Foi quando assistia a um programa de saúde e bem-estar no canal alemão ZDF que achei que devia escrever sobre birras e fúrias dos miúdos. Todos os dias, muitos pais e encarregados de educação têm de enfrentar ou de conviver com vários tipos de birras das suas crianças, que por vezes degeneram em situações insuportáveis e que podem acontecer em todo lado e a qualquer hora. Quem já passou (ou passa) por isso sabe bem como é embaraçoso, além de provocar grande desgaste emocional, tanto para o adulto como para a criança.
Os pais nem sempre sabem lidar da melhor forma com situações desta natureza, o que por vezes só vem agravar a fúria da criança e acrescentar mais tensão ao momento. Foi exactamente por isso que eu decidi ver com atenção a programa da ZDF, que tinha como tema os diferentes tipos de comportamentos infantis, não só em situações perfeitamente normais, mas inclusive dentro de vários quadros patológicos passíveis de existir nas crianças. Não só assisti com tenção como resolvi procurar mais informação, de forma a poder partilhá-la aqui no blogue A Vida de Saltos Altos.
Não se pode comparar um estado de irritação de uma criança hiperativa com o de uma criança ansiosa (por temer algo), nem com o de uma criança cujo objectivo é apenas a insistência permanente na mesma ideia ou num comportamento que já sabe serem errados.
É por isso essencial que se faça uma distinção entre os maus comportamentos ditos "normais" e os outros, que surgem por patologias clínicas diagnosticadas, como por exemplo têm as crianças com ansiedade crónica ou hiperatividade. Naturalmente que nestes casos deve haver acompanhamento especializado. Para as restantes crianças - as tais com quadros aparentemente normais, mas que tiram os pais muitas vezes do sério -, aqui ficam aqui as respostas a duas das perguntas mais frequentes dos pais. Os esclarecimentos são o resumo da opinião de três especialistas na área comportamental e na saúde infantil: um pedopsiquiatra, um pediatra e um psicoterapeuta infantil.
Diz quem sabe
P - Como se reconhece se uma criança é hiperativa, nervosa ou está apenas ater comportamentos próprios da idade?
R - As crianças hiperativas estão permanentemente irrequietas, impacientes, sob um estado nervoso e de alerta total a toda hora, seja em que situação for. Podem até mostrar agressividade e descontrolo perante situações aparentemente normais.
Já as crianças nervosas não o são constantemente. Revelam agressividade ou fúria apenas em determinadas situações, sobretudo nos momentos em que se sentem sobrecarregadas psicologicamente.
De resto, convém não perder a noção de que certos comportamentos nervosos e irrequietos são perfeitamente normais em certas idades. Não raras vezes, as fúrias, o descontrolo ou as reacções nervosas (que nem sempre passam por mera oposição), são apenas formas de chamar a atenção, de demonstrar aos pais que precisam de encontrar o seu próprio caminho e respostas. Aqui, o auxílio de quem cria é essencial.
P - Qual a melhor forma de se lidar com uma birra descontrolada?
R - Começar por prevenir a birra é um caminho eficaz. Obviamente que nem sempre é fácil de adivinhar quais as situações que podem desencadear uma birra, e consequentemente, evitá-la a tempo. No entanto, pode-se tentar evitar o cansaço ou a excitação em demasia na criança. Por exemplo, num centro comercial em que se perceba que a criança já está a ficar cansada ou muito excitada, deve-se sair a tempo do local, de forma a conseguir controlar as suas emoções. Por outro lado, se for durante uma atividade em que note que a criança já está a ficar sobrecarregada, deve parar imediatamente com essa tarefa e mudar o cenário, antes que fique frustrada por não a conseguir realizar. Neste caso, esta decisão deve funcionar como exceção e não como regra, ou a criança terá dificuldade em lidar com a derrota, o que também não é bom.
Já com a birra em curso, é importante que os pais, ou os seus substitutos, sejam um bom modelo de auto-controlo. Há formas certeiras de lidar perante uma birra descontrolada de um miúdo, mas note bem: a violência não é uma delas. A saber:
a) Sentar-se ao lado da criança, sem dizer absolutamente nada, e esperar até que a raiva se dissipe;
b) Mudar de local (se for um sítio público), ou seja, mudar de cenário. Não repreender enquanto a criança estiver descontrolada. Pode e deve conversar com ela, assim que se comece a acalmar;
c) Se a criança começar a ser agressiva, a bater nos pais ou nela própria, deve evitá-lo, segurando-a com determinação e, se possível, levando-a para um local plano e sem perigos, para que possa espernear à vontade;
d) Tentar distrair a criança, com outra coisa que ela aprecie habitualmente;
Lembre-se que, mesmo utilizando estas técnicas, as crianças fazem birras para chamar a atenção dos pais para os levar a fazer aquilo que eles querem. É importante não ceder. As crianças precisam de ouvir um "não" quando as coisas são perigosas ou inadequadas e têm de aprender que as regras devem ser respeitadas.
É importante que explique sempre a base das suas tomadas de decisão. Os miúdos não são tontinhos apenas por serem miúdos, pelo contrário, são exigentes na compreensão do que lhes é imposto, por isso, não resuma as decisões que lhes são penosas a um simples "porque não". Explique. Mesmo que continuem sem querer aceitar ficam com o quadro referencial que está na base dessa decisão. Além do mais, lembre-se que todos os dias eles crescem e que se se limitar ao "porque não", prepare-se para ouvir o mesmo quando forem maiores e os questionar sobre algo que quer saber. Aí, esqueça a expressão "Porque não, não é resposta". Foi você que os ensinou que era.
Por último, convém recordar o que todos os pais e educadores sabem: o amor é a base saudável de qualquer processo educativo e a que mais frutos colhe de sucesso no futuro. Ame as suas crianças incondicionalmente e verá que até das birras se tira proveito: o do prazer da reconciliação.
Por: Ana Real
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