Tenho constatado a ocorrência de fenómenos muito perturbadores em contexto escolar, que gostaria de partilhar, na medida em que em nada contribuem para o tão apregoado sucesso dos nossos alunos.
Um dos fenómenos a que venho assistindo há bastante tempo é a desmotivação quase generalizada do pessoal docente. Sendo a motivação o impulso interno que leva à ação e tendo esta uma importância determinante para o bom desempenho de qualquer trabalhador, então algo de muito errado se passa.
Sei que a mudança é necessária, e que todos nós estamos a ser submersos por uma vaga de mudança que não está a ser fácil de digerir, mas a onda da desmotivação docente permanece há já muito tempo. Por isso, temo as consequências nefastas que esta possa trazer à educação e, em consequência, ao nosso país!
Como motivar os alunos, estando os professores profundamente desmotivados? Seria importante refletir sobre as causas desta situação e tomar medidas para a inverter.
O ritmo a que a legislação muda é outro fenómeno assustador! O que hoje é verdade amanhã é facto completamente obsoleto! O ritmo de produção de novas leis, a alterar o que já estava legislado e há pouco tempo, é tal que duvido muito que haja tempo para fazer uma reflexão cuidada das implicações que tais leis possam trazer. Quando as regras se alteram a "meio do jogo", então tudo se complica ainda mais.
Posso dar um exemplo em que eu, como responsável pelo Serviço de Psicologia e Orientação, estou diretamente implicada, juntamente com os alunos que orientei no âmbito do processo de orientação escolar e profissional.
O Decreto-lei n.º139/2012 de 5 de julho, vem alterar as regras de acesso ao ensino superior, para os alunos que frequentam cursos profissionais. Como esta lei surgiu já depois do final do ano letivo e já depois de finalizado o processo de orientação escolar e profissional, os alunos dificilmente poderão refletir no impacto que as novas mudanças terão nos seus projetos. Para os alunos que já frequentam os cursos profissionais, as regras mudam sem ter em conta os pressupostos em que estes tomaram as suas decisões. Quanto aos elementos dos órgãos de gestão das escolas, eu questiono se terão tempo para dormir, pois durante o dia têm múltiplas tarefas a realizar e, à noite, terão de ler páginas e páginas do Diário da República. Se não o fizerem, terão certamente pesadelos diurnos, cujo conteúdo será, eventualmente, uma nova lei que não foi lida, a persegui-los até à loucura!
Mas o pior ainda está para ser relatado. Tenho assistido a um enorme corte do pessoal docente nas escolas, que não se justifica pelo excesso de professores, mas por medidas gravosas que põem em causa a qualidade do ensino (aumento do número de alunos por turma, diminuição do tempo letivo de várias disciplinas, fim do Estudo Acompanhado e da Formação Cívica, etc.). Os professores contratados são simplesmente despedidos. Os dos Quadros são obrigados a concorrer a outras escolas. Os critérios para selecionar os professores dos Quadros que saem são cegos: professores excecionais, com elevadas competências técnicas e humanas, são, em muitos casos, os primeiros a sair. Sem exagerar, alguns dos que mais trabalharam para a escola são os que são obrigados a procurar outra, pois aquela onde estavam já não tem vagas para eles.
Para que serve a avaliação docente? Nestas situações não deveria ser tida em consideração? Como é que professores que foram avaliados com "excelente" são colocados fora só porque se encontram no fim da lista graduada? Para os que ficam a mensagem é "Trabalhar mais e melhor não é certamente o mais importante, pois tudo passa pela posição ocupada na lista graduada". Agora provem-me que esta decisão de cortar o pessoal docente, e com estes critérios, foi bem ponderada e que foi a melhor para aumentar a qualidade do ensino e a motivação dos professores!
Como gostaria que esta reflexão tivesse algum contributo para a mudança positiva!
Por: Adriana Campos
In: Educare
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