Armando Baltazar, de 58 anos, é surdo total bilateral desde o dia em que fez 13 anos, após meningite. A esposa, Glória Baltazar, com 57 anos, é surda total desde os 18 meses, também devido a meningite. A vida do casal da zona do Porto não foi fácil, mais ficou mais agradável desde que ganharam a companhia da Lana, a primeira cadela de assistência a surdos em Portugal. Com quatro anos, de raça piquenois, o animal tem prestado uma ajuda técnica crucial, sendo simultaneamente uma preciosa companhia.
A história de Armando e Glória Baltazar, contada na primeira pessoa, comoveu ontem os estudantes da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, que assistiram à palestra “Cães de assistência para surdos”.
O evento contou com a presença de Liliana de Sousa, presidente da Ânimas (Associação Portuguesa para a Intervenção com Animais de Ajuda Social), que explicou como o animal presta a ajuda a surdos. «No fundo alertam as pessoas que não conseguem ouvir para determinadas fontes sonoras, como a campainha da porta, o som do micro-ondas ou alarmes de incêndio. O cão vai chamar o dono, tocando-lhe com a pata, e indicando de seguida o local de onde veio o som», afirmou a especialista.
Os cães treinados para ajudar pessoas cegas já são relativamente conhecidos entre os portugueses, mas os animais de assistência para surdos são «uma realidade ainda desconhecida». «Há muitos surdos que não sabem que há cães para surdos», garantiu Liliana de Sousa durante a conferência, que contou com uma técnica de língua gestual.
Armando Baltazar, que frequenta o curso de Língua Gestual Portuguesa na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), fazendo-se acompanhar nas aulas pela Lana, não entende porque os surdos portugueses não aproveitam o potencial dos cães de assistência. «Não compreendo porque somos os únicos a aproveitar esta ajuda importante», declarou.
O recurso a cães de assistência proporciona benefícios físicos e psicológicos. «As pessoas surdas tornam-se mais independentes, conseguem fazer a sua vida, aumentando a auto-estima e a auto-aceitação», explicou Liliana de Sousa.
A vertente social também é potenciada. «Sem um cão pouca gente fala com uma pessoa com deficiências, mas com um cão muita gente inicia a conversa com a pessoa com deficiência», concluiu a presidente da Ânimas.
Surdos são alvo de discriminação
Preparar um cão de assistência é um processo complicado, que envolve várias fases e exige mais de seis meses de treinos. Depois é ainda necessário que os donos aprendam a dar as ordens ao animal e que o cão se adapte às necessidades específicas dos novos donos.
Estes cães, que podem ser identificados por um colete especial, são educados e habilitados a frequentar locais públicos sem nunca saírem de perto dos donos e sem incomodar os outros utentes, mas há ainda quem não compreenda esta realidade, não respeitando os direitos dos cidadãos surdos.
«Encontramos gente civilizada, mas ainda há quem não acredite em nós ou não nos respeite. Uma vez um segurança de um centro comercial não me deixou entrar, nem depois de eu lhe mostrar os documentos e alertá-lo para a lei. Apresentei queixa e, uns dias mais tarde, quando lá voltei, fui muito bem tratado. Só faltava estenderem uma passadeira vermelha. Desde pequeno que estou habituado a dar murros na mesa, a lutar pelos meus direitos», afirmou Armando Baltazar.
O estudante da ESEC adiantou ainda que, graças à Lana, pode dispensar o uso de algumas tecnologias criadas para apoiar os surdos. «A Lana desenvolveu características para as quais não tinha sido educada, adaptando-se muito bem a nós», concluiu.
Cães com treino são cedidos de forma gratuita
A conferência de ontem, organizada por alunas do 3.º ano do curso de Audiologia da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, promoveu também o serviço prestado pela Ânimas, uma associação sem fins lucrativos que visa ceder de forma gratuita cães de serviço e cães para surdos. A entidade, com sede no Porto, pode ser contactada através da internet (http://www.animaspt.org) ou dos contactos 918157456 / 933321244 / 226067600.
A Ânimas promove actividades e terapias assistidas por animais, bem como acções de formação e trabalhos de investigação. É constituída, em regime de voluntariado, por técnicos de saúde, psicólogos, médicos, veterinários, instrutores de cães de assistência e professores universitários.
O principal objectivo da associação é proporcionar aos indivíduos com deficiência um recurso habilitador que aumenta o seu nível de independência e auto-estima.
Muito bom!!
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