terça-feira, 19 de abril de 2011

Vacas magras ou atléticas?

 
É impossível fugir ao tema do momento: a crise económica e financeira em que Portugal se encontra mergulhado. A Educação é um sector de progresso recente e, por consequência estará mais vulnerável a reduções de pessoal, cortes orçamentais ou desinvestimento em recursos ou infra-estruturas. Correndo o risco (calculado) de me associar aos “treinadores de bancada” que divagam sobre as medidas que se deviam tomar, gostaria de deixar aos nossos associados cinco reflexões sobre o impacto que esta crise económico-financeira poderá ter na Educação:

1. Antes de mais desenvolver uma atitude de permanente diálogo. Estamos a viver um período de enorme crispação e são atiradas para a praça pública palavras que certamente irão fazer mais parte do problema que da solução. Lembro o provérbio chinês que diz que quando a palavra está dentro da boca, mandamos nós nela; quando está fora da boca manda ela em nós. Precisamos de, em todas as situações manter abertas portas de diálogo sobretudo porque ninguém consegue sair desta situação sozinho. Isso já está bem claro.

2. Precisamos de ouvir dos responsáveis governamentais qual o plano (plano quer dizer o que vai efectivamente fazer e não o se tem de fazer à última hora) que vai ser seguido para controlar os custos da crise. Fomos habituados, sobretudo nos últimos anos, a fazer uma “dieta de informação”. As medidas eram anunciadas de surpresa, e a forma aparentemente incoerente e inesperada. A forma como muitas medidas foram anunciadas é talvez responsável por haver tanta má informação sobre as reformas educativas. Precisamos de quem fale aos professores de forma directa, franca e planeada. Só assim se pode criar a confiança.

3. Agora que tanto se fala em “culpados” e em “inocentes”, esperemos que esta conversa termine o mais tardar a 5 de Junho (data das eleições legislativas). Aí se vai saber pelo voto popular quem é que os eleitores consideram os “culpados” e os “inocentes” (ou será que se devia dizer “os menos culpados…”). Mas feito este julgamento é necessário lançar mãos à obra. Os credores não querem saber de culpados ou inocentes; querem saber o que se faz para reanimar a credibilidade do país. Enfim, seja de quem for a “culpa”, somos todos os que teremos de pagar da despesa.

4. É inevitável encarar o facto que muitas das crianças com dificuldades são também oriundas de meios socioeconómicos (e culturais) muito débeis. Quer dizer que qualquer menor investimento na Educação Especial constitui certamente um agravamento da desigualdade na medida em que, se as medidas de apoio forem minguadas, estaremos a confirmar que a escola não pode mudar nada. Ora não é esta a missão para que os professores foram formados e aquilo para que trabalham.

5. Tempos de crise são muito duros para a Educação. Sabem porquê? Porque a Educação lida com o optimismo e com o futuro. Um professor é por natureza um profissional optimista: de outro modo como é que ele renovaria todos os anos a esperança da aprendizagem do sucesso de todos e a melhoria da sociedade? De futuro também porque (perdoem o lugar comum) ele lida com as pessoas que vão ser as mais influentes na sociedade futura. Se não há optimismo e futuro a Educação é gravemente atingida e a sua missão fica diminuída.

Usando a metáfora bíblica o tempo é de vacas magras mas talvez – se dialogarmos, se planearmos, se formos realistas, solidários e optimistas - possamos fazer com que essa perca de peso e de gordura resulte em aumento da massa muscular e assim em lugar de vacas magras teríamos vacas atléticas. São talvez más para a qualidade do bife mas seriam certamente vacas mais capazes de ter, mesmo em crise, uma boa saúde e qualidade de vida.


Por: David Rodrigues
Presidente da Pin-ANDEE.
 
In: 2ª Nerwsletter de Abril PIN-ANDEE 

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