segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Preparando o fim do Ensino Unificado

Sabemos que atualmente existe nas escolas uma diversidade de alunos maior que antes. Hoje e felizmente, todas acrianças e jovens têm acesso a uma educação pelo menos até ao 9 º ano de escolaridade. Assim a seleção deixou de se fazer no final da antiga quarta classe e manteve os alunos na mesma escola durante mais tempo. Não é pois de estranhar que as escolas registem que os alunos são agora mais diferentes que antes dado que antes só continuava a estudar uma minoria. Há pois uma maior diversidade de alunos nas escolas atuais.

Existem duas maneiras fundamentais das escolas responderem à diversidade: a primeira é criando vias alternativas e a outra é apoiando em via unificadas os alunos que precisam mais prementemente de fazer percursos personalizados de aprendizagem. A primeira via – aquela que aponta para que os alunos devam ser precocemente encaminhados para vias diferenciadas – é adotada em alguns países europeus nomeadamente na Alemanha. Este sistema procura não só separar bem cedo no percurso escolar os alunos conforme as capacidades que eles demonstram nesta fase da sua vida, mas também encontrar alguma homogeneidade entre os grupos que assim são separados.

Ora, mesmo com grupos separados, a homogeneidade continua a ser uma quimera e procurar “simplificar” o ensino através da homogeneidade dos alunos é reconhecidamente um erro. Como se sabe. e mesmo fazendo fé na correção dos instrumentos e dos critérios que permitiriam uma adequada orientação de currículo em idades tão baixas, é muito pouco provável que estes julgamentos possam ser fiáveis durante toda vigência da escolaridade. A questão é que apesar de se propagandear a possibilidade de se mudar de via, essa possibilidade é sempre muito restrita. Até porque o jovem tem tendência a adotar os comportamentos que dele são esperados e portanto a tudo fazer para que a sua orientação escolar que lhe foi dada dê certo. 

A segunda via é a que temos atualmente nas nossas escolas: uma via comum nos 9 anos de escolarização. Para que esta via funcione é essencial – tendo o currículo características mais comuns – que haja apoio na escola para que os diferentes grupos de alunos possam progredir conforme o seu ritmo. Sabemos que a carência de recursos afeta muito fortemente esta via dado que, se eles faltarem, isto é se o aluno não tiver o apoio que precisa e quando precisa, vai-se agigantar o insucesso escolar, o abandono e os problemas de comportamento. Para um analista desprevenido isto quer dizer que é preciso investir em vias diferenciadas; para um analista conhecedor, isto quer dizer que o sistema não está a apoiar, a mobilizar os recursos que deve para promover o sucesso do aluno.

A opção pelas vias diferenciadas está lenta e capciosamente a instalar-se no nosso sistema educativo. Vou dar um exemplo: os presentes programas de Matemática e Língua Portuguesa que estão em discussão pública, foram já qualificados pelos representantes dos professores como “demasiado complexos”, “centrados da literatura” e “impossíveis de serem cumpridos”. O Ministério da Educação defende-se dizendo que é um mera atualização dos programas. Mas, se os programas ficam mais difíceis, mais abstratos, mais ex-tensos o que é que vamos esperar? É que cada vez mais alunos não sejam capazes de os acompanhar. E para onde vão estes alunos? Para as vias alternativas, é claro. Sobe-se a fasquia para encaminhar com razões óbvias alunos para “outras” vias.

Outro exemplo é de como proliferaram os currículos alternativos: inicialmente uma experiência pedagógica expandiram-se exponencialmente neste ano letivo.

Ainda outro exemplo é a falta de recursos com que se debatem as escolas para atender alunos com necessidades educativas especiais. Sem estes recursos o que resta? (Re)Enviar estes alunos para as escolas especiais ou criar currículos “do fundo do quintal” para os educar.

Mais exemplos poderiam ser da-dos mas o importante é estarmos cientes que estamos a trilhar o caminho para o fim do ensino uni-ficado tal como o conhecemos. Sei o que muitos pais poderão pensar: estas vias alternativas vão beneficiar o percurso do meu filho por-que ele vai deixar de estar numa escola tão heterogénea. Mas tenham atenção: o vosso filho pode ser daqueles que vai para “outras vias” e depois a sua mobilidade escolar será restrita. Quase todas as pessoas que são agora pais, foram educadas em vias unifica-das. E ainda bem, certamente muitos deles devem a esta abertura a sua possibilidade de mobilidade social

Por: David Rodrigues

Professor Universitário; Presidente da Pró – Inclusão –Associação Nacional de Docentes de Educação Especial

In: 65ª newsletter da Associação Nacional de Docentes de Educação Especial

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