segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Esta televisão é para surdos que se querem fazer ouvir

A SurdoTv nasceu há três anos para preencher as falhas no acesso dos surdos à informação. No Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, que se assinala nesta segunda-feira, o PÚBLICO mostra os bastidores de uma televisão em silêncio.


Uma pequena câmara de vídeo digital, um tripé, um computador portátil e pouco mais. O equipamento cabe todo no saco azul de plástico que Hélder Duarte traz ao ombro. As mãos estão livres para falar com o resto da equipa da SurdoTv – o director-geral da televisão, uma jornalista, e o editor de imagem.

Em comum, têm a surdez mas não só. São voluntários nesta que é a única televisão online portuguesa feita por surdos e para surdos. O PÚBLICO foi acompanhá-los num dia de reportagem.

Num canto do anfiteatro da Universidade Lusófona, em Lisboa, Fernando Padeiro despe a camisola de director-geral da SurdoTv e assume o posto de operador de câmara. Monta o tripé, instala a máquina, ajusta a imagem. Hélder Duarte, o director de informação, sobe ao palco onde vão discursar os convidados do V Congresso Nacional de Surdos e faz os testes de imagem: abre os braços, inclina-se para a direita, depois para a esquerda. Os oradores – quase todos surdos – tem de “caber” no quadrado que Fernando desenha no ar com as mãos. É este o espaço das palavras em língua gestual: uma espécie de quadrado invisível onde o discurso ganha forma.

A parede cinzenta e branca, com uma cortina cor-de-laranja, levanta problemas. Alexandra Ramos, uma das intérpretes de língua gestual portuguesa (LGP) que vai traduzir os oradores – e que serviu de intérprete ao PÚBLICO durante esta reportagem –, explica: “O campo visual dos surdos não pode ter muitas cores, para evitar que se distraiam.” As intérpretes têm de usar roupa de cor neutra, de preferência escura. Até os ramos de flores são proibidos. A poluição visual é ruído para quem ouve com os olhos.

Na parede ao fundo do anfiteatro, é fixado o tecido verde que serve de pano de fundo ao espaço de entrevistas. É ali que Susana Amaral, a jornalista de serviço, há-de entrevistar os convidados, em LGP. Na mesa junto ao palco, Hélder Duarte e Pedro Miguel Silva, o editor de imagem, preparam os computadores. O congresso começa à hora marcada, em silêncio. Nem parece que está quase uma centena de pessoas na sala.

Pode ler mais em: Público online

In: Público

Sem comentários:

Enviar um comentário