert Einstein College of Medicina da Yeshiva University, de Nova Iorque. Se nada for feito, concluem os autores do estudo publicado agora na revista norte-americana US Journal Pediatrics, as crianças têm entre 40 a 100% de probabilidades acrescidas de, por volta dos sete anos, se tornarem hiperactivas, ansiosas, deprimidas e com sérias dificuldades na interacção com os amigos. "Apesar de ser um problema muito comum, os pediatras e os médicos de família raramente lhe dão a atenção devida", insiste Karen Bonuck. "Na maior parte dos casos, os médicos limitam-se a perguntar "Como é que o seu filho dorme?", em vez de perguntarem especificamente sobre cada um dos sintomas." 

Um peso abaixo da média é outra das consequências comuns nestas crianças, cujo sono não é profundo o suficiente para que produzam as chamadas "hormonas do crescimento". 

As desordens respiratórias do sono ocorrem mais frequentemente entre os dois e os seis anos de idade, mas podem começar mais cedo. "Cerca de 10% das crianças ressonam por sistema, devido ao aumento significativo do volume dos adenóides, muito frequente entre os dois e os quatro anos", especificou ao PÚBLICO o pediatra Mário Cordeiro. "Quando a criança se deita, os adenóides e as amígdalas "caem", encurtando o espaço respiratório na rino e oro-faringe", prossegue o especialista, para acrescentar que, "em consequência, o ar tem maior dificuldade em passar quando entra pelo nariz". Logo, "a criança respira pela boca, fazendo um som mais intenso: o ressonar". 

Estes sintomas, ou seja, a má ventilação, também podem derivar de desvios no septo nasal. Em ambos os casos, quando a obstrução respiratória é grande, "os níveis de oxigénio começam a descer e os de dióxido de carbono a aumentar, fazendo com que a dada altura o centro respiratório "mande" a criança acordar para retomar a respiração - são as chamadas "apneias". Para Mário Cordeiro, "quando o grau de obstrução é tão grande que chega à apneia do sono, em que a criança deixa por momentos de respirar, isto poderá ser um motivo suficientemente forte para considerar extrair os adenóides". 

Esta "dança" entre o sono profundo e o superficial impede o descanso da criança, fazendo com que esta acorde com a sensação de noite mal dormida. Em resultado, a criança tende a mostrar-se sonolenta durante o dia e, consequentemente, mais irritadiça, birrenta e com défice de atenção e de concentração. A impaciência e a conflitualidade com os colegas vêm a seguir, o que "prejudica a relação social e escolar, bem como o processo de aprendizagem", acentua ainda Mário Cordeiro. "Acresce que o fácies da criança, com a boca semiaberta (porque respira pela boca) e não ouvindo bem, contribui para que seja rotulada de "estúpida" e alvo de troça dos colegas, o que aumenta a agressividade e o sentimento de injustiça".

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Investigadores portugueses estudam leucemia infantil

Todos os anos surgem em Portugal cerca de 200 casos de leucemia infantil. Uma pesquisa realizada por investigadores portugueses permite perceber a evolução da doença e avançar para tratamentos com medicamentos já testados noutras doenças. João Barata, Investigador do Instituto de Medicina Molecular, explica em que consiste esta investigação.


sábado, 17 de dezembro de 2011

O que determina a memória de curto prazo?

Pela primeira vez, cientistas do Instituto Nencki de Biologia Experimental da Academia Polaca de Ciências em Varsóvia conseguiram provar experimentalmente que a capacidade de memória de curto prazo depende de um modo especial dois ciclos da actividade eléctrica cerebral.

A memória de curto prazo desempenha um papel crucial no funcionamento de nossa consciência. Um ser humano consegue processar conscientemente de cinco a nove partes de informações simultaneamente. Em 1995, cientistas da Universidade de Brandeis, em Waltham, USA, sugeriram que a capacidade de memória de curto prazo poderia depender de duas bandas de actividade eléctrica cerebral: as ondas Teta e Gama. No entanto, só agora, através de experiências conduzida no Instituto Nencki foi possível provar que realmente existe essa relação.

