“Derrubar barreiras. Facilitar recursos” foi o sugestivo tema do 2º Congresso Internacional promovido pela Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial, que se realizou no Porto, na Universidade Portucalense, dias 28 e 29 de outubro. No seu programa o Congresso incluiu quatro conferências e quatro mesas redondas – Políticas em Educação Especial e Inclusiva, Educação de criança e jovens com NEE, Relação da Escola do regular/Centro de Recursos e Transição para a vida adulta –, para além de dezenas de comunicações livres.
Deixamos aqui a reportagem ao Presidente da ANDEE (Associação Nacional de Docentes de Educação Especial). Podem consultar a versão pdf na revista SPGL (carreque aqui.)
O que é ser, hoje, professor de educação especial?
David Rodrigues – Penso que ser professor de educação especial é, antes do mais, um conceito em permanente mutação. Portanto, o que nós pensávamos há dez anos que seria um professor de educação especial, hoje é diferente e talvez seja diferente daqui a uns anos. É um conceito em mutação.
Há dois anos atrás, num congresso, pedimos aos participantes para definirem numa palavra o que consideravam ser um professor de educação especial. E a palavra que apareceu foi bombeiro. Isto tem um aspeto positivo, obviamente. Os bombeiros são pessoas em quem confiamos, são pessoas benignas na sociedade. Mas também tem um aspeto menos positivo, que é o facto – falando em português corrente – de o professor ser assim considerado como pau para toda a obra. Tal como os bombeiros, que tratam de fogos, de inundações, de acidentes, de gatos que estão em cima das árvores. De certa maneira, quando se faz esta comparação, a ideia subjacente é de ausência de uma identidade profissional bem definida.
Penso que, atualmente, um professor de educação especial tem duas grandes categorias de funções. Tem uma função intrínseca e uma função extrínseca.
Deixamos aqui a reportagem ao Presidente da ANDEE (Associação Nacional de Docentes de Educação Especial). Podem consultar a versão pdf na revista SPGL (carreque aqui.)
O que é ser, hoje, professor de educação especial?
David Rodrigues – Penso que ser professor de educação especial é, antes do mais, um conceito em permanente mutação. Portanto, o que nós pensávamos há dez anos que seria um professor de educação especial, hoje é diferente e talvez seja diferente daqui a uns anos. É um conceito em mutação.
Há dois anos atrás, num congresso, pedimos aos participantes para definirem numa palavra o que consideravam ser um professor de educação especial. E a palavra que apareceu foi bombeiro. Isto tem um aspeto positivo, obviamente. Os bombeiros são pessoas em quem confiamos, são pessoas benignas na sociedade. Mas também tem um aspeto menos positivo, que é o facto – falando em português corrente – de o professor ser assim considerado como pau para toda a obra. Tal como os bombeiros, que tratam de fogos, de inundações, de acidentes, de gatos que estão em cima das árvores. De certa maneira, quando se faz esta comparação, a ideia subjacente é de ausência de uma identidade profissional bem definida.
Penso que, atualmente, um professor de educação especial tem duas grandes categorias de funções. Tem uma função intrínseca e uma função extrínseca.
Poderia explicitar essas funções?
Quando falo em funções intrínsecas quero dizer que, antes de mais, o professor tem que ter um conhecimento – e precisamos de quem tenha esse conhecimento – sobre a aprendizagem de crianças com dificuldades. Obviamente nós sabemos que uma criança nunca aprende da mesma maneira que outra. Mas o que é certo é que, através da investigação, temos vindo a saber que há determinados aspetos que, se os conhecermos, tornam mais fácil a aprendizagem dessas crianças. Como tal, seria um absurdo negligenciar esses conhecimentos que temos vindo a adquirir e que o professor de educação especial tem que ter.
