quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Mulher de 30 anos em corpo de bebé

Maria do Nascimento tem 30 anos, mas aos nove meses de idade o seu corpo e a sua mente pararam de se desenvolver, devido a uma forma muito severa de hipotiroidismo.

Maria Audenete do Nascimento é brasileira e vive no Ceará, com a sua família, que há já muitos anos que não tem possibilidades financeiras para comprar os medicamentos necessários para o hipotiroidismo.

Maria não fala, não anda e usa fraldas. Recentemente, a Universidade do Ceará comprometeu-se a fazer o tratamento de forma gratuita e assim tentar proporcionar alguma independência a Maria.

O hipotiroidismo é uma deficiência na produção hormonal da tiróide que no caso desta brasileira de 30 anos assumiu uma forma muito grave.


In: JN

3 de Dezembro de 2011 - Sessão oficial do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência

No Colégio Militar, no Largo da Luz, em Lisboa, na manhã de 3 de Dezembro de 2011, o Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P. promove a Sessão Oficial das Comemorações Nacionais do Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, sob o lema "Juntos por um mundo melhor para Todos", em consonância com a proposta temática da ONU. 

O Programa desta Sessão Oficial incide especialmente na apresentação pública de novos títulos da Colecção Informar do INR, I.P. e do Relatório (e-book) do Grupo de Trabalho Media e Deficiência. 

Destaca-se, igualmente, a entrega dos Prémios do Concurso Cartaz DIPD 2011 e do Prémio de Inovação Tecnológica Eng. Jaime Filipe, bem como a Assinatura do Protocolo SIM-PD com a Câmara Municipal de Loures. 

No início e no encerramento desta sessão, terá lugar a expressão artística com a actuação do Coro do ACIDI e da Associação Vo'Arte. 

Através da visibilidade de importantes estudos, de projectos de investigação e de projectos culturais inclusivos, o INR, I.P. dá mais uma oportunidade à informação e à sensibilização sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, à luz dos Princípios da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

In: INR

terça-feira, 29 de novembro de 2011

"As vicissitudes na docência"

No mundo atual, repleto de desafios, em que a sociedade exige cada vez mais do cidadão, é importante que os professores, como elementos fundamentais na formação para a cidadania, desenvolvam profissionalmente capacidades e competências que os façam pensar e refletir sobre a realidade. 

Uma orientação pedagógica construtiva, por parte do professor, não só em termos de aprendizagem dos alunos, mas também na construção do seu saber e prática pedagógica, torna-se fundamental. 

Ser professor é uma profissão problemática/desgastante no sentido em que, no seu dia a dia de trabalho, o professor é confrontado com problemas que necessita resolver. Esses problemas vão variando em função de vários fatores, tais como as pessoas envolvidas, o contexto social, político e cultural em que se situa a sua prática, e são muitas vezes de natureza complexa, mas também como parceiro de outros profissionais com os quais pode e deve trabalhar colaborativamente. 

Neste sentido, o professor, "junto com seus companheiros, pensa sobre o que faz e trata de encontrar melhores soluções, diagnosticar os problemas e formular hipóteses de trabalho que desenvolve posteriormente, escolhe seus materiais, planifica experiência, relaciona conhecimentos diversos, etc. 

Diríamos que trabalha dentro de um esquema de pesquisa na ação. Aqui o professor avalia, diagnostica, interpreta, adapta, cria, busca novos caminhos." (Tanner e Tanner, 1980, citados em Gimeno, 1992, p. 179). 

O professor é um praticante reflexivo, que identifica problemas, questiona valores, observa o contexto político e social da escola, participa no desenvolvimento curricular, assume a responsabilidade pela gestão curricular, sem nunca esquecer a relevância que o trabalho colaborativo tem em todo este processo de reflexão e evolução profissional. Neste discorrer de discurso, é um professor que encara o ensino como um processo permanente de construção coletiva. 

Neste momento ser professor não é uma tarefa fácil, uma vez que todos somos "bons professores" porque temos atitude em estarmos na profissão, em nos questionarmos na tentativa de resolver problemas relacionados com a nossa prática. 

Assim sendo, os professores deverão adquirir dinâmicas próprias no desenvolvimento da sua atividade profissional, não só pela satisfação da sua curiosidade, mas também como parceiros de outros profissionais com os quais podem e devem trabalhar colaborativamente. 

Estas dinâmicas e o seu desenvolvimento profissional deverá ser o próprio professor a escolher e não a ser "pressionado" (como está a ser neste momento), pois quem nos garante que neste "tempo de crise" os docentes têm possibilidades financeiras de ter um desenvolvimento profissional mais avançado? 

Esta é uma questão pertinente, pois nos tempos que correm hoje, os docentes encontram-se longe dos filhos, dos maridos, das esposas, das famílias e quase sem tempo para "respirarem" devido ao excesso de encargos por ele acarretados. 

Como querem que tenhamos tempo para conseguirmos uma escola que ensine a compreender o mundo e fazer opções? Precisamos de condições de estabilidade, autonomia e meios para que as escolas estabeleçam metas e percursos com qualidade educativa, indo ao encontro dos docentes.

Relativamente às vicissitudes que os docentes enfrentam neste momento, as instituições educativas poderiam promover/desenvolver novos estudos no sentido de autoavaliar, refletir e autorregulamentar estas problemáticas. Pois só assim conseguiremos ter uma estabilidade emocional, afetiva que nos permita exercer as funções harmoniosamente na sua plenitude.

Por: Sandra Porto Ferreira

In: Educare

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Como apoiar a imaginação e a criatividade das crianças

Como se a imaginação fosse um vício da infância "Georges Jean"



Criatividade e imaginação são palavras que usamos no nosso dia-a-dia com um sentido positivo e ainda mais quando falamos sobre as mesmas no desenvolvimento das crianças.

Mas o que é a criatividade e imaginação, e porque andam estas palavras na sua maioria das vezes acopladas uma na outra?

Criatividade envolve a criação de algo novo enquanto que a imaginação é uma faculdade mental que permite a representação de objectos com determinadas qualidades que são dadas à mente através dos sentidos. Agora imaginemo-nos a aplicar estas palavras ao desenvolvimento de uma criança, por certo todos consideramos importante que as crianças tenham imaginação e sejam criativas, mas de que forma fomentamos esta prática na vida das crianças?

A escola, a creche e o jardim-de-infância são espaços fundamentais para desenvolver estes alicerces. No entanto, não devemos descurar outro contexto importante no desenvolvimento da criança: a família. Na infância, as crianças observam o mundo que existe à sua volta, e têm uma confiança inabalável na sua imaginação. É nesse espaço que só elas conhecem, na sua mente, que se estabelecem ligações inimagináveis, criativas e ilimitadas sobre o que somos, podemos ser, podemos fazer, imaginar e criar.

“Hoje proporcionamos-lhes quase tudo feito, deixando pouco espaço para que as crianças possam descobrir, explorar, criar ou imaginar”

A sua importância
A importância que a criatividade tem ao nível do desenvolvimento da criança, do ponto de vista cognitivo, está relacionada com um conjunto de processos que ocorrem em simultâneo, de forma a obter novas ideias ou até usar territórios ainda não explorados na nossa mente.

