terça-feira, 24 de julho de 2012

Autismo carece de diagnóstico

O autismo afecta 67 milhões de pessoas em todo o Mundo. Em Portugal não há números oficiais, mas os dados indicam que há 100 mil crianças e jovens com perturbações do desenvolvimento, onde se inclui o autismo. 

Os sinais da doença nem sempre são valorizados pelos pais, que atribuem a mimos ou surdez. O autismo é "uma perturbação neurobiológica complexa", designada, actualmente, de Perturbação do Espectro Autista (PEA). A partir de dados norte-americanos, a proporção de casos é de 1 em 80, explica o neuropediatra Nuno Lobo Antunes.

A doença não tem cura e afecta mais o sexo masculino. "Não existem medicamentos que curem o autismo, embora sejam úteis devido à probabilidade de ansiedade. Utilizam-se técnicas comportamentais para tentar melhorar o comportamento das crianças. Quanto ao género predominante, há quem afirme que os rapazes têm até dez vezes mais do que as raparigas", refere.

As PEA começam antes dos três anos de idade e permanecem durante a vida da pessoa. "Um diagnóstico precoce permite uma intervenção rápida, com apoio de um psicólogo, terapeuta da fala e técnico psicomotricista. Há que interpretar os sinais de alerta para melhorar a sociabilização dos doentes", refere a presidente da Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo de Lisboa, Maria Paula Figueiredo. Para as associações do autismo, o problema reside no número de crianças sem diagnóstico que são afastadas de qualquer resposta social.

"NASCE-SE AUTISTA", Nuno Lobo Antunes, Neuropediatra

Correio da Manhã - Qual a perturbação do desenvolvimento que mais afecta as crianças portuguesas?

Nuno Lobo Antunes - O défice de atenção, mais associado à dislexia, lidera o topo das disfunções de desenvolvimento. Logo a seguir vem o autismo.

- A origem do autismo também está nas emoções?

- Não há ligação definida entre aspectos emocionais na gravidez e o aparecimento do autismo. Nasce-se autista, resulta de uma disfunção cerebral.

- Ter já um filho autista aumenta a probabilidade?

- Têm um maior risco, cerca de 3%, incidência semelhante à que se verifica nos gémeos falsos.

O MEU CASO: CATARINA ABREU

"A CATARINA SÓ COMEÇOU A FALAR AOS 5 ANOS"

Catarina Abreu, de oito anos, teve a confirmação de que era portadora de autismo quando tinha dois anos. Antes disso, com 18 meses, a sua educadora já identificara os sinais de alerta.

A menina vive em Torres Vedras, onde frequenta o ensino regular e tem apoio estruturado. Adora brincar sozinha e os legos são a sua brincadeira preferida. "A Catarina só começou a falar aos cinco anos. Ela fala mas não conversa connosco. Isola-se e não aprende porque se distrai muito", conta a mãe, Andreia Abreu.

A primeira dificuldade começa logo pela manhã. A Catarina ainda não tem autonomia para tomar banho, lavar os dentes ou vestir-se sozinha. "Espero pelo dia em que a minha filha será independente. Tive receio quando estava grávida do meu segundo filho [Tiago, de cinco anos], de que ele também viesse com autismo", refere a mãe. Por outro lado, o gasto em terapias é elevado. "São 250 euros para a neuroterapia e a equitação terapêutica. O resto, ela tem na escola". O futuro é, por isso, uma preocupação para os pais da Catarina. "Tenho medo que ela não arranje emprego. Um autista adulto não se insere em lado nenhum. Deviam criar programas de empregos para eles".

Por: Débora Carvalho


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