Os números do desemprego crescem em muitas profissões, uma das quais a docência.
Com a Revisão da Estrutura Curricular (26/03/2012), desapareceram as áreas curriculares não disciplinares e foi reduzida a carga letiva de várias disciplinas. Seguidamente, as Matrizes Curriculares do Ensino Básico e Secundário (cujas diferentes e sucessivas versões têm dificultado a preparação do próximo ano nas escolas) reduziram ainda mais o número semanal de aulas por grupos de disciplinas. Se associarmos estes factos ao aumento do peso dos exames na avaliação, poderemos facilmente adivinhar um ensino essencialmente virado para a aquisição de conhecimentos e treino a debitar em testes e exames.
Para trás ficarão outras componentes essenciais na educação escolar (Ver artigo Para quando as reguadas). Obviamente, o desemprego docente crescerá. Serão esses professores verdadeiramente dispensáveis?
Ou, pelo contrário, a falta de professores para aulas e outras atividades de apoio a alunos com dificuldades é uma realidade bem sentida por muitos estudantes e suas famílias?
Sob o pretexto de dar maior autonomia às escolas, o MEC atribui aos diretores a responsabilidade de distribuir aos professores o tempo para desempenho de diversas funções, desde a direção de turma até à coordenação de departamentos, antes da responsabilidade do Ministério. Destaco alguns problemas:
- Os professores que desempenharem esses cargos terão menos tempo para o fazer, embora o trabalho possa ser a dobrar. Dois exemplos:
- os diretores de turma, agora com mais alunos por turma, terão, no entanto, menos tempo para exercer a sua função, o que levará a uma maior dificuldade de acompanhamento dos alunos e de contacto com as suas famílias.
- os coordenadores de departamento (ex.: departamento de línguas, juntando Português, Francês, Inglês, Alemão e Espanhol), com mais professores e tarefas para coordenar, aumento resultante da junção de agrupamentos/escolas já grandes em "giga-agrupamentos", terão menos tempo do que tinham antes apesar do acréscimo de trabalho e responsabilidades.
- O número de horas a que cada escola terá direito para o desempenho desses cargos e para outros fins, como os apoios educativos, vai depender de uma complicada fórmula (determinada pelo MEC) em que tem elevado peso o sucesso académico dos alunos da escola. Desta forma, escolas com sucesso receberão mais horas para esses efeitos, podendo dar melhores condições aos seus alunos; as escolas em que o insucesso for maior, receberão menos horas, e ver-se-ão a braços com falta de recursos para implementarem medidas de apoio aos alunos e de melhoria das aprendizagens. Podemos concluir que insucesso gerará escolas de 2ª e cada vez maior insucesso, enquanto que sucesso gerará escolas de 1ª e maior sucesso.
É caso para dizer, "Ó, tempo, não voltes para trás!". Tanto caminho se fez para dar vida às escolas e dói ver essa vida escoar-se cada vez mais.
Consultas feitas:
- Despacho-normativo n.º13-A/2012, de 5 de junho
- Revisão da Estrutura Curricular (26/03/2012)
- Matrizes do Ensino Básico e Secundário (aprovadas em 31 de maio)
- Edição online do jornal Público de 11/06/2012
Por: Armanda Zenhas
In: Educare
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