Percebemos agora o porquê das crianças serem espontaneamente criativas. Os seus cérebros ainda estão em «expansão» no que concerne à sua utilização, ao fortalecimento das suas ligações neuronais que não tem um número limite, são infinitas.
Mas, temos a certeza da importância de explorar ao máximo as capacidades das crianças, pois sabemos que com o passar dos anos esta expansão neuronal tendencialmente diminuí.

Inteligência é o resultado de duas palavras latinas: inter = entre e eligere = escolher, significando a capacidade de compreensão das coisas escolhendo o melhor caminho.

Os seus cérebros ainda estão em «expansão» no que concerne à sua utilização, ao fortalecimento das suas ligações neuronais que não têm um número limite, são infinitas

O meio que nos envolve
Está provado que a nossa carga genética contribuí com 50% das nossas opções, e a restante e igual percentagem está atribuída ao nosso meio envolvente. Existem alguns estudos que atribuem uma maior percentagem para o meio. Atendendo à importância que o meio envolvente tem no desenvolvimento da imaginação e criatividade da criança, levam-nos a reflectir sobre o que potenciamos ou limitamos nas experiências que lhes proporcionamos, sejamos pais ou educadores.

“Na infância, as crianças observam o mundo que existe à sua volta, e têm uma confiança inabalável na sua imaginação”

Pistas para a imaginação
Uma das críticas efectuadas nos dias de hoje sobre o desenvolvimento das crianças é que muitas vezes proporcionamos-lhes quase tudo feito, deixando pouco espaço para que as mesmas possam descobrir, explorar, criar ou imaginar. As crianças querem-se imaginativas e criativas, para que possam treinar a sua mente para aprender e conseguir antever consequências de actos que podem acontecer.

Mas, o que podemos fazer? Podemos brincar! ”Mas isso já eu faço!" - dirão alguns pais, mas precisamos de brincar com intencionalidade, mas com a naturalidade que caracteriza a relação entre pais e filhos.

Sugestões:
- Pergunte ao seu filho como correu a escola. Faça isso como sendo parte de uma conversa sem que se torne rotineiro e com hora marcada (no sentido de tornar esta tarefa chata e aborrecida). Mesmo que já tenha este hábito, torne-o ainda mais desafiante para si e para o seu filho, problematize algumas coisas que ele lhe conta, pergunte-lhe a opinião sobre algumas coisas que aconteceram e até como seria possível resolver alguns assuntos que ele conta;

- Realize pequenas brincadeiras de "faz de conta" criando diferentes personagens, situações e histórias. A borracha pode deixar de apagar e passar a ser um carro, uma nave, uma casa ou mesmo um colchão;

- Em casa tenham sempre uma caixa com diferentes materiais como: os tubos de papel higiénico, pauzinhos e conchas apanhadas na praia ou num passeio de campo, e construam objectos imaginados por vocês, que depois servirão como novos brinquedos;

- Tenha, sempre que possa, disponível barro, terracota ou plasticina. Irá, sujar um pouco mais o espaço, mas poderá aproveitar também esses momentos de limpeza para proporcionar outras experiências ao seu filho;

- Leia histórias ao seu filho (não interessa o tamanho das mesmas), o essencial é que proporcione o contacto com livros e outro material impresso, pois irão despertar o seu interesse e curiosidade pelo imaginário mas também pelo código escrito;

- Construa livros com o seu filho. Pegue em folhas brancas e em imagens ou algumas fotografias das vossas férias. Faça a montagem com eles e deixe o texto para o seu filho construir de cada vez que estiver a ler as imagens;

- As tarefas quotidianas dos adultos podem ser rotineiras mas para uma criança são uma oportunidade de descoberta;

- Incentive a que o seu filho tenha diferentes brinquedos para que os possa explorar de diferentes forma;

- Brincar no parque, subir e descer o escorrega, contornar obstáculos, saltar, aprender a dar balanço no baloiço, são actividades que estimulação e imaginação. Nesses dias poderão sempre ser os super heróis do parque e sempre que lá vão, temos um episódio diferente.

“As tarefas quotidianas dos adultos podem ser rotineiras mas para uma criança são uma oportunidade de descoberta”

Tempo em exclusivo
Para apoiar a imaginação e a criatividade do seu filho aplique uma de duas regras: dispense dez minutos para estar realmente e apenas com o seu filho a brincar, ou então enquanto realiza uma qualquer tarefa, sente-o na mesa deixando-o explorar uma das brincadeiras mencionadas anteriormente e vá conversando com ele criando-lhe desafios. Pode não ver de imediato mas está a construir bases para o futuro.

Ken Robinson dá este exemplo: ”Se perguntarmos a uma turma do primeiro ano de escolaridade quem é que se acha criativo, todos levantarão a mão. Se fizermos a mesma pergunta a um grupo de alunos mais velhos, a maior parte não se considera criativa”.

O mundo é um lugar ilimitado e através da imaginação e criatividade das crianças descobrimos as soluções mais interessantes para resolver obstáculos na nossa vida. Aproveite o tempo que tem com o seu filho, não se culpe, seja criativo!

Texto: Ana Correia, Educadora - Clínica da Educação

Eu vou com as aves...

Eu vou com as aves até onde elas me levarem...Eu vou com as aves na esperança que haja uma mudança...

Mudança?! Sim, mudança! Mudança numa sociedade cada vez mais perdida de valores, numa sociedade cada vez mais egoísta que se esqueceu de olhar para o outro, que se esqueceu de respeitar o próximo.

Este voo das aves significa para mim um grito de mudança, o grito de mudança que me faz levantar todos os dias. 

Eu sou tão pequeno para mudar algo sozinho, mas acredito que posso fazer a diferença nos pequenos passos que dou diariamente com as crianças, com as famílias e colegas. Estas são as aves com quem vou todos os dias à procura de um Mundo melhor.

Uns dias os voos são grandes e ambiciosos, outros são pequenos e turbulentos, mas tenho sempre o meu porto de abrigo, onde ganho confiança e esperança para novos voos sempre em constante aprendizagem.

Eu vou com as aves...deixando pequenos passos por onde passo! 

Abreviaturas nos SMS altera processamento de linguagem

A utilização de abreviaturas e símbolos nas mensagens de texto enviadas por telemóvel (SMS) ou Internet pode alterar a forma de processar do cérebro, modificando a própria linguagem, defendeu, em entrevista à Lusa, o neuropsicólogo Michael Corballis.

Para o neuropsicólogo neozelandês, que está hoje em Portugal para participar na conferência "A Origem da Linguagem", as mudanças acontecerão "em pequenas doses".

"Os novos media [textos de SMS ou na Internet] podem alterar a linguagem em pequenas doses. Por exemplo, nos SMS, as pessoas usam abreviaturas e símbolos que podem ter pequenos efeitos na forma como o cérebro processa a linguagem".

Apesar desta evolução ser natural até porque "a linguagem está continuamente a mudar e a diversificar-se", Michael Corballis duvida que o futuro traga uma língua universal.

"Existem hoje em dia mais de 6.000 línguas no mundo, o que torna muito pouco provável a existência de uma linguagem universal", afirmou.

Embora reconheça que as rádios, televisões e Internet proporcionem uma "maior universalidade", o cientista lembrou que "as pessoas tendem naturalmente a defender a sua língua e a preservar as diferenças".

Mesmo os gestos e as expressões faciais, que são tidos como comuns à população mundial, não podem considerar-se uma linguagem universal, alerta Michael Corballis.

"A comunidade científica ainda não tem certeza se os gestos podem ser considerados uma linguagem universal, porque não se trata de uma linguagem no sentido estrito", explicou, adiantando que "muitos gestos variam consoante as culturas, o que dificulta perceber o quão universais são".

De acordo com o neuropsicólogo, as expressões do rosto são "provavelmente as mais universais, mas refletem mais as emoções do que afirmações".

A origem da linguagem vai estar hoje em destaque no Instituto de Ciências da Saúde, em Lisboa, onde o neozelandês vai explicar as suas teorias sobre o assunto.

Michael Corballis é professor benemérito de psicologia na Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

Doutorado pela Universidade de McGill, no Canadá, foi presidente da Sociedade Internacional de Neuropsicologia e publicou cinco livros sobre psicologia cognitiva e neurociência, dos quais o mais recente é "Da Mão para Boca -- As Origens da Linguagem".

"A linguagem humana é diferente da linguagem dos animais porque é suscetível de criar combinações e permite aos seres humanos uma variedade infinita de afirmações", defendeu à Lusa.

In: DN online

Projeto em São Paulo ensina ballet a cegos

Depois de perder a visão aos 9 anos de idade, Geyza Pereira nunca pensou que fosse possível tornar o seu sonho de ser bailarina realidade. Hoje, com 25 anos, é bailarina profissional e também professora de ballet clássico da Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini, sediada em São Paulo, Brasil.


Segundo disse à BBC Brasil, a brasileira Geyza Pereira, invisual, soube que seria possível realizar o seu projeto de ser bailarina quando conheceu a professora Fernanda Bianchini, fundadora da escola.

Fernanda Bianchini começou a ensinar dança para cegos em 1995. A professora e fundadora desenvolveu uma técnica que permite que as crianças toquem nas suas pernas e nos seus braços para aprender os movimentos.

O trabalho e o método são ambos pioneiros em todo o mundo e foram desenvolvidos voluntariamente pela bailarina e fisioterapeuta Fernanda Bianchini. Através deste método, os deficientes visuais aprendem a dançar Ballet como qualquer outro bailarino.

Os passos são ensinados a cada aluno e o professor vai orientando o aprendiz. A partir de certa altura os bailarinos dançam apenas com instruções orais.

A Associação dá aulas gratuitas para deficientes visuais de todas as idades, existindo aulas de ballet clássico, sapateado, dança de salão, danças para terceira idade, ballet para adultos e música.

A escola, que pertence à Associação de Ballet e Artes para Cegos, já formou cerca de 300 bailarinas profissionais.

De acordo com a informação do site oficial da associação, "com estes cursos, os alunos melhoram a postura, o equilíbrio, a noção espacial e a autoestima, além de romper barreiras e preconceitos".

Fernanda Bianchini também fundou uma companhia de dança com as suas melhores alunas e sonha levá-las a atuar no exterior.

Clique AQUI para aceder ao site do projeto.

Terapias com células estaminais

Tratamento de Paralisia Cerebral com sangue do cordão umbilical, em contexto autólogo.

Aos 17 meses, Beatriz Góis, uma menina portuguesa com paralisia cerebral, foi submetida a uma terapia com as células estaminais do próprio sangue do cordão umbilical. A mostra de células estaminais estava criopreservada na Bebé Vida desde 2008 e foi utilizada pela Dra. Joanne Kurtzberg na Duke University, nos EUA.

Conversámos com os pais da Beatriz - Sandra Amorim e Ricardo Góis - que nos prestaram esclarecimentos sobre todo o processo que envolveu o tratamento da Beatriz com uma amostra de células estaminais do sangue do cordão umbilical criopreservada no banco privado de criopreservação, Bebé Vida.

Enquanto pais da Beatriz o que vos levou a tomar a decisão de avançar com esta terapia ainda experimental?

R: Quando nos foi apresentado o diagnóstico de paralisia cerebral, foi-nos explicado que o mesmo se traduzia na existência de lesões cerebrais com natureza permanente, dado que, o tecido cerebral não seria susceptível de regeneração. Foi-nos, ainda, explicada a capacidade única que o cérebro humano tem de se adaptar e de alterar a sua organização estrutural em resposta a estimulação nesse sentido, sendo que, a Ana Beatriz era muito pequenina e que a plasticidade cerebral é maior nos primeiros três anos de idade, devíamos apostar na estimulação precoce, uma vez que este era a único meio de eventual aquisição de algumas competências postas em causa devido às lesões sofridas. Face a estas explicações foi esse o caminho que tomámos, através da fisioterapia, estimulação sensorial/cognitiva e terapias psicomotoras.

Quando tivemos conhecimento desta terapia experimental e da possibilidade de através da infusão das próprias células estaminais recolhidas do cordão umbilical se poder conseguir a regeneração do tecido cerebral que foi danificado e depois de termos confirmado que todo o procedimento era seguro, praticamente isento de riscos, não hesitámos em fazê-la.

Como foi o processo de estabelecimento de contactos necessários para que a Beatriz se deslocasse para a Duke University, na Carolina do Norte (EUA)?

R: Tivemos conhecimento da terapia através de uma pesquisa na internet. Após o diagnóstico, tentámos sempre pesquisar novas terapias que pudessem ajudar a Beatriz a atingir mais e melhores competências, proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida. Numa das pesquisas e, considerando que tínhamos feito a preservação das células do cordão umbilical, decidimos juntar estes descritores – paralisia cerebral e células estaminais – e foi assim que tivemos conhecimento do caso do menino Dallas Hextel e da terapia experimental que estava a ser levada a cabo na Duke University.

Após esta descoberta, procurámos o site da Duke e remetemos um e-mail no qual expusemos o caso da Beatriz com algumas informações clínicas e solicitámos informação sobre a possibilidade de nos candidatarmos à referida terapia. Após dois dias tínhamos um e-mail de resposta da própria Dra. Joanne Kurtzberg, que nos solicitava o envio vários relatórios médicos.

A partir deste momento, iniciou-se um processo de comunicação muito célere mediante correio electrónico, remetemos por via postal todos os relatórios solicitados e, passados cinco meses, estávamos a embarcar para os EUA.

Que casos tratados pela Dra. Joanne Kurtzberg já conheciam?

R: Como referimos, o primeiro caso com que tivemos contacto foi o do menino Dallas Hextel, depois na continuação das pesquisas, ficámos a conhecer os casos também surpreendentes da Chloé, Maia e Dylan.

