Partilho um excerto do artigo "A escola no ecrã" da Revista 2 do Jornal Público.
É mais fácil ler em papel ou num ecrã? Os alunos distraem-se com a Internet na sala de aula? Há conteúdos digitais adequados? Os professores sabem utilizá-los? O uso de tecnologias da informação nas escolas não é consensual, mas já há várias em Portugal que são autênticos “laboratórios”. Uma delas até está na lista das 80 escolas mais inovadoras do mundo.
(...)
Tecnologia para necessidades especiais
Em vários níveis de ensino, de diferentes escolas do país, estão a ser feitas experiências comtablets, quadros interactivos e outras tecnologias. A escola EB1/Jardim de Infância do Mosteiro, em S. Torcato, Guimarães, por exemplo, foi o primeiro estabelecimento de ensino público a receber mesas interactivas.
Nesta escola, os docentes destacam a importância que as tecnologias podem ter junto de alunos com necessidades educativas especiais. É o caso de Luís (nome fictício), que sofre de síndrome de Smith-Magenis, uma doença genética que provoca atraso motor e da fala. São poucas as palavras que a criança, de quatro anos, consegue articular. Mas a sua postura de apatia muda para um entusiasmo que contagia numa questão de segundos. Basta-lhe olhar para a carteira no momento em que o ecrã táctil inicia o sistema operativo. Aponta para a mesa, senta-se na cadeira e espera, pacientemente, enquanto a auxiliar inicia o programa de desenho.
A professora pergunta-lhe o que quer desenhar. Luís faz um círculo com as mãos. É o sinal do Sol, o primeiro dos desenhos que faz na mesa táctil instalada há poucas semanas na escola. Pouco tempo depois, haverá flores de muitas cores na folha de desenho digital. E uma birra insistente quando for a altura de desligar os computadores.
As mãos de Luís desenham sobre uma das cinco mesas interactivas que a Câmara de Guimarães instalou na escola, no mês passado. Estão na sala usada pela professora do ensino especial e são utilizadas, preferencialmente, por alunos com necessidades educativas especiais.
Os professores tinham dificuldades em encontrar estímulos capazes de cativar estas crianças. Luís está agora a começar a ter prazer em desenhar. Talvez dentro de algum tempo possa escrever o nome no mesmo ecrã, como o colega da mesa ao lado, um pouco mais velho. As mesas interactivas prestam-se a esse uso: são reguláveis em altura, adaptando-se às características físicas de cada utilizador, e os alunos com dificuldades motoras também podem usá-las de forma alternativa, activando os dispositivos com outras partes do corpo que não as mãos ou com um apontador.
A escola EB1 do Mosteiro tem quase 150 alunos e faz parte do Agrupamento de Escolas de S. Torcato, zona rural do concelho de Guimarães. O agrupamento está classificado como território educativo de intervenção prioritária devido ao perfil de carências socioeconómicas da população. As novas carteiras — juntamente com os quadros interactivos — chegaram no final do mês passado à escola e fazem parte de uma iniciativa da autarquia vimaranense mais abrangente, que foi financiada com fundos comunitários.
O objectivo da câmara é dotar dez centros escolares do concelho de equipamentos tecnológicos, servindo uma população de cerca de 7500 alunos. Mas a intenção “não é só colocar os dispositivos”, explica a vereadora da Educação, Adelina Paula Pinto. O município vai também dar formação aos professores do 1.º ciclo e tem em marcha um projecto de investigação — em parceria com a Universidade do Minho e o Centro de Formação de Professores Francisco de Holanda — que pretende conhecer como são utilizados estes dispositivos em contexto de sala de aula. “Sabemos que muitas vezes eles são só quadros brancos onde se podem projectar coisas”, admite a vereadora, que até ao ano passado era também professora no ensino básico. Daí que a autarquia queira perceber se os professores do concelho aproveitam as potencialidades dos dispositivos tecnológicos, admitindo, eventualmente, dar formação de reforço.
Estas mesas interactivas foram desenvolvidas pela Nautilus, empresa de mobiliário escolar e de escritório, sediada no Norte do país, e que, desde 2006, desenvolve soluções que permitem levar a tecnologia às escolas. O grupo foi também responsável pelos quadros multimédia NetBoard, que, tal como as mesas UNI_NET, foram galardoados com o prémio mundial para a inovação da educação Worlddidac Award.
A firma desenvolve o mobiliário — neste caso um suporte metálico regulável em altura — onde são acoplados equipamentos de hardware existentes no mercado. “O que nós fazemos, a partir daquilo que o mercado pede, é oferecer condições para adaptar as tecnologias às necessidades das comunidades educativas”, explica Gil Margarido, responsável pela empresa.
Uma das vantagens destas mesas interactivas é que o ecrã, sendo táctil, facilita a interactividade e, como estão ligadas ao quadro multimédia, podem também ser um recurso para trabalhos de grupo. Essa é também uma possibilidade aberta na escola de S. Torcato, embora os novos equipamentos estejam nas primeiras semanas de utilização sobretudo ao serviço do ensino especial.
Na sala do 2.º ano, instala-se um burburinho quando a professora inicia o jogo de Matemática que pede aos alunos que ordenem números por ordem crescente. Todos querem ir ao quadro pegar “naquela caneta que aponta”, como a apresenta Helena, sete anos. “Às vezes, a professora também põe histórias para nós ouvirmos”, conta.
Em diferentes escolas, os docentes identificam várias potencialidades no uso das tecnologias. No caso do projecto Creative Classrooms Lab, pretende-se introduzir as tecnologias associadas a modelos pedagógicos concretos. Primeiro, cada aluno tem de ter acesso a um portátil, tablet ou smartphone. O projecto assenta no conceito deflipped classroom — em português, sala de aula invertida. Implica que os alunos tenham um primeiro contacto com conteúdos de diferentes disciplinas em casa, vendo, por exemplo, vídeos ou outros recursos que existam na Internet. Depois, na sala de aula, esclarecem dúvidas com o professor ou trabalham em equipa. “Em casa, podem ver os conteúdos várias vezes, têm tempo para reflectir sobre o que viram e podem ter logo exercícios para treinar. E o professor pode preocupar-se mais com os que não perceberam”, explica o professor Rui Lima.
Apesar de, no Colégio Monte Flor, o professor ter liberdade para usar os computadores e tablets de várias formas, quando se trata de aplicar o modelo do Creative Classrooms Lab deve atender-se ainda a uma dinâmica própria de aprendizagem que implica os seguintes passos: Sonha, Explora, Planeia, Faz, Pergunta, Refaz, Mostra.
Rui Lima explica que o primeiro passo — “Sonha” — é a escolha do tema. O segundo — “Explora” — põe em prática o conceito flipped classroom e é o momento em que as crianças vão aprender em casa. Segue-se o “Planeia”: regressam à sala de aula e decidem como vão fazer o trabalho e quem o vai apresentar. “Faz” é a execução do que planearam e a ocasião em que o professor aproveita para partilhar mais conteúdos, como por exemplo vídeos. Depois, quando já têm “um protótipo” do que querem apresentar, entram na fase do “Pergunta”. Aqui, podem convidar alguém exterior à escola para fazer uma primeira avaliação do projecto. Já foram ao colégio pais, um dentista, um polícia… “A ideia é perguntarem se o trabalho está bem feito e as pessoas vão dizendo que aqui está, ali não, aqui podes fazer melhor…”. Depois chega a fase do “Refaz” e, finalmente, o “Mostra”: “Apresentam à turma deles, a outra turma ou, por vezes, à escola”, explica o professor.
Para ler o artigo completo clique aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário