O nosso ministro da educação acaba de publicar na revista “Veja” do Brasil uma entrevista “Contra a Demagogia na escola”. Sem prejuízo de uma tomada de posição mais fundamentada, dou conhecimento o texto que mandei para a “Veja” sobre a entrevista.
E como sempre com um abraço amigo,
David
Conta a demagogia de Nuno Crato
Em Portugal há um provérbio popular que diz que “um mal nunca vem só”. Portugal encontra-se numa situação financeira e económica muito difícil e as receitas da “austeridade a todo o preço” conduziram o país a um maior deficit e mais desemprego do que tinha antes da crise se instalar. Mas, “um mal nunca vem só” e, junto com esta crise, florescem as ideias conservadoras. Para muitos políticos a solução está em olhar para trás, em adotar políticas conservadoras, enfim, o regresso “aos bons velhos tempos”. É este o caso da entrevista ao Ministro da Educação de Portugal, publicada na revista “Veja” de 5 de Junho passado. Nuno Crato, nesta entrevista omite que Portugal fez nas últimas décadas decisivos avanços em todos os setores da Educação como é demonstrado por estudos transnacionais como o PISA. Ignora, que Portugal conseguiu desenvolver, com a competência e dedicação dos professores, uma escola pública de qualidade e a tempo integral, áreas de enriquecimento curricular, com projetos estimulantes e decisivos avanços na equidade e no apoio à aprendizagem. Em lugar de explicar porque é que o sistema educativo português conseguiu no espaço de uma geração tão significativos resultados, Nuno Crato vem acusar a educação de “construtivismo ingénuo” (será uma teoria da sua autoria?), opõe as neurociências a Jean Piaget (um pouquinho de estudo seria útil…), diz que o “treino tem que ser exaustivo: tem que se ler muito mesmo sem gostar” (afinal a leitura pode ser uma punição…) e diz que “um mestre tem o dever de transmitir aos seus alunos os conteúdos nos quais se graduou” (esta frase é candidata ao óscar do conservadorismo…). O ministro da Educação de Portugal apresenta-se como um opositor do sistema educativo que as organizações internacionais consideram um caso de sucesso (e de que ele ironicamente é o herdeiro). Não é pois de estranhar que exista uma inusitada unanimidade de discórdia com esta política por parte dos especialistas em Educação em Portugal. Nuno Crato dirige a Educação em Portugal olhando para o retrovisor e todos nós gostaríamos que ele conduzisse a olhar o para-brisas. Mas enfim, a crise há-de passar e este ministro também… É que em Portugal nós acreditamos que “um bem nunca vem só”.
David Rodrigues
Professor Universitário
Presidente da Pró .- Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial.
Via: Facebook
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