O DN de hoje trata com chamada a primeira página uma questão que me parece relevante e sintomática. Durante 2012 metade dos docentes portugueses recorreu a baixa médica.
Esta informação não surpreende. Estudos realizados em Portugal mostram níveis altíssimos de stress e risco de burnout no grupo profissional dos professores portugueses que estão em linha com a realidade de outros países, sobretudo no que concerne ao burnout.
Os factores identificados como mais contributivos para este quadro são a indisciplina, desmotivação dos alunos e a pressão para o sucesso e depois insatisfação com as condições de desempenho, carga horária e burocrática, falta de trabalho em equipa, falta de apoio e suporte das lideranças da escola. O cenário agrava-se no ensino secundário.
Na verdade, os dados só podem surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa parte dos opinadores que pululam pelos media perorando sobre educação.
É fácil avaliar a importância e consequências das situações de mal-estar envolvendo os professores. Alguns dos discursos que de forma ligeira e muitas vezes ignorante ocupam tempo de antena na imprensa, parecem esquecer a importância deste trabalho e das circunstâncias em que se desenvolve.
É complicada a tarefa de professor em algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente guetização social produziram.
Os valores, padrões e estilos e vida das famílias alteraram-se significativamente fazendo derivar para a escola, para os professores, parte do papel que competia(e) à família. Este trabalho é realizado, muitas vezes, sem qualquer tipo de apoio ou suporte, com cada professor entregue a si mesmo.
Importa ainda considerar as variáveis relativas à estabilidade e segurança profissional com milhares de professores a cumprir a sua carreira de poiso em poiso, sem poiso e sem condições e com milhares em mudanças inesperadas ou mesmo perda de segurança na relação laboral. E não nos esqueçamos também da imprescindível necessidade de que o seu trabalho seja avaliado através de dispositivos sólidos, eficazes e justos de forma a proteger a própria classe, os miúdos e as famílias.
Também deve ser ponderada a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. O arranque e funcionamento deste ano lectivo tem sido particularmente elucidativo.
Com muita frequência os professores são injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir à afirmação de uma qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de exercício sadomasoquista, entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas. Também são conhecidos os casos sucessivos de agressão e insulto por parte de alunos e famílias.
A forma como os miúdos, pequenos e maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem e isto contamina a serenidade do processo de trabalho.
É também é imprescindível que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem como seus representantes.
Na verdade, ser professor é uma das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito deveria merecer.
Texto de Zé Morgado
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