O grande pedagogo brasileiro Paulo Freire - que tive o privilégio de conhecer pessoalmente numa das minhas primeira visitas de trabalho ao Brasil - gostava de começar a responder às perguntas mais complexas que lhe eram colocadas como o termo “depende…”. Este “depende…” recolocava a centralidade da resposta nas opções, nos olhares, na responsabilidade de quem dá a resposta.
Começar por dizer “depende” dá-nos o oxigénio, o espaço, para exprimir e a nossa visão da perspectiva sobre o que é a “realidade”.
Quando falamos com os professores de Educação Especial sobre de que forma a nossa escola pública se está a tornar mais inclusiva, recebemos respostas frequentemente muito pessimistas.
Ouvimos relatos em que as práticas escolares sancionam e mesmo aprofundam divisões entre os alunos com base no seu comportamento, no seu aproveitamento e às vezes, mesmo em fatores que pensávamos extintos tais como as divisões com base na etnia e no estatuto sócio-económico.
São apresentadas também boas notícias mas estas, normalmente mais circunscritas e mais episódicas. Por exemplo a realização de um excelente evento na escola/agrupamento sobre o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. As boas notícias são muitas vezes mais esparsas e raras do que as notícias de boas práticas sustentadas, apoiadas e parte integrante do património da escola.
Por isso é sempre difícil responder à questão “Mas a inclusão nas escolas está a progredir ou não?”. E eu responderia evocando o Mestre Paulo Freire: “depende”. As pessoas que há mais tempo conhecem o sistema de apoio aos alunos com dificuldades ou o mundo da Educação Especial, não poderão deixar de dizer que há muitos progressos feitos. É certo que há alguns anos havia práticas excelentes e que em alguns casos se perderam. Mas é certo também que essas práticas eram muito circunscritas a certas escolas a certos projetos e pessoas. Hoje, em Portugal, as práticas que se reclamam da Educação Inclusiva estão muito mais disseminadas e a Inclusão tornou-se um assunto de discussão em todas as escolas. Por outro lado, sabemos que a Inclusão é um processo que não floresce se for circunscrito, se for isolado da totalidade da escola e assistimos frequentemente – demasiado frequentemente – a tentativas de tratar a Inclusão como um assunto que diz respeito a uns alunos “especiais”, “diferentes”, “deficientes” que são minoritários ou mesmo residuais na escola.
Estamos a progredir na Educação Inclusiva? “Depende!”. Mas depende também de nós, depende da convicção, da energia, da determinação que tivermos para continuar a lutar para que a Inclusão não seja um acontecimento quase folclórico na escola mas que seja uma prática de e para todos, todos os dias.
É ao trabalho sério e visionário de milhares de profissionais que vamos buscar inspiração para alimentar o nosso compromisso de fazer com que a Educação Inclusiva seja cada vez mais fruto da reformulação dos valores e práticas de ensinar e aprender nas nossas escolas.
Por: David Rodrigues
Presidente da Pin- ANDEE
In: Newsletter da Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, de março de 2012 (1ª Quinzena)
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