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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

SEDADOS, CALMINHOS, MAS DOENTES E INFELIZES


Como já tenho referido, a doença mental é um daqueles não assuntos, interessa a meia dúzia de pessoas, sobretudo familiares de pessoas afectadas ou técnicos com intervenção na área. Talvez por isso mesmo, a saúde mental é o parente pobre das políticas de saúde.
No entanto e apesar da falta de visibilidade habitual, o Público dedica hoje um espaço importante e de reflexão obrigatória com o título em cima.

Por ser extraordinariamente elucidativo, cito as primeiras linhas do trabalho.

“Já não é sequer notícia. A criação de residências específicas para pessoas com doença mental, prevista no decreto-lei dos Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental desde 2010, não saiu do papel. Maria João Neves, representante da Rede Nacional de Pessoas com Experiência de Doença Mental, fala das consequências desta falta de rede. Com reformas que rondam os 280 euros, as pessoas vêem-se obrigadas a ficar em casa de familiares, mesmo quando estão sujeitos a situações de violência. Perante a falta de soluções na comunidade, “resta aos médicos sobremedicarem as pessoas para não andarem a chatear os familiares. Para não andarem a chatear ninguém”.

Na verdade as pessoas com doença mental (sobre)vivem com um estigma que lhes retira direitos e qualidade de vida, autonomia e autoregulação e por falta de respostas comunitárias são sobremedicadas porque se andarem “sedadas” não chateiam ninguém, familiares, vizinhos, comunidade, nós. São pessoas que, por assim dizer, voam sobre um ninho de cucos.

Mau demais para se ler sem se sentir um sobressalto de indignação.

Para além da indignidade desta situação e do atropelo a direitos fundamentais das pessoas, gostava de referi uma outra situação da mesma natureza mas envolvendo gente mais nova que muitos de nós conhecemos e que muitos outros de nós fingimos que não conhecemos.

Deixem-me recordar que em Fevereiro de 2011 foi encerrada em Lisboa uma creche ilegal que, “alegadamente”, dava calmantes aos miúdos que deles não precisavam, tratava-se “apenas” de os ter mais calmos” e não “chatearem”.

Sabemos que Portugal, dados recentes comprovam-no, tem das mais altas taxas de consumo de psicofármacos e de auto-medicação, é a cultura de tomar “qualquer coisinha” que ajude a sossegar da vida e dos problemas que enfrentamos.

Por outro lado e no que respeita aos miúdos, tem emergido uma reconhecida prática de medicalização e sobrediagnóstico dos seus problemas. É reconhecido no âmbito da intervenção dos profissionais de saúde de práticas excessivas de prescrição de fármacos para “acalmar” as crianças.

Estamos a alimentar um processo de "ritalinização" de muitos miúdos a quem, apressadamente e de forma excessivamente ligeira, é colocado um rótulo de “dismiúdo”, ou seja, terá uma “dis”função qualquer, que justifica a medicação, estou a lembrar-me, por exemplo, do aumento exponencial de crianças consideradas "hiperactivas” quando algumas estão bem longe de justificar o rótulo e muito menos o diagnóstico.

Finalmente, uma nota sobre a minha convicção de que a agitação das crianças de que se fala com muita frequência, mais não é, na maioria dos casos, do que uma imagem reflexa da agitação dos adultos que as rodeiam. Adultos agitados, embalam e sustentam crianças agitadas. Por isso, “de facto”, talvez seja melhor tomar qualquer coisinha para ajudar a sossegar, adultos e crianças.

Na verdade, não é preciso assistir a filmes de ficção científica para perceber que uma sociedade de gente sedada é uma sociedade muito mais “tranquila”, doente, infeliz, mas “tranquila”.

Texto de Zé Morgado

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

1/5 das crianças à guarda do Estado tem problemas mentais

Dos 5620 menores até à idade de 14 anos entregues aos cuidados do Estado ou a famílias de acolhimento, 1134 apresentam deficiências mentais. Ou seja, cerca de um quinto das crianças até essa idade.

Estamos a falar de miúdos que foram retirados temporariamente aos pais pelo Estados, abandonados ou ainda menores disponíveis para adopção.

