Trata-se de uma notícia verdadeiramente histórica e que mereceria o destaque que, provavelmente, não vai ter. Ao que parece, pela primeira vez nas história dos Jogos, um atleta com deficiência intelectual estará presente nos Jogos Olímpicos, Pedro Isidro de seu nome. O atleta vai participar na prova de 50 Km marcha, uma prova de uma extraordinária exigência, para cuja preparação se exigem requisitos de perseverança, empenho e motivação extraordinários, para além, naturalmente de condições físicas adequadas.
A vida de muitas pessoas com deficiência é, na verdade, uma constante e infindável prova de obstáculos, muitas vezes intransponíveis, que ampliam de forma inaceitável a limitação na mobilidade e a funcionalidade em diferentes áreas que a sua condição, só por si, pode implicar. Como é evidente, existem muitas áreas de dificuldades colocadas às pessoas com deficiência, designadamente, educação e emprego em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão são enormes.
Aliás, na peça do Público sobre esta figura notável, são evidenciados muitos desses obstáculos e dificuldades. Do meu ponto de vista, esta notícia não deveria estar na secção de desporto, deveria ser título primeiro na secção política.
Reafirmo algo que recorrentemente subscrevo, os níveis de desenvolvimento das comunidades também se aferem pela forma como lidam com as minorias e as suas problemáticas.
Provavelmente o feito desportivo de Pedro Isidro não terá o relevo que merecia. As primeiras páginas, mesmo no desporto, não são para estes indivíduos, as pessoas com deficiência não têm "glamour", não enchem estádios e fazem gastar milhões, não são colunáveis, são apenas, simplesmente, campeões, a sério.
Texto de Zé Morgado
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