quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Alarmes e enurese

A enurese nocturna é definida como a perda repetida e espontânea de urina durante o sono em crianças com mais de 5 anos.

É devida, na maioria dos casos, a atraso de maturação, pelo que aos 5 anos aproximadamente 20% molham a cama e aos 6 anos apenas afecta 10% das crianças. 60% das crianças com enurese e mais de 90% dos molhadores diários são do sexo masculino.

Pode ser de causa primária ou secundária, consoante ausência ou presença de continência durante seis meses, respectivamente. Pode ser monossintomática, se associada a ausência de sintomas durante o dia, ou polissintomática, se associada a frequência/urgência a urinar.

A enurese primária resolve-se espontaneamente na maioria dos casos.

O tratamento deve ser iniciado quando a criança e família apresentarem motivação para aderir ao esquema terapêutico.

Medicamentos raramente são necessários em crianças abaixo dos 7 anos.

Os pais devem evitar sentimentos de culpa, vergonha ou punição.

Os alarmes são efectivos para o tratamento da enurese nocturna primária e devem ser considerados para crianças mais velhas e motivadas.

O alarme é composto por um eléctrodo que se coloca na roupa interior da criança ligado a um pequeno despertador, e é accionado ao contacto do eléctrodo com apenas algumas gotas de urina. A maioria das crianças não acordam com o alarme mas param de esvaziar a bexiga. Quando o alarme toca os pais devem levar a criança ao quarto de banho para terminar o esvaziamento da bexiga.

A família deve instruir a criança que é a responsável pelo alarme. O alarme deve ser testado todos os dias. Quando o alarme toca (ou vibra), deve ser desligado, a criança levanta-se e termina o esvaziamento da bexiga. A criança muda a roupa molhada e a roupa de cama. Mudas de cama e de roupa devem ser colocadas próximas da cama. Os pais devem ajudar a criança a acordar e devem supervisionar a muda de roupa. Deve ser escrito um diário de noites secas/molhadas e ser realizado reforço positivo para as noites secas.

O alarme deve ser usado diariamente até a criança ter entre 21 a 28 noites secas consecutivas, o que usualmente leva 12 a 16 semanas (intervalo de 5 a 24 semanas).

Seguimento bissemanal é importante para motivar a criança e para a resolução de problemas técnicos.

Em caso de sucesso (noites secas) o tratamento deve ser mantido pelo menos durante três meses. Em 29-66% dos casos pode haver recorrência (mais de duas noites molhadas em duas semanas), mas responderem ao tratamento. É considerado insucesso se a criança apresentar noites molhadas três meses após o tratamento, e deve ser abandonado o alarme.

Aproximadamente 30% das crianças descontinuam o alarme por vários factores incluindo irritação da pele, interferência com o sono dos familiares, e/ou dificuldade para acordar a criança.

Numa revisão científica, aproximadamente 2/3 das crianças tiveram noites secas por 14 dias consecutivos. Cerca de 50% das que continuaram a usar o alarme permaneceram secas após o tratamento. A desmopressina é imediatamente mais efectiva do que o alarme, mas o alarme é mais eficaz na prevenção da recorrência. Como tal deverá aconselhar-se com o seu médico da terapêutica que mais se adequa à situação do seu filho.

De: Arnaldo Cerqueira, com a colaboração de Helena Silva, Pediatra do Serviço de Pediatria do Hospital de São Marcos, Braga
 
In: http://www.educare.pt/educare/Educare.aspx

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