Em que consistiu a terapia? Foi muito dolorosa?

R: A terapia consubstancia um procedimento muito simples, trata-se de uma infusão via intravenosa de um preparado com as células estaminais que tem a duração aproximada de quinze minutos, após o que se segue, a administração também intravenosa de soro durante duas horas.

Uma hora antes do tratamento, é administrado Tylenol e minutos antes da infusão foi administrado Benadryl e esteróides. Pese embora, a Beatriz tenha chorado durante os quinze minutos da infusão, não é um procedimento doloroso.

A terapia vai obrigar a menina a um internamento prolongado?

R: Não, de maneira nenhuma. A terapia é feita em regime de ambulatório, não carece de qualquer internamento, embora nos tivéssemos que deslocar dois dias ao hospital.

No primeiro dia, foi observada por uma enfermeira pediátrica que fez a revisão de todo o historial médico da Beatriz, e depois de verificar o peso, altura, perímetro cefálico, temperatura e pressão arterial, foi feita uma colheita de sangue. Foi-nos, ainda, explicado todo o procedimento relativo à terapia, os eventuais sintomas de alergia à substância na qual se encontram preservadas as células e como se procederia se tal viesse a acontecer e esclarecidas todas as dúvidas que apresentámos. O segundo dia foi o dia da realização da terapia. Após a alta, ficámos com os contactos da enfermeira pediátrica a quem ligámos no dia seguinte dando nota de como a Beatriz tinha passado a noite. Como não se verificou qualquer efeito adverso, nem teve qualquer complicação não foi necessário voltar ao hospital.

A terapia foi realizada no dia 20 de Abril. Já sentem melhorias? Qual o tempo estimado para a análise de resultados?

R: A terapia ainda é muito recente. Conforme nos foi explicado pela Dra. Joanne Kurtzberg, os resultados deverão começar a verificar-se no prazo de seis meses. Estaríamos, no entanto, a mentir se não disséssemos que já vimos algumas evoluções desde então, no entanto, da experiência das demais terapias realizadas, os resultados começarão a verificar-se após seis meses a um ano.

Sabemos que nestes casos, estas terapias são sempre muito onerosas. Os pais tiveram algum apoio?

R: A terapia é, de facto, onerosa. Contudo, não há dinheiro que pague a saúde da nossa filha e a possibilidade de lhe dar uma melhor qualidade de vida. No nosso caso, tivemos a preciosa ajuda da Bebé Vida Sorrisos que patrocinou os custos associados à terapia.

Haveria alguma possibilidade de tratamento desta criança com uma terapia similar se os pais não tivessem criopreservado as suas células estaminais?

R: Das pesquisas que efectuámos soubemos que se estão a realizar terapias similares em Pequim na Beike Biotech com recurso a um banco público, com todos os riscos associados ao facto de não ser uma infusão autóloga.

O que aconteceu depois de decidirem recorrer às células estaminais criopreservadas na Bebé Vida?

R: A Bebé Vida assumiu e realizou de forma muito eficiente e célere todos os procedimentos necessários para o transporte das células para os EUA, assumindo, ainda, todos os custos inerentes. Realizou directamente os necessários contactos com a Dra. Joanne Kurtzberg e duas semanas antes da terapia as células já estavam nos EUA.

O que vos levou a fazer a Criopreservação?

R: Quando decidimos fazer a criopreservação não fazíamos ideia, nem sequer queríamos pensar que alguma coisa de errada iria acontecer durante o parto ou mesmo durante a vida da nossa filha, contudo, dada a potencialidade das células estaminais entendemos que seria uma espécie de seguro de vida, como que o nosso primeiro presente para o futuro da Beatriz.

Caso voltem a ser pais, tencionam fazer novamente a criopreservação?

R: Sem dúvida que sim.

Que conselho dão aos pais que aguardam a chegada de um filho?

R: A Beatriz é a nossa primeira filha e, como todos os pais que aguardam o nascimento de um filho, queríamos e queremos dar-lhe o melhor e proporcionar-lhe todas as possibilidades para que seja uma criança saudável.

Com tudo o que nos aconteceu, concluímos que, por mais que façamos, não conseguimos controlar todos os factores inerentes ao nascimento dos nossos filhos e que, de facto, a saúde não está apenas nas nossas mãos, por isso, hoje em dia, o conselho que damos a todos os pais que aguardam a chegada de um filho é que se munam de todos os meios que estejam ao seu dispor prevendo por vezes um futuro que não é com toda a certeza o desejado mas que tem que estar também nos nossos planos.

A criopreservação das células estaminais do cordão umbilical face às suas grandes potencialidades, muitas delas ainda desconhecidas é, nesta fase, o melhor presente que podemos dar aos nossos filhos.


sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Estamos a espatifar a infância das crianças – Entrevista de Eduardo Sá

O Estado não está a cumprir a lei no que respeita à proteção das crianças em risco, acusa Eduardo Sá. Em entrevista, o psicólogo lança duras críticas ao caso do desaparecimento de Rui Pedro que veio demonstrar que, em Portugal, há crianças de primeira e crianças de segunda. Os meios mobilizados, comparativamente aos de Maddie McCann, foram prova disso.


Disse um dia que as crianças estão em vias de extinção…

Estão. Não digo isso pelo facto de o Governo e a oposição as terem transformado numa espécie de conta poupança reforma. Acho até divertido que se fale de tudo e mais alguma coisa nas várias campanhas – presidenciais incluídas – e as questões das crianças e a política de fundo para a família nem sequer exista. Portanto, o que é que a mim me preocupa? Preocupa-me esta ideia complemente absurda de crescimento, que dá a entender que as crianças têm que ser jovens tecnocratas de fraldas antes dos seis, têm que ser jovens tecnocratas de mochila depois dos seis e têm que ser jovens tecnocratas de sucesso ao entrarem na universidade para que, finalmente – como se fosse uma linha de montagem –, saíssem todos mestres. Mestre é a designação mais vergonhosa que eu já vi para um título académico, porque é um título que reconhecemos aos sábios.

Andamos a enganar os jovens?

Isto é o cúmulo da publicidade enganosa. Explicar a miúdos com 22 e 23 anos que são mestres, de maneira a esperar que eles sejam, de preferência, ídolos antes dos 30… Anda toda a gente num registo eufórico e doente, que não percebe que as pessoas precisam de tempo para crescer. Acho engraçadíssimo quando dizem com orgulho que no jardim-de-infância há crianças que já sabem ler e escrever, mas não é isso que as torna mais sábias. Às vezes, as pessoas confundem macacos de imitação com crianças sábias. Acho engraçadíssimo quando as crianças não podem errar – eu julgava que errar era aprender. Mas não: as crianças têm que ter notas que são insufladas sabe Deus pelo quê. Vivem empanturradas em explicações. Se os pais puderem utilizar todo o tempo que a escola coloca ao serviço das famílias, elas podem passar 55 horas por semana na escola… Estamos a espatifar a infância das crianças, a espatifar a adolescência e, depois, com um olhar absolutamente cândido, dizemos que elas têm défices de atenção.

