quarta-feira, 29 de outubro de 2014

As nossas Malalas

A história de Malala Yousefzai é bem conhecida: tendo teimado, contra os dirigentes talibans do seu país em ir à escola, acabou baleada e, tendo sido resgatada da morte, tornou-se uma líder mundial advogando o direito de todas as crianças usufruírem do Direito à Educação. Há cerca de duas semanas Malala foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz por esta curta mas intensa e justa dedicação a uma causa tão nobre. À nossa causa como educadores e professores. 

Ao mesmo tempo que a imprensa divulgava a atribuição do Prémio Nobel a Malala outra notícia apareceu. Menos mediática, logo esquecida. Num bairro social do Zambujal – Amadora, durante a noite incendeia-se uma habitação social. Lá dentro estavam cinco crianças a dormir. Os pais não estavam em casa e a mais velha das crianças tinha 13 anos. Quando o fogo se declarou, esta menina de 13 anos carregou ao colo os irmãos para os salvar das chamas e conseguiu salvá-los a todos. Só ela, depois de os ter posto a salvo sucumbiu e veio a falecer. Esta menina era responsável pelos irmãos dado que os pais desempregados e usufrutuários do RSI, não estavam na altura em casa. Era ela que ia pedir comida para dar aos irmãos, era ela, criança/mãe, que assegurava a precária sobrevivência deles. E como seria esta menina/heroína na escola? Talvez uma menina desatenta, talvez com mau aproveitamento escolar. Talvez… não sei… mas iria jurar que não tinha aproveitamento para entrar num curso de educadora de infância. Mas era ela, no dizer de uma vizinha que “Era uma menina lindíssima e muito crescida. Era ela que levava os irmãos à escola e que tratava deles”. Desta menina que no meio de condições duríssimas tratava dos irmãos, que os alimentava, os levava à escola não sabemos muito mais exceto que morreu por não se ter salvo, por ter trocado a vida dela, pela deles. 

Sabem qual é o nome dela? Eu também não sei. Consultei dois jornais, vi duas vezes a notícia na televisão e o nome dela não apareceu. É só “a irmã mais velha”, “a menina de 13 anos”. 

Não sei o teu nome mas para mim tu és feita da mesma matéria de grandeza, de humanidade e de amor que é feita a Malala de que todos sabem o nome. 

Hoje para que não me esqueça de ti vou acender uma luz em minha casa e chorar por dentro pelas crianças que não tendo recebido quase nada, são capazes de dar quase tudo. 

Por: David Rodrigues 

Presidente da PIN-ANDEE

In: 77.ª newsletter da Associação Nacional de Docentes de Educação Especial

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