Os dados constam no relatório "Caracterização das Crianças e Jovens em situação de Acolhimento em 2010", a que o DN teve acesso. O documento fala de deficiências mentais profundas - caso de crianças de 12 anos com um nível intelectual igual ao de uma de sete - e também de dificuldades emocionais agudas e de socialização, que pedem acompanhamento psiquiátrico regular ou mesmo contínuo.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Perturbações psiquiátricas. Ser normal é cada vez menos evidente

A defesa de Renato Seabra pode alegar um surto psicótico e pedir a inimputabilidade do principal suspeito da morte de Carlos Castro, mesmo depois de este ter confessado o crime? A hipótese continua em cima da mesa e não tem, como muitos casos de diagnóstico em consultório, uma resposta definitiva. Duzentos anos depois do médico francês Philippe Pinel ter publicado o primeiro tratado sobre doenças mentais, e com 400 perturbações definidas, a fronteira entre a sanidade e uma perturbação clínica continua a não ser óbvia. A Associação Americana de Psiquiatria (APA) e a Organização Mundial de Saúde estão a rever as indicações para diagnóstico e indicação das doenças e síndromes psiquiátricas, mas algumas propostas - como diagnosticar um "risco de psicose" a indivíduos sem qualquer surto e com base na incidência de "pensamentos estranhos" - têm merecido críticas. Uma das vozes mais contestatárias é Allen Frances, o psiquiatra que coordenou a última revisão do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais da APA, em 1994. Teme que a rede de sintomas encolha cada vez mais a esfera da "normalidade", com estigma social e tratamentos desnecessários.

Na edição de Janeiro da "Wired", Frances admite que é "virtualmente impossível" definir com clareza as fronteiras de um distúrbio psiquiátrico. Já no ano passado tinha dito ao "Los Angeles Times" que pequenos acertos nas classificações podem ter um impacto dramático. "[Na última revisão] tentámos ser conservadores, mas criámos três falsas epidemias: a desordem do défice de atenção, o espectro autista e a doença bipolar infantil." Conhecida a nova proposta de revisão do manual, que neste momento está a ser testada por psiquiatras, depois de ter passado a fase de discussão pública, Frances questiona novos "erros", como a definição da desordem alimentar compulsiva com base em situações que podem confundir-se com episódios de gula - comer de forma compulsiva pelo menos três vezes por semana. Condena também a definição de uma "desordem cognitiva ligeira", por poder estigmatizar a natural perda de memória com a idade.

Apesar dos avanços científicos, muitos diagnósticos continuam a assentar em listas de sintomas demasiado estáticas. "Não há uma patologia clara no cérebro que os defina, como acontece num AVC ou numa esclerose múltipla", resumiu ao i Alex Tulloch, do departamento de psiquiatria do King''s College London, onde em 2010 foi criado um pioneiro centro de ciências forenses e neurodesenvolvimento. Craig Michael, investigador sénior neste departamento, não tem dúvidas que os avanços da genética e da imagiologia cerebral em breve começarão a dar frutos. "A psiquiatria é talvez a única fronteira da medicina moderna que falta compreender. Provavelmente, este é o período mais entusiasmante para os investigadores nesta área, à medida que vamos descobrindo as bases biológicas para muitas perturbações mentais." Mas na clínica as dificuldades mantêm-se. "Em muitos casos ainda dependemos das consequências para separar os doentes dos não doentes. Por exemplo: a depressão é uma experiência humana comum. Para ser considerada uma doença tem de ser grave, provocar ansiedade, disfunção e incapacidade", explica William Carpenter, especialista do Maryland Psychiatric Research Center e um dos autores do novo manual.

Medicação parcial Sem bases patológicas concretas para a maioria das perturbações, a explosão na venda de antidepressivos ou antipsicóticos pode ser questionada. "A medicação e as terapias psicossociais são eficazes, mas são sempre tratamentos parciais. Chegam muitos medicamentos ao mercado sem qualquer tipo de inovação ou avanço terapêutico", defende Carpenter. Craig Michael acredita que a descoberta de bases genéticas individuais para determinar patologias vai permitir reduzir o tempo de formulação da terapêutica mais correcta e efeitos secundários desnecessários.

Neste campo, Allen Frances defende a classe: "Os especialistas têm uma tendência quase universal para alargar as suas perturbações preferidas: não, como tem sido dito, para ajudar as farmacêuticas, criar novos clientes ou ter mais fundos para investigação, mas muitas vezes pelo desejo genuíno de não perder doentes que possam precisar de acompanhamento." 

