Conforme foi anunciado muito recentemente, no Calendário Escolar para o próximo ano previa-se que os alunos do 4º ano em risco de insucesso prolonguem as suas aulas por três semanas, no que o MEC designou por “acompanhamento extraordinário”, ou seja, os alunos com aproveitamento acabam o trabalho e os “preguiçosos” e “calaceiros” ficam de castigo mais três semaninhas.
Tive oportunidade de afirmar há dias que a medida que certamente mereceria o aplauso de muitos, é populista, vende bem e é coerente com o ideário do Ministro Crato, quando os miúdos não funcionam, castigam-se, ou eles ou os pais. Também é verdade que não mereceria a concordância de alguns, foi o meu caso.
O MEC clarificou hoje que estes miúdos, maioritariamente de nove ou dez anos sublinho, que ficarão de castigo, terão no fim da pena outro exame, de novo e sempre mais exames.
Antes de mais, reafirmo que os discursos que aqui produzo a propósito da onda de exames e da relação mágica do Ministro Crato com os exames derivam, não do exame, mas da sua estranha convicção de que só por haver exames as coisas melhoram. Não é verdade, muito menos com alunos de nove ou dez anos. Mais uma vez recordo que a existência de exames nacionais obrigatórios para alunos destas idades é quase inédita, na Europa apenas se encontram creio que na Áustria. Tal situação não será certamente por incompetência ou facilitismo de todos os outros sistemas educativos. Não vale pena insistir na ideia de que este discurso é contra os exames, a avaliação regular é imprescindível.
Dito isto, creio que importa notar que o exame do 4º ano é um exame final de ciclo. Parece-me estranho esperar de forma séria que alunos que experimentaram algumas dificuldades ao longo dos quatro anos do ciclo, traduzindo-se essas dificuldades no chumbo no 1º exame, tendo mais três semanas de aulas tenham sucesso na segunda oportunidade, aprendendo todas as centenas de descritores estabelecidos nas metas curriculares.
Muitas vezes tenho afirmado que às dificuldades dos miúdos, para além da óbvia necessidade de trabalho, é fundamental o apoio, a alunos e a professores ao longo do ano lectivo, dos anos lectivos. Não basta mais trabalho, mais do mesmo, no fim para que as coisas funcionem bem.
Assim, quando se detectam dificuldades nos miúdos deveriam ser mobilizados recursos de apoio quer a alunos quer a professores, podendo até implicar para o aluno trabalho acrescido mas, dentro do calendário de todos os outros, ou seja, ao longo do ano.
Com os agrupamentos e mega-agrupamentos é previsível que muitas turmas do 1º ciclo venham a atingir o limite máximo de 26 alunos, (esperemos que não se ultrapasse, para mal já basta assim), com os cortes nos recursos humanos que se verificam e esperam, as escolas terão a maior das dificuldades em providenciar estes apoios de forma continuada e eficaz.
Aguardar que o ano acabe, identificar situações de insucesso no exame e castigar os alunos com mais três semanas de aula é, obviamente mais barato, os professores já não têm os outros alunos e ensinam os “calaceiros”, sendo, portanto, uma notável jogada de manha política, o Ministro Crato aprendeu depressa. Poupa recursos nos apoios educativos que deveriam ser prestados durante o ano, durante ciclo se fosse caso disso, e castiga os preguiçosos, algo sempre bem visto. Para finalizar ainda lhes possibilita, generosamente, mais um exame.
Muito provavelmente, como já tenho afirmado, ainda iremos assistir a exames no final da educação pré-escolar e no final de cada ano lectivo e, porque não para ser mais seguro e rigoroso, exames de admissão ao ciclo seguinte. Então sim, cumpriu-se a missão.
Texto de Zé Morgado
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