segunda-feira, 19 de abril de 2010

A voz dói a 8 por cento dos portugueses

Entre 5 e 8 por cento da população portuguesa sofre de algum tipo de patologia vocal. Para o director do serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Garcia de Orta (HGO), isto é sinal de que é preciso olhar pela voz.

Em declarações à agência Lusa, o director do serviço de Otorrinolaringologia do HGO, Luís Antunes, afirmou que é importante aproveitar o Dia Mundial da Voz, que se assinala na sexta feira, para “sensibilizar, comemorar e preservar a voz”.

“Todos somos profissionais da voz. Todos falamos, cantamos, gritamos… Faz todo o sentido que cuidemos do nosso instrumento natural. A voz é fundamental à vida”, afirmou.

Para o especialista, o cuidado com a voz passa também por estar atento a pormenores: “As pessoas devem estar alerta para alguns sinais que não se possam justificar por uma gripe ou constipação. Uma rouquidão ou alteração do timbre da voz persistente por mais de sete dias ou intermitente mas mantida no tempo podem ser sinais de alerta para doenças mais graves, que requerem avaliação e tratamento”.

O mais importante, defende, é que o diagnóstico seja precoce: “Todas as patologias podem ser tratadas. Queremos é evitar que os tumores surjam numa fase tardia. Há coisas tão simples como ensinar a respirar, ensinar a falar, que podem reverter situações muito facilmente”, disse.

Luís Antunes explicou, também, que o ritmo cada vez mais acelerado do dia a dia dos portugueses potencia este tipo de problemas. Para o especialista, “o ambiente em que vivemos e trabalhamos, seja uma redacção, uma fábrica ou um centro comercial, é um ambiente muito hostil para a voz”.

E reforça, neste sentido, a necessidade de se actuar no campo da prevenção, evitando fumo de cigarro, álcool, cafeína, poluição, diferenças bruscas de temperatura, bebidas muito quentes ou geladas.

De acordo com o médico, a patologia maligna da laringe, associada sobretudo ao consumo do tabaco, é cada vez mais frequente, registando-se 40 novos casos por ano, só no serviço de Otorrinolaringologia do HGO.

“O diagnóstico precoce desta doença tem sido alvo de uma atenção particular do hospital, quer através do desenvolvimento e implementação de várias acções junto da comunidade civil e médica, quer com a realização de rastreios à população em geral e a alguns grupos profissionais em particular”, afirmou.

Rastreios assinalam dia

Ainda no âmbito do Dia Mundial da Voz, o Hospital Garcia de Orta vai fazer, entre as 08:00 e as 16:00 de hoje, um rastreio aberto a toda a população.

Já o Hospital de Santa Maria, está a promover, desde o dia 12 de Abril, um rastreio gratuito à voz. Para o director daquela unidade hospitalar, a voz deixou de ser uma preocupação apenas daquelas que a usam profissionalmente.

"Durante muito tempo, pensou-se que os cuidados com a voz eram só para aqueles que a usam profissionalmente, como os cantores, os locutores e os actores, mas cada vez mais esses cuidados aplicam-se à população em geral, porque vivemos numa sociedade da comunicação e a voz é o principal meio de comunicação", afirmou o director do Departamento de Otorrinolaringologia, Voz e Perturbações da Comunicação do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Em declarações à Lusa, Mário Andrea afirmou que "os problemas de voz são a principal causa de absentismo dos professores", realçando que "não há nenhum medicamento para a voz e, por isso, a prevenção é fundamental".

"As pessoas têm de estar atentas às alterações da voz e quem suspeitar que não está tudo bem deve procurar o médico para fazer o diagnóstico precoce", acrescentou o especialista que, em 2002, propôs a criação do Dia Mundial da Voz (World Voice Day), que se assinala a 16 de Abril.

Segundo o professor catedrático de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, "qualquer adulto que está rouco há mais de 15 dias tem que ser obrigatoriamente visto por um otorrinolaringologista".

Mário Andrea realçou que, no universo de cerca de meio milhar de pessoas que habitualmente recorrem ao rastreio da voz, no Hospital de Santa Maria, são diagnosticadas em média três casos de tumor da laringe, realçando que "Portugal é o terceiro país da Europa com maior incidência de cancro na laringe".

