Os surdos e cegos podem "ouvir" e "ver" o Centro Cultural Casapiano através de uma aplicação pioneira desenvolvida por professores e alunos da Casa Pia que dá autonomia a estes visitantes e está a receber o interesse de outros museus.
No caso de um visitante surdo, este recebe no início da visita um IPAD (tablet) com a aplicação, através da qual pode ver a explicação da peça que quer conhecer na sua língua: a gestual.
Esta autonomia é de tal forma valorizada que outros museus estão a contactar o Centro Cultural Casapiano para tentar disponibilizar uma aplicação semelhante
Uma das vantagens reside no facto de ser uma pessoa surda a traduzir o texto, o que torna a comunicação mais "acessível", como explicou Paulo Vaz Carvalho, especialista em língua gestual e professor no Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira.
Este docente destaca o pioneirismo desta aplicação, uma vez que permite uma total autonomia a um visitante surdo.
"Nos outros museus com língua gestual, os visitantes têm de se dirigir a um local específico e obtêm uma explicação generalista da instituição. A aplicação, feita por um nativo da língua, permite ao visitante surdo passear livremente pelo museu, voltar às obras sempre que queira", disse.
Esta autonomia é de tal forma valorizada que outros museus estão a contactar o Centro Cultural Casapiano para tentar disponibilizar uma aplicação semelhante.
Para Paulo Vaz Carvalho, a grande vantagem deste projecto resulta dos seus autores serem surdos que trabalham para surdos.
"Somos a melhor turma de surdos do país", disse, sublinhando que alunos e professores do Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira foram os autores do projecto e, simultaneamente, as suas "cobaias".
Paulo Vaz Carvalho disse mesmo que vários museus têm manifestado interesse nesta aplicação, destacando a sua inovação.
Também os cegos podem, através deste projecto, intitulado VOS (Ver Ouvir e Sentir), conhecer sensações únicas perante uma obra de arte, uma vez que podem tocar algumas peças.
Ao iniciar a exposição, cujo itinerário está indicado no chão (linhas guia), o visitante cego recebe um livro com a explicação das obras na língua escrita e também em braille.
Nesse livro, estão indicadas as obras que podem ser tocadas, e constam ainda imagens em relevo tácteis que visam dar uma ideia dos quadros a quem não os pode ver.
Sandra Barbosa, docente no Centro de Educação e Desenvolvimento Aurélio da Costa Ferreira, da Casa Pia de Lisboa, disse à Lusa que a ideia é pioneira e está ainda a dar os primeiros passos, mas que tem surpreendido positivamente estes visitantes, que, até agora, têm sido alunos e professores da instituição.
João Louro, director do Centro Cultural Casapiano e coordenador do projecto, disse à Lusa que não fazia sentido uma instituição como a Casa Pia, com elevado historial de respostas para cegos e surdos, que visam sempre a sua autonomia, não disponibilizar um instrumento que permita a estes visitantes usufruírem do espaço livremente.
"A visita pode começar logo em casa, pois, no caso dos surdos, a aplicação pode ser descarregada gratuitamente e o visitante ir desde logo escolhendo o que mais quer ver", adiantou.
Também a directora da instituição, Cristina Fangueiro, ressalvou o papel da Casa Pia nas deficiências sensoriais (surdez e cegueira), classificando o dia de hoje como "muito especial".
Antes da apresentação da aplicação, através de professores e alunos cegos e surdos, a instituição partilhou a história do Mundo de Carolina, um livro da autoria de Teolinda Gersão, inspirado numa aluna surdocega da Casa Pia de Lisboa, que esteve presente na iniciativa.
In: SOL
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