O futuro profissional preocupa-os. Mas não sabem o que querem ser. Continuam a acreditar que há empregos mais ou menos adequados para rapazes e raparigas. Estudo revela que ainda há muito a fazer pela igualdade de acesso a uma profissão.
O calendário escolar marca um novo momento de avaliação. Nas escolas são afixadas as classificações obtidas no segundo período. Alguns alunos foram vê-las aos placards. Outros receberam o “papel das notas” por correio eletrónico. Mas a ansiedade foi com certeza idêntica. Um inquérito realizado pela Associação Empresários pela Inclusão Social (EPIS) a cerca de dois mil alunos revela que 70% se mostram preocupados com o sucesso escolar. O futuro profissional (58%), a aparência (38%), a morte (32%) e o não terem amigos (19%) são outras das inquietações dos jovens inquiridos, cujas idades variam entre os 12 e os 14 anos. Todos a frequentarem o 3.º ciclo do ensino básico em 18 concelhos portugueses. À lista somam-se a mudança de escola e o desemprego (14% em ambos).
Em declarações ao EDUCARE.PT, o diretor-geral da EPIS disse que a preocupação com os resultados escolares não é apenas fruto da conjuntura de crise. “Os alunos sabem que a sua ‘profissão’ é ser estudante. E que o estudo serve para os preparar para uma profissão de agrado e com futuro.” Por isso, Diogo Simões Pereira não estranhou os resultados obtidos. Tão pouco no que respeita à preocupação com a aparência. “São adolescentes, centrados no seu corpo e na sua afirmação junto dos pares”. Apenas a preocupação com a morte foi “menos previsível”.
Sobre as expectativas quanto ao futuro, o estudo revela diferenças entre as respostas dos bons e dos maus alunos. Quem obtém melhores resultados mostra mais confiança na sua capacidade para viver e trabalhar em Portugal. Quando termos como “globalização”, “mobilidade”, aliados à conjuntura económica, parecem estar a convencer as novas gerações da necessidade de procurar emprego fora do país, esta resposta surpreendeu o diretor geral da EPIS.
Ideias de “conquistar o mundo” e de que “lá fora é que se mostra o que se vale”, sempre existiram em Portugal, reconhece Simões Pereira. “Nos jovens confrontados com casos familiares de desemprego e emigração, é natural que este sentimento se reforce. Mas não por uma tendência dos tempos, antes pela chaga social que é o desemprego, gerador de emigração não voluntária.”
O sucesso escolar impõe-se, assim, como um fator determinante das opções dos jovens, seguido das questões de género. Ou seja, “o mau aluno ou aluna vai excluir a Medicina porque não tem acesso e não por falta de vocação”, explica Simões Pereira. Por outro lado, persistem profissões mais aceites por rapazes, como a tecnologia, e outras pelas raparigas, caso dos cuidados de saúde e de educação. O diretor-geral da EPIS vê esta divergência com alguma estranheza: “Já não é tão natural no mundo de hoje.” E recomenda às escolas que comecem a trabalhar “desde cedo” na promoção da igualdade de género.
Embora o futuro laboral seja algo preocupante, 37% dos jovens (cerca de um em cada três) não sabe ainda qual a profissão dos seus sonhos. Quem diz já ter pensado sobre o assunto revela duas opções profissionais: desportista (9% de respostas) e médico (8%).
Gostos variam entre rapazes e raparigas
Questionados sobre os seus gostos e preferências, o desporto e a música surgem como as áreas eleitas por 50% e 40% dos inquiridos, respetivamente. No entanto, o estudo revela que também aqui as diferenças próprias de géneros condicionam as respostas. Assim, os rapazes estão mais interessados no desporto (68%), na informática (37%) e na música (33%). Enquanto as raparigas gostam mais de música (47%), desporto (34%), artes visuais (23%), teatro (20%), saúde (32%) e educação (20%).
O modo como ocupam os tempos livres segue o mesmo padrão. Eles voltam a escolher a combinação desporto e computador, como passatempos preferidos. Elas preferem ouvir música e estar com os amigos. Os números mostram que três em cada quatro rapazes gostam de praticar desposto e de jogar no computador e 35% gostam de ouvir música. Entre as raparigas, metade diz que gosta de ouvir música, e destas um grupo mais pequeno gosta de estar com os amigos (36%) e ligar-se às redes sociais (33%).
Sobre as conclusões deste inquérito, Simões Pereira revela-se mais surpreendido com as diferenças combinadas de perfis de sucesso e género do que as respostas médias. “Fica claro que o insucesso e o género combinados condicionam as preferências dos jovens”, acrescenta. Evidências que justificam, segundo o diretor-geral da EPIS, “intervenções direcionadas a grupos específicos”. “Há um grande trabalho a fazer para garantir que o sucesso escolar de todos os jovens permita a igualdade de acesso a uma profissão”, conclui.
Por: Andreia Lobo
In: Educare
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