No Dia Mundial da Consciencialização do Autismo a TSF conta-lhe a história de João Fernandes. Tem 21 anos e foi-lhe diagnosticada a doença aos quatro anos. Não fala e é dependente de acompanhamento contínuo.
Porque vive "na sua própria concha" foge quando a supervisão abranda. Há 15 anos, a notícia do diagnóstico foi um choque para a família e o confronto com uma sociedade sem preparação e sensibilidade para o autismo fizeram com que os pais abdicassem de um emprego estável e tivessem criado o seu próprio negócio para "vigiar" o filho.
Mesmo assim, uma vez mais pelo João, tiveram de o encerrar parcialmente o negócio. Mantiveram a gestão do Parque de Campismo do Luso, mas fecharam o restaurante.
Para o João, o dia começa agarrado a uma bola de futebol. É talvez aquilo que o deixa mais feliz. E diz-se talvez porque ninguém entra no mundo em que vive João Fernandes. 21 anos de um mundo próprio, só seu. A bola rola até à chegada da carrinha do CAO (Centro de Atividades Ocupacionais) de Casal Comba, a instituição que o acolheu recentemente.
Foi entre os três e os quatro que Ana Maria e Sílvio Fernandes perceberam que algo de errado se passava com o mais novo dos quatro filhos. Deixou de falar, de lavar os dentes ou de se vestir sozinho. Sintomas que confundiram até os médicos, que lhe diagnosticaram uma surdez. «Começou a esconder-se atrás do sofá e a não responder ao chamamento. Começou a urinar de novo nas calças. Imediatamente vimos que alguma coisa se estava a passar. Levámo-lo para um centro de desenvolvimento em Coimbra e eles acharam que o João estava a desenvolver uma surdez», conta.
O João não estava surdo e os pais não queriam ouvir, meses depois, o verdadeiro diagnóstico. O autismo era um mundo ainda mais desconhecido em 1996.
Já são décadas de luta para consciencializar a sociedade que os rodeia, incluindo a própria escola. «Foi um virar de vida porque onde vivemos não havia escola adequada para o colocar. Os professores já andavam apavorados, mas eu tinha que o matricular. Houve, logo à partida, uma rejeição».
Acabou por ir para a primária do Luso, onde foi criada uma sala Teach, entretanto encerrada. O João passou para a Mealhada, a 6 quilómetros de casa, na adolescência. Mas, à medida que foi crescendo foram diminuindo as ofertas e os últimos anos foram passados na Palhaça, perto de Aveiro. Sem transporte assegurado para os 150 quilómetros diários, de ida e volta, os pais fecharam o restaurante que geriam, para continuar a apoiar o filho.
«Resolvemos fechar o restaurante e o pai ia levá-lo todos os dias de manhã, voltava e ia de novo busca-lo ao final do dia. Isto aconteceu durante quatro anos e meio, mas fomos sempre batalhando outras vagas mais perto de nós», acrescenta.
A boa notícia chegou a 23 de dezembro do ano passado. O João vinha finalmente para mais perto de casa. Com ela, a esperança de reabrirem o restaurante.
Aos 21 anos, João Fernandes, é um autista que não fala e os pais acham que a sociedade ainda não está preparada para a diferença. Mas, pretendem com pequenos passos fazer chegar longe a mensagem e por isso «não escondemos o João de ninguém e vai connosco para todo o lado».
No Dia Mundial da Consciencialização do Autismo, o Parque de Campismo do Luso terá a sua receção decorada em tons de azul, aderindo assim ao movimento "Light It Up Blue", que pretende apelar à atenção da população em geral para a doença.
Miguel Midões
In: TSF
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