"Querem que os portugueses trabalhem mais horas por dia, e mais dias por ano, ao ponto de discutirem "pontes" e abolições de feriados. Mas toda a gente parece ter esquecido que os portugueses adultos já trabalham mais horas do que os seus congéneres europeus, para a pior produtividade da Zona Euro, e os portugueses mais pequenos já vão mais à escola do que quaisquer outros, ficando também eles muito aquém dos objetivos que os outros atingem com menos tempo enfiados entre as quatro paredes de uma sala de aulas. A explicação, digo eu, além dos maus chefes e dos trabalhadores irresponsáveis, é da falta de sono. Se dormíssemos todos mais e melhor, tenho a certeza absoluta de que o caso mudava de figura. Porque, afinal, somos o país onde se dormem menos horas por noite, dos mais novos, aos mais velhos (...). E os efeitos da privação de sono explicam a incapacidade de produzir mais: falta de concentração, cabeça aérea, falta de noção da realidade, irritabilidade, raiva e por aí adiante. (...)"
Isabel Stilwell
Este artigo, que aconselho a ler na totalidade, traduz exatamente aquilo sobre que tenho vindo a refletir ao longo destes anos, como elemento de uma comunidade escolar. Nos atendimentos realizados com alunos e no contacto que vou estabelecendo com os professores, vou constatando aquilo que é referido, de uma forma tão clara, neste artigo: as crianças e adolescentes deitam-se tardíssimo, não dormindo o número de horas necessárias para o restabelecimento do seu equilíbrio.
A existência de televisão no quarto, de computadores e de múltiplos distratores são tentações a que os mais novos não conseguem resistir e que os adultos inconscientemente pensam controlar. Não é invulgar, diria mesmo que é cada vez mais frequente, sobretudo em adolescentes, o sono dos pais ser aproveitado para mais um jogo no computador ou para enviar um número infinito de mensagens até altas horas da noite.
Paralelamente a esta constatação, há outra que, na minha opinião, tem relação direta com esta. Os professores com quem trabalho queixam-se de um fenómeno que se tem vindo a generalizar e a agravar: a falta de atenção/concentração nas aulas. Como podem os alunos estar atentos, se não têm satisfeita uma das necessidades básicas do ser humano?
Num atendimento recentemente realizado com um adolescente, que está neste momento deprimido, a mãe referia que o despoletar da depressão, que ocorrera pela primeira vez no ano anterior, surgiu na sequência de umas férias de Verão, em que ele simplesmente não dormia, porque passava as noites "agarrado" ao computador.
Este é um problema que me preocupa bastante porque é extraordinariamente difícil de alterar. Como poderemos nós sensibilizar os pais a alterar a sua postura em relação aos hábitos de sono dos filhos, se eles próprios também ainda não interiorizaram que a sua vida teria mais qualidade se dormissem mais horas? A resolução desta questão, como a da maioria das questões educativas, passa pela velha, mas sempre atual, sugestão de Daniel Sampaio: Inventem-se novos pais. Precisamos urgentemente de pais que estabeleçam como uma das suas prioridades a hora de dormir dos filhos, ainda que isso implique a alteração de rotinas. Subjacente a este problema há, indiscutivelmente, outro: a capacidade de impor regras. E lá voltamos nós ao mesmo...
Se não formos firmes, as crianças que, nesse aspeto, como em muito outros, são todas muito semelhantes, não querem ir para a cama e adiam indefinidamente este momento. Ou nos convencemos de que temos mesmo de controlar a hora de elas irem dormir e de ser rigorosos neste aspeto ou estaremos, ainda que inconscientemente, a limitar a sua capacidade de obter melhores resultados. Os meus filhos que, como os vossos, tentam adiar a hora de dormir, já ouviram vezes sem conta a mãe repetir: "Vamos dormir e já, porque quem não dorme não aprende."
Sem comentários:
Enviar um comentário