In: I online

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Psicofármacos serão grátis só em hospitais

A maioria das pessoas com problemas psiquiátricos continuará a ter os medicamentos comparticipados a 95%, após a redução decidida em Setembro. Ontem, segunda-feira, Ana Jorge anunciou o regresso à gratuitidade total, mas só para quem é seguido nos serviços de psiquiatria.
 
A ministra da Saúde anunciou que voltam a ser gratuitos os medicamentos antipsicóticos fornecidos no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, mas que tal gratuitidade é aplicável apenas aos doentes mentais graves assistidos nos serviços de Psiquiatria.
 
Este tipo de fármacos será disponibilizado pelos próprios serviços. Segundo Ana Jorge, cabe a cada instituição avaliar a quantidade necessária de psicofármacos, os quais serão adquiridos por compra centralizada pelo Estado.
"Irregularidades graves"

Ana Jorge fez o anúncio desta medida, em Lisboa, ao intervir numa conferência europeia sobre inclusãodo doente mental e promoção do seu bem-estar. Na ocasião, a ministra da Saúde revelou que vão ser elaborados guias de orientação sobre prescrição racional de psicofármacos e que sobre o mesmo tema será desenvolvido um Programa de Formação de Médicos de Medicina Geral e Familiar.

Estas preocupações já tinham sido expressas no passado mês pela responsável da pasta, quando, no Congresso da Ordem dos Farmacêuticos, afirmou ser "excessivo" o consumo de antidepressivos. Em Outubro, o Ministério da Saúde revogou a portaria que previa a comparticipação acrescida do SNS na compra de psicofármacos a doentes com patologias especiais, como a esquizofrenia. Ontem, segunda-feira, Ana Jorge deu conta de que esta medida teve na base "uma série de irregularidades, algumas delas graves", estando casos a ser investigados pela Polícia Judiciária.

"É inadmissível discriminar doentes caso eles não sejam seguidos nos hospitais; um direito é um direito", comentou ao JN o presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Mental.

Para Pacheco Palha, também "não será o Ministério que pode ensinar" os médicos sobre os medicamentos adequados a doentes que sofrem de psicoses, como a esquizofrenia. "Os casos de polícia não podem ter a ver com tudo o resto", considera ainda o mesmo especialista.

Idêntica observação é feita pela presidente da Associação Encontrar+Se, que refere a "ironia" de Ana Jorge ter concedido os 100% de comparticipação aos doentes seguidos por serviços psiquiátricos hospitalares, tendo aos restantes sido reduzido para 95% esse valor no mês de Setembro último. "Logo no dia em que a ministra fala numa conferência europeia para combater o estigma e melhorar o bem-estar dos doentes mentais", comenta.

Para esta docente de Psicologia Clínica, "aquele foi um retrocesso face há dez anos atrás", até porque "não se está a fazer uso das informações obtidas por estudos epidemiológicos" como o que foi dirigido por Caldas de Almeida, coordenador do Plano Nacional de Saúde Mental.

"O acesso aos serviços de psiquiatria é muito baixo, quer pela disponibilidade quer pelo estigma ou por eles se centrarem muito na medicação", comenta Filipa Palha, que sublinha serem os doentes mentais "pessoas já com enormes dificuldades, tornando-se para muitas inacessível pagar 5% dos medicamentos".
 
In: http://jn.sapo.pt/paginainicial/

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Lucidez da Loucura


In: http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/Reportagem+SIC/2010/5/a-lucidez-da-loucura16-05-2010-215045.htm

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Casa da Partida

São sem abrigo com doença mental a quem é dada uma oportunidade para se reencontrarem e reintegrarem. O projecto chama-se Casas Primeiro e é desenvolvido pela Associação para o Estudo e Integração Psicossocial. Depois de identificados pelas equipas de rua, os sem abrigo são convidados a ter uma casa individualizada. Para renda, em grande parte sustentada pelo Instituto de Segurança Social, os ex-sem abrigo contribuem com 30 por cento do seu rendimento, seja pensão ou rendimento social de inserção. O projecto mereceu um lugar nos dez finalistas do Prémio Manuel António da Mota, destinado a instituições de solidariedade social.

Um trabalho de Rita Costa, Alexandrina Guerreiro e Herlander Rui

Podem assistir a esta reportagem através deste link:


sábado, 16 de outubro de 2010

Empregar quem tem perturbações mentais


Mais de dois milhões sofrem destes problemas. Encontrar trabalho é mais difícil nas situações crónicas.