Preservar as cordas vocais

Nas vésperas do Dia Mundial da Voz, Susana Homem de Gouveia, no programa “Saúde e Bem Estar” da Rádio JORNAL da MADEIRA, realçou alguns cuidados que devemos ter com a voz. De acordo com a referida terapeuta da fala, «os principais cuidados para manter uma voz saudável é não consumir tabaco, evitar o consumo de bebidas alcoólicas, não gritar, tentar não prejudicar cordas vocais, enquanto órgão fisiológico».

Na opinião desta especialista, «o consumo de água é fundamental para mantermos uma boa hidratação de toda a mucosa e, consequentemente, o som vocal agradável».

Quanto às patologias mais frequentes, Susana Homem de Gouveia diz que é, por exemplo, o aparecimento de nódulos vocais que aparecem com o uso inadequado da voz permanente. Os mais graves são, sobretudo, o cancro da laringe, que existe, quase sempre, pelo uso continuado de substâncias alcoólicas e de tabaco em conjunto».

Um dos sintomas do cancro da laringe, conforme referiu Susana Homem de Gouveia, «é a rouquidão persistente durante algum tempo», por isso recomenda às pessoas que tenham uma rouquidão durante vários dias, deverão consultar o médico otorrinolaringologista.

Terapia da fala acompanha 244 utentes

Neste momento, a Secretaria Regional de Educação e Cultura, através da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação, dá assistência a um total de 244 utentes ao nível da terapia da fala.

Numa análise à caracterização dos utentes que usufruem de terapia da fala, com base nos dados que nos foram facultados pela Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação, verificamos que cerca de 54 registam atraso de desenvolvimento, 34 sofrem de deficiência auditiva, deficiência intelectual 45, deficiência motora 21, seis com desordem por défice de atenção (DDA) ou desordem por défice de atenção com hiperactividade (DDAH), 39 com dificuldades de aprendizagem, um com multideficiência, 21 utentes com perturbações do espectro do autismo, 20 com problemas de comunicação e, por fim, três com outros problemas de sáude não referenciados.

De acordo com a directora regional de Educação Especial e Reabilitação, Maria José Camacho, «o terapeuta da fala intervém ao nível da prevenção, da consultadoria, da avaliação e diagnóstico, na intervenção propriamente dita, na gestão e na investigação».

De uma forma geral, tal como referiu, «a intervenção terapêutica poderá ocorrer ao nível das funções do corpo, no caso de limitações nas funções mentais específica associadas à compreensão e expressão da linguagem oral e escrita e outras formas de comunicação não verbal, mas também nos casos de limitações nas funções da fala, limitações nas funções de deglutição e limitações nas funções da voz».

Outra das forma de intervenção terapêutica será ao nível das actividades e participação. Maria José Camacho aponta, para este tipo de intervenção, dificuldades ao nível da comunicação (na relação comunicativa e comunicação verbal e não verbal), na linguagem (aspectos fonológicos, morfológicos, sintácticos, semânticos, pragmáticos e metalinguísticos, perturbações específicas, atraso de desenvolvimento e perturbações adquiridas), na fala (fonéticas e, ou, fonológicas, fluência, ritmo e prosódia), deglutição (funcional, orgânica e neurológica) e dificuldades ao nível da voz (orgânicas e funcionais).

Relativamente às áreas de Intervenção do Terapeuta da Fala nas Necessidades Especiais aparecem ainda as perturbações da interacção e comunicação, da alimentação e deglutição, perturbações da linguagem, da leitura e da escrita, da articulação, da fluência do discurso, da linguagem e da fala resultantes de lesões neurológicas.

Nas necessidades especiais as alterações e, ou, perturbações vocais associam-se a quadros clínicos em que a intervenção da terapia da fala visa objectivos de desenvolvimento comunicativo e, ou, linguístico em actividades e participação nos contextos familiar, educativo e social.

Numa análise à caracterização dos utentes que usufruem de terapia da fala, com base nos dados que nos foram facultados pela Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação, verificamos que cerca de 54 registam atraso de desenvolvimento.

Por: Marsílio Aguiar
 

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