domingo, 4 de abril de 2010

Diagnóstico precoce previne morte de gémeos

Síndrome de transfusão feto-fetal obriga dezenas de grávidas a fazerem cirurgia no estrangeiro.

Dezenas de grávidas deslocam-se, todos os anos, ao estrangeiro para corrigir uma complicação que pode ser fatal em gravidezes gemelares que partilham a placenta. Investigadores do Porto desenvolveram método que permite o diagnóstico precoce e salvar vidas.


Trata-se de um problema raro - 50 a 60 gravidezes por ano, em Portugal -, mas tende a crescer proporcionalmente ao aumento dos tratamentos de fertilidade e das gravidezes múltiplas, explica Nuno Montenegro, director do serviço de Ginecologia/Obstetrícia do Hospital de S. João e investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

A síndrome de transfusão feto-fetal ocorre apenas em gémeos verdadeiros com placenta monocoriónica, isto é, quando os cordões umbilicais dos dois fetos partilham uma única placenta. Em 15% destas gravidezes, verificam-se anomalias na transfusão de sangue entre os gémeos, que se faz através do ductus venoso (veia milimétrica que assegura o fluxo de sangue venoso entre o coração do feto e o cordão umbilical). Uma das consequências habituais é a morte de um ou dos fetos.

Quanto mais precoce for o diagnóstico, mais fortes são as probabilidades de se salvar a vida dos gémeos. O que Nuno Montenegro e Alexandra Matias fizeram foi desenvolver um método de rastreio eficaz, que pode ser concretizado no fim do primeiro trimestre de gestação e recorrendo a uma tecnologia vulgarizada - a ecografia -, ou seja, sem custos acrescidos. Assim, logo na primeira ecografia de rotina, é possível pesquisar o fluxo no ductus venoso e avaliar a presença de anomalias que estão associadas a deficiências cardíacas e a alterações cromossómicas, como a trissomia 21.

Desta forma, o diagnóstico da síndrome de transfusão feto-fetal pode ser antecipado das 16-18 semanas de gestação para as 11-13, o que significa, nas palavras do especialista, "melhores resultados do tratamento".

A terapêutica consiste numa cirurgia, realizada apenas no estrangeiro, e que em 70% dos casos permite salvar um dos gémeos e os dois apenas em 30% das situações.

A experiência acumulada pelos investigadores da Universidade do Porto, em colaboração com uma equipa do King's College (Londres), permitiu evidenciar que o diagnóstico precoce não só é possível como a intervenção em fases mais iniciais representa um aumento considerável da taxa de sobrevivência.

Sem comentários:

Enviar um comentário