No espaço apertado do escritório da ARIA Jardins, Sofia Teixeira, de 30 anos, prepara cartas para levar aos correios. Trabalha aqui há cinco anos e é um dos poucos casos de "integração", já que entrou na empresa para um "emprego apoiado" de dois anos e meio como doente com depressão e acabou por ficar como funcionária.

Hoje sente-se melhor e gosta do que faz. Tinha 18 anos quando perdeu o pai. Entrou em depressão, deixou a escola, perdeu muito peso e acabou por procurar um psicólogo que a aconselhou a frequentar um dos cursos de formação da ARIA (Associação de Reabilitação e Integração Ajuda).

Fez Informática e Técnicas Administrativas e mais tarde conseguiu emprego na ARIA Jardins, em Lisboa, que entre as 430 empresas sociais do País é uma das poucas a apoiar a inserção de doentes com problemas mentais. Presta serviços de jardinagem a particulares e entidades como a Câmara de Lisboa ou a Casa Pia.

Mas a concorrência é muita e os recursos são insuficientes. De tal forma que as empresas de inserção ponderam unir-se numa fundação que as represente, "para não estarmos sozinhos como em ilhas".

A ARIA Jardins começou em 2005 com sete pessoas e hoje apoia 27, agrupadas em três equipas de trabalho. Além dos donativos e do dinheiro que produz como empresa, recebe o apoio do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que lhe atribui uma verba por cada pessoa com doença mental que emprega. Um apoio que dura há dois anos e meio: seis meses de formação e dois de contrato.

"Não temos capacidade para ficar com todos. Já conseguimos integrar quatro pessoas, mas as outras têm de encontrar emprego noutros sítios", diz o gestor, Paulo Mendes.

E é esse o objectivo das empresas de inserção - a integração no mercado de trabalho. Reabilitá-las psicossocialmente é o das Instituições de Solidariedade Social que, como a ARIA, se dedicam à saúde mental (ver caixa). No País, mais de dois milhões de pessoas (22,9%) sofrem destas perturbações. Entre as mais frequentes contam-se a ansiedade e a depressão. Sofia é um dos casos que engrossa o número. E, apesar de "controlada", continua a enfrentar os seus medos e sentir-se ansiosa perante novas experiências. "Quando tenho de ir a algum lado", resume Sofia, que espera um filho.

Há 100 mil portugueses com esquizofrenia

A esquizofrenia atinge 1% da população portuguesa (100 mil pessoas), mas é das mais incapacitantes. Acompanhamento psiquiátrico não é suficiente para os doentes.

"Os distúrbios psicóticos como a esquizofrenia e o bipolarismo (que afecta aproximadamente 6% da população) surgem no final da adolescência, início da idade adulta. E, como na maior parte das vezes as pessoas ainda não iniciaram a sua vida profissional, é-lhes muito difícil habituarem-se a uma rotina, ao horário e às regras", explica Manuel Viegas Abreu, presidente da ReCriar Caminhos, associa- ção que fundou em 2008, por causa da esquizofrenia da filha. A associação ajuda pessoas com esta doença, através de "actividades psicoeducativas". Um apoio emocional feito através de entrevistas, a que as pessoas recorrem apenas quando precisam, porque o objectivo é evitar a dependência. "Queremos dar-lhes a capacidade de gerir as suas dificuldades." A associação tem psicólogos e técnicos ocupacionais, num complemento ao tratamento. "A medicação não é suficiente, é preciso ensiná--los a lidar com a doença", diz.




segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ansiedade é a perturbação mental mais frequente em Portugal


O desemprego, o luto, o divórcio, a chegada do outono ou um exame na escola pode mudar os comportamentos e levar à depressão. Hoje é o Dia Mundial da Saúde Mental (10-10-2010).




domingo, 10 de outubro de 2010

Quatro mil doentes mentais terão residências de reabilitação


Hospital Miguel Bombarda vai ser encerrado até ao final do ano. Hoje é o dia Mundial da Saúde Mental.

