Muitos sobredotados recusam ir à escola por considerarem que aprendem mais nos livros e nos programas televisivos do que nos currículos escolares, alertou o presidente da Associação Nacional para o Estudo e Intervenção na Sobredotação (ANEIS).
Alberto Rocha adiantou à agência Lusa que esta situação está a acontecer com "alguma frequência e começa a preocupar".
"Muitos alunos dizem que a escola não lhes interessa porque não aprendem mais do que aprendem nos livros, nos programas e nos temas que gostam", adiantou o responsável, que falava à Lusa a propósito do congresso internacional "Sobredotação e talento: atenção da escola à diversidade", que decorre na sexta-feira e no sábado em Braga.
Para muitas destas crianças e jovens a escola não está a ser uma mais valia, sendo necessário os professores e as escolas fazerem um esforço para que se sintam integrados.
"Temos de ter mais um bocadinho de trabalho, esforçarmo-nos mais como professores a procurar sempre as melhores respostas e as boas práticas para que se sintam integrados", sustentou.
Esta situação também constitui uma preocupação para os pais que pedem ajuda à associação para que estabeleça a ponte com o estabelecimento de ensino no sentido de perceber o que se passa e conseguir motivar a criança para regressar à escola.
As estimativas apontam para que três a cinco por cento das crianças e dos jovens portugueses sejam sobredotados. Um número que, para Alberto Rocha, já justificava ter uma legislação específica.
"Tentamos apoiar as escolas e os professores para que possam dar algum tipo de acompanhamento a estas crianças, nomeadamente na elaboração de currículos e planos de desenvolvimento, mas a falta de legislação específica não nos permite fazer muito mais", lamentou.
Apesar das dificuldades, Alberto Rocha disse que, com o apoio dos professores e das escolas, tem sido realizado "um trabalho bastante interessante com estas crianças", que sentem muitas dificuldades devido aos currículos escolares serem desadequados às suas capacidades.
"A aula está formada para o ensino da média e, muitas das vezes, as escolas e os professores querem colocá-las a esse nível, mas isso não é possível porque estas crianças têm capacidades superiores", disse, lamentando: "O que me choca é um aluno ter capacidade, e o professor saber que ele a tem e fazer com que desça para a mediana".
O que tem de ser feito, apontou, é dar-lhes ferramentas para poderem continuar a desenvolver as suas capacidades: "São estas crianças e jovens que nós precisamos no futuro para desenvolver projectos no nosso país".
Muitas vezes a identificação de um sobredotado é feita através da determinação do Quociente de Inteligência, que para muitos é um indicador questionável.
No entanto, muitos autores consideram sobredotadas as crianças que apresentam competências, talentos e habilidades acima da média para a sua idade.
A associação defende que pais e educadores deverão estar sensibilizados para esta situação e tentar aperceber-se se a criança reúne características como vocabulário muito avançado, interesses muito variados, domínio rápido da informação, curiosidade fora do comum e muito boa memória.
A par destas qualidades podem surgir dificuldades no desempenho escolar, desmotivação, frustração, desobediência e timidez.
In: DN
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