Havia quem culpasse os alunos, outros o sistema e alguns a si mesmo, colocando em causa todo o trabalho e competência. Os técnicos, no meio daquilo, faziam contas ao futuro porque maus resultados também significa ineficácia do projeto que financia os seus salários.
Antes...
Antes...
Era uma vez uma escola. Como todas as outras, feita de professores, técnicos especializados, funcionários, alunos e encarregados de educação. Uma escola que funcionava como oásis de uma comunidade desprotegida. Fora da escola as crianças tinham de lidar com a fome, com a delinquência, com a pobreza extrema e com situações emocionais que não há teclas de computador que permitam retratar. Dentro da escola eram apenas crianças... cujas vidas madrastas não a impediam de ter e partilhar momentos de absoluta felicidade.
Toda e qualquer atividade era pensada para elas, atendendo às suas características, pensando no seu ponto de partida e apostando nas suas potencialidades. Era uma escola em que se trabalhava muito, onde a dedicação tinha de ser extrema e que, admitamos, levava alguns dos adultos a desistirem mais cedo que as crianças. Os que não desistiam sentiam uma necessidade enorme de ver que o seu esforço tinha dado resultados, tinha surtido efeito, tinham sido bem-sucedidos. Mas como?
Felizmente os ventos que sopram desde a 5 de Outubro facilitam esta angústia propondo que tudo em educação seja classificado de acordo com os resultados dos exames nacionais a Português e Matemática. Basicamente, aquela como todas as outras escolas do país, recorreria ao mesmo exercício de autoavaliação: ver os resultados dos alunos nos exames de Português e Matemática e senti-los como espelho do trabalho.
Não seria este exercício redutor? ...
Durante...
Era sexta-feira e o ambiente era tenso. As pessoas estavam na escola e tinham assumido cada uma delas uma avaliação pessoal mediante os resultados que sairiam nos próximos minutos. Os resultados foram saindo. No 6.º ano fomos excelentes, no 9.º ano terríveis. A euforia espalhou-se pelos professores bem-sucedidos, tal e qual, uma criança quando ganha o brinquedo pelo qual tanto esperou. Do outro lado, havia uma depressão generalizada. Havia quem culpasse os alunos, outros o sistema e alguns a si mesmo, colocando em causa todo o trabalho e competência. Os técnicos, no meio daquilo, faziam contas ao futuro porque maus resultados também significa ineficácia do projeto que financia os seus salários.
Depois...
Minutos depois a depressão deu lugar ao conformismo e ao "não podemos fazer nada". Havia quem se sentisse melhor neste discurso, havia quem livrasse os professores destes maus resultados e havia quem adotasse estes resultados como espelho do seu trabalho. Como disse uns parágrafos acima, não raras vezes, eram os adultos a desistir mais cedo e assim foi.
Alguns alunos e encarregados de educação decidiram pedir reapreciações de provas. Numa turma de 20, foram seis os alunos a pedirem a reapreciação de uma das provas. Curiosos foram os resultados deste inconformismo da parte dos pais...
Todas as seis provas foram reavaliadas com notas mais elevadas e três delas implicaram, mesmo, a mudança de nível (1 para 2 ou 2 para 3). Numa delas a diferença entre a primeira correção e a reavaliação foi apenas de 16 pontos em 100...
A depressão aligeirou um pouco, dando lugar à revolta. Afinal, que método é este que se apresenta como infalível e, afinal, é profundamente erróneo? Onde está o Santo Graal prometido pelo Sr. Ministro? Que é feito da exigência tantas vezes propalada pelos nossos dirigentes? Mas, acima de tudo, o que sente um aluno, uma família, quando vê duas avaliações tão distintas a uma mesma prova? O que pensarão eles sobre a escola? Que credibilidade lhes confere?
Por: Simão Monteiro
In: Educare
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