Depois de sucessivos atrasos, a rede de Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental (CCISM) vai finalmente avançar. Uma das prioridades é retirar os doentes mentais graves dos hospitais psiquiátricos e evitar internamentos para toda a vida. Com este arranque vai ser, assim, possível concretizar uma medida anunciada há anos: o encerramento do hospital psiquiátrico mais antigo do país, o Miguel Bombarda (Lisboa), que acontecerá até Dezembro, após a transferência para residências dos 44 doentes que aí ainda permanecem internados, adianta o coordenador da equipa de projecto dos CCISM, o psiquiatra Álvaro Carvalho. 

No futuro, o objectivo é manter abertos apenas três hospitais psiquiátricos: o Júlio de Matos ( Lisboa), o Magalhães Lemos (Porto) e o Sobral Cid (Centro). No prazo de "cinco a sete anos, pretende-se ter cerca de quatro mil pessoas em residências de vários tipos", precisa Álvaro Carvalho. A equipa está integrada na Unidade de Missão dos Cuidados Continuados Integrados.

A desactivação dos hospitais psiquiátricos implica a criação de uma retaguarda de respostas alternativas, sem as quais se correria o risco de uma parte destes doentes se tornarem sem-abrigo, como sucedeu noutros países."Há evidência científica de que, mesmo com os novos medicamentos antipsicóticos, a eficácia da intervenção só se mantém se os doentes [mentais graves, sobretudo esquizofrénicos] forem integrados em programas de reabilitação psico-social", acentua o especialista. Até porque, acrescenta, "estes doentes têm tendência para se isolar e entrar em conflito com as famílias".

É justamente para contornar estes problemas que vão ser ser criadas as novas respostas, primeiro num período de cerca de dois anos com experiências-piloto, depois com um programa anual de concursos a que se poderão candidatar entidades públicas, privadas e do sector social. Os primeiros protocolos de experiências-piloto vão ser assinados amanhã.

Não se está propriamente a partir do zero - há já cerca de 200 pessoas em residências e 640 em fóruns sócio-ocupacionais a nível nacional -, mas pretende-se alargar substancialmente e agilizar todo este processo no médio prazo. Para além dos doentes mentais que ainda vivem nos hospitais sem necessitar de aí estar, há os novos doentes e aqueles que residem em casa com as famílias. 

Integrar as pessoas com doença mental grave é, agora, a palavra de ordem. E isso irá fazer-se através das estruturas de vários tipos previstas na legislação: além das unidades residenciais, as unidades sócio-ocupacionais (que funcionam oito horas por dia) e as equipas de apoio domiciliário. As unidades residenciais dividem-se ainda em quatro grupos: as residências de treino de autonomia, as residências autónomas, as de apoio moderado e as de apoio máximo, consoante o grau de incapacidade e dependência.

Álvaro Carvalho destaca a mais-valia que é passarmos a ter também respostas para crianças e para adolescentes com problemas de saúde mental. Haverá dois tipos de unidades, para além do apoio domiciliário e das unidades sócio-ocupacionais: comunidades terapêuticas dirigidas às que têm alterações de comportamento, por exemplo que não se aguentam na escola, e que até agora iam para colégios ligados à área da justiça; e unidades de apoio máximo para as que sofrem de doença psiquiátrica grave, nomeadamente problemas psicóticos.

Experiências: protocolos assinados amanhã

Os protocolos das primeiras experiências-piloto dos Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental vão ser assinados hoje em Lisboa e incluem respostas para crianças e adolescentes. Na região de Lisboa e Vale do Tejo, avançam várias unidades residenciais: uma para treino de autonomia, uma autónoma, três de apoio máximo e uma de apoio moderado para adultos. Para crianças e adolescentes haverá uma residência de treino de autonomia na Casa de Saúde da Idanha e uma unidade sócio-ocupacional. No Norte avança uma equipa de apoio domiciliário em Braga, uma unidade sócio-ocupacional em Matosinhos e duas residências autónomas em Barcelos. O centro fica com duas unidades sócio-ocupacionais. O Alentejo conta com uma equipa de apoio domiciliário para adultos e outra para crianças e adolescentes, em Beja. No Algarve avança uma residência de apoio máximo, em Almancil.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Cannabis potencia as doenças mentais


A cannabis pode estar relacionada com o aumento das doenças mentais. A descoberta é de um português, e está fundamentada numa tese de doutoramento em Londres.


domingo, 30 de maio de 2010

Residências falham na reabilitação de doentes mentais

Dados de estudo europeu mostram que qualidade dos serviços atinge apenas os 50% em sete áreas essenciais na saúde mental.

