Maria conheceu Joana no 6.º ano de escolaridade, em que foi sua professora, e logo ficou a admirá-la. Apesar de frequentes idas ao estrangeiro para ser operada, devido a um problema de saúde, Joana nunca faltava às aulas quando estava em Portugal, mesmo que fosse por pouco tempo, tendo conseguido passar para o 7.º ano, devido ao seu trabalho persistente e empenhado.
Três anos mais tarde, Maria foi de novo professora da Joana e sua diretora de turma. Nesses anos, o problema de saúde e as deslocações ao estrangeiro mantiveram-se e Joana tinha acabado por não conseguir passar do 8.º ano para o 9.º ano. Concluindo que a sua reprovação se devia a falta de capacidade, deixou de acreditar em si. A sua autoimagem corporal estava também muito fragilizada, já que uma ligeira deformidade no rosto, devida ao seu problema de saúde, a fazia considerar-se feia e incapaz de granjear afeição. À sua natural timidez, acrescentava-se agora um olhar triste e Joana isolava-se.
Maria não ficou indiferente à sorte de Joana. Conversava frequentemente com ela, procurando fazê-la refletir sobre o seu difícil percurso e sobre todas as conquistas que tinha ido obtendo devido à sua força de vontade e à sua persistência. Com a turma, desenvolveu um trabalho que tinha por objetivo a valorização de si próprio e do outro, a sensibilidade ao outro e a interajuda. Uma estratégia determinou a inversão do percurso de isolamento adotado por Joana. A diretora de turma escreveu o nome de cada aluno numa folha de papel A4 e distribuiu uma folha a cada aluno. Cada um iria escrever uma mensagem positiva ao aluno cujo nome estava no cimo da folha e passava-a para o colega seguinte, que procederia do mesmo modo. Desta forma, no fim da atividade, cada aluno recebeu uma folha com mensagens positivas escritas para si por cada um dos seus colegas. Joana percebeu que era apreciada por todos eles que, entre outras coisas, lhe diziam que gostavam dela e que a queriam conhecer melhor, pedindo-lhe que os deixasse aproximarem-se dela.
Joana acabou por se integrar na turma e, com a ajuda dos colegas e da diretora de turma, aceitar a sua imagem corporal e valorizar as suas características pessoais. Quanto a Maria, se algumas dúvidas lhe restassem acerca da importância da intervenção que tinha desenvolvido, teriam desaparecido quando, no ano seguinte, tendo entrado para a turma uma outra aluna que se isolava muito, Joana a abordou com o seguinte pedido: "Setora, no ano passado, ajudou-me muito na integração na turma e a sentir-me bem comigo mesma. Noto que a nova aluna da nossa turma se isola muito e quero ajudá-la. Venho pedir-lhe a sua ajuda para isso."
Esta história, verdadeira, não precisa de mais palavras para se tornar elucidativa da importância de se olhar o aluno na sua individualidade e na sua globalidade. O insucesso escolar pode ter muitas causas. No caso de Joana, a doença prolongada foi a causa próxima. Exemplo de resiliência, Joana estava, no entanto, num ponto de viragem, em que precisava de ser ajudada a reconhecer o seu valor e a não deixar de acreditar em si. Quantas reflexões e quantas questões não podem ser levantadas por esta história! É esse mesmo o objetivo deste artigo.
Por: Armanda Zenhas
In: Educare
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