De acordo com a notícia avançada pelo Instituto Nencki, no exame de eletroencefalografia (EEG) que os cientistas efectuaram, foram colocados vários eléctrodos na cabeça do paciente. Os sinais eléctricos do cérebro gravados mostram ondas de diferentes frequências, como as ondas Teta com frequência de 4-7 Hz e as Gama com frequência de 25-50 Hz. Estas ondas são usadas para reter informações no cérebro. Os investigadores observaram então que a amplitude das ondas Teta e Gama aumentou quando as pessoas foram obrigadas a armazenar mais informações na memória a curto prazo.

O psicólogo Jan Kamiński, autor principal das experiências, explica que “a hipótese formulada por Lisman e Idiart em 1995 assume que somos capazes de memorizar tantos ‘pedaços’ de informações quanto mais ciclos Gama existirem para o ciclo Teta. A investigação até à data apenas apoiava indirectamente esta hipótese”.

Um ‘pedaço’ da informação refere-se à sua proporção na memória, pode ser um número, uma letra, ideia, situação, imagem ou cheiro. “Ao criar experiências sobre a capacidade de memória é preciso ser cuidadoso para não tornar demasiado fácil para o assunto agrupar muitos ‘pedaços’ só num”, sublinha Jan Kamiński. E exemplifica: “ A sequência de números 2, 0, 1, 1 é fácil de agrupar no número correspondente ao ano em curso. Em vez de quatro ‘pedaços’ de informação passamos a ficar com apenas um”.

Interpretar o comprimento de ondas Teta e Gama do EEG não é fácil pois estas ondas não são directamente visíveis no sinal. Por isso Jan Kamiński propôs um novo método para determina-las.

Durante a experiência, os investigadores gravaram a actividade eléctrica do cérebro em 17 voluntários em repouso, de olhos fechados, durante cinco minutos. Em seguida filtraram os sinais e analisaram não os ciclos mas as suas correlações. Apenas com base nas correlações descobertas determinou-se a relação entre o comprimento da onda Teta para a onda Gama e a capacidade de memória verbal de curto prazo foi determinada. “Observámos que quanto mais longos eram os ciclos Teta, mais ‘pedaços’ de informação os voluntários eram capazes de lembrar; quanto mais longo o ciclo Gama, menos lembrado era o assunto”, explicou Jan Kamiński.

Uma vez que a capacidade de memória de curto prazo afecta os efeitos de raciocínio, actualmente os investigadores estão a realizar estudos para desenvolver a forma mais eficaz de treiná-la.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

UTAD com soluções para pessoas com deficiência

Uma bengala electrónica para ajudar cegos a deslocarem-se na rua ou uma aplicação que permite pedir ajuda por telemóvel sem recurso a voz, são alguns dos projecto desenvolvidos na Universidade de Vila Real para pessoas com necessidades especiais.

Na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) intensifica-se a investigação na área da acessibilidade e da reabilitação. Alguns dos projectos puderam ser vistos numa exposição que ficou patente ao público até dia 3 de Dezembro, no edifício do antigo Governo Civil.

Hugo Paredes, do departamento de Engenharias, apresentou um protótipo de uma bengala electrónica, inserido no projecto Blavigator que pretende ser um "um auxílio barato e fiável para a navegação dos cegos".

Financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia em cerca de 82 mil euros, esta iniciativa junta investigadores de várias entidades.

A bengala possui uma antena, um leitor de identificadores de rádio frequência e uma pequena caixa onde está incorporada toda a electrónica que permite fazer a leitura dos identificadores.

Os identificadores são etiquetas que poderão ser colocadas na via pública ou em edifícios, que transmitem informação à pessoa que leva a bengala.

O projecto integra várias tecnologias, tais como informação georreferenciada, GPS e visão por computador de forma a detectar obstáculos e transmitir essa informação ao utilizador.