Existe a ideia que as pessoas mais escolarizadas são pessoas mais educadas?

Vive-se com essa a ideia. E peço desculpa, mas as pessoas, com toda a boa vontade do mundo, estão a tornar as crianças mais estúpidas. Se as crianças não aprendem a tolerar as frustrações, nunca hão de ser engenhosas e nunca hão de aprender com as dificuldades. A dor dói, magoa, mas é uma oportunidade de crescimento e não há dores que venham por bem. As dores são as grandes oportunidades para nos interpelarmos e para nos transformarmos. E nós não damos oportunidade às crianças para serem crianças. Queremo-las como fossem clones daquilo que nós sonhámos ser, mas que não fomos capazes. E, nestas circunstâncias, tem que haver alguém com algum bom senso que diga “tenham cuidado que estão a comprometer tudo”.

As crianças brincam pouco?

As crianças brincam de menos. Se houvesse em Portugal um Ministério da Educação digno desse nome, teria outro tipo de cuidado com os recreios das escolas. Os recreios das escolas públicas são uma vergonha. Não reúnem condições indispensáveis para brincar. As escolas deviam ter recreios cobertos, mas brincar é, para os governantes, uma atividade tipo primavera-verão: quando está frio e a chover, as crianças não podem ficar nas salas, não podem ficar nos espaços comuns, não podem andar na chuva… Brincam nos beirais, que é uma preparação para os desportos radicais. Mas, na falta de cuidados em relação às crianças, há um exemplo que é o mais delicioso do mundo: não compreendo porque é que as crianças têm uma disciplina de Educação para Saúde e depois, nomeadamente nas escolas públicas, as casas de banho dos alunos não cumprem as condições indispensáveis em termos de saúde pública. Para a ASAE, a segurança alimentar é importante, a contrafação é importante. As crianças, não.

O que lhe apraz dizer sobre toda esta polémica em torno dos contratos de associação?

Não me choca que o Estado, quando não consegue cumprir os seus compromissos, possa delegá-los noutros. E possa, na sequência disso, fazer os contratos de associação que acha que deve fazer. Até aqui, isto é pacífico. Agora, há dois aspetos que me parecem incontornáveis: quando as pessoas querem negociar de forma séria e leal, negoceiam a tempo e horas e não me chocaria se hoje estivéssemos a negociar uma transformação para daqui a dois anos, de maneira a que se possam pensar alternativas. Não acho que o Governo tenha estado bem neste aspeto. Agora, choca-me que depois as crianças sejam instrumentalizadas de uma forma absolutamente indecorosa e sejam trazidas para discussões que não são bem razoáveis. Instrumentalizar campanhas presidenciais à esquerda e à direita com este tipo de questões, peço desculpa, é um bom serviço em favor do obscurantismo.

Cada vez mais se ouve falar de crianças maltratadas…

Felizmente.

Tal não significa que haja maior número de crianças nessa condição?

Por amor de Deus. Estas são as melhores famílias que a humanidade conheceu. As atuais. O que significa que os nossos filhos estão seguramente melhores.

O que leva um pai a maltratar um filho?

(suspira) Muito sofrimento acumulado. Pessoas doentes sempre existiram ao longo da história. O sistema judicial é que não. É uma conquista importante da humanidade e todos nós devemos exigir que um sistema judicial, dedicado às crianças, seja um bocadinho de sistema judicial e que tenha um componente significativo de saúde, nomeadamente de saúde mental. Que nós aceitemos que os pais maltratem, não podemos aceitar; que nós aceitemos que o Estado, como garante de princípios fundamentais, seja omisso na proteção das crianças, é que eu acho que seja inadmissível. Quando grande parte das comissões de proteção tem pessoas da maior generosidade que estão em part-time ou em voluntariado, isto diz bem o que é a proteção das crianças em Portugal. Quando nós admitimos que haja crianças que, no fundo, estão sinalizadas como estando em perigo, mas estão em perigo durante anos… É aqui que eu acho que temos que parar e perceber o que é que queremos da proteção das crianças. Porque o Estado não cumpre a lei. Em média, as crianças estão confiadas aos centros de acolhimento cinco anos. O Estado comete ilegalidades sobre ilegalidades a esse nível.

Mas porque é que se maltrata?

Repare: ainda hoje há pessoas que suspiram pela escola do antigo regime, que era uma escola exemplar, onde cada erro representava uma reguada. Muitos destes pais tiveram escolas e famílias muito autoritárias. É por isso que os pais hoje, quando se trata de dizer que “não” a um filho, confundem autoridade e autoritarismo. E passam a vida quase a pedir desculpa com a ideia de que o “não” traumatiza. A autoridade é um exercício de bondade; o autoritarismo é um exercício de prepotência. A prova de que nós fomos crescendo com estes equívocos é um bocadinho esta. Ainda há pais maltratantes.

De todos os estratos sociais, portanto…

De repente, até parece que os pais da classe média não maltratam. Há crianças que andam em colégios para meninos com “pedigree” e chegam lá todos os dias com marcas de serem batidas. E quando têm 80 por cento nos testes ficam em pânico, porque são aterrorizadas constantemente… Essas crianças estão em perigo. Porque é que as comissões nunca protegem esse tipo de crianças? Temos que proteger mais e proteger melhor. E os tribunais têm que ser mais duros em relação aos pais que maltratam e negligenciam porque, por mais doentes que eles estejam, não têm o direito de desbaratar todos os recursos saudáveis dos filhos.

Como comenta caso do Rui Pedro, desaparecido há 13 anos?

Uma vergonha! É uma vergonha que o Estado – e não estou a falar dos tribunais nem da justiça – o Estado, como garante do exercício da justiça, mobilize os meios que mobilizou para a menina do casal McCann e não mobilize os mesmos meios para todas as crianças desaparecidas. Não há em Portugal, não pode haver num Estado de Direito, crianças de 1.ª e crianças de 2.ª. não é justificação que alguns elementos de aparelho de Estado digam “não averiguámos porque não havia meios”. Isto é ainda é mais ofensivo para os cidadãos que, com um esforço terrível, pagam impostos resultantes da má governação dos governos dos últimos 30 anos. Estamos a falar da vida de uma criança que não sabemos onde está; se está viva ou não. Estamos a falar de pais que há 13 anos, desesperadamente, apelam de todas as formas possíveis por ajuda. E eu já perdi a conta a comentários de pessoas que comentam tudo e que até em relação ao equilíbrio mental da mãe já se dirigiram. Meus Deus! Quem é que é o pai de bom senso que, ao fim de 13 anos nestas condições, consegue estar equilibrado? Ninguém.

O Estado falhou neste caso?

