“Eles e elas aprendem melhor separados” era o título de uma extensa entrevista feita com um professor americano – David W. Chadwell – que foi publicada no número 354 da revista “Sábado”. Basicamente este professor defende que rapazes e raparigas aprendem melhor – ficam mais bem preparados e confiantes – se forem educados em escolas separadas por género.
Para as pessoas, entre as quais eu me incluo, que defendem a Inclusão na Educação este assunto merece uma reflexão. Vale a pena continuar a procurar a homogeneidade na escola? Rapazes para um lado, raparigas para o outro, alunos com deficiência para um lado, alunos sem deficiência para o outro, alunos ciganos para um lado, alunos não ciganos para o outro, etc. etc.? O assunto é extenso mas deixarei algumas opiniões que possam animar a discussão:
Para as pessoas, entre as quais eu me incluo, que defendem a Inclusão na Educação este assunto merece uma reflexão. Vale a pena continuar a procurar a homogeneidade na escola? Rapazes para um lado, raparigas para o outro, alunos com deficiência para um lado, alunos sem deficiência para o outro, alunos ciganos para um lado, alunos não ciganos para o outro, etc. etc.? O assunto é extenso mas deixarei algumas opiniões que possam animar a discussão:
1. Antes de mais o autor chama a esta divisão de género “diferenciação”. Ora nós pensamos que diferenciar (por exemplo o currículo) é proporcionar estratégias e, eventualmente, objectivos diferentes a alunos diferentes. Mas a diferenciação que o este autor propõe significa separar os alunos “à priori”, isto é, a diferenciação é feita não no ensino mas no recrutamento das escolas e das turmas. É uma ideia digamos, original, de diferenciação.
2. Antes, as escolas eram separadas por género. (Ainda nos lembramos das escolas “centenário” terem de um lado escrito “sexo feminino” e “sexo masculino”). Quando se pensou acabar com esta divisão com base no género isso foi considerado um problema pedagógico. Apareceram então numerosos livros sobre “co-educação” que procuravam resolver os “grandes problemas” que se criariam com a educação conjunta de rapazes e raparigas. Esses livros estão hoje esquecidos porque rapidamente se verificou que afinal não existiam “grandes problemas” e a “co-educação” não era merecedora de tanta estranheza. Regressar a uma educação baseada no género é um anacronismo e retoma um debate que se mostrou não ter pertinência nem relevância.
3. Diz-se que os resultados académicos são melhores se rapazes e raparigas forem educados separadamente. Aqui está uma afirmação que suscita as maiores dúvidas: de que resultados académicos estamos a falar? De todas as áreas? Sob que tipo de ensino? Diferenciado? Uniforme? Em que idades, graus e matérias se verificam estes “melhores resultados”? E, se existem estas diferenças de aproveitamento, então elas devem servir para aprendermos como é que se ensinam os “piores” para chegarem a “melhores”, não para necessariamente para os separar.
4. Por hipótese meramente académica, vamos imaginar que sim, que os resultados académicos são melhores com escolas separadas. Mas... a escola é só resultados académicos? Não deve ser. A escola é uma estrutura complexa e retirar-lhe complexidade é empobrece-la. Por exemplo o que seria uma escola se fosse proibido qualquer conflito? Teria melhores resultados? E se tivesse, ainda assim a quereríamos?
Precisamos de escolas que saibam lidar e não eliminem a complexidade. Ser rapaz ou rapariga é certamente diferente (até porque a construção social de um e de outro é diversa) mas essa diferença está embutida em toda a sociedade e eliminá-la da escola infringe os direitos dos alunos de serem educados numa escola que efectivamente os prepare para uma vida em comum, solidária, capaz de negociação e capaz de reconhecer e aprender com as diferenças dos outros.
Por: David Rodrigues
Presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial
In: 1ª newsletter de Março da Pró-Inclusão: Associação Nacional de Docentes de Educação Especial (PIN-ANDEE)
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