Depois, há uma questão muito importante, ao nível da escola, que tem a ver com a articulação de recursos. Isto é, precisamos de um professor que, ao nível da escola, consiga saber o que há na escola e um pouco nas extensões que a escola pode ter, e procurar articular, de uma maneira harmoniosa – de uma maneira, eu diria, pedagógica – esses recursos. E é essencial que a forma como esses recursos são entregues ao aluno seja feita dentro de uma perspetiva de qualidade, uma perspetiva integrada, uma perspetiva com significado para ele.
É igualmente muito importante, ainda ao nível intrínseco, que o professor de educação especial se possa constituir como um recurso de apoio à escola. Isto é - de apoio à forma como a escola vai tratar as singularidades de cada um dos alunos. E também de apoio à família. Procurar construir, de certo modo, um protocolo de entendimento sobre quais são os objetivos de intervenção com a criança, quais são os meios de intervenção com a criança entre a escola e a família.
Mas temos também uma componente extrínseca. É preciso que o professor, para além de trabalhar com as crianças que têm mais dificuldades, possa ser também um recurso de formação para a escola. Isto é, que possa ajudar os outros colegas a desenvolverem competências.
Neste Congresso, ouvimos o professor Mel Ainscow dizer que a maior parte das competências necessárias para a inclusão já existem nas escolas. E uma parte dessas competências já existentes é a competência que o professor de educação especial tem para formar os outros colegas. Naturalmente numa lógica de troca mútua, ao nível da formação.
Há ainda a questão da consultoria. Precisamos de um professor que seja capaz de aconselhar colegas – não no sentido de lhes fornecer a solução, mas de se sentar com eles e procurar ver o que é que se passa.
E, em terceiro lugar, temos a questão da inclusão comunitária. Também ficou muito claro, neste Congresso, que as escolas têm que se ligar entre elas e à comunidade onde estão inseridas. E o professor de educação especial, como recurso da escola, também pode ajudar nesta área. Sobretudo em casos mais difíceis. Por exemplo, de crianças que são oriundas de meios socioeconómicos muito pobres e que têm dificuldades também por causa disso. É preciso o professor de educação especial entender que nem tudo se joga na escola, mas a escola tem que encontrar as extensões adequadas ao nível comunitário.
Em síntese, eu diria que o professor de educação especial tem uma função intrínseca, relacionada com o seu âmbito estrito de professor. Mas tem também uma função ao nível da formação, ao nível do aconselhamento e ao nível da inclusão comunitária.
Considera que o papel do professor de educação especial, ao nível da inclusão entendida em termos mais amplos, seria de valorizar particularmente?
Sem dúvida. Isto levava-nos a uma questão interessante. Porque, de certo modo, há aqui uma contradição. O sistema coloca os professores de educação especial nas escolas apenas para uma faixa de alunos. Mas o que eu penso que é realmente a vocação, a missão do professor de educação especial, é trabalhar para a inclusão.
Este professor foi formado e tem como missão olhar para as diferenças e conseguir estabelecer pontes entre as diferenças.
Como tal, é importante que não seja apenas o professor de uma determinada faixa de alunos, mas um recurso de toda a escola, para a escola se tornar mais inclusiva. Nesse sentido, tivemos um exemplo muito interessante, aqui no Congresso, com a apresentação do trabalho desenvolvido na Escola da Ponte. Todos nós estávamos à espera da resposta à questão: como é que vocês trabalham a inclusão na Escola da Ponte? E não ouvimos nada sobre isso. Foi-nos simplesmente apresentada a experiência de uma escola que funciona para todos os alunos. E, no meio, também há alunos com necessidades educativas especiais. Mas o foco é: como é que a escola, no seu todo, trata as questões das diferenças e a personalização de cada um dos alunos. Personalização, não no sentido de o tornar fechado aos outros, mas no sentido de que ele possa ter a melhor educação, as melhores oportunidades para se desenvolver comunitária e individualmente.