Pedir socorro por telemóvel vai ser também mais fácil graças à nova aplicação "SOS Phone", que permite usar serviços de emergência sem recurso à voz e sem necessitar de realizar chamadas telefónicas.

O projecto foi desenvolvido por duas alunas do curso de Engenharia Biomédica e dois professores do Departamento de Engenharias.

O "SOS Phone" é dirigido a surdos e idosos. A aplicação dispensa a comunicação oral ou escrita, bastando seleccionar opções pictográficas que simbolizam os aspectos a relatar. Terminada a comunicação, é enviada para a central de emergência uma mensagem contendo o código correspondente às situações reportadas e as coordenadas de localização do utilizador, de forma a facilitar uma mais rápida assistência.

Francisco Godinho, do Centro de Engenharia de Reabilitação em Tecnologias de Informação e Comunicação (CERTIC), criado na UTAD há 10 anos, referiu que é cada vez mais "evidente" o papel que a tecnologia pode ter na melhoria da qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais.

E há cada vez mais soluções. Por exemplo, um guarda-chuva adaptado para pessoas em cadeira de rodas, um comando de televisão adaptado ou um corta-unhas para pessoas com mobilidade reduzida ou até mesmo o MECBraille - Marco Electrónico de Correio Braille, que disponibiliza gratuitamente um serviço de conversão e envio de textos e cartas em Braille.

No sábado, 03 de Dezembro, celebrou-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Em Portugal existem, segundo os Censos 2001, cerca de 2,2 milhões de pessoas idosas e com deficiência.

In: DN online

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

UTAD vai investigar riscos na saúde mental das crianças

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) vai liderar um projecto de investigação junto de hospitais e centros de saúde da Região Norte do país, com o objectivo de analisar a prevalência de problemas desenvolvimentais e de saúde mental em crianças até aos 18 meses de idade. 

O projecto, intitulado “O papel da interacção genótipo-ambiente ao nível da resiliência e vulnerabilidade para problemas desenvolvimentais e de saúde mental nos primeiros 18 meses de vida”, obteve a classificação de “Excelente” pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e foi financiado com um montante superior a 100 mil euros.

Coordenado por Raquel Costa, docente e investigadora do Departamento de Educação e Psicologia da UTAD, e contando com uma equipa que integra investigadores da Universidade do Minho e da Universidade de Paris Diderot, este trabalho pretende detectar sinais precoces de problemas desenvolvimentais e de saúde mental e analisar o efeito da interacção entre os factores de risco ambientais e factores genéticos.

Segundo a investigadora responsável os problemas de saúde mental das crianças, com grande frequência, estão associados a famílias com múltiplos factores de risco como parentalidade na adolescência, pobreza, monoparentalidade, baixo peso à nascença, psicopatologia parental, dificuldades desenvolvimentais ou abuso de substâncias.

No entanto, face a tais adversidades, algumas crianças mostram-se resilientes (resistentes ao choque), enquanto outras se mostram muito mais vulneráveis ao desenvolvimento de problemas desenvolvimentais e de saúde mental. Factores individuais como as características genéticas podem estar na origem de tais diferenças individuais na susceptibilidade aos factores de risco ambientais.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Mais de um terço dos europeus sofre de doenças mentais

Segundo um estudo recente, há quase 165 milhões de pessoas na Europa a sofrer com problemas de saúde mental, tais como depressão, ansiedade, insónias ou demências. As mulheres estão cada vez mais deprimidas.

“As doenças mentais tornaram-se o maior desafio de saúde europeu”, refere Hans Ulrich Wittchen, director do instituto de psicologia clínica e psicoterapia na universidade alemã de Dresden e principal autor do estudo divulgado esta semana. Os números representam mais de um terço (38 por cento) da população europeia e revelam ainda que apenas um terço dos casos de desordens mentais estão a ser tratados com terapia e medicação transformando as doenças mentais num pesado fardo económico e social. 

