segunda-feira, 8 de setembro de 2014

SERÁ A NOSSA ESCOLA INCLUSIVA?

A lida profissional trouxe-me de novo aos Açores, a Ponta Delgada, respondendo a um convite simpático para partilhar com colegas do mundo da educação umas ideias em torno de “Será a nossa escola Inclusiva?". Acabado de chegar de uma viagem com atraso significativo e com uma janela de hotel virada para uma tarde comum nestas paragens, chuvosa e cinzenta por cima e verde por baixo, estava a pensar no desafio.

Tenho a certeza de que o convite decorre de uma genuína vontade de reflectir sobre esta questão, educação e escola inclusiva. Confesso, no entanto, que estou aflito e preciso da vossa ajuda.

Que poderei dizer sobre "Será a nossa escola inclusiva?" num tempo em que a Educação, no sentido mais nobre e vasto do termo, está revista em baixa, transformando-se cada vez mais em Aprendizagem de competências instrumentais normalizadas e que de Inclusiva tem muito pouco?

Logo de muito novos os miúdos começam a passar por sucessivos crivos, exames escolares ou Classificações de outra natureza. Muitos são identificados por etiquetas, "repetentes", "dificuldades de aprendizagem", "necessidades educativas especiais permanentes", "hiperactivos" "autistas", etc., agrupam-se os miúdos com base nessas etiquetas, do ensino vocacional, às unidades ou escolas de referência e guetizam-se por espaços, entre a escola e as instituições, de novo e cada vez mais.

É verdade que também excelentes exemplos de trabalho em comunidades educativas que, tanto quanto possível e com os recursos de que dispõem, se empenham em estruturar até ao limite ambientes educativos mais inclusivos em que todos, mesmo todos, participem. 

Como sempre afirmo, a participação é um critério essencial de inclusão.

Devo falar do copo meio cheio ou do copo meio vazio?

Existem miúdos que não estão ou não se sentem a fazer parte da comunidade educativa em que estão, não “integrados” mas “entregados”, por várias razões e nem sempre por dificuldades próprias.

Existem pais que não estão ou não se sentem a fazer parte da comunidade educativa em que os seus filhos cumprem os dias.

Existem professores que não estão ou não se sentem a fazer parte da comunidade educativa onde se empenham e querem trabalhar apesar dos meios e recursos tantas vezes insuficientes e desadequados.

Existem orientações normativas e políticas que, sempre em nome da inclusão, acabam por promover ou facilitar a exclusão.

Existem direcções, poucas evidentemente, que gostariam de ver as suas escolas ou agrupamentos mais “bem frequentadas”, alguns miúdos só criam dificuldades e atrapalham os resultados das escolas.

Será a nossa escola inclusiva?

Que devo ou posso responder?

Texto de Zé Morgado

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