A reabilitação e a autonomia dos doentes mentais que vivem em residências estão a meio do que seria desejável. Um estudo realizado em 11 países dá a Portugal uma cotação de cerca de 50% nas sete dimensões analisadas, sejam elas a qualidade dos edifícios, a autonomia dos doentes ou os direitos humanos.

Graça Cardoso, a coordenadora nacional do estudo Demobinc diz ao DN que a reabilitação é a principal falha das unidades nacionais. "Os doentes estão parados nestas residências, quando eles precisam de fazer actividades para recuperar", avança, acrescentando que havia uma grande discrepância em termos de qualidade nas 20 unidades analisadas em três anos.

O estudo financiado pela Comissão Europeia foi concluído recentemente, após três anos de investigação em onze centros de 10 países. O objectivo primário não era propriamente estudar as unidades, mas sim "criar um instrumento capaz de avaliar a qualidade de vida e os cuidados prestados a doentes mentais graves em unidades residenciais", refere a médica. O objectivo é que as unidades comecem a aplicar este instrumento - Quality Indicator for Reabilitative Care - daqui por dois ou três meses, quando a versão portuguesa desta ferramenta for disponibilizada online.

Depois de consultados peritos e actores centrais na saúde mental (doentes e associações), foram escolhidas sete dimensões essenciais na avaliação da qualidade, reunidas em cinco indicadores. Graça Cardoso, que realizou entrevistas aos gestores e utentes das unidades, lamentou o facto de os recursos humanos terem pouca formação, o que afecta a aposta num modelo de recuperação e reabilitação do doente, a sua autonomia e direitos". E recorda a importância de incorporar a família nas actividades. "Muitas vezes os familiares sabem melhor do que nós o que os doentes precisam". Activar os doentes "não é um luxo". Estas dificuldades foram assumidas por Caldas de Almeida, o coordenador nacional para a saúde mental (ver texto ao lado).

Um dos melhores resultados analisados nas 20 unidades nacionais foi a nível dos ambientes. "Há muitas unidades a que fomos com obras recentes", frisa. Mas outros aspectos, como a privacidade, quartos com o mínimo de pessoas, também tendem a falhar.

"Analisámos o ambiente habitacional, em aspectos como acesso a telefone, jornais, televisão ou a qualidade dos equipamentos e decoração", explica a médica. Outro indicador é o ambiente terapêutico, "que avalia a formação do pessoal, objectivos da unidade, a existência de gestores de cada doente".

Os tratamentos e intervenções, em termos de cuidados de saúde como a alimentação, exercício, planos de tratamento que incluem ou não a família também são avaliados. Já as soluções existentes com vista à protecção dos direitos, como a possibilidade de votar, ter informação sobre apoios sociais, fiscais, entre outros, integram a área de Política Social.

Por último, os entrevistadores analisaram a governança clínica, que abrange aspectos como a equipa de gestão, a existência de inspecções, entre outros.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Doenças mentais afectam um milhão de portugueses

Mais de um milhão de portugueses - o que representa 11,5 por cento da população -, sofre em cada ano uma perturbação mental que tem reflexos na família, no meio laboral e na sociedade.

Estes são alguns dados revelados ao início desta quinta-feira por Caldas de Almeida, coordenador da Comissão Nacional para a Saúde Mental e comissário do Fórum “As Diferentes Faces da Saúde Mental”, que decorre ao longo do dia na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Caldas de Almeida sublinhou ao CM que os custos das doenças mentais têm um peso grande, mas remeteu a divulgação dos resultados do primeiro estudo nacional da prevalência das doenças mentais na população portuguesa para o dia 23 de Março. “Apesar de algumas diferenças, a realidade portuguesa não difere muito da de outros países. A Organização Mundial de Saúde revela que os custos directos e indirectos das doenças mentais representam três a quatro por cento do Produto Interno Bruto na perda de produtividade.”

No global, as doenças mentais são causa da perda de 70 a 140 dias de trabalho por ano.

Um estudo recente na Europa revela que 48 por cento dos doentes que necessitariam de cuidados de saúde mental não têm acesso, enquanto essa percentagem baixa para os oito por cento em relação aos diabéticos.

Dificuldade no acesso aos serviços de saúde, doentes sem tratamento, profissionais de saúde sem formação são alguns problemas diagnosticados por Caldas de Almeida.

In: http://www.cmjornal.xl.pt/