Outubro é o mês sob o lema "Contra as barreiras da diferença", no combate à pobreza e exclusão social. Este é um dos objectivos do Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos, que se dedica à reintegração na sociedade de pessoas com cegueira adquirida.
A casa onde funciona o Centro de Reabilitação Nossa Senhora dos Anjos (CRNSA), em Lisboa, tem três andares e vários lanços de escadas. Mas esse não é um obstáculo para os utentes do instituto, pessoas que cegaram e procuram o programa de reabilitação que os prepara para a sua nova realidade.
Em muitos casos, a cegueira chega pouco tempo antes da entrada no centro. Conceição Luís, directora técnica do CRNSA, explica que as pessoas estão fragilizadas psicologicamente, "fechadas em si mesmas e a achar que a vida acabou ao perderem a visão". Mas apercebem-se de que não estão sozinhas.
Aqui, os invisuais reaprendem a movimentar-se. Mas, por vezes, recusam a bengala que, como o braille, associam ao estigma da cegueira. Quem perde a visão tem mais dificuldade na adaptação à nova realidade do que um cego congénito, "porque tem presente na memória imagens", diz a directora.
Aprendem tarefas da vida diária, como cozinhar e lavar a roupa. A informática é uma das áreas mais importantes. Organizam-se saídas: vão jantar fora, ao teatro e até ao "Rock in Rio". O objectivo, aponta Conceição Luís, "é mostrar-lhes que podem continuar a usufruir destas coisas e ter prazer sentindo o ambiente, mesmo sem o ver".
No último ano, algumas áreas do programa fecharam após a reforma dos responsáveis. O centro enfrenta a falta de técnicos, contando com a "boa vontade das pessoas que acumulam tarefas". Para as áreas da pintura, escultura e música, que "permitem exteriorizar os sentimentos negativos", não têm recebido candidaturas.
Os invisuais podem fazer quase tudo, afirma Conceição Luís, mas "a cegueira é uma das deficiências com maior dificuldade de colocação no mercado de trabalho, apesar dos apoios que o Estado presta. Assinalar em Outubro a luta contra as barreiras da diferença constitui por isso, para a directora do CRNSA, uma oportunidade de alertar as entidades empregadores. "Estas iniciativas são muito importantes para alertar as consciências de quem pode dar respostas".
O CRNSA recebe 50 a 60 pessoas por ano e pode acolher 22 internos durante a semana. É a única entidade a nível nacional que faz reabilitação gratuita. A directora, que se sente como mãe dos utentes, diz que "o mais bonito é vê-los como pessoas novas. É um renascer, reaprender a viver. De outra maneira, mas viver".
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