A docente universitária Ana Cristina Silva coordenou três investigações com alunos, com dificuldades económico-sociais, que frequentavam o primeiro, segundo e quarto anos de escolaridade.
"A aprendizagem é um processo complexo e temos muitas crianças que enfrentam o insucesso escolar logo no primeiro ciclo. Não nos podemos esquecer que existem crianças que não são acompanhadas em casa pela família e que vão ficando para trás. No entanto, desenvolvemos três estudos de intervenção cientificamente fundamentados que podem prevenir as dificuldades de aprendizagem que vão surgindo", contou à Lusa a professora.
Uma das investigações centrou-se num grupo de meninos, sinalizados como tendo falhas na aprendizagem, a quem foi pedido que descobrissem sozinhos algumas regras ortográficas através da apresentação de grupos de palavras.
Por princípio, num sistema de escrita de base alfabética cada letra deveria representar um som. No entanto, no português, essa regularidade encontra-se poucas vezes. Por exemplo, as letras "m" e do "n" podem ler-se da mesma maneira (como em "campo" e "canto") e para quem está a aprender esta pode ser uma regra difícil de perceber.
Os investigadores davam às crianças grupos de palavras e pediam-lhes que descobrissem as parecenças. No final, quando comparado o grupo a quem era exigido que descobrissem as regras com o grupo a quem simplesmente eram ensinadas as normas, percebeu-se que os primeiros estavam mais aptos a escrever e "davam muito menos erros", revelou Ana Cristina Silva.
Com os alunos do quarto ano, a equipa de investigadores de ISPA tentou perceber se havia alguma forma de conseguir com um método simples que eles conseguissem melhorar a escrita, nomeadamente as suas composições.
Assim, a um dos grupos foi entregue várias grelhas com regras que as crianças tinham que seguir quando realizavam os trabalhos enquanto um outro grupo mantinha o ensino normal. No final, Ana Cristina Silva diz que os meninos que tinham o apoio das grelhas escreviam muito melhor e conseguiam, durante a revisão do trabalho, corrigir algumas das suas próprias falhas.
"Estes são métodos de ensino sem custos para as escolas e que iriam permitir que as crianças com mais dificuldade conseguissem ter melhores resultados, mas a verdade é que não são aplicados nas escolas", lamentou a doutorada em Psicologia da Educação.
A docente universitária criticou ainda alguns projetos do Ministério da Educação, como o aumento de alunos por sala de aula, que considera perigoso, uma vez que poderá agravar a qualidade do ensino dos meninos com mais dificuldades, já que "os professores passam a ter ainda mais dificuldade de os conseguir acompanhar".
Os projetos da investigadora são apresentados hoje no ISPA durante a conferência "É possível aprender a ler e a escrever com sucesso".
In: DN
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