domingo, 7 de setembro de 2014

CHUMBAR PARA APRENDER ... OU NÃO



Uma experiência muito interessante e bem sucedida no Agrupamento de Escolas de Carcavelos merece reflexão e divulgação. Partindo do princípio de que, afirma o Director, "Não acreditamos que a retenção dos alunos seja a melhor forma de lhes dar sucesso. Só há repetentes se houver mesmo necessidade disso e a decisão tem de ser unânime pelos 13 professores que compõe o conselho de turma", a escola desenvolveu um conjunto de estratégias e objectivos que permitiu passar de Agrupamento com os piores resultados do Concelho de Cascais em 2003 para actualmente ser o segundo melhor e frequentado por 2500 alunos. O Director afirma que "Nós não estamos preocupados com o 'ranking', o sucesso é a transição dos alunos e, nisso, temos hoje uma taxa de sucesso de 97 por cento", o que representa um progresso notável.

Na verdade, muitos estudos, nacionais e internacionais, mostram que os alunos que começam a chumbar, tendem a continuar a chumbar, ou seja, a simples repetição do ano, não é para muitos alunos, suficiente para os devolver ao sucesso. Os franceses utilizam a fórmula “qui redouble, redoublera” quando referem esta questão.

Nesta conformidade e do meu ponto de vista, a questão central não é o chumba, não chumba e quais os critérios ou o número de exames, mas sim que tipo de apoio, que medidas e recursos devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias, desde o início da percepção de dificuldades, de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do chumbo. É necessário diversificar percursos de formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com formação profissional. Importa ainda que as políticas educativas sejam promotoras de condições de sucesso para alunos e professores. O aumento do número de alunos por turma no Ensino Básico e no Secundário é, apenas, um exemplo do que não deve ser feito se, efectivamente, se quiser promover qualidade e sucesso.

Como é evidente este tipo de discurso não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação, uma tentação a que nem sempre se resiste.

Por outro lado, a tendência examocrata que se verifica sustentanto a introdução de mais e mais exames como se, só por existirem, melhorassem a qualidade merece reflexão pois, como tenho afirmado, corremos o risco do trabalho escolar se organizar centrado na preparação dos alunos para a multiplicidade de exames que realizam, ou seja, como me dizia há tempos um professor do ensino secundário, "o trabalho com os alunos é muito interessante mas a partir de certa altura sou eu e eles contra os exames".

Esta perspectiva, mais exames como fonte de qualidade, parece decorrer da estranha convicção de que se medir muitas vezes a febre, esta irá baixar o que é, no mínimo, ingénuo.A "febre" baixa com "tratamento" continuado, adequado e oportuno, como acontece no Agrupamento de Escolas de Carcavelos. 

Texto de Zé Morgado

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