Um sofrimento muitas vezes solitário e silencioso
São cada vez mais os casos de pais que acorrem até mim para fazer uma avaliação compreensiva de dislexia do seu filho(a).
Chegam a maior parte das vezes com o coração demasiado apertado dizendo que já não sabem mais o que fazer. É o acompanhamento dos trabalhos de casa por eles mesmos, são as explicações, são os apoios escolares e nada parece resultar.
- "O meu filho não aprende como os outros. Tem imensas dificuldades na leitura e a escrita... é só erros!
Estas perguntas antes de serem feitas pelos pais ou pelos professores já há muito habitam na cabecinha da criança. Ela é a primeira a constatar que é diferente dos seus pares, ela é a primeira a perguntar-se: "Se os meus amigos conseguem ler e escrever corretamente, porque é que eu não sou capaz?"
É a partir desta constatação sofrida que a autoestima do aluno começa a baixar significativamente ao ponto de se julgar "burro", menos capaz, menos inteligente... Tudo "menos".
Confirmado o diagnóstico de dislexia urge desmistificar o termo junto dos pais e sobretudo junto do aluno. Ser disléxico nada tem a ver com inteligência, aliás estes alunos apresentam um Q.I. igual ou superior ao esperado para a sua faixa etária.
Quando lhes digo isto, eles suspiram sempre "quase" de alívio, como se uma tonelada de problemas se esbatesse ali mesmo! Digo-lhes, ainda, que a nossa "missão" para além de uma reeducação especializada é descobrir a sua área forte (normalmente, ligada às artes, música, desporto...). E eles ficam muito surpreendidos pela possibilidade de descobrir essa "tal área forte"! E de facto esta "descoberta" é muito importante, será uma forma de eles recuperarem a sua autoestima, o seu autoconceito e de voltarem a gostar de ir à escola.
O diagnóstico, a desmistificação, a reeducação nos processos da leitura e da escrita acrescida à descoberta e otimização da área forte de cada um, diz-me a experiência, são fatores-chave para ultrapassar o sofrimento solitário e silencioso de que estas crianças e jovens são "vítimas" durante muitos anos, quando não diagnosticadas.
O aluno com dislexia devidamente intervencionado pode fazer tudo o que os outros fazem, com o dobro do esforço é certo, mas com a firmeza na crença de que nada o impede intelectualmente.
Estes alunos devem ser referenciados nas escolas pelos pais ou professores ou técnicos de saúde, terapeutas... o mais precocemente possível, para que seja elaborado um relatório técnico-pedagógico para poderem usufruir de algumas medidas educativas consagradas no Decreto-Lei 3/2008, nomeadamente: apoio personalizado (fundamental); adequações no processo de avaliação (não cotação dos erros tipo, por exemplo, a leitura dos enunciados, provas escritas mais curtas e frequentes...) e em última estância dependendo caso a caso, as adequações curriculares. Estas medidas farão parte do programa educativo individual do aluno e protegê-lo-ão legalmente, incluindo nos exames nacionais.
Por: Manuela Cunha Pereira
In: EDUCARE
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