Existem matérias que pela persistência de problemas e pelas repercussões desses problemas nos direitos e nas condições de vida das pessoas envolvidas que exigem uma permanente atenção e a luta pela melhoria da situação. Os problemas das pessoas com deficiência e das suas famílias constituem uma dessas matérias.
Nesta perspectiva e dado que hoje se realizam algumas iniciativas no âmbito do Dia Nacional da Paralisia Cerebral, não quero deixar de, mais uma vez, chamar a atenção para as situações complicadas que as pessoas com paralisia cerebral, crianças ou adultos, enfrentam e que têm sido drasticamente agravados com a política cega de austeridade que atropela direitos pois, como é sabido, é justamente no tempo em que as dificuldades mais ameaçam a generalidade das pessoas que se avoluma a vulnerabilidade das minorias e, portanto, se acentua a necessidade de apoio e de políticas sociais mais sólidas, mais eficazes e, naturalmente, mais reguladas.
A vida de muitas pessoas com deficiência é uma constante e infindável prova de obstáculos, muitas vezes intransponíveis mesmo no sentido literal do termo pois vivemos em ambientes e comunidades que em variadíssimas áreas, acessibilidades por exemplo, são pouco amigáveis ou desatentas, com edifícios e serviços e equipamentos inacessíveis a pessoas com mobilidade reduzida ou o "típico" estacionamento em cima dos passeios que cria enormes obstáculos a quem necessita de se deslocar em cadeira de rodas mas não só.
Em termos de educação são conhecidas as dificuldades da falta de técnicos e professores bem como do estabelecimento de políticas e condições educativas favoráveis à educação inclusiva de crianças e jovens com necessidades especiais, bem como de apoios às suas famílias definindo um contexto que nega direitos individuais que não são de geometria variável consoante a "ideologia" ou os "euros" disponíveis.
É ainda particularmente importante e sensível a questão do acolhimento dos adultos e dos custos que a condição de deficiência implica. Relembro um estudo realizado, creio que em 2010, pelo Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, apontava para que uma pessoa com deficiência tenha um gasto anual entre 6 000 e 27 000 € decorrentes especificamente da sua condição e considerando diferentes quadros de deficiência. Este cálculo ficou incompleto porque os investigadores não conseguiram elementos sobre os gastos no âmbito do Ministério da Saúde.
O estudo, para além das dificuldades mais objectiváveis, referenciou ainda os enormes custos sociais, não quantificáveis facilmente, envolvidos na vida destes cidadãos e que têm impacto no contexto familiar, profissional, relacional, lazer, etc.
Os números sobre o desemprego nas pessoas com deficiência são também dramaticamente elucidativos desta maior vulnerabilidade, estima-se que actualmente ronde os 75 %, uma taxa catastrófica.
É verdade, todos o sabemos, que existe uma minoria em Portugal, e não só, que atravessa os tempos de chumbo que vivemos, apenas com ligeiros sobressaltos e sem especial inquietação.
No entanto, existem outras minorias que são, de forma múltipla e acumulada, vítimas destes tempos carregando um fardo demasiado pesado. As pessoas com deficiência e as suas famílias fazem parte desses grupos, integram as minorias a quem falta voz, também por isso a insistência nesta abordagem.
Como sempre afirmo, os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela forma como cuidam das minorias.
Texto de Zé Morgado
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