A componente de acessibilidade da 18.ª Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, que decorre até domingo no centro da Feira, recebeu até sexta-feira mais de 100 visitantes cegos e surdos, para os quais a organização preparou roteiros específicos.
Em causa está assim o programa da "Viagem Acessível", que, em dois dias predefinidos, proporcionou aos visitantes com limitações de mobilidade o acesso a conteúdos em Linguagem Gestual - como é o caso da peça de teatro "D. Sancho II - O último luar" - e também em Braille - como a exposição de usufruto táctil sobre armas, objetos e vestuário medievais.
Essas visitas foram conduzidas por guias que, especialmente formados para o efeito, garantiram aos grupos aquilo que Joana Cottim, presidente da Comissão Nacional dos Jovens Surdos, define como uma forma de esses cidadãos "estarem em pé de igualdade com os ouvintes, vivendo e sentindo a mesma experiência".
Em declarações à Lusa, essa responsável admite que os surdos que frequentam o ensino têm algum conhecimento sobre a Idade Média, na perspetiva teórica, mas reconhece que, mesmo a esses, "faltava-lhes o sentir e o viver do antigamente".
"[Com estas visitas guiadas] conseguimos perceber a história, o contexto e a vida na época medieval", afirma Joana Cottim. "É uma boa iniciativa, porque a Linguagem Gestual Portuguesa é a nossa primeira língua e dá-nos acesso à informação de forma clara e muito acessível", explica.
Graças a esse idioma, os surdos que se inscreveram na Viagem Acessível puderam descobrir não só o património cultural e arquitetónico da cidade, mas também o ambiente da própria recriação histórica. "Foi ótimo poder conhecer o entretenimento e a animação do evento", assegura a presidente da Comissão Nacional de Jovens Surdos.
Paula Azevedo, técnica de mobilidade na delegação do Porto da ACAPO - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, defende que "há cada vez maior sensibilidade para estas questões" por parte dos organizadores de grandes eventos públicos, mas realça que a escolha dos guias recrutados para acompanhar os cidadãos com deficiência visual será sempre determinante.
"O sucesso de uma iniciativa destas depende sempre da sensibilidade dos guias para descrever em pormenor aquilo que os visitantes não podem ver", esclarece.
"A questão do tato também é importante e aqui na Viagem, por exemplo, há uma exposição em que se pode tocar nos objetos", acrescenta a responsável da ACAPO. "Além disso, também temos oportunidade de tocar nos animais que estão no recinto, o que também ajuda a sentir as coisas de outra forma", refere.
A 18.ª Viagem Medieval é a segunda com programas específicos para cidadãos com limitações de mobilidade. Tendo em conta que a recriação abrange uma área de 33 hectares, Paula Azevedo considera que, a um cego, "será impossível explorar sozinho todo o recinto, sobretudo se se tratar de um espaço novo, do qual esse ainda não tenha referências".
Os roteiros em pré-reserva próprios para cegos e surdos já só voltam a realizar-se na edição de 2015, mas, até ao próximo domingo, ainda estão disponíveis algumas opções especificamente concebidas para essa comunidade, a começar pela exposição táctil "Sentir e Apreciar", patente no Museu Convento dos Loios com informação áudio e em Braille.
No site da Viagem também se pode consultar o programa do evento em Língua Gestual Portuguesa e, para cidadãos com limitações de mobilidade ao nível motor, o Posto de Turismo da Feira disponibiliza ainda mapas que identificam os percursos mais ágeis a adotar no recinto.
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