Aquilo que o Estado mobiliza quando uma criança desaparece nunca são os meios necessários e suficientes, porque parte sempre do pressuposto que não é uma questão tão urgente como o crime económico e outras coisas do género. Acho isto da maior gravidade. E acho, sobretudo, da maior gravidade que um país inteiro pare à procura de uma criança – e acho muito bem –, mas como se as crianças tivessem nacionalidade. Compreende? Como é que podemos esperar que aqueles pais aceitem uma disparidade desta natureza, como se os filhos dos outros fossem filhos de 1.ª e os filhos deles fossem filhos de 2.ª. Acho uma vergonha. E aquilo que é ainda mais vergonhoso é que este caso não tenha merecido por parte das figuras do Estado, ao menos isto: um pedido de desculpas aos cidadãos e tomarem isto como pretexto para configurarem outra forma de atuação para evitar que isto se repita.

É possível ensinar as pessoas a serem bons pais?

É. Os pais precisam de falar pelos filhos: eles sabem muito bem que quem nos ama diz-nos por atos (e por omissões) qualquer coisa como: “sente-me em ti, pensa por mim e fala por nós”. E, de facto, os pais às vezes sentem, pensam, mas não falam. Não falam nem por eles, nem pelos filhos. Ensinar pode fazer-se de maneira divertida, pode significar dizermos aos pais que estão obrigados a dar uma hora por dia aos filhos. Uma hora de mãe ou uma hora de pai, faz muito melhor do que o óleo de fígado de bacalhau para as crianças crescerem. E é necessário dizer aos pais que têm fazer, pelo menos, uma asneira de oito em oito horas. Os pais que não fazem asneiras não são bons pais.

Costuma dizer que as pessoas têm o coração apertado até ao último botão. É o que se passa com os pais?

Acho que somos todos mal-educados. Todos tivemos uma educação judaico-cristã, uma educação positivista que, em muitos aspetos foi importante, mas que criou um vício de forma muito cartesiano que nos leva a imaginar que, quanto mais racionais, melhores pessoas. Fomos todos mal-educados para as emoções. Ainda continuamos a achar que ter raiva é uma coisa feia, como se a raiva não fosse o melhor ansiolítico do mundo. Quem assume que tem ódio de vez em quando? E o ódio só acontece quando alguém que nos ama nos magoa muito. As emoções são um GPS fantástico que temos na nossa vida e nós somos educados para reprimir as emoções. Quando reprimimos as emoções, além dos efeitos neurológicos que isto provoca, vai introduzir uma coisa que é pior: à medida que não transformamos as emoções em palavras, passamos a ficar partidos ao meio. Sentimos tudo, somos tremendamente intuitivos, mas depois deixamos de aprender a falar. Quanto menos somos educados para as emoções, menos educados nos tornamos para as palavras e mais começamos a adoecer.

Somos, então, mal-educados para o amor?

Somos também mal-educados para o amor. Mas para que é que é preciso educação sexual nas escolas? Vai-me desculpar, a sexualidade faz muito bem à saúde. Mas muitas vezes esta “educação moral e religiosa parte II” está a partir do pressuposto de coisas erradas. Educar para o amor é uma coisa muito mais séria. É muito importante dizer o que é o aparelho reprodutor e falar de meios contracetivos… nada disso merece questão. Mas o que eu gostava é que também se explicasse o que é que são as relações amorosas. Devia ou não devia ser proibido casar com o primeiro namorado? Só devia. Quer dizer: passamos a vida a dizer que errar é aprender, mas nas relações amorosas temos que acertar à primeira. Onde é que isto já se viu? Isto é mentira. Se queremos educar para as relações amorosas, devíamos dizer que devia ser proibido casar para sempre.

Não devia ser para sempre?

São todas para sempre. Mas o que eu gostava que as pessoas percebessem é que quanto mais importante é uma relação mais frágil se torna. Porque exigimos às pessoas que amamos – e bem –aquilo que não exigimos a mais ninguém. E quanto mais importante for uma relação, mais preciosa ela é. Era muito bom que nós dissemos que todas as relações morrem, sobretudo as mais importantes e, sobretudo, se foram maltratadas. No fundo, educam-nos para nós abotoarmos o coração até o último botão. E, às vezes, as pessoas despem-se facilmente por fora e têm dificuldade em perceber que o grande desafio da vida é despirmo-nos por dentro. É darmo-nos a conhecer por dentro.

Tem uma boa relação com os seus alunos de Psicologia da Universidade de Coimbra?

Gosto muito deles. Gosto muito de dar aulas, mas não gosto do poder universitário. Aprendo muito quando dou aulas, porque sinto-me obrigado a transmitir uma experiência muito diversificada e de muitos anos, a ser claro e simples. Nem sempre é uma relação/opção fácil, mas quando eles percebem que somos capazes de gostar deles e que conseguimos transformar um universo muito complexo como o da vida mental numa leitura relativamente simples, torna-se uma relação muito boa. Não perco de vista que eles são colegas mais novos.

Do que não gosta no poder universitário?

Às vezes,fico meio sem jeito ao dar-me conta de como, em muitos momentos no meio universitário, o bom gosto e a boa educação faltam. E devo dizer-lhe que faltam onde não deviam faltar. Mais do que integrar conhecimentos, as escolas servem para nós ficarmos melhor educados e para nos tornamos melhores pessoas e há muitos episódios soltos, em escolas universitárias – não só em Coimbra – em que os professores são um bom exemplo daquilo que não é boa educação. E depois há um aspeto na vida universitária que me preocupa: existe uma diferença profunda entre os sabichões e os sábios. E há densidade de sabichões por metro quadrado na vida universitária que me incomoda. Acho que os sábios mudam o mundo. Não precisamos de ser altivos ou arrogantes para merecermos respeito.

Não é um meio que convide a pensar?

O poder universitário não é um meio onde a sabedoria seja premiada. Não é. E, às vezes, não é um meio que convide a pensar, onde as pessoas se possam interpelar de forma vertical e leal. Às vezes, não é um meio leal, o que eu acho incompreensível.

Teve uma infância feliz?

Gostava de ter brincado muito mais. Gostava de não ter passado por algumas situações difíceis que vivi. Poderia ser muito melhor, seguramente.

Lançamento de Livro



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mensagem do fim do primeiro triénio de mandato da atual da ANDEE

Ainda no princípio de um ano lectivo, chegados ao fim de um ano civil e também ao fim do primeiro triénio de mandato da atual direcção da ANDEE. A vida é assim: um conjunto de processos que coexistem mesmo estando uns a começar outros a crescer e outros a desaparecer.

No meio de uma transitoriedade tão grande é tempo de retomar, de relembrar e de reafirmar o que pretende a nossa Associação. E talvez a nossa “missão” se pudesse resumir a três objectivos principais:

Antes de mais promover e valorizar a profissão de Professor de Educação Especial. Sabemos a forma tão volátil como são, por vezes, percebidas as suas competências. As vezes mesmo o quão são desvalorizadas. Queremos afirmar a dignidade e a importância do trabalho do Professor de Educação Especial. Há pouco uma professora que por longos anos esteve num serviço ministerial, e teve de regressar à escola confidenciou-me “Se eu me lembrasse o duro que é este trabalho, tinha certamente agido de forma diferente quando era coordenadora…” Queremos continuar a realizar cursos, palestras, seminários, provocar encontros e desencadear trocas de experiências, publicar documentos e livros de forma a que os professores se possam tornar mais competentes nas múltiplas áreas em que têm de intervir.