O investigador principal alerta que os poucos doentes que estão a receber tratamento fazem-no já tarde e, por vezes, não beneficiam das terapias adequadas. O estudo decorreu ao longo de três anos, abrangendo 30 países europeus (os 27 estados membros da União Europeia e ainda a Suíça, Islândia e Noruega) e uma população de 514 milhões de pessoas. A equipa liderada por Wittchen avaliou a presença de mais de 100 doenças mentais, entre as quais a depressão, a dependência, esquizofrenia e ainda procurou casos de desordens neurológicas como epilepsia, Doença de Parkinson ou esclerose múltipla. 

O estudo de Wittchen antecipa as piores expectativas da Organização Mundial de Saúde e conclui que as doenças do cérebro, mentais ou neurológicas são já as que mais contribuem para o peso das doenças na Europa. No “top 4” das doenças mais incapacitantes surge a depressão, demências como a Doença de Alzheimer, a dependência do álcool e os acidentes vasculares cerebrais (AVC). Na lista das doenças mais presentes na população europeia as desordens relacionadas com a ansiedade obtêm uma fatia de 14 por cento, seguidas da insónia com 7 por cento e da depressão com 6,9 por cento. As desordens relacionadas com hiperactividade de défice de atenção afectam 5 por cento da população mais jovem e as demências envolvem um por cento dos cidadãos entre os 60 e 65 anos e 30 por cento das pessoas com mais de 85 anos. 

O último estudo em grande escala sobre saúde mental foi publicado em 2005, abrangendo apenas 301 milhões de pessoas, concluiu que 27 por cento da população adulta europeia sofria de doenças mentais. Apesar das diferenças metodológicas dos estudos que impossibilitam as comparações, o estudo anterior ao de Wittchen referia que o custo dessa má saúde mental para a economia europeia ascendia a 386 mil milhões de euros por ano. A equipa de investigação de Wittchen ainda não fez essas contas mas estima que o preço a pagar hoje é “consideravelmente superior” ao de 2005. 

Os investigadores referem que, para reparar os danos económicos e não só, é prioritário detectar os problemas mais cedo e actuar mais cedo. “As desordens mentais manifestam-se cedo na vida e têm um forte impacto negativo mais tarde”, avisa Wittchen, insistindo que apenas um em cada três pessoas com problemas recebe algum tipo de tratamento e notando que 90 por cento das desordens associadas à ansiedade manifestam-se antes dos 18 anos. 

O estudo, publicado pelo Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia, nota ainda que as taxas globais de depressão nas mulheres duplicaram desde 1970 (grande salto aconteceu nas décadas de 80 e 90, coincidindo com a mudança de padrões sociais e estabilizou nos últimos anos). Ainda assim, no caso da depressão, as taxas são 2,6 vezes superiores nas mulheres em comparação com os homens. Os especialistas detectaram mesmo alguns “momentos-chave” em que esta doença se manifesta mais como, por exemplo, os anos férteis, entre os 16 e os 42 anos de idade e, mais concretamente ainda, nos períodos após ter um filho, quando têm de lidar com a dupla responsabilidade profissional e familiar. 

Porém, num relatório recentemente divulgado pela Comissão Europeia sobre a saúde dos homens europeus os especialistas alertavam para um preocupante sub-diagnóstico da depressão e outros distúrbios mentais nos homens, argumentando que estes mais dificilmente pedem ajuda.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cientistas portugueses na linha da frente

Cientistas portugueses ajudaram a clarificar a genética da artrite inflamatória, inseridos numa equipa de estudo internacional, anunciou um dos laboratórios associados à iniciativa, citado pela agência Lusa.

O trabalho foi publicado na 'Nature Genetis' e identifica novos genes implicados no desenvolvimento da "espondilite anquilositante", além de confirmar o envolvimento de "outros genes propostos em estudos anteriores". 

A publicação permitiu também reconhecer a existência de interacções entre dois grupos de genes, "sendo uma das primeiras descrições sobre interacção genética nesta e noutras doenças comuns", afirma a entidade que divulgou a informação, em comunicado. 

