segunda-feira, 8 de setembro de 2014

ESCOLA A TEMPO INTEIRO OU EDUCAÇÃO A TEMPO INTEIRO



A propósito desta notícia e sem questionar o empenho dos técnicos e instituições em promover com as crianças o melhor trabalho possível, gostava de partilhar algumas notas.
Sabemos todos como os estilos de vida actuais colocam graves problemas às famílias para assegurarem a guarda das crianças em horários não escolares. A resposta tem sido prolongar a estadia dos miúdos nas instituições escolares radicando no que considero um equívoco, o estabelecimento de uma visão de “Escola a tempo inteiro” em vez de “Educação a tempo inteiro”. Do meu ponto de vista seria também importante que se alterassem aspectos como a organização do trabalho, verificada em muitos países, que minimizassem as reais dificuldades das famílias.

De acordo com o quadro existente e como se vê na experiência de Gaia as crianças podem estar na escola entre as 7:30 e as 19:30, doze horas, é obra!

É preciso o maior dos esforços, equipamentos e recursos humanos qualificados para que se não transforme a escola numa “overdose” asfixiante para muitos miúdos.

É verdade que existem boas práticas neste universo mas também conhecemos todos situações em que existe a dificuldade óbvia e esperada de encontrar recursos humanos com experiência e formação em trabalho não curricular com crianças dos 6 aos 10. Este obstáculo acaba por resultar na réplica com as crianças de aulas e actividades pensadas para pré-adolescentes e adolescentes. O benefício imediato é quase nulo e a consequência a prazo poderá ser a desmotivação, no mínimo.

Já aqui descrevi o horário de um grupo de 1º ano (crianças com 6 anos): trabalham com a professora da turma das 9h às 12 e das 13 e 15 às 15 e 15, e todos os dias têm a seguir dois ou três tempos de 45 minutos até às 17 e 30 ou 18.

Verificamos assim que as crianças estão envolvidas em tarefas de natureza escolar durante um tempo que nestas idades se torna completamente excessivo e contraproducente.

Quero sublinhar que tanto quanto o tempo excessivo de estadia na escola, me inquieta a natureza “disciplinarizada” desse trabalho, ou seja, organizado por tempos, de forma rígida e ocupado com conteúdos e tarefas nem sempre proporcionadas de forma compatível com crianças deste escalão etário.

Assim, corremos o risco de em vez de tentarmos estruturar um espaço que seja educativo a tempo inteiro com qualidade, preenchido na escola ou em espaços e equipamentos da comunidade, assistirmos à definição de uma pesada agenda de actividades que motiva situações de relação turbulenta e reactiva com a escola.
Sendo optimista vamos esperar que tudo corra bem.

Texto de Zé Morgado

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