Queremos contribuir para a melhoria das políticas de apoio aos alunos com dificuldades na escola. Não é saudável que não haja uma observação, avaliação, monitorização sobre as decisões políticas em Educação Especial. Citamos positivamente a atitude da Secretaria de Estado do Ensino Básico e Secundário ao convocar (e convocar-nos para) uma reunião com vários interessados para discutir opções de política sectorial. Na falta de estruturas intermediárias a associações (e certamente também os sindicatos) têm um papel fundamental de higiene política para a melhoria do sistema.

E queremos com tudo isto contribuir para uma vida mais plena, com mais oportunidades e sucesso dos alunos que por motivos tão diferentes podem ter dificuldades na escola. Quase todos têm dificuldades em algumas áreas curriculares e em alguns momentos. Estes alunos precisam de encontrar apoio para superar as suas dificuldades. Um sistema educativo tem que cuidar da equidade e não só da excelência. E a equidade implica a existência de serviços de apoio.

Acabamos o ano civil no princípio do civil e em 2012 teremos um novo mandato da ANDEE. Passam os tempos mas a missão fica e continuamos a contar com todos os nossos sócios, amigos, simpatizantes para caminharem ao nosso lado.

David Rodrigues

Presidente da Pró-Inclusão – ANDEE

In: 2ª newsletter de Novembro da Associação Nacional de Docentes de Educação Especial

Gaguez em contexto escolar

Falar de disfluência e de gaguez sem falar dos sentimentos que lhes estão associados é esquecer uma parte importante do problema. A pessoa que gagueja tem frequentemente sentimentos de inferioridade e sente muitas vezes vergonha, medo e frustração por não conseguir transmitir claramente aquilo que gostaria. Este facto não pode nunca ser esquecido em contexto escolar, uma vez que, a gaguez é sobretudo dolorosa quando ocorre em contextos sociais. Como as crianças que gaguejam sentem muitas vezes vergonha da sua expressão oral, são muito sensíveis às provocações. Este facto deve ser tido em conta pelo professor, que deve tratar as provocações dirigidas à gaguez não como um problema específico daquele aluno, mas incluí-las nas discussões sobre provocações em geral. As provocações devem sempre ser tratadas antes de a criança ter sofrido a humilhação de ser vitimada.

Para além disto é fundamental seguir algumas regras no sentido de facilitar a tarefa comunicacional das crianças gagas, uma vez que estas precisam de mais tempo para expressar as suas ideias. Falar devagar é uma dessas regras. Ao falar devagar o adulto vai transmitir à criança que há tempo para comunicar. Quando se tem de questionar uma criança muito disfluente é muito importante ponderar bem o tipo de questão que se coloca. Se for possível tente dar-lhe alternativas de resposta, como, por exemplo, 'Foste tu ou o teu colega?'. Além disto, quando forem colocadas questões à turma, a criança com gaguez deve ser das primeiras a serem questionadas, evitando assim o aumento da ansiedade e, consequentemente, a diminuição da gaguez.

Situações que causam maior stressou dor provocam, geralmente, o aumento da disfluência. É, assim, fundamental dar à criança um feedbackverbal que a ajude a sentir-se compreendida. Ao ouvir expressões como 'Eu sei que estás muito aborrecida' ou 'Dói-te muito a barriga, não dói?', a criança vai sentir-se mais compreendida e mais calma, facto que se irá traduzir na sua capacidade de expressão.

Existem algumas situações que facilitam a fluência, como cantar, contar, dizer poesia ou rimas. Sempre que possível a criança deverá ser envolvida em atividades destas, uma vez que estas contribuirão para fortalecer a sua autoestima e autoconfiança.

Para além de tudo o que foi referido é também muito importante que o professor mantenha sempre o contacto ocular com a criança e nunca tente terminar as frases, uma vez que, ao fazê-lo, vai contribuir para reduzir a auto-confiança e para aumentar a frustração da criança, especialmente se usar palavras diferentes daquelas que ela tinha intenção de usar.

A leitura é outra área sensível, uma vez que pode ser fonte de grande frustração para a criança. Para ajuda-lá a ultrapassar esta dificuldade podem ser usadas diferentes estratégias, como ler em uníssono com outra criança, encorajar a realização de uma leitura com uma velocidade calma, trabalhar gradualmente a leitura feita para a classe, ou seja, ler primeiro sozinha para o professor ou para outros adultos e em seguida para pequenos grupos. A criança poderá posteriormente ler para a turma quando se sentir preparada.

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Por: Adriana Campos

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Robótica como terapia para autistas

Projecto com a APPACDM estende-se a várias cidades

Um grupo de investigação da Universidade do Minho, em parceria da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM), está a desenvolver um projecto para a utilização de robôs como meio de comunicação e interacção com alunos autistas. As experiências confirmam que estes conseguem realizar novas tarefas, como sentarem-se num local diferente para brincar com o robô ou realizarem uma actividade com outro colega, tal como a tinham feito com o autómato.

O projecto Robótica-Autismo tem como objectivo à aplicação de ferramentas robóticas para melhorar a vida social de alunos com autismo, melhorando as suas habilidades de interacção e comunicação com pessoas e em contextos diferentes. “Temos trabalhado competências de interacção e de vocalização”, onde “o jovem teria de ser incentivado a pedir algo que quisesse – dizendo “dá”, por exemplo – e o robô iria trazer-lhe a bola”, explicou Filomena Soares, investigadora responsável.

As actividades visaram incentivar os jovens a interagir, pedir e participar em jogos e iniciativas em conjunto com outras pessoas. A ideia surgiu a partir de contactos já existentes com a instituição, onde se verificou haver terreno favorável para o desenvolvimento do estudo, inspirado em duas teses de mestrado em Electrónica Industrial.

A iniciativa procura igualmente “generalizar o conceito, levando-os para novos ambientes, fora da sala aula e junto de pessoas que nunca tinham visto e são experiências demoradas, nem sempre positivas, mas que acabam por ter um final positivo”, continuou.

A docente acrescenta ainda que “tendo por base a interacção, a comunicação e a vocalização, são definidas actividades muito simples, com competências bem definidas, registando-se a realização de novas tarefas pelos alunos com este tipo de problema, como por exemplo o facto de se sentarem num local diferente na sala de aula para brincar com o robô ou realizarem com outro colega uma actividade previamente realizada com o mesmo robô”, explicou.

Alunos têm de verbalizar que querem a bola para obtê-la. O facto de este projecto trabalhar contextos diferenciados acaba por influenciar um envolvimento das famílias, que, desta forma, participam no desenvolvimento e beneficiam de uma transferência de competências e de rotinas muito importantes para o contexto familiar. Segundo a investigadora, “revelou-se determinante o papel da APPACDM, que acabou por facilitar a interacção que proporcionou contactos durante o projecto, assim como uma acção de divulgação e partilha onde todos participaram”.