Participaram neste trabalho 43 equipas de investigação.


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Investigadores do Porto e Minho distinguidos com Prémio Grünenthal Dor

Investigadores das universidades do Porto e do Minho foram distinguidos com o Prémio Grünenthal Dor, o galardão de mais alto valor distribuído em Portugal no âmbito da investigação da dor.

A Fundação Grünenthal atribuiu o prémio de Investigação Básica 2010, avaliado em 7.500 euros, ao trabalho "Papel da noradrenalina na facilitação da dor no encéfalo: estudos em modelos de dor crónica", da autoria de Isabel Martins, Deolinda Lima e Isaura Tavares, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP/IBMC) e do Instituto de Biologia Molecular e Celular.

O prémio de Investigação Clínica, também de 7.500 euros, foi entregue ao trabalho "Eficácia da associação de Carbamazepina com o bloqueio analgésico periférico com Ropivacaína no tratamento da Nevralgia do Trigémio" da autoria de Laurinda Lemos, Pedro Oliveira, Sara Flores e Armando Almeida, do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) e do ICVS/3B's - Laboratório Associado da Universidade do Minho.

As cientistas da FMUP/IBMC descobriram, em colaboração com as Universidade de Groningen (Holanda) e da Carolina do Sul (EUA), um circuito neuronal que aumenta a dor através da libertação de um neurotransmissor (noradrenalina) e que deverá ser responsável pelo desencadear do mecanismo de alerta, explica o IBMC, em comunicado enviado à Lusa.

O comunicado acrescenta que o "mecanismo de alerta da dor é um 'sistema de sobrevivência' que nos permite responder rapidamente à dor, protegendo-nos de estímulos causadores de danos e ensinando-nos a não repetir acções que causem dor".

De acordo com Isaura Tavares, coordenadora geral deste trabalho, "o próximo passo é perceber de que forma o mecanismo de alerta se desregula quando existe dor crónica, e avaliar se um estado de alerta contínuo poderá relacionar-se com a presença de outras patologias, como a depressão, por exemplo".

Foi ainda atribuída uma Menção Honrosa ao trabalho "As neurotrofinas Factor de Crescimento Nervoso (NFG) e Factor de Crescimento Derivado do Cérebro medeiam a dor referida e a hiperactividade vesical que acompanham a cistite crónica", colocado a concurso por um grupo de investigadores da FMUP/IBMC.

O Júri do Prémio Grünenthal Dor 2010 foi presidido pelo Presidente da Fundação, Walter Osswald, e contou com a participação de mais seis personalidades médicas designadas pela Associação Portuguesa para o Estudo da Dor (APED) e pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR).

Os Prémios Grünenthal Dor, criados em 1999 pela Fundação Grünenthal, contemplam um valor pecuniário total de 15.000 euros, igualmente distribuídos pelo Prémio de Investigação Básica e pelo Prémio de Investigação Clínica.

A Fundação Grünenthal é uma entidade sem fins lucrativos que tem por fim primordial a investigação e a cultura científica na área das ciências médicas, com particular dedicação ao âmbito da dor e respectivo tratamento.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Alunos portugueses já compreendem melhor o que lêem

Cerca de 18 por cento dos alunos portugueses com 15 anos têm sérias dificuldades na leitura, apenas conseguindo responder neste domínio às questões mais básicas como, por exemplo, identificar qual é o tema principal de um texto. Um estudo realizado pela rede Eurydice, que foi divulgado hoje pela Comissão Europeia, dá conta, contudo, que os alunos portugueses estão abaixo da média da União Europeia, o que neste caso é uma boa notícia.

No conjunto dos países da UE, a percentagem de alunos com 15 anos na mesma situação é de cerca de 20 por cento. Androulla Vassiliou, comissária europeia da Educação e Cultura, reagiu assim a este resultado: "É totalmente inaceitável que tantos jovens na Europa continuem a não ter capacidades básicas de leitura e escrita. Isso coloca-os em risco de exclusão social, torna-lhes mais difícil encontrar um emprego e reduz a sua qualidade de vida".

