A inclusão de alunos com dificuldades - sejam elas originadas por uma condição de deficiência ou por outras razões – é reconhecidamente uma empresa difícil. Quando há pouco dizia esta frase numa escola, uma das professoras retrucou: “Mas até com alunos que não têm dificuldades a vida das escolas está cada vez mais difícil!”.
E verdade, que a tarefa de educar e de ensinar alunos nos dias de hoje é cada vez mais complexa e difícil. Talvez por três razões: a escola mudou menos – em termos de metodologias e procedimentos – do que a sociedade. Assistimos assim a um frequente “braço de ferro” entre a escola que quer que os alunos aprendam “determinados conteúdos de certa maneira” e os alunos que preferem aprender “outros conteúdos de outra maneira”…. Em segundo lugar há uma diversidade muito maior de alunos que se defronta com uma visão mais “homogénea” da escola. Certamente que há muitas exceções mas a escola continua a apostar na homogeneidade, considerando que uma turma é um grupo de alunos que parte do mesmo ponto, caminha o mesmo caminho e há-de chegar aos mesmos objetivos. Em terceiro lugar a escola teve que assumir o ensino de muitos aspetos educativos que antes estavam centrados na família. A escola teve que encarar áreas que tradicionalmente não estavam no seu reportório. A esta escola chamou António Nóvoa a “escola transbordante” porque o que há a ensinar é tão vasto que transborda os limites do razoável.
É pois uma escola já com dificuldades de responder a competentemente a todos os alunos que encara o desafio da inclusão de alunos que têm dificuldades identificadas. Portugal desenvolveu nos últimos anos políticas de inclusão de alunos com dificuldades na escola regular.
Faz mesmo este ano precisamente 20 anos que Portugal assinou a Declaração de Salamanca proclamada pela UNESCO em Junho de 1994. Nesta declaração (que faz sempre bem voltar a ler…) diz-se explicitamente que (…) As escolas regulares, com esta orientação inclusiva, são os meios mais eficazes para combater as atitudes discriminatórias, criar comunidades acolhedoras, construir uma sociedade inclusiva e para alcançar a educação para todos”.
Dizer que as escolas são os meios mais eficazes é correto e louvável. Mas… ( a questão são os “mas”…) o que é preciso para que as escolas se tornem naquilo que devem ser, isto é, escolas com uma orientação inclusiva?
Muitas vezes concebemos as mudanças como processos altamente sofisticados e de natureza difícil. Claro que são. As pessoas e as sociedades são particularmente atraídas por uma espécie de homeostasia conservadora no que respeita à educação… Mas eu gostaria de chamar a atenção para algo que é o cerne da inclusão e que pode ser assumido como um objetivo ao nível pessoal, e de cada uma das escolas e agrupamentos. Querem ser inclusivos? Ensinem TODOS os vossos alunos. Mesmo aqueles (sobretudo aqueles) que pareçam mais difíceis de ensinar, que resistem mais à escola, que parecem menos motivados para a aprendizagem. Ensinar todos os alunos é o ponto de partida que nos pode conduzir a uma escola inclusiva. E sabem porquê? Porque se um professor quiser ensinar todos os seus alunos não pode ensiná-los como se eles fossem iguais, não pode usar os mesmos objetivos para todos, não pode promover as mesmas estratégias, tem certamente que cooperar com os colegas e com outros técnicos.
Ensinar todos os alunos é uma tarefa quase impossível. E digo quase porque há muitos milhares de professores a tentar e frequentemente a conseguir fazê-la todos os dias.
São esses os professores que, mesmo que não saibam todas as teorias sobre Educação Inclusiva, mesmo que os apoios estejam aquém do que o que seria desejável, são estes os professores que no quotidiano constroem uma escola e país mais inclusivos. São estes os professores que não querendo deixar nenhum aluno para trás, se investem como verdadeiros agentes de inclusão. Estes professores estão aí. Eu conheço muitos.
Por: David Rodrigues
Presidente da Pró-Inclusão e Professor na Universidade Técnica de Lisboa - Faculdade de Motricidade
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