sexta-feira, 1 de abril de 2011

A História de vida do António Peixoto contada na 1ª Pessoa

Olá, chamo-me António,tenho 36 anos e tenho epilepsia como consequência de Esclerose Tuberosa.

O diagnóstico foi feito e confirmado quando tinha 12 meses, os sintomas que despertaram a minha família para que algo comigo estava mal, foram dificuldades em sentar-me e outras falhas no comportamento que não era o certo para a idade.

A minha doença não afectou em alguma coisa o meu desenvolvimento físico ou intelectual, fui sempre um aluno com um aproveitamento razoável e a nível de sociabilidade não afectou o comportamento com outras pessoas.

Os sintomas ou chamadas crises, nos primeiros anos da minha infância e parte da juventude não aconteciam, e se fosse o caso manifestavam-se de forma muito leve,em parte derivado à medicação que tomava que seria a mais eficaz para o meu caso, (ainda hoje pergunto por esse medicamento ao meu medico mas a resposta é que traz efeitos secundários noutros órgãos tomado durante muitos anos).

A partir dos meus 20 anos, as crises começaram a aparecer mas algo que se suporta com simples tonturas e de longe a longe apareciam as mais fortes, que são bloqueios (do género de alguém falar para mim eu conseguir ouvir tudo e não conseguir responder) ou outro sintoma que é tipo curto-circuito, quando acontece não tenho o controlo sobre o que estou a fazer indo sempre em frente, se estiver a conduzir ir para a outra faixa ou sair da estrada e cair numa ravina ou coisa do género.

À medida que a idade vai avançando aumenta a frequência e intensidade das crises, o que faz com que seja difícil de acertar com a medicação. Esta doença cria ramificações noutros órgãos aos que, é necessário fazer consultas e exames de rotina para saber se não degeneraram em algo pior ou se continuaram no mesmo estado.

Eu estudei até ao 12ºano em três fases,a primeira foi até ao 8ºano,depois sem querer fui obrigado a desistir de estudar porque me baldei um pouco, (mas mesmo assim consegui concluir o ano com sucesso), pouco tempo depois,comecei a trabalhar.

Fui trabalhar na primeira oportunidade de trabalho que apareceu, e foram 11 anos num campo de tiro aos pratos,bom ambiente entre colegas e atiradores de todas as classes sociais que frequentavam esse local.

Prestes a ser despedido decidi recomeçar a estudar para fazer o 9ºano no ensino recorrente da época, ao mesmo tempo trabalhava das 10h às 18 e 30h estudava das 19e45h às 23 e 30h e chegado a casa ainda tirava uma hora para fazer testes de código para tirar a carta.

Segunda parte, depois de conseguir a carta e estar perto de ter o 9º ano (só não foi feito por causa da matemática), mas como era necessário recorri a uma forma mais fácil e prática para o conseguir... fui para o sistema de ensino para a estatística R.V.C.C. no qual consegui fazer a escolaridade pretendida mas sem conteúdo algum,algo que por um lado fez com que ficasse desiludido com o sistema e questionar a forma de ensino.

A terceira parte foi a conclusão do 12ºano, este sim teve conteúdo com matérias que usamos diariamente na teoria e na pratica,esse foi um curso EFA/SECUNDÁRIO.

As crises que tenho limitam-me um pouco a nível laboral porque não posso conduzir, e todos ou a maioria das ofertas de trabalho pedem viatura e carta de condução, sendo que as crises são diárias e não dizem quando vão acontecer seria um risco aceitar um trabalho que tivesse essas exigências e poderia por em perigo a minha vida e (ou)a de outra pessoa.
Devido a ter tido já um acidente por ter tido uma crise a conduzir, o que me fez ponderar os riscos que poderiam ocorrer.

Nesta altura estou desempregado,continuo à procura de algo compatível com a minha situação,desde que fui despedido ou melhor desde que a empresa fechou ainda não consegui um trabalho de longa duração, unicamente trabalhos sazonais e de pequenas durações.

Ainda tenho esperança que as coisas mudem e que a situação melhore económica e socialmente,por isso continuo a enviar currículos, a fazer candidaturas espontâneas e a ir a entrevistas sempre com pensamento positivo.

... fazer um resumo da minha vida é em parte falar das condicionantes que a esclerose tuberora me obrigou a ter, e pensar que uma grande parte da minha vida até ao momento tem sido passada em consultas e exames de rotina em várias especialidades,porque esta doença afecta outros órgãos e têm de ser vigiados com alguma frequência para saber se as coisas se mantém estáveis ou estão a evoluir negativamente (o que não é o caso felizmente até ao momento), e assim espero que continue a ser durante muito tempo.

No meu caso ando a ser seguido em quatro especialidades,já tive um contra que foi, a perda de parte da visão mas segundo os especialistas é quase certo que neste caso fique por aqui, porque a parte da visão que perdi foi do lado do cérebro no qual tinha maior incidência dos ditos "tumores",que desencadeavam as crises,mas de resto tudo bem.

No espaço entre as idas às consultas, levo uma vida normal, tirando todas as limitações às quais estou sujeito, ainda tenho possibilidade de encontrar um trabalho que possa executar e não são tão poucos como pode parecer para quem não conhece a realidade da doença, temos de obedecer aos requisitos pedidos, e muitas vezes passam ao lado as oportunidades por infelizmente a sociedade sofrer de uma doença pior de que a nossa que dá pelo nome de"preconceito ou ignorância", que no fundo são da mesma família, conseguimos ser úteis em algum lado se não for na construção civil pode ser como recepcionista ou administrativo(A).

Basta as pessoas estarem interessadas em colocar pessoas como eu, e muitos outros, a exercer trabalhos que se ajustem à sua condição física ou de outro aspecto.

A nível social acontece muito este caso,somos convidados para festas de anos casamentos ou ao fim de semana ir beber um copo com os amigos, além de não podermos beber álcool, tomar café, beber cola ou fumar, não impede de nos divertirmos e possamos conviver com as pessoas, mesmo que algumas vezes alguns amigos digam: vá lá um copo não faz mal de vez em quando!

Diverti-mo-nos de igual forma bebendo álcool ou sumo e água. A ideia final é, enquanto depender de nós não devemos desistir de lutar e tentar fazer com que as pessoas compreendam que o que isto é, e tenham mais conhecimentos sobre o assunto para não ficarem com pensamentos errados sobre nós e as nossa capacidades em fazer qualquer tarefa seja a nível laboral, como intelectual, conseguimos executar igual ou melhor a uma pessoa sem esse problema aquilo que nos é pedido.

Não vamos desistir somos e seremos úteis em qualquer lugar desde que nos dêem oportunidade de mostrar isso.
 

1 comentário:

  1. Eu amei na adolescencia um rapaz com epilepsia e o preconceito de minha família nos separou. Hj não deixaria acontecer isso. "Preconceito é agir sem conhecimento."

    Abraços

    Tem selinho para vc rsrs no endereço abaixo

    http://kantinhodakekel.blogspot.com/2011/04/selinho-pimentauauuuuuu.html

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