Segundo a Comissão Europeia, é a primeira vez que se apresenta num estudo europeu um retrato aprofundado da literacia em leitura e se apontam alguns dos factores principais que têm impacto na aquisição e competências em leitura entre os 3 e os 15 anos.

Em relação aos alunos com 15 anos, o estudo baseia-se nos resultados alcançados por estes nos testes do Programme for International Student Assessment (PISA) de 2000 e de 2009, especialmente dedicados à literacia em leitura. Nestes testes, levados a cabo pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento, Portugal é um dos cinco países que sofreu uma evolução positiva neste intervalo. Os outros são a Holanda, Letónia, Polónia e Liechtenstein. À excepção da Letónia, os restantes quatro estão agora também abaixo da média europeia. Mas com resultados melhores que os portugueses. 

A Holanda e a Polónia fazem parte do pequeno grupo de países que já atingiu a meta que a UE se propôs chegar em 2020: reduzir para menos de 15 por cento a percentagem de maus leitores entre os alunos de 15 anos. A Dinamarca, a Estónia, Finlândia e Noruega, bem como a Bélgica flamenga, são os outros que já lá chegaram. Na Finlândia apenas oito por cento dos alunos com 15 anos têm problemas com a leitura.

A Bulgária e a Roménia estão na situação oposta e são os que apresentam piores resultados: 40 por cento dos seus alunos com 15 anos não atingem o nível dois dos testes PISA ou seja, ficam-se apenas pelas competências mais básicas.

O estudo hoje divulgado confirma que o género é um dos factores com mais impacto na aquisição de competências em leitura: “em média as raparigas ultrapassam os rapazes na leitura e esta diferença de género aumenta com a idade”. Aos 9 anos, 18 por cento das raparigas e 22 por cento dos rapazes têm dificuldades na leitura. Aos 15, o número de rapazes em dificuldades já duplica o das raparigas. Em média, 12 por cento das raparigas e 26 por cento dos rapazes são maus leitores nesta idade. O risco de um aluno português do sexo masculino ter dificuldades em leitura aos 15 anos é superior em duas vezes ao de uma aluna. Na UE a média desta probabilidade é de 1.9.

A situação dos alunos do 4º ano tem sido avaliada através de um estudo internacional em que Portugal não participou. Trata-se do PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study). com inquéritos realizados em 2001, 2006 e 2011. 

Para além do género, o outro factor com maior impacto na aprendizagem da leitura é a origem socioeconómica dos alunos. 

Apesar de na maior parte dos países existirem programas de promoção da leitura, estes pecam por ser excessivamente generalistas. Ou seja, conclui o estudo não têm como destinatários aqueles que mais necessitam por serem os que apresentam maiores dificuldades, como são os casos dos rapazes, dos alunos oriundos de meios desfavorecidos e dos jovens imigrantes.

No estudo frisa-se que as dificuldades em leitura são ultrapassáveis, mas que este sucesso depende em grande medida destas serem identificadas, e adoptadas medidas, o mais cedo passível. Um ensino intensivo e por objectivos, ministrado a nível individual ou a pequenos grupos, pode ser particularmente eficaz, frisa-se. No entanto, acrescenta-se, “são poucos os professores que têm a oportunidade de se especializar nesta área”. Dos 27 países da UE, só em oito os professores contam, nas aulas, com o apoio de especialistas em dificuldade de aprendizagem na leitura.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Células estaminais ajudam Ana Beatriz

O mundo de Sandra Amorim parou naquela noite de 12 de Dezembro de 2008. Os últimos 29 meses, uma luta constante para minimizar as lesões responsáveis pela paralisia cerebral da Ana Beatriz. A última levou a família até à Universidade de Duke, nos EUA, onde a bebé foi submetida a duas infusões das células estaminais, colhidas à nascença do cordão umbilical. 

