Mais de dois milhões sofrem destes problemas. Encontrar trabalho é mais difícil nas situações crónicas.
No espaço apertado do escritório da ARIA Jardins, Sofia Teixeira, de 30 anos, prepara cartas para levar aos correios. Trabalha aqui há cinco anos e é um dos poucos casos de "integração", já que entrou na empresa para um "emprego apoiado" de dois anos e meio como doente com depressão e acabou por ficar como funcionária.
Hoje sente-se melhor e gosta do que faz. Tinha 18 anos quando perdeu o pai. Entrou em depressão, deixou a escola, perdeu muito peso e acabou por procurar um psicólogo que a aconselhou a frequentar um dos cursos de formação da ARIA (Associação de Reabilitação e Integração Ajuda).
Fez Informática e Técnicas Administrativas e mais tarde conseguiu emprego na ARIA Jardins, em Lisboa, que entre as 430 empresas sociais do País é uma das poucas a apoiar a inserção de doentes com problemas mentais. Presta serviços de jardinagem a particulares e entidades como a Câmara de Lisboa ou a Casa Pia.
Mas a concorrência é muita e os recursos são insuficientes. De tal forma que as empresas de inserção ponderam unir-se numa fundação que as represente, "para não estarmos sozinhos como em ilhas".
A ARIA Jardins começou em 2005 com sete pessoas e hoje apoia 27, agrupadas em três equipas de trabalho. Além dos donativos e do dinheiro que produz como empresa, recebe o apoio do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que lhe atribui uma verba por cada pessoa com doença mental que emprega. Um apoio que dura há dois anos e meio: seis meses de formação e dois de contrato.
"Não temos capacidade para ficar com todos. Já conseguimos integrar quatro pessoas, mas as outras têm de encontrar emprego noutros sítios", diz o gestor, Paulo Mendes.
E é esse o objectivo das empresas de inserção - a integração no mercado de trabalho. Reabilitá-las psicossocialmente é o das Instituições de Solidariedade Social que, como a ARIA, se dedicam à saúde mental (ver caixa). No País, mais de dois milhões de pessoas (22,9%) sofrem destas perturbações. Entre as mais frequentes contam-se a ansiedade e a depressão. Sofia é um dos casos que engrossa o número. E, apesar de "controlada", continua a enfrentar os seus medos e sentir-se ansiosa perante novas experiências. "Quando tenho de ir a algum lado", resume Sofia, que espera um filho.
Há 100 mil portugueses com esquizofrenia
A esquizofrenia atinge 1% da população portuguesa (100 mil pessoas), mas é das mais incapacitantes. Acompanhamento psiquiátrico não é suficiente para os doentes.
"Os distúrbios psicóticos como a esquizofrenia e o bipolarismo (que afecta aproximadamente 6% da população) surgem no final da adolescência, início da idade adulta. E, como na maior parte das vezes as pessoas ainda não iniciaram a sua vida profissional, é-lhes muito difícil habituarem-se a uma rotina, ao horário e às regras", explica Manuel Viegas Abreu, presidente da ReCriar Caminhos, associa- ção que fundou em 2008, por causa da esquizofrenia da filha. A associação ajuda pessoas com esta doença, através de "actividades psicoeducativas". Um apoio emocional feito através de entrevistas, a que as pessoas recorrem apenas quando precisam, porque o objectivo é evitar a dependência. "Queremos dar-lhes a capacidade de gerir as suas dificuldades." A associação tem psicólogos e técnicos ocupacionais, num complemento ao tratamento. "A medicação não é suficiente, é preciso ensiná--los a lidar com a doença", diz.
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