Os trabalhos de casa têm potencial para aumentar as desigualdades socioeconómicas entre os alunos, defendeu a OCDE, num relatório que analisa o tempo que os alunos de diferentes países despendem nesta tarefa e os efeitos na sua aprendizagem.
Nesse relatório, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) alerta para as diferentes condições em que alunos mais privilegiados e menos favorecidos fazem trabalhos de casa.
Se os mais favorecidos podem quase sempre contar com um espaço em casa com as devidas condições para estudarem, assim como com o apoio da família, que regra geral reforça a importância do cumprimento destas tarefas tendo em vista os resultados escolares, os menos favorecidos lidam muitas vezes com a situação oposta, sem condições em casa para estudar num ambiente calmo e tranquilo, com o tempo muitas vezes ocupado em tarefas domésticas, e sem o apoio dos pais para ajudar nestes trabalhos, por muitas vezes não terem tempo ou capacidade para isso.
"Os trabalhos de casa podem, desta forma, ter a consequência indesejada de aumentar as desigualdades nos resultados escolares dos alunos com origem em contextos socioeconómicos diferentes", lê-se no relatório da OCDE.
A OCDE refere que os professores devem encorajar os alunos com maiores dificuldades a fazerem os trabalhos de casa e sugere, para os casos dos estudantes menos privilegiados, que ajudem a encontrar ambientes onde estes possam fazer os trabalhos de casa de forma tranquila, se isso não for possível nas suas casas.
O relatório compara ainda o tempo médio despendido pelos alunos dos diferentes países a fazer trabalhos de casa, com os estudantes portugueses a usarem menos de quatro horas por semana para realizar essa tarefa, segundo dados que reportam a 2012.
Comparando com 2003, os alunos portugueses passavam em 2012 menos cerca de uma hora a fazer trabalhos de casa.
No topo da lista estão os alunos russos, que passavam, em 2012, cerca de nove horas por semana a fazer trabalhos de casa, ainda assim menos três horas semanais do que em 2003.
Os finlandeses e coreanos são os que despendem menos tempo com os trabalhos, usando por volta de três horas semanais, quando em 2003 estavam próximos das quatro horas semanais.
A OCDE diz que "o decréscimo do tempo usado para trabalhos de casa pode ser o resultado da mudança na forma como os alunos usam o seu tempo livre, refletindo, por exemplo, a importância crescente da Internet e dos computadores na vida dos adolescentes", assim como alterações na forma como os próprios professores encaram a necessidade de atribuir trabalhos de casa.
"As conclusões do relatório PISA 2009 [relatório da OCDE dedicado exclusivamente à educação] apontam para que depois de cerca de quatro horas de trabalho de casa por semana, qualquer tempo adicional investido na realização dessa tarefa tem um impacto insignificante nos resultados dos alunos. As alterações entre 2003 e 2012 no que diz respeito ao tempo usado para fazer trabalhos de casa deixa a maioria dos países da OCDE mais próxima do limiar das quatro horas", lê-se no relatório.
O relatório mostra ainda que em Portugal o tempo médio usado para trabalhos de casa é superior em cerca de uma hora para os alunos mais favorecidos do que para os alunos menos favorecidos, que passam quase cinco horas por semana dedicados aos trabalhos.
Xangai, na China, Itália, Bulgária ou Roménia são exemplos de países e regiões onde o fosso do tempo despendido nos trabalhos de casa entre alunos mais e menos favorecidos é mais acentuado, com diferenças que rondam as cinco horas semanais, em alguns casos.
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