Ana Beatriz nasceu em morte aparente, teve uma asfixia grave e uma paragem cardíaca, provocada por uma circular do cordão umbilical. “Durante 15 dias, os médicos nem sequer deram qualquer esperança de vida”, contou Sandra Amorim ao JN.

A pequena Ana deu o primeiro sinal e sobreviveu a todos os diagnósticos que preveniram os pais para a falta de autonomia, a impossibilidade de viver sem ventilação, para a cegueira e para a surdez. “Hoje, a Ana Beatriz vê bem, ouve bem, não é dependente”, explicou Sandra Amorim. Resultado de muito trabalho e do espantoso curso da natureza. “Os neurologistas falam da plasticidade cerebral e da capacidade do cérebro para compensar as áreas afectadas com novas ligações”, diz. 

Aparentemente, as capacidades cognitivas não foram afectadas. Apesar de não falar, Ana Beatriz percebe tudo o que lhe é dito, tem capacidade de interacção, consegue identificar animais, sons e até figuras geométricas.

As duas infusões de células estaminais, colhidas à nascença, que recebeu nos EUA ao abrigo de uma terapia experimental na Universidade de Duke – , em Abril do ano passado e em Janeiro último – , aliviaram a rigidez muscular que não deixava, por exemplo, que a Ana Beatriz dobrasse as pernas e os braços ou que segurasse a cabeça e o tronco. “Sentimos que houve mais progressos em menos tempo”, contabiliza Sandra Amorim. “Depois das infusões, os músculos ficaram muito mais perto do normal”.

Marika Antunes, médica imuno-hemoterapeuta do Hospital de Santo António, no Porto, e num laboratório de criopreservação de células estaminais, explicou ao JN que actualmente há uma indicação clássica para as células criopreservadas: podem ser utilizadas no tratamento de doenças onco-hematológicas de familiares, havendo 25% de compatibilidade no caso de irmãos.

A título experimental, estão a ser testadas outras utilizações das células estaminais no próprio, como é o caso da Ana Beatriz. Apesar das complicações na altura do parto, os médicos fizeram a colheita para a criopreservação das células, agora utilizou nas duas vezes que viajou até aos Estados Unidos para integrar o ensaio coordenado pela investigadora Joanne Kurtzberg.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Nova abordagem no tratamento da depressão e do autismo

Segundo o investigador Rui Costa, líder do programa de neurociências da Fundação Champalimaud, o diagnóstico e o tratamento de doenças mentais como o autismo ou a depressão podem assistir a grandes progressos nos próximos anos.

De acordo com o investigador, no campo das doenças mentais, pode ocorrer um “breakthrough” e nos próximos cinco anos pode haver, no mundo inteiro, uma mudança de paradigma, de pensar e de tratar estas doenças.

O autismo, assim como a depressão, poderá ser tratado de uma forma completamente diferente, quando os investigadores conseguirem compreender alguns processos básicos, como “a pessoa está deprimida, não quer fazer, não decidir, porquê? Há muita incerteza no mundo, há muito stress, o que é que acontece?”. 

Todos os processos básicos que estão a ser investigados pelo programa têm a ver com o entendimento de como é que essas coisas se geram normalmente e o que acontece quando não se conseguem fazer, desde o autismo em crianças, a deficiências de aprendizagem até depressão.

Os investigadores pretendem chegar a um diagnóstico mais preciso, algo que ainda não existe para as doenças mentais, com vista a proporcionar um tratamento muito mais eficaz, tendo em consideração que há uma base física da doença, assim, um diagnóstico muito preciso, permitirá saber quais as moléculas, as áreas cerebrais afectadas e como tratar.

In: Ajudas

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Genes responsáveis por estilos de aprendizagem

Investigadores da Universidade Brown, nos EUA, descobriram que as variações genéticas específicas podem prever como pessoas persistentes acreditam num conselho que lhes é dado, mesmo quando é contrariado pela experiência.