A boa inclusão nas escolas será, talvez, uma inclusão que tem a ver com a perspetiva que nos apresenta a Escola da Ponte. Se eu tivesse que dizer qual seria o caminho que me parece mais interessante para uma escola, seria certamente este. Uma escola que tem no seu código genético a inclusão, como algo que penetrou a escola toda. Mas que, claro, tem muito trabalho por detrás.
Não receia que os cortes em curso na Educação tenham sérios reflexos neste domínio?
Obviamente que é muito preocupante. Neste momento há escolas que sofreram grandes reduções no seu pessoal de apoio. Há escolas com cortes de quase 50%. Há escolas que não têm professores de educação especial.
Receio que haja aqui um mau entendimento do que é a inclusão. Ou seja, a ideia de que, já que a inclusão é tarefa de toda a escola, então toda a escola faz a inclusão. Isto não é verdade. Não pode ser assim.
Noutro dia, numa conferência, houve uma pessoa que, no final, me perguntou se nós estávamos a progredir no que respeita à inclusão. Utilizei então uma imagem – foi a que me ocorreu na altura – para explicitar a minha ideia: a inclusão não é uma melancia que nós deixamos escorregar pela descida e ela vai por si própria; é uma melancia que nós temos que empurrar na subida.
Ou seja – se não tivermos recursos e pessoas para puxar a melancia, ela não vai chegar lá acima. Porque a inclusão não é algo que acontece naturalmente. É algo que, se nós não dispusermos na escola dos recursos necessários, vai cair no esquecimento. E qualquer dia vamos ouvir dizer que a inclusão é coisa antiga, que já não faz sentido e que, afinal, as escolas especiais não são tão más como isso.
É por isso que vejo com muita preocupação esta diminuição de recursos, sobretudo de recursos humanos. Durante muito tempo sentimos a satisfação de o país estar a fazer um esforço muito próximo dos países da OCDE ao nível da percentagem do PIB dedicada à Educação. Mas estes últimos cortes fazem-nos regredir dezenas de anos.
Entrevista com David Rodrigues, Presidente da Pró-Inclusão Associação Nacional de Docentes de Educação Especial
In: Revista da SPGL
Sou mae de um menino com Trissomia 21 com 6 anos. A legislaçao existe, ouve-se falar de inclusao mas eu pessoalmente so encontro obstaculos. O meu filhote frequenta o Jardim de Infancia mas os apoios em termos de ensino especial sao escassos: 1 manha por semana repartida por mais 1 menino com Autismo. A quem me dirijo para pedir mais apoio quando a escola me diz que nao é possivel? Sinto que o meu filho está a perder a oportunidade de conseguir uma melhor autonomia nesta fase da sua vida. O que faço?
ResponderEliminarSolicite a intervenção da IGEC e / ou da DGEstE.
EliminarOlá! Bom Dia!
ResponderEliminarEm primeiro lugar gostaria de agradecer a sua visita e comentário.
Depois sugerir que tente junto da equipa de educação especial da escola do seu filho, entrar em diálogo e encontrarem o melhor caminho/estratégias para o desenvolvimento das capacidades do seu filho.
Lembro que não conheço o caso na realidade, mas penso que o diálogo entre todos os intervenientes é sempre o melhor caminho a seguir.
abraço
Olá!
ResponderEliminarDesde que criança que sempre gostava de brincar com crianças especiais, de comunicar com elas e saber como era o seu dia-a-dia.
Eu tive uma vizinha que tinha uma filha poucos meses mais velha que eu e muitas vezes eu entendia melhor o que ela dizia do que a própria mãe.
Hoje, já com o segundo grau completo, gostaria de saber como posso me tornar professora de ensino especial.
Obrigada.
Gostaria de saber como faço para me tornar uma professora de educação especial.
ResponderEliminarApesar, de ter passado tantos anos, vou responder a sua pergunta! É preciso fazer uma graduação em pedagógia e uma pós graduação em ed.especial! É um caminho árduo, porém necessário!
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