Era uma vez uma escola que tem uma Unidade de Apoio Especializado a Alunos com Multideficiência. Certamente por algum estranho e raríssimo fenómeno, entre os alunos que frequentam aquela unidade não se vislumbravam situações de multideficiência. Numa tentativa óbvia de aproveitar os recursos ali colocados e numa situação que nunca, mas nunca, acontece, a Unidade é frequentada por vários alunos que por alguma razão não “cabem” nas salas de ensino regular mas que .. não apresentam quadros de multideficiência.
A sala de trabalho desta Unidade tem os vidros forrados a papel opaco e os estores a tapar o espaço ainda descoberto das janelas. A justificação para tal “protecção” é que, assim, os “outros”, os normais, não espreitam para dentro. Como se sabe as actividades nas salas de aula devem estar ao abrigo de olhares indiscretos.
À hora dos intervalos os alunos da Unidade ficam também na sala. A justificação é que “não gostam” de estar ao pé dos outros. Está certo, assim ficam onde se sentem bem, a escola é também para isso mesmo, para que os alunos se sintam bem.
Também é importante contar que esta escola é uma escola que “defende e pratica a inclusão”. Seja lá isso o que for.
Esta é uma história inventada e, como tal, não corresponde a nenhuma realidade conhecida. Se isso acontecer trata-se, evidentemente, de uma coincidência a que o escriba é alheio.
Texto de Zé Morgado
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