O estudo, publicado no Journal of Neuroscience, aborda a mímica entre duas regiões do cérebro que têm diferentes reacções sobre como as informações recebidas devem influenciar o pensamento. O córtex pré-frontal (CPF), área executiva do cérebro, analisa e armazena as instruções recebidas, tais como os conselhos de outras pessoas (por exemplo, ‘não vendas essas acções’). O estriado, enterrado mais profundamente no cérebro, é onde as pessoas processam a experiência para saber o que fazer (‘Os stocks muitas vezes sobem depois de os vender’, por exemplo).

Os investigadores, incluindo Michael Frank, professor assistente de ciências cognitivas, linguísticas e psicológicas na Brown, estudaram o estriado intensamente e descobriram que numa tarefa de aprendizagem, as pessoas são mais orientadas por um conselho no início. Depois, os genes é que determinam quando as lições da experiência prevalecem.

“Estamos a estudar de que forma o manter instruções no córtex pré-frontal muda a maneira do estriado funcionar”, explicou o autor Bradley Doll, um estudante de pós-graduação. “Isso distorce o que as pessoas aprendem sobre as contingências que estão realmente a ocorrer”, acrescentou.

Distorcer a experiência

Durante a investigação, foram estudadas pessoas com e sem variações genéticas que afectam a actividade do neurotransmissor dopamina no CPF e no estriado. Uma variação num gene chamado COMT que afecta a dopamina no CPF, por exemplo, ajuda as pessoas a recordar e a trabalhar com conselhos.

As pessoas com uma variação do gene DARPP-32, que afecta a resposta à dopamina no estriado, aprenderam mais depressa a partir da experiência quando nenhum conselho era dado, mas também os tornou mais facilmente impressionáveis para o viés do CPF quando a instrução era dada. O estriado dava mais peso às experiências que reforçavam as crenças do CPF, e menos peso às experiências que as contrariassem. Os investigadores chamam a isto viés de confirmação, que é omnipresente em vários domínios tais como na astrologia, na política e até mesmo na ciência.

“As pessoas distorcem o que experienciam para que seja apreendido como mais consistente com o que já pensavam”, afirmou Michael Frank.

Para realizar a experiência, foram recrutadas mais de 70 pessoas que deram amostras de saliva e em seguida realizaram uma tarefa de aprendizagem informatizada. Aos participantes foram mostrados símbolos numa tela e pedido para escolherem os ‘correctos’, que tiveram de aprender através de feedback. Como o feedback era probabilístico, era impossível escolher o símbolo correcto em todos os testes, mas os indivíduos puderam aprender, com múltiplos testes, que símbolos tinham maior probabilidade de estarem correctos.
Para alguns símbolos, os indivíduos receberam orientação sobre qual resposta seria mais provável de estar correcta. Às vezes, o conselho estava errado. Em última análise, as pessoas com variantes genéticas particulares foram as que ficaram mais tempo presas ao conselho errado, e num teste realizado mais tarde, eram mais propensas a escolher símbolos sobre os quais foram aconselhadas estarem correctos em vez de aqueles que na realidade tinham maior probabilidade de o estarem. Usando um modelo matemático, os cientistas descobriram que a extensão do viés de confirmação sobre a aprendizagem depende dos genes.

Pode parecer que ter genes à mercê de um córtex pré-frontal de temperamento forte e um estriado demasiado subserviente pode tornar as pessoas perigosamente alheias à realidade, mas para Michael Frank há uma boa razão para o cérebro acreditar no conselho: O conselho está muitas vezes certo e é conveniente.

As pessoas que tendem a seguir as instruções dos outros, embora em graus variados com base nos seus genes, podem tomar decisões sensatas muito mais rapidamente do que se tivessem que aprender a coisa certa através da experiência. Em alguns casos (por exemplo, 'Perigo: Alta Tensão'), a experiência é um caminho muito perigoso para aprender. Mas noutros casos (por exemplo, 'O técnico deve estar lá às 13h00' ou 'Esta slot machine compensa'), acreditar no conselho por muito tempo é tolice.