Através do Ministério da Educação, foram já realizados contactos com outras unidades de ensino estruturado, havendo já reuniões com mais quatro centros que se juntam à APPACDM de Braga no desenvolvimento deste projecto. Desta forma, este grupo de investigação passará a trabalhar com utentes de Arouca, A-Ver-O-Mar, Barcelos e Leça da Palmeira, para além de Braga. Estão igualmente a ser estudadas novas formas de interagir com os alunos com autismo em idade escolar, utilizando plataformas robóticas mais robustas e com maiores capacidades.

“Esperemos que a robótica seja um meio promotor, um interface útil para comunicar com esses jovens”, concluiu Filomena Soares.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Os professores

O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.

O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efectiva. O trabalho dos professores é a generosidade.

Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais de ontem. O acto que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.


Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.

Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição. Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.

Recusar a educação é recusar o desenvolvimento. Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança.

Artigo de José Luís Peixoto, publicado na revista Visão de 13 de Outubro de 2011

Luís fala com os olhos

Há sete anos era um rapaz normal. Hoje está confinado a uma cama. Só mexe os olhos e é com eles que fala, graças a um computador que lê os movimentos. Luís André tem 32 anos, vive em Touça, Vila Nova de Foz Côa, e sofre de esclerose lateral amiotrófica.

Para poder ver o vídeo carregue aqui.

In: JN

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Jesus precisa de cadeira de rodas

Jesus Corser é um menino de três anos que nasceu com espinha bífida, uma malformação do sistema nervoso que o torna uma criança diferente. Não consegue movimentar-se sozinho e é deslocado num carrinho de bebé – já pequeno para o seu tamanho. Na escola que frequenta, em Oliveira do Bairro, é muitas vezes empurrado pelos colegas. Para melhorar a sua qualidade de vida, precisa de uma cadeira de rodas adequada ao seu tamanho, que os pais não têm possibilidades de comprar.

"Estamos os dois desempregados. Temos um apartamento arrendado, um compromisso com o carro e três filhos para criar. A cadeira custa 6500 euros e, neste momento, não temos possibilidade de a comprar. Daria outra mobilidade, mais autonomia e qualidade de vida ao meu filho", diz Johnny Fernandes, pai de Jesus.

"Tudo o que queremos é dar-lhe a maior autonomia possível", diz a mãe do menino, Mariana Corser.

O casal tem organizado algumas iniciativas de angariação de fundos, está a fazer recolha de tampinhas de plástico e criou uma página na internet (http://umasrodasparajesus.blogspot.com/), mas ainda não conseguiu realizar a quantia necessária para a cadeira.

domingo, 20 de novembro de 2011

Alunos sobredotados são ignorados nas escolas e vivem à margem da lei

É caso único na Europa. Congresso alerta para o desperdício de talento que, sem apoio, será formatado pelas escolas até à normalidade

Quantos alunos sobredotados estão nas escolas portuguesas é um cálculo que só se faz por aproximação. Os professores não ouvem falar deles durante a sua formação, o ensino não consegue identificá-los e, no plano legal, nem sequer têm direito a existir. “Não há um decreto. Portugal é, aliás, caso único na Europa”, conta Cristina Palhares, da Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação (ANEIS), que promove hoje em Braga o segundo dia do congresso internacional “Sobredotação e Talento – Atenção da Escola à Diversidade”.

Ao não haver “suporte legal”, não há também maneira de promover formação, desenvolver currículos adaptados ou direccionar os recursos das escolas para apoiar esta população. Saber quantas crianças sobredotadas vivem em Portugal não tem uma resposta directa. Estima-se que sejam 3% a 5% da população mundial: “Num universo de mil alunos de uma escola, serão 50 crianças, mas não estão minimamente identificadas.”

Lá fora é diferente e o congresso da ANEIS trouxe dois exemplos que poderiam ser adoptados nas escolas portuguesas. Brasil e Espanha têm estas crianças inseridas no grupo de alunos com necessidades educativas especiais: “Estes meninos são acompanhados pelos mesmos professores que apoiam as crianças com deficiências.” Isto faz todo o sentido, defende Cristina Palhares. Por serem diferentes da norma, precisam de atendimento especializado.

Falta de legislação e incapacidade das escolas de sinalizar crianças sobredotadas têm consequências, embora seja difícil algum dia virmos a saber quanto talento o país desperdiça. Como tudo na vida, a inclusão tem um reverso, avisa a secretária da direcção da ANEIS. E se, para o caso das crianças deficientes, estar nas mesmas turmas que outros colegas contribui por si só para subir o seu desenvolvimento, o mesmo não acontece com os sobredotados. “Se não existir um atendimento diferenciado, a escola vai formatando a criança até a normalização.”

Sem acompanhamento, a escola não faz mais que normalizar o talento que estas crianças desenvolvem mesmo em meios hostis. “Conheci um menino que sabia ler e escrever muitíssimo bem com cinco anos e não tinha um livro em casa. Há crianças que, mesmo em ambientes adversos, conseguem desenvolver os seus talentos.” Isso só não chega. Sem trabalho, o dom atrofia, como “qualquer músculo que não é exercitado”.


Colóquio sobre Políticas Públicas de Educação

Quando | 26 de Novembro de 2011 a 26 de Novembro de 2011

Horário | 09h30

Onde | IEUL

O FPAE - Fórum Português de Administração Educacional, interface entre práticos, investigadores e decisores do campo da Administração Educacional, promove um dia de reflexão e debate sobre as políticas públicas educacionais em Portugal.

A intenção desta iniciativa é, por um lado, enquadrar esta problemática no pensamento actual sobre políticas públicas de educação, propor leituras distintas e fundamentadas de decisões políticas neste campo e, por outro lado, promover o debate informado de um caso paradigmático da decisão política em educação: o das políticas de avaliação de docentes.


PROGRAMA


09:30 – Sessão de Abertura:


Beatriz Bettencourt
Presidente da Direcção do Fórum Português de Administração Educacional
João Pedro da Ponte
Director do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa


10:00 – Conferência: “O Estado e a Educação: entre público e privado
João Barroso
Professor do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

11:00 – Intervalo


11:15 – Mesa-redonda “Políticas públicas de educação: problemas e perspectivas”
Licínio C. Lima (coordenador dos trabalhos)
Professor da Universidade do Minho
António Teodoro
Professor do Instituto de Educação da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
David Justino
Professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa


13:00 – Interrupção para almoço


14:30 – Mesa-redonda “As políticas públicas de Avaliação de Docentes, um caso paradigmático?”


Guilherme Silva (coordenador dos trabalhos)
Instituto de Educação da Universidade do Minho:
Alexandre Ventura
Professor do Departamento de Educação da Universidade Aveiro
Estela Costa
Professora do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa
Manuel Esperança
Presidente do Conselho de Escolas
Mário Nogueira
Secretário-Geral da FENPROF


17:00 – Sessão de encerramento:


João Casanova de Almeida
Secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar
Beatriz Bettencourt
Presidente da Direcção do Fórum Português de Administração Educacional


In: Universidade de Lisboa