TIC, Tecnologias de Informação e Comunicação, entraram no vocabulário corrente da comunidade educativa. Professores, alunos, pais e encarregados de educação aprenderam a conviver com as novas ferramentas tecnológicas. Os docentes usam-na diariamente, os estudantes de hoje pertencem à geração do computador e os pais estão cada vez mais sensibilizados para a utilização das TIC. Um uso em que todos saem a ganhar, desde que não sejam cometidos excessos.
Vasco Sousa, professor do 1.º ciclo numa escola de Albufeira, neste momento está dispensado da componente lectiva para ser coordenador e defende a utilização das TIC sem pestanejar. "É muito benéfico em contexto escolar até por uma questão de motivação e aprendizagem para alunos e professores", afirma. A utilização das novas ferramentas é assim analisada de forma positiva, quanto mais não seja em prol do desenvolvimento do percurso educativo.
A identificação é uma componente importante. Vasco Sousa explica. O facto de os alunos encontrarem nas escolas um objecto familiar, um computador, que usam por motivos lúdicos em casa, e aperceberem-se das potencialidades desse recurso na aprendizagem é um factor essencial. O ensino fica a ganhar. "As novas tecnologias induzem a melhores aprendizagens", sublinha o docente. E a adaptação não é um processo complexo tanto mais que as novas gerações já nasceram com computadores nas mãos. "Uma criança consegue aprender um malabarismo informático do computador mais rapidamente." Vasco Sousa tinha 30 anos quando teve um computador na escola. Os professores mais novos pertencem à geração das novas tecnologias, os mais velhos "têm sabido adaptar-se" à nova realidade. "Até porque é para aí que caminhamos."
A Internet tornou-se indispensável e Paula Canha, professora de Biologia e Geologia da Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves, em Odemira, garante que é impossível trabalhar sem ela em quase todas as aulas da Área de Projecto do 12.º ano e também no Clube de Ciências. "Desde os contactos com as universidades e com pessoas que são tutores dos projectos até à pesquisa de informação, já nada funciona bem sem um computador ligado à Internet." As TIC são preciosas para a apresentação de trabalhos.
Na sua opinião, há professores bem preparados para trabalhar com as TIC e outros nem tanto. "É uma área em que estamos sempre a necessitar de mais formação porque a evolução dos meios disponíveis é muito rápida", sublinha. E nem sempre o factor idade é razão para não querer aprender. A apetência para introduzir inovação é também importante. "Há professores que, independentemente da idade, não estão muito abertos à introdução de tecnologias no seu método de ensino." Paula Canha acrescenta: "Isto não é necessariamente mau, uma vez que, por vezes, são excelentes professores e com resultados muito bons; mas também penso que se isto é possível em Português ou Filosofia, já nas ciências é quase imprescindível acompanhar o avanço das tecnologias."
PowerPoint, animações em Flash, programa Modellus, plataforma Moodle, Escola Virtual. Alexandre Costa, professor de Físico-Química na Secundária de Loulé, considerado o professor do ano, recorre a várias ferramentas dependendo das situações e meios disponíveis. "A democratização da Internet, conjuntamente com a generalização de jogos multimédia entre as gerações mais jovens, faz com que o docente, na sua prática, tenha de utilizar, entre o seu leque de estratégias, métodos interactivos que envolvem as novas tecnologias". O docente defende uma reflexão sobre a utilização apropriada das TIC. E deixa um reparo: "A utilização das TIC não deve ser vista como um maná que resolve todos os problemas. Uma utilização compulsiva das TIC, forçando a sua utilização mesmo quando não há necessidade da mesma, sem variar estratégias, pode ser mais nefasta que positiva".
Alexandre Costa faz mais uma observação relativamente aos quadros interactivos que, sublinha, "representam um grande gasto energético, o que tem implicações ambientais a montante". "Por esse motivo, não considero apropriado que o quadro interactivo seja utilizado como um mero substituto do quadro tradicional a giz, como já vi acontecer", acrescenta. Seja como for, há cada vez mais docentes rendidos às TIC. "Existem professores que se adaptam muito rapidamente às novas tecnologias e fazem a sua auto-formação e outros cuja adaptação é menos expedita e que apenas utilizam as novas tecnologias quando recebem formação específica", refere.
Cidadania digital
Rui Alexandre, professor de Educação Tecnológica e de Artes Visuais, olha para as TIC como mais uma ferramenta de apoio "a algo já adquirido de uma forma 'não virtual'". "Se estou a dar um módulo de fotografia, primeiro faço uma introdução teórica, seguida de uma aplicação teórica seguida de uma aplicação prática com máquinas fotográficas analógicas e, por fim, revelação em laboratório". Só depois é que introduz o processo digital com a explicação da linguagem informática, prática de fotografia digital, manipulação digital em computador. Posteriormente, é feita a analogia entre os dois processos: analógico e digital. Rui Alexandre recorre bastante a programas de manipulação de imagem e design vectorial que lhe permitem, na docência, maior experimentalismo e ferramentas de apoio ao aluno.
O professor recorda o ditado: "quem não recebeu também não pode dar". "Não se pode exigir uma forte adesão dos professores às TIC quando nunca foram preparados para muitos desses recursos. E por recursos entendo não só a linguagem dos programas, como também toda a parte conceptual que envolve o projecto no qual estão contextualizados." Motivação é, em seu entender, o que faz a diferença. "Independentemente da idade só quem tem motivação para se adaptar ao presente, em constante evolução, terá um bom desempenho".
Tito de Morais, fundador do sítio "Miúdos Seguros na Net", defende que a utilização das TIC na escola deve abranger vários aspectos como a etiqueta, a comunicação, a literacia, o acesso, comércio, lei, direitos e responsabilidades, saúde e bem-estar, segurança digital. Cidadania digital. Mais além do que a simples utilização das TIC. Em seu entender, há ainda um caminho a percorrer quanto à preparação. "Todos os esforços têm-se focado nas infra-estruturas, enquanto os investimentos no domínio da formação e dos conteúdos estão ainda por fazer. Tal, a par da actualização dos curricula, são elementos essenciais para que as TIC na sala de aula sejam uma realidade." "Neste domínio, os professores estão muito entregues a si próprios", acrescenta.
A sua percepção é que os docentes mais jovens recorrem mais às TIC do que os mais velhos. "A razão para tal, explica-se facilmente pelo facto de os docentes mais jovens já terem nascido rodeados por estas tecnologias e foram formados recorrendo a elas no seu percurso académico." Enquanto os professores mais velhos têm "de se familiarizar com a sua utilização, antes de se sentirem à vontade para as usarem com os seus alunos".
Por: Sara Oliveira
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