quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sou uma mãe preocupada...


"Sou uma mãe preocupada. A minha filha foi adotada há cerca de três anos e meio, tendo ela na época 4 anos e meio. Tinha vários problemas, ao nível da fala, da audição e da visão. Tem sido acompanhada na Faculdade de Psicologia do Porto.

Aquando da sua entrada na pré-escola, começou a notar-se muitas dificuldades ao nível da aprendizagem. Contudo não seria de esperar outra coisa, dadas as circunstâncias de vida da minha filha. 

A pedopsiquiatra receitou-lhe ritalina e, segundo a professora, o seu comportamento melhorou. Feito um teste cognitivo pela psicóloga, os resultados, segundo a sua opinião, não são alarmantes tendo a menina um atraso de oito meses comparado com crianças portuguesas padrão e da mesma idade - 7, 8 anos. Contudo no mundo da psiquiatria infantil os resultados obtidos pela minha filha são avaliados como tendo mesmo um atraso mental ligeiro.

Perante esta situação, o que me aconselha para poder continuar a ajudar a minha filha, porque de facto a nível escolar a situação é complicada. Mais se complica porque os professores também não estão preparados para esta situação. Agradecia uma resposta."

Situações como esta que aqui é relatada fazem parte do dia a dia de quem trabalha em contexto escolar. Esta mãe poderia ser uma, entre muitas, das que se vão cruzando comigo no exercício da minha prática profissional. Quem não vive na primeira pessoa o drama de um filho que não aprende, provavelmente terá dificuldade em perceber a angústia e o desespero que acompanha os pais, quando tal acontece. Num mundo em que o saber é tão importante e tão valorizado, a dificuldade em gerir "o não aprende" é ainda mais difícil e dolorosa.

No caso desta mãe, até já existia a expectativa de que as dificuldades na escola poderiam e certamente iriam surgir, mas muitos pais são apanhados de surpresa, pois há muitas crianças que apresentam capacidades cognitivas médias e, por motivos vários, não conseguem aprender. Nestas circunstâncias, o que acontece frequentemente é que as crianças são acusadas injustamente de preguiçosas e desinteressadas, quando a raiz do problema tem contornos bem diferentes.

Depois destas considerações iniciais, falta a resposta à pergunta: então o que fazer? Parece-me que, com esta criança, já muito foi feito e que houve uma grande preocupação no sentido de perceber o que a limita na sua capacidade de acesso ao saber. Qualquer diagnóstico só faz sentido se, na sua sequência, forem tomadas medidas muito concretas. Neste caso sublinharia essencialmente três estratégias que me parecem muito importantes.

Crianças com este tipo de perfil precisam de um apoio muito especializado. As escolas frequentemente têm bons técnicos, mas estes não chegam para "as encomendas". Quando os pais têm possibilidade de recorrer ao apoio externo, então sugiro que o façam. Qual deverá ser o perfil deste técnico? Uma pessoa muito experiente, que tenha trabalhado ou trabalhe com crianças com necessidades educativas especiais. O investimento neste tipo de apoio deve ser o mais precoce possível, pois esperar que o tempo resolva o problema é uma péssima opção.

Para quem não aprende, a escola vai-se tornando um fardo muito pesado, que vai progressivamente esmagando a autoestima. Com a autoestima "de rastos" e sem perspetiva de melhores dias, o desânimo e o desinvestimento são quase certos. Os que não desistem acabam por sofrer mais, pois o confronto com as dificuldades diárias torna-se mais doloroso. Face ao exposto é importante tentar ajudar as crianças a encontrar áreas fortes. Quando o insucesso académico é contrabalançado com uma área em que se tenha algum brilho, torna-se menos arrasador o não conseguir aprender. Acompanhei um aluno com muitas dificuldades cognitivas que conseguia gerir melhor o facto de ser mau aluno, porque era excelente na equitação.

Para terminar, a escola e os professores têm também um papel decisivo, pois uma criança com o perfil que aqui é traçado precisa obrigatoriamente de um currículo adaptado e de medidas muito concretas que sejam potenciadoras de sucesso. Nunca desistindo delas, é importante que os professores estabeleçam metas ajustadas às suas potencialidades!

Espero ter ajudado!

Por: